quarta-feira, 20 de julho de 2016

O ELEFANTE DA CPLP “LAVA” MAIS BRANCO MAS NÃO DESENCARDE



Mário Motta, Lisboa

CPLP, o elefante branco que mais branco não há. Tempos idos e usurparia o slogan ao detergente OMO, aquele que anunciava falsamente que lavava “mais branco”. Comprovadamente lavavam todos os detergentes tão branco quanto o OMO. Era a ilusão criada por interesses publicitários. Haviam os que acreditavam. Como acreditam na CPLP, aglomerado de países lusófonos associados, que é dito ser regido por valores humanistas, culturais e democráticos interlusófonos. Ilusão criada por interesses de uns quantos políticos que fazem da justiça, da democracia e do humanismo gato-sapato. Como a ilusão do OMO.

O golpe no Brasil. O golpe ainda não completamente concretizado é exemplo do abandalhamento da democracia nos ditos países da CPLP. A CPLP não tugiu nem mugiu face ao golpe que derrubou a presidente democraticamente eleita, Dilma Roussef. Aliás, tem o desplante de aceitar (reconhecer) uma caterva de golpistas que derrubaram Dilma e a democracia. É essa a postura da CPLP. Cumplicidade.

O caso de Angola, do débito de democracia, do débito de respeito pelos direitos humanos, é outro dos componentes do elefante branco que constitui a CPLP. É sobejamente conhecido o que acontece em Angola nesse capítulo. A “democraciazinha” do regime de saque e pusilanimidade devia envergonhar os políticos que se arrebanham na CPLP, mas não. Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras aos seus vizinhos. Primeiro a cumplicidade, o conluio.

São Tomé e Príncipe. Por lá há o “banho”, tema ainda fresco nos jornais de há poucos dias atrás. O “banho” é nem mais nem menos que a compra de votos aos eleitores por parte dos partidos políticos ou dos candidatos a cargos políticos. Democracia? A CPLP reage com um silencioso “moita-carrasco” aquela “democraciazinha” para enganar tolos. É cúmplice. Nem nomeou observadores às eleições… por falta de verba, não foi por vergonha.

Moçambique em guerra. Um regime com graves falhas democráticas e de respeito pelos direitos humanos, comprovadamente corrupto, tem por oposição um partido político com um exército paralelo que o desafia, o exército da Renamo. Partido eleito (minoritário) e também com lugares no Parlamento(zinho). É a falta de transparência e de respeito pelos valores democráticos e humanos que causa o paralelismo de dois exércitos, o do regime Frelimo e o da oposição Renamo. A falta de idoneidade de uns e de outros é o que faz deles contendores de armas em punho. O que revela que entre o regime atual (Frelimo) e o proposto pela Renamo não há escolha possível nem para o Diabo. Mas a CPLP embrulha e mete no saco, assobiando para o lado.

Timor-Leste. País explorado e martirizado pela colonização de Portugal (como todos os outros) que em alguns aspetos é exemplo de valores democráticos exibidos e concretizados em 10 anos. Isso não impede que a monstruosa corrupção e débitos dos valores democráticos não vigorem ali. O mais recente, a saber melhor, foi a tomada de posse de um novo governo sem ser eleito. A responsabilidade recai toda sobre o presidente da República, Taur Matan Ruak. Foi ele que aceitou o golpe e decidiu não dissolver o Parlamento. É ele que atualmente anda às cabeçadas com o atual Estado da Nação, com a atual governação, com os líderes nos poderes. Vai daí, para obstar à situação cria um partido político seu que concorrerá nas próximas eleições. Onde foi que já vimos isto anteriormente? Em todo o lado onde a sede de poder é aliciada por circunstâncias que seriam longas se fossem aqui expostas. Apesar de tudo Timor-Leste é um caso diferente das restantes ex-colónias de Portugal (ou não) que já somam décadas de independência mas onde os povos quase nem cheiram a democraciazinha dos regimes ditatoriais ou pró-ditatoriais que alargam de ano para ano os seus sistemas de mais do mesmo, como se de cartilha colonial (inteligente?) se trate. Ali, naqueles regimes, os neocolonialistas e cúmplices são as elites políticas e económico-financeiras – que atingiram tal grau com base na corrupção, no roubo aos povos que prometeram libertar.

A Guiné-Bissau. País transformado numa plataforma e corredor de estupfacientes. A droga alimenta as elites civis, políticas e militares guineenses. Corre assim a versão e comprovativos declarados por todo o mundo. Exatamente por isso na Guiné-Bissau parece que ninguém das elites se entende. Isso por que têm uma coisa em comum: a ganância, o controle do “negócio”. Como em tudo quem se lixa é o mexilhão (o povo), os guineenses têm uma sobrevivência de miséria e de carências a todos os níveis, em todos os setores. De modo gritante nuns mais que noutros. E a CPLP o que faz? Umas vezes diz isto ou aquilo, outras cala. Afinal nem há grande diferença entre as elites da Guiné-Bissau e as de outros países da lusofonia, CPLP.

E eis agora o exemplo dos exemplos do indecoro, da cumplicidade das elites dos países que integram a CPLP: Guiné Equatorial. Basta aqui expor um nome para se perceber a ausência de vergonha e fartura de défice democrático da CPLP. O nome é: Teodore Obiang. Um ditador sanguinário no poder há mais de três décadas. Semelhante a um nome em Angola: José Eduardo dos Santos, igualmente no poder há mais de três décadas. A ausência de vergonha dos que teimam em se fazerem perdurar nos poderes, como Obiang e Dos Santos, vai inspirando nos dos outros países aboletados na CPLP de uns quantos. É a democracia que até dava mostras de ir em crescendo que tendeu a regredir. Os ditadores na CPLP assomam-se à janela. Pena que não sejam janelas de guilhotina.

Portugal. Portugal já esteve próximo de se realizar enquanto país democrático de plena prática e reputação. De todos da CPLP foi o que esteve mais próximo. Os cravos de Abril murcharam. Florescem todos os anos mas só para português ver. Nada mais que isso. A responsabilidade é em grande parte de portugueses que elegem PIDES ditadores como Cavaco Silva para primeiro-ministro, para presidente da República. Os salazaristas, os fascistas, abraçaram-no, rodearam-no de mimos e de cifrões. Foi com esses "tónicos" que lhe aumentaram a gula, a avareza, a nova definição dos mordomos e porteiros venerandos do fascismo, o neoliberalismo. A reboque vieram outros também, uma autêntica máfia. Temos visto, sentido e sofrido neste percurso de marcha-atrás para a democraciazinha portuguesa. As elites portuguesas, da Justiça, à política, têm um dono: a alta finança. Não importa se instalada também na União Europeia, se global. Importa é que Direitos, Liberdades e Garantias se esfumam perante os poderes daquilo a que chamam neoliberalismo mas que é um fascismo pretensamente disfarçado para parecer reger-se por valores democráticos. Em tudo. Na CPLP, como Portugal, cresce e prevalece a exploração de uns quantos aos povos da CPLP, como por todo o mundo. E a CPLP não faz a diferença. As matilhas que elitizam e se impõem nos países lusófonos são uma praga que urge derrubar e substituir pelos que cumprem as regras democráticas e a transparência imprescindíveis a países, povos e sociedades sãs. A uma comunidade lusófona sã.

Por último, Cabo Verde. O exemplo em África, como dizem. Ténue exemplo da atualidade. Até porque não é autosuficiente e está dependente do chamado Ocidente Desenvolvido. Desenvolvido na exploração, na sonegação dos direitos e recursos dos países e dos povos. E a CPLP não faz a diferença. Em vez disso miscegena-se e concluía-se com a endemia global que encaminha para os 1% todas as riquezas, todos os recursos da mais-valia que é o trabalho dos povos e os recursos dos seus países, das suas nações subjugadas a elites que têm por práticas primordiais iludir os povos e explorá-los até ao tutano. Até à fome e doenças que os vitima, negando-lhes os direitos que assinaram a consignaram na Carta das Nações Unidas. ONU, aliás, outro elefante que "lava" mais branco. Subjugado por valores avessos aos princípios e finalidades democráticas, de justiça de facto.

Afinal a CPLP existe para quê? Para "lavar" mais branco que o OMO a roupa suja que são as políticas e práticas antidemocráticas da maior parte dos países que a compõem? Um elefante branco para “lavar” no faz-de-conta, sem desencardir. E isso está à vista de todos.

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