Luís
Villalobos - Público
Petrolífera
é o principal accionista do BCP, e continua a funcionar como braço financeiro
do Estado angolano.
A
Sonangol recebeu 1062 milhões de dólares (965 milhões de euros) do Estado
angolano para conseguir manter-se como principal accionista do BCP e investir
no ex-BES Angola (BESA). O financiamento, designado de “prestação suplementar”,
foi efectuado em 2014 com o “objectivo de capitalizar a Sonangol”´e permitir o
reforço da presença da petrolífera estatal no sector bancário.
De
acordo com o relatório e contas da Sonangol, “o adiantamento por conta de
investimentos financeiros com a descrição “Banco Económico” [a designação da
nova instituição que irá suceder ao BESA] corresponde a um adiantamento para
realização de capital, na medida em que a referida instituição ainda não
existe, até que o processo legal existente ao nível do BESA esteja concluído”.
Do
valor avançado pelo Estado angolano à petrolífera, cerca de 500 milhões de
euros estão relacionados com a entrada no ex-BESA, após o colapso da
instituição, ligado ao desmoronamento do grupo BES/GES.
Após
a intervenção do Estado no BESA, em Outubro do ano passado o banco central de
Angola anunciou que a Sonangol ia ser accionista da instituição financeira, e
que esta ia mudar de nome para Banco Económico. O Novo Banco (ex-BES) ficou com
9,9% do capital (quando o BES detinha a maioria até então), e a Sonangol deverá
ficar com 35%.
O
resto do capital está nas mãos da Geni (do general angolano “Dino”, e que já
era accionista) e de uma nova empresa, a Lektro Capital (que estará ligada a
investidores chineses). De fora parece ter ficado a Portmill (de Manuel
Vicente, ex-CEO da Sonangol e vice-presidente de Angola, e do general
“Kopelipa”).
No
entanto, o Banco Económico ainda não foi oficialmente criado. Logo em Outubro,
o BES (entidade que ficou com os activos considerados tóxicos) considerou que
tinha sido impedido de participar na assembleia-geral que decidiu o futuro da
instituição, pelo que as decisões tomadas pelos outros accionistas eram
“inválidas” e que iria “agir em conformidade” do ponto de vista legal.
Quanto
ao BCP, a injecção de capital por parte do Estado angolano foi fundamental para
a Sonangol conseguir manter-se como principal accionista (com 19,4%). Sem esse
apoio, a petrolífera teria mais dificuldades em aplicar os cerca de 450 milhões
de euros que foram necessários para acompanhar o aumento de capital conduzido
pelo banco liderado por Nuno Amado.
Para
reforçar o seu balanço e conseguir devolver parte do empréstimo concedido pelo
Estado português, o BCP realizou no ano passado um aumento de capital,
reservado aos accionistas, de 2250 milhões de euros. Neste momento, está em
cima da mesa uma proposta de Isabel dos Santos (empresária e filha do
presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos) para fundir o BCP
com o BPI (do qual Isabel dos Santos é o segundo maior accionista). A
estratégia da empresária surgiu após a OPA dos catalães do La Caixa ao BPI, do qual é o
maior accionista. Por parte do BCP, a gestão já fez saber que está “disponível”
para analisar a fusão.
Atlântico
lidera nos lucros
A Sonangol, que esteve na criação do angolano Atlântico, deixou de aparecer como accionista nas informações deste banco, mas, no entanto, o Relatório e Contas da petrolífera afirma que detém 20% Atlântico Europa SGPS. Esta é a holding que domina 100% do Banco Atlântico Europa, que o banco angolano inaugurou em Lisboa em 2009.
De
acordo com os dados desta instituição financeira, o capital está disperso pelo
Atlântico Finantial Group, com sede no Luxemburgo (dono de 89,5%), directamente
pelo Banco Privado Atlântico (com 7%) e pela equipa de gestão (com 3,5%). O
Atlântico Europa, agora liderado por Diogo da Cunha, e que registou prejuízos
até 2012, é neste momento o banco de capitais angolanos mais lucrativo em
Portugal, ultrapassando o BAI Europa (que conta com a Sonangol como maior
accionista) e o BIC Portugal (que absorveu o BPN).
No
ano passado, o Atlântico Europa teve um resultado líquido de 3,75 milhões de
euros, o que representa uma subida de 71% face a 2013, beneficiando do
crescimento de negócios como a captação de clientes residentes em Angola e o
investimento em
imobiliário. Já o BAI Europa subiu 3,7% para 3,66 milhões e o
BIC Portugal desceu 54% para 1,14 milhões (devido a imparidades extraordinárias
de 17,7 milhões provocadas pela exposição de crédito ao GES).
No
primeiro trimestre deste ano, o Atlântico Europa manteve a dianteira, com um
lucro de 3,4 milhões (mais 208% em termos homólogos), contra os três milhões do
BIC Portugal (+49%) e os 1,2 milhões do BAI Europa (-9%). De acordo com o
Atlântico Europa, a melhoria do lucro resulta do aumento do produto bancário,
da redução de custos de funcionamento e das provisões e amortizações realizadas
no período em causa.
“Esta
evolução assenta igualmente no crescimento da actividade, reflectida no aumento
dos recursos de clientes de 352 milhões de euros, no final do primeiro
trimestre de 2014, para 438 milhões de euros” no final de Março deste ano, e
“de um aumento do crédito a clientes de 98 milhões de euros para 109 milhões de
euros”, refere a instituição financeira. O banco realça, contudo, que face aos
investimentos na expansão não perspectiva "que os restantes trimestres do
ano possam ser tão expressivos”.
O
Atlântico Europa está a ultimar o arranque das operações na Namíbia, mercado
onde irá depois defrontar-se com o BIC. Este último, que tem como principal
accionista Isabel dos Santos, já está na África do Sul e em Cabo Verde , e quer
abrir um escritório de representação na China. Já no que toca ao mercado
brasileiro, depois de ter comprado o BPN Brasil (e assegurado a parte do
capital que estava com o BAI), aguarda ainda autorização das autoridades locais
para iniciar actividade.
BNI
reforça capital em
Portugal
No
De
acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, o banco já foi autorizado pelo
Banco de Portugal a avançar, quando for necessário, com dois empréstimos
subordinados (diversificando as fontes de financiamento), e não exclui a
hipótese de abrir o capital a novos investidores. O principal accionista
do BNI é Mário Palhares (que já esteve no BAI), com 28%. Segue-se o general João
de Matos, com 11,6%, e o consórcio BGI, ligado ao grupo Castle na cervejeira
Cuca.
Foto:
Valor disponibilizado para entrar no
ex-BESA foi um “adiantamento por conta" REUTERS/SIPHIWE
SIBEKO
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