sexta-feira, 10 de julho de 2015

TSIPRAS PREPARA-SE PARA TRAIR OS GREGOS?



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

A tentativa de suicídio do governo de coligação Syriza-ANEL falhou, como acontece, de resto, à maioria das tentativas de suicídio. Alexis Tsipras está condenado a ser o grego que se entenderá ou que romperá de vez com a troika.

Nem depois de uma semana a pescar, de multibanco em multibanco, umas notitas para sobreviver mais um dia; nem depois de esperar horas e horas em filas para receber uma pensão; nem depois de anteciparem o futuro racionado com que a eurocracia os ameaçou; os gregos aceitaram subjugarem-se.

O não grego é admirável, comovente e um desafio à mediocridade. A leitura subsequente que consigo retirar desse dia memorável, do destino a dar a esses três milhões e meio de votos corajosos é, porém, sombria.

Na noite em que Alexis Tsipras anunciou o referendo, o que separava o governo Syriza-ANEL da troika? Pouco. Ambos os lados estavam de acordo na celebração de um novo empréstimo de oito ou nove mil milhões de euros para a Grécia pagar juros de dívida antiga. Ambos os lados condicionavam também esse empréstimo a pressupostos irrealistas: a troika impondo cortes em salários e pensões mas, ao mesmo tempo, a exigir crescimento económico; o Syriza-ANEL a prometer montantes de recolha de impostos e reformas na administração central impossíveis de alcançar nos prazos pretendidos.

Depois de enormes cedências na mesa de negociação, o Syriza-ANEL procurou tornar viável na Grécia a passagem das linhas vermelhas que prometera respeitar. Por isso, convocou um referendo com uma pergunta fechada sobre as condições em concreto do empréstimo que estava a ser negociado e não sobre a permanência no euro, a reestruturação da dívida ou qualquer outra solução de longo prazo para a economia do país.

Estupidamente, os políticos europeus, ao atribuírem ao não o valor de um rompimento com o euro, retiraram condições políticas para Tsipras acabar por apelar ao sim, como chegou a admitir.

Mas o suposto radical Tsipras não desistiu de salvar esta Europa que ele tanto critica: para voltar às negociações entregou a cabeça de Varoufakis aos credores e um documento assinado por cinco partidos em que pede um acordo socialmente justo e economicamente razoável.

Isto quererá dizer, apenas, voltar a negociar condições melhores para receber oito mil milhões de euros que nada resolvem? Ou, finalmente, quererá significar o início de um processo que resultará numa verdadeira reestruturação da dívida que, obviamente, terá de se estender, em parte, a Portugal e à Irlanda?

Se for a primeira hipótese, os gregos serão, mais uma vez, traídos e os quatro milhões que no domingo se abstiveram, votaram branco ou nulo - a verdadeira maioria dos gregos - é que tiveram razão.

*Publicado no DN em 07 julho 2015

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