segunda-feira, 2 de junho de 2014

SETE ANOS À PROCURA DE MADDIE




Escavações na Praia da Luz marcam nova fase da investigação para tentar encontrar Maddie

A polícia britânica lidera a investigação e pediu autorização às autoridades de Portugal para ir mais longe. Operações no terreno contam com a ajuda de polícias portugueses.

Uma nova fase da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann começa esta segunda-feira com o primeiro de vários dias previstos de operações de buscas em terrenos em volta do resortOcean Club onde a família de Inglaterra passava férias em Maio de 2007, na Praia da Luz.

A menina desapareceu do quarto onde ela e os dois irmãos dormiam enquanto os pais jantavam num restaurante a algumas dezenas de metros. Em 2008, a investigação foi dada como terminada pela polícia portuguesa. Mas a britânica Scotland Yard nunca deu por concluído o inquérito que agora, além das buscas e possíveis escavações, passará também pela tentativa de ouvir oito cidadãos portugueses, não sendo claro, segundo a imprensa britânica se na qualidade de suspeitos ou de testemunhas.

A área onde esta segunda-feira se inicia a primeira de várias fases deste novo patamar da investigação foi selada às primeiras horas da manhã. Já em 2007 tinha sido alvo de buscas pela polícia portuguesa. Mas as provas até agora reunidas conduziram de novo a esta zona, justificando a operação, disse Keith Darquharson, um antigo conselheiro da Metropolitan Police, à Sky News. Pelo menos um avião militar também sobrevoou a zona esta manhã, acrescentou a mesma cadeia televisiva.

Desta vez, porém, além dos elementos da polícia portuguesa e britânica no terreno, e dos cães pisteiros, as equipas estão munidas de radares para penetração no solo, de modo a observarem possíveis suspeitas de transformação não natural do solo, que justifiquem eventuais escavações. As fotografias aéreas também permitirão detectar zonas suspeitas.

A operação surge duas semanas depois de a polícia britânica ter anunciado estar a seguir todas as linhas de investigação credíveis. Na mesma altura, avisou que não é apenas porque se avança para um “fase significativa do trabalho” que se asseguram “imediatamente as respostas que explicam tudo”.

Ao jornal britânico Daily Mirror, uma fonte não identificada disse que esta nova fase pode permitir “o grande avanço” que se espera no caso. A “hipótese de o corpo ser encontrado obviamente existe”, notou, acrescentando que esse é o cenário que os pais de Maddie continuam a querer rejeitar na esperança de que a filha ainda possa ser encontrada com vida. “Mas esse cenário de pesadelo também permitiria encerrar o caso”, conclui.

Público

Timor propõe consórcio de empresas lusófonas para explorar petróleo



CRISTINA FERREIRA - Público 

Anúncio foi feito por Passos Coelho no primeiro encontro de bancos, seguradoras e instituições financeiras dos países da CPLP.

O primeiro-ministro português anunciou nesta segunda-feira que Timor Leste, quem assumirá a próxima presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), propôs a constituição de um consórcio de empresas lusófonas para explorar as reservas existentes de petróleo naqueles países.

Falando no primeiro encontro de bancos, seguradoras e instituições financeiras dos países da CPLP, que está hoje a decorrer em Lisboa, Passos Coelho considerou que os dirigentes nacionais “têm um profundo conhecimento da realidade empresarial dos países de língua portuguesa” e poderão “desempenhar um importante papel no reforço das suas capacidades produtivas e de diversificação da sua oferta”.

Portugal “está disponível para dinamizar a concretização de acções de cooperação técnica no âmbito da CPLP”, disse Passos Coelho, especificando que essa cooperação incidirá sobretudo em domínios como a energia, geologia, turismo, transportes, obras públicas e comunicações.  “Este é o momento para a cooperação empresarial se afirmar na CPLP e, dessa forma, promover o potencial da lusofonia económica”, disse ainda.

Já o presidente do BCP, Nuno Amado, abordou a recente declaração de inconstitucionalidade de medidas propostas pelo Governo. "Não acredito que a decisão do Tribunal Constitucional comprometa as metas do Governo e que tenha de haver medidas compensatórias", afirmou o banqueiro, para quem o importante "é que se mantenha o caminho do financiamento da banca e das empresa, que é uma condiçao essencial para o crescimento económico”.

Por seu lado, Luís Mira Amaral, presidente do BIC Portugal, afirmou que não concorda com o Tribunal Constitucional, que se toirnou “um órgão ideológico”, onde "cada um decide segundo as suas opções ideológicas". Mira Amaral vê com maus olhos um novo aumento de impostos e considera que uma eventual subida do IVA para 25% seria “um desastre”.  “Não é por aumentarem os impostos que a situação vai melhorar”, disse.

Foto AFP

Empresários lusófonos reclamam livre transferência de capitais na CPLP




Lisboa, 2 jun (Lusa) - O presidente da Confederação Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP) defendeu hoje a livre circulação de pessoas, bens e serviços nestes países, para além da livre transferência de capitais para melhorar as economias nacionais.

"A livre circulação de bens, pessoas e serviços, e a livre transferência de capital entre os nossos países tornaria mais fácil gerar negócios e aumentar as economias", disse Salimo Abdula, argumentando que, como "o empresariado pede", bastaria haver "a vontade dos políticos para haver um real desenvolvimento das economias de todos e que nos levariam a ser uma das maiores forças a nível internacional".

Durante o discurso na abertura do primeiro encontro de bancos, seguradoras e instituições financeiras dos países da CE-CPLP, que decorre hoje em Lisboa, Salimo Abdula retomou esta ideia, já defendida várias vezes durante o seu mandato, para sublinhar que este será "um dos principais trabalhos" duma nova comissão especializada.

No âmbito da criação da união de bancos, seguradoras e instituições financeiras, "vai ter como principal trabalho melhorar os procedimentos para facilitar a criação de empresas e promover a melhoria do financiamento das economias do nosso espaço lusófono".

Se isto for conseguido, "não há razão para não abrir as fronteiras", concluiu o representante dos empresários lusófonos.

Durante o discurso, Salimo Abdula anunciou ainda que a Guiné Equatorial entrará, enquanto associada, na CE-CPLP já na quarta-feira, nas cerimónias de comemoração do décimo aniversário da entidade que reúne os empresários lusófonos.

Outra das novidades apresentadas por este responsável foi a da realização de um Fórum Económico em Luanda, a 16 e 17 de julho, para "fortalecer e dinamizar ainda mais o imprescindível e necessário desenvolvimento económico nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), incluindo a Guiné Equatorial como recém associdada da CE-CPLP".

Os objetivos oficiais do encontro são, de acordo com o programa oficial distribuído, promover o financiamento às economias e ao desenvolvimento, concretizar a livre circulação de pessoas, bens, serviços e transferências de capitais, melhorar os procedimentos para a criação de empresas, criar mecanismos de mediação de conflitos, implementar a diplomacia económica, criar a comissão instaladora da União de Bancos, Seguradoras e Instituições Financeiras dos Países da CPLP e criar a comissão especializada da CE-CPLP nesta área.

MBA // APN - Lusa

Não há gás e petróleo para sustentar Timor-Leste por muito tempo




Díli, 02 jun (Lusa) - A organização não-governamental La'o Hamutuk, Instituto de Monitorização e Análise do Desenvolvimento de Timor-Leste, alertou hoje que não há petróleo e gás para sustentar o país por muito tempo.

"Timor-Leste não tem petróleo e gás suficiente para sustentar o país por muito tempo. Se a economia não petrolífera não se desenvolver, quando ele secar, em meia geração, muitos timorenses vão juntar-se à volumosa maioria que vive na linha abaixo da pobreza", alerta o investigador da La'o Hamutuk Charles Scheiner.

Charles Scheiner já tinha feito o alerta durante uma conferência sobre Timor-Leste realizada na Universidade Nacional da Austrália em novembro passado. A análise, atualizada e hoje divulgada, vai ser publicada brevemente em livro.

"Quando as receitas do Estado não cobrirem as despesas, Timor-Leste vai cair na austeridade, com implicações drásticas para o Estado e os seus cidadãos", refere.

Em 2014, o valor do Orçamento de Estado, financiado maioritariamente pelo Fundo Petrolífero, ultrapassou os mil milhões de euros.

Na análise, o investigador refere que alguns já estão a começar a reconhecer que o Fundo Petrolífero, que em março era de 11,4 mil milhões de euros, "não é suficiente e que Timor-Leste tem de resolver rapidamente a sustentabilidade económica não-petrolífera".

Segundo os cálculos da La'o Hamutuk, o Fundo Petrolífero vai começar a diminuir em 2019 quando os gastos começarem a exceder as receitas do petróleo.

"Em 2026, antes dos bebés de hoje terminarem a escola secundária, o Fundo terá sido utilizado e Timor-Leste terá de cortar em dois terços os gastos", salienta o investigador.

Se a empresa petrolífera australiana "Woodside e a Austrália levarem a melhor e o Sunrise for desenvolvido numa plataforma flutuante os cortes vão ser de 70%, mas se o projeto continuar parado, Timor-Leste vai ter de cortar 88% depois de 2026, fechando ainda mais escolas, clínicas, escritórios e postos de polícia", refere.

Timor-Leste e a Austrália entraram num impasse em relação à exploração do Greater Sunrise, enquanto a petrolífera australiana defende a exploração daquele poço numa plataforma flutuante, as autoridades timorenses querem a construção de um gasoduto para a costa sul para desenvolver o país.

Em 2012, Timor-Leste acusou formalmente, junto do Tribunal Permanente Arbitral de Haia, a Austrália de alegada espionagem quando estava a ser negociado um tratado sobre a exploração do petróleo e gás no Mar de Timor.

Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater Sunrise, que vale milhares de milhões de dólares.

"A reserva petrolífera de Timor-Leste e a riqueza do petróleo não será capaz de financiar o Estado por mais 20 anos, mesmo que os desejos do país para o desenvolvimento do Greater Sunrise, retorno de investimento e preço do mercado global do petróleo sejam garantido", refere.

Para a La'o Hamutuk, para evitar aquele cenário é necessária uma "rápida mudança de direção" para o aumento da produção local de alimento, reduzir importações, cortar em gastos desnecessários e cancelar "megaprojetos inúteis".

"Timor-Leste deve fortalecer o seu mais forte recurso - o seu povo - investindo na educação, nutrição, cuidados de saúde e de água e saneamento. Timorenses de todas as classes económicas vão ter de trabalhar juntos para derrotar a maldição dos recursos naturais para sobreviver e prosperar, criando uma economia justa e sustentável", salienta a organização.

MSE // DM - Lusa

Requerente de asilo do Sri Lanka imola-se pelo fogo na Austrália




Sydney, Austrália, 02 jun (Lusa) -- Um requerente de asilo na Austrália, natural do Sri Lanka, morreu este domingo depois de se imolar pelo fogo, disse hoje o ministro da Imigração australiano, Scott Morrison.

O jovem, da etnia tâmil, sofreu queimaduras graves em 90% do corpo após se ter imolado pelo fogo na manhã de sábado, tendo sucumbido aos ferimentos no dia seguinte no hospital.

Residente em Geelong, a cerca de 75 quilómetros a sudoeste da cidade de Melbourne, a vítima tinha um visto temporário, que o permitia trabalhar, desde que chegou de bote à Austrália em janeiro do ano passado.

Enquanto o seu pedido de asilo era processado, Leorsin Seemanpillai estava a receber apoio psicológico, explicou o ministro australiano em conferência de imprensa.

O porta-voz dos refugiados tamiles, Aran Mylvaganam, disse que o homem, de 29 anos, sofria de depressão e tinha medo porque temia que o obrigassem a regressar ao Sri Lanka, onde poderia "ser perseguido pelos militares", segundo declarações citadas pela cadeia local SBS.

"O receio de ser repatriado e perseguido no Sri Lanka levou-o a cometer este ato de suicídio. Ele não será o último", advertiu o mesmo responsável que, em declarações à AFP, sustentou que os seus receios foram alimentados pelo facto de ter visto amigos seus serem levados para centros de detenção para serem deportados.

"Os funcionários da Imigração foram perturbá-lo por diversas ocasiões pretendendo que ele saísse voluntariamente", apontou, sublinhando que "não há dúvida de que a política cruel e desumana do governo australiano o conduziu a isto".

O ministro australiano disse ainda que as autoridades têm estado em contacto com o pai da vítima, na Índia, que pediu um funeral para o seu filho em Geelong.

A Austrália deportou dezenas de cidadãos do Sri Lanka que tentaram entrar no país ilegalmente.

O Sri Lanka tem sido acusado de não respeitar os direitos humanos da minoria tâmil, à qual pertencia a guerrilha dos Tigres que durante décadas lutou para criar um Estado próprio até ser esmagada, em 2009, numa ofensiva militar em que morreram dezenas de milhares de civis.

As Nações Unidas calculam que nos 37 anos de guerra entre os Tigres Tamil e as Forças Armadas do Sri Lanka tenham causado entre 80 mil e 100 mil mortos, dos quais 40 mil civis que morreram em 2009.

A morte de Seemanpillai surge numa altura em que sete requerentes de asilo iranianos coseram os seus lábios no domingo numa greve de fome massiva num centro de detenção na Ilha de Natal.

Segundo ativistas, cerca de 400 requerentes de asilo têm estado a recusar comida como parte de uma protesto contra a morte do iraniano Reza Barati, que foi morto num motim este ano num outro centro de detenção australiano. Em causa, o da Ilha de Manus, na Papua Nova Guiné.

De acordo com o departamento de imigração, mais de 24 mil requerentes de asilo vivem na Austrália com vistos do mesmo tipo que Seemanpillai possuía.

Outros 2.450 requerentes encontram-se nos centros de detenção de Nauru e na Ilha de Manus e outros 823 na Ilha de Natal.

DM // PJA - Lusa

CHINA CONTINUA A QUERER CALAR TIANANMEN 25 ANOS DEPOIS




Google bloqueada na China dias antes do aniversário de Tiananmen

02 de Junho de 2014, 18:32

Pequim, 02 jun (Lusa) - Os serviços da Google foram hoje completamente bloqueados na China, poucos dias antes do 25.º aniversário do massácre de Tiananmen.

De acordo com o portal da internet greatfire.org, "trata-se da maior censura jamais exercida pelas autoridades" e não está claro se, desta vez, "o bloqueio é uma medida temporal em torno do aniversário do massacre ou uma medida permanente".

O site sublinha que "o ataque, com mais ou menos intensidade, dura há quatro dias, sendo provável que a Google seja gravemente afetada", tratando-se de um bloqueio indiscriminado, já que todos os serviços da companhia, encriptados ou não, estão inacessíveis.

Após o bloqueio, alguns internautas chineses presumiram que os problemas com a Google poderiam ser a consequência de uma campanha levada a cabo por Pequim antes do polémico aniversário.

DZC // ARA - Lusa

PC chinês valoriza milagre económico e quer esquecer o "04 de Junho"

02 de Junho de 2014, 17:44

Pequim, 02 jun (Lusa) - Vinte e cinco anos depois de ter enviado o exército para esmagar um movimento pacífico de contestação, o Partido Comunista Chinês procura legitimar-se com o sucesso económico alcançado pelo país e esquecer o que se passou em 1989.

Na imprensa e discursos oficiais, a repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, que causou centenas de mortos, é referida apenas como "o incidente de Tiananmen" e a data, "Liu Si" (04 de junho, de 1989), evocada sempre em segredo, é um persistente tabu.

A pobre e isolada China tornou-se, entretanto, a segunda economia mundial, com crescente influência na cena política internacional, e, apesar do abrandamento global, continua a crescer acima dos 7% ao ano.

Em junho de 1989, tanques chineses invadiram a Praça de Tiananmen (Paz celestial, em chinês), atacando os estudante acampados há um mês a reclamar reformas pró-democráticas e exigindo liberdade de expressão. O protesto foi reprimido violentamente, causando centenas de mortos.

Hoje, om dezenas de milhões de chineses a ascenderem anualmente à classe média ou a iniciarem-se na sociedade de consumo, a memória do "Liu Si" parece esquecida, ou cultivada apenas por alguns ativistas e intelectuais.

"O governo chinês tem tentado expurgar a nossa memória coletiva através do culto de uma economia em crescimento", escreveu o romancista Murong Xuecun num artigo publicado na semana passada no New York Times.

Na internet, um espaço utilizado por mais de 600 milhões de chineses, as pesquisas ou comentários sobre "4 de junho", "Tiananmen 1989" ou outras palavras-chave parecidas são sistematicamente bloqueadas.

Para escapar à 'firewall' da China que limita o acesso e a publicação 'online', alguns internautas inventaram uma nova data - "35 do 5" (acrescentando quatro dias ao 31 de maio) - e, em vez de 1989, dizem, por exemplo, "o ultimo ano de 1990".

Oficialmente, o movimento pró-democracia de 1989, desencadeado por estudantes após a súbita morte de um antigo líder reformista do PCC, Hu Yaobang, foi "uma rebelião contrarrevolucionária".

"Se o partido e o governo não tivessem adotado medidas firmes, a situação na China não seria menos grave do que a que alguns países que se reclamavam do socialismo estão agora a sofrer", justificou em 1991 o então primeiro-ministro chinês, Li Peng.

Ao contrário do que aconteceu na vizinha Rússia e na Europa de Leste, o PCC manteve-se no poder e, sem abdicar do seu "papel dirigente", presidiu a um processo de crescimento económico sem precedentes na história moderna.

Há 25 anos, a bicicleta era o único meio de transporte privado acessível à esmagadora maioria das famílias. Hoje, a China é o maior mercado automóvel do mundo, à frente dos Estados Unidos da América.

Em 1989, apenas dois milhões de estudantes frequentavam o ensino superior. Vinte e cinco anos depois, o número ultrapassa os 25 milhões e há mais de um milhão e meio a estudar no estrangeiro.

No ano passado, quase cem milhões de chineses passaram férias fora da China Continental, concretizando outro sonho até há pouco impensável.

Em 2012, pela segunda vez em vinte anos, uma nova geração assumiu a liderança do PCC e, em princípio, o atual presidente, Xi Jinping, deverá conduzir o país até 2022, num modelo saudado na imprensa local como "o mais importante sucesso político da China dos últimos tempos".

A China foi também dos países que melhor resistiu à crise global de 2008 e as suas reservas cambiais, que em março passado somavam 3,95 biliões de dólares, são hoje cobiçadas pelas grandes economias liberais.

Maior estado autoritário do mundo, a China tornou-se igualmente o maior credor dos EUA: em fevereiro passado, a sua carteira de títulos do Tesouro norte-americano valia 1,27 biliões de dólares.

Socialmente, no entanto, as contradições agudizaram-se e, com a internet, a insatisfação manifesta-se com mais veemência.

Além da corrupção, um dos alvos das manifestações de 1989, a poluição e o crescente fosso entre ricos e pobres são considerados as "principais ameaças ao desenvolvimento" do país.

A China está cada vez mais integrada na economia global, mas, em muitos aspetos, ainda é um mundo à parte.

E a "traumática memória" do 4 de junho, escreveu Murong Xuecun, "nunca desvaneceu verdadeiramente e continua viva entre o povo apesar dos empenhados esforços de Pequim para suprimir a sua história".

AC // PJA - Lusa

Uma sublevação em plena Guerra Fria

02 de Junho de 2014, 17:44

Pequim, 02 mai (Lusa) - O exército chinês entrou pelas ruas de Pequim há 35 anos para esmagar um movimento de contestação estudantil que durante quase dois meses contagiou intelectuais, funcionários e outros trabalhadores e acabou por dividir a própria liderança comunista.

O palco dos protestos foi a Praça Tiananmen, uma das maiores do mundo, com cerca de 40 hectares, situado no centro físico e político de Pequim, mas o movimento alastrou às principais cidades chinesas, de norte a sul do país.

Na ocasião, o mundo vivia ainda sob o antagonismo da Guerra Fria: o muro de Berlim estava de pé, a União Soviética liderava o Pacto de Varsóvia e quase toda a Europa de Leste era governada por partidos comunistas tutelados por Moscovo.

Tudo começou a 15 de abril de 1989, com o anúncio da morte de Hu Yaobang, ex-secretário-geral do PCC, visto como um reformista liberal, afastado dois anos antes pelos "conservadores" por alegado "laxismo face ao liberalismo burguês".

"Morreu o homem errado", dizia um dos cartazes afixados logo naquele dia na Universidade de Pequim. Mesmo sem internet nem telemóveis, a emoção espalhou-se depressa.

Uma semana depois, dezenas milhares de estudantes marcharam sobre Tiananmen pedindo a reavaliação do legado de Hu Yaobang, e no final da manifestação, decidiram acampar na imensa Praça

No dia 25 de abril, sem aparente conhecido do sucessor de Hu Yaobang na chefia do PCC, Zhao Ziyang, o Diário do Povo, órgão central do PCC, publica um editorial criticando a contestação estudantil e preconiza "uma atitude clara contra os distúrbios", inflamando ainda mais os espíritos.

Embora sem porem em causa o "papel dirigente" do PCC, os manifestantes começaram a atacar também a corrupção e a pedir "mais transparência" e "mais democracia".

No dia 05 de maio, Mikhail Gorbachov chegou a Pequim para a primeira cimeira pró-soviética em quase trinta anos, mas devido á ocupação da Praça Tiananmen, a cerimónia oficial de boas vindas não pode realizar-se no local habitual.

Zhao Ziyang, adotou uma posição conciliadora face aos protestos estudantis, mas a maioria da direção, e em particular Deng Xiaoping, o "arquiteto-chefe das reformas económicas" e presidente da Comissão Central Militar, defendia "medidas firmes".

A 13 de maio, milhares de estudantes entraram em greve de fome e seis dias depois o governo declarou a lei marcial.

A entrada em Pequim dos primeiros veículos militares foi bloqueada pelos manifestantes. Contudo, no topo da hierarquia, a correlação de forças pendia para o lado dos conservadores.

Zhao Ziyang não voltou a ser visto em público e até morrer, em 2005, viveu em regime de prisão domiciliária, acusado de ter "apoiado a rebelião contrarrevolucionária" e "tentado dividir o partido".

No dia 30 de maio, alunos da Academia Central de Belas Artes ergueram na Praça Tiananmen, mesmo em frente ao retrato de Mao, uma réplica da Estatua da Liberdade em gesso, com 10 metros de altura, chamada a Deusa da Democracia.

Foi o último grande ato de subversão protagonizado pelos estudantes: na noite de 03 para 04 de junho, blindados do exército irromperam pela Praça Tiananmen, desalojando os cerca de 10.000 manifestantes que ainda se encontravam.

Centenas de pessoas morreram, a maioria das quais nas vias de acesso a Tiananmen, e milhares de outras foram presas ou exilaram-se.

Vinte e cinco anos depois, o número exato de mortos continua a ser um segredo de Estado. As Mães de Tiananmen, grupo formado por mulheres que perderam os filhos no "Liu Si" (dia 04 de junho de 1989), já identificaram 202.

AC - Lusa

Romance "1984" de Orwell e "Jogos da Fome" são inspiração contra militares




Banguecoque, 2 jun (Lusa) - O romance "1984" de George Orwell ou a trilogia "Jogos da Fome" estão a servir inspiração aos tailandeses que protestam de maneira pacífica contra o golpe de Estado militar que depôs o governo eleito do país.

Desde quase há uma semana pequenos grupos de cinco pessoas, número limite de reunião de pessoas imposto pela lei marcial em vigor, juntam-se diariamente para ler excertos do clássico sobre regimes totalitários "1984", de George Orwell.

Estes pequenos grupos são normalmente formados por jovens universitários e reúnem-se em interfaces de transportes públicos no centro de Banguecoque.

"Os militares exercem pressão sobre os meios de comunicação social para que não se publiquem notícias negativas sobre o golpe de Estado. Pode comparar-se esta forma de atuar à do 'Ministério da Verdade' no 1984", disse, citado pela agência espanhola EFE, Nithipat Kanishthanon, estudante de direito.

No clássico de Orwell, o "Ministério da Verdade" dedica-se a manipular ou destruir documentos históricos de todo o tipo para conseguir que os acontecimentos do passado coincidam com a versão oficial da História mantida pelo Estado.

No domingo, uma centena de manifestantes anti-golpe mostraram um cartaz a preto e branco em frente a um centro comercial, em que aparecia o rosto do general Prayuth Chan-ocha, chefe do Exército tailandês e líder do golpe de Estado, com a legenda "Tailândia 1984".

"O golpe de Estado é a paz. As eleições são a escravatura. A lealdade é a força", realçava ironicamente o cartaz.

As autoridades militares obrigaram à evacuação do centro comercial e fecharam o local por várias horas, perante o espanto dos turistas presentes.

"Não entendo como podem desocupar um centro comercial inteiro por causa de uma manifestação pacífica de poucas pessoas", disse Andrea Dolino, turista italiano chegado há três dias a Banguecoque.

Durante os protestos, várias pessoas começaram a levantar o braço e a mão com três dedos apontados para cima, um gesto semelhante ao utilizado nos filmes inspirados na saga "Jogos da Fome", de Suzanne Collins.

Nos livros, o gesto é um sinal de respeito aos falecidos e de solidariedade entre gente comum. Tal como na ficção, as autoridades começaram a reprimir as pessoas que faziam o gesto.

Uma mulher que fez a saudação foi presa por polícias à paisana que se encontravam entre os manifestantes, de acordo com diário local 'Bangkok Post'.

Desde que o exército assumiu o controlo do governo, em 22 de maio, os militares têm exercido práticas de censura nos meios de comunicação social locais e internacionais.

Canais locais com clara filiação política, como a BlueSky ou a Asia Network, não retomaram as suas emissões desde o golpe de Estado, e canais internacionais como a BBC ou a CNN continuam censuradas.

A Tailândia atravessa uma crise política constante desde o golpe de Estado que depôs o Governo do antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, em 2006.

Desde então, detratores e apoiantes de Shinawatra, respetivamente "camisas amarelas" e "camisas vermelhas", têm saído à rua para tentar derrubar os sucessivos Governos do país.

O golpe de Estado liderado por Prayuth Chan-ocha, figura próxima da casa real tailandesa, deu-se depois de manifestações contra o Governo de Yingluck Shinawatra, irmã de Thaksin, que causaram 28 mortos e mais de 800 feridos.

Os militares tailandeses protagonizaram 19 tentativas de golpe de Estado desde o fim da monarquia absoluta em 1932, sendo que 12 tiveram êxito.

JZE/JMR // JMR - Lusa

Pobreza aumenta abandono de crianças no centro de Moçambique




Tímido mas forte, Abdul Eduardo, oito anos, lembra quando a mãe, embriagada, o abandonou com o irmão na rua, dias depois de o pai ter sido preso por roubo, e de ter acabado num infantário no centro de Moçambique.

A "mamã ia beber quando nos perdemos no meio da multidão na rua", conta à Lusa Abdul Eduardo, entre lutas de superação e esperança de reencontro, mas seguro, num sorriso discreto, de que vai "proteger o irmão e cuidar de outras crianças", quando se formar em medicina.

O número de crianças abandonadas, incluindo recém-nascidos e deficientes físicos, órfãos e as que fogem de casamentos forçados e maus-tratos, está a crescer a cada dia no Infantário Provincial de Manica (IPM), ligado ao Instituto Nacional da Ação Social (INAS), oriundas de várias províncias moçambicanas.

Atualmente, 43 crianças e jovens, dos 0-18 anos, quase 80% órfãos e abandonados, das províncias de Sofala e Zambézia (centro) e Inhambane (sul), além da anfitriã Manica, foram acolhidas no infantário. Outras foram integradas em centros privados de acolhimento de crianças, sobretudo na "Aldeia da Criança".

Além das estatísticas, a realidade sugere uma "degradação da espinha familiar", segundo Nádia Sabonete, pedagoga do IIPM, e que é provocada pela miséria, falta de autoestima e hábitos, que concorrem para o "desespero das crianças".

"O número dos acolhidos chega a superar a capacidade da instituição", revela à Lusa Nadia Sabonete, lembrando que cada caso merece um tratamento próprio.

No infantário, disse, as crianças com idade escolar são redirecionadas para as escolas públicas dos arredores. Além da assistência psicossocial, também recebem aulas de ofícios como corte e costura e agricultura.

Entre empurros para uma pose, Chinene Chiwanga, oito anos, segura firme a sua irmã menor, frágil e estilosa, e sorri para a câmara fotográfica, distraindo-se por momentos de perguntar pela mãe, que morreu há um ano quando as três estavam internadas no hospital distrital de Manica, província com o mesmo nome.

"Quero ser também enfermeira, porque minha irmã ficou muito doente", disse Chinene Chiwanga, espalhando simpatia, enquanto passava a mão pela cabeça de um rapaz acolhido naquele centro, cuja mãe está em reclusão na Penitenciária Agrícola de Chimoio.

Outra criança foi abandonada, após a morte da mãe, e cuja família materna se recusou a entregá-la ao pai, porque este não pagou o lobolo - um ritual tradicional, que se resume no pagamento de um dote à família da noiva, em dinheiro e ou gado, para legitimar um casamento.

Estatísticas governamentais apontam que nos últimos dois anos aumentou o número de crianças, com certificado de pobreza, na província de Manica, centro de Moçambique, que geralmente não são referenciadas ao infantário por terem condições de alojamento.

Em 2012, existiam 7.019 crianças pobres contra 4.808 crianças de 2011, com atestado de pobreza, concedidos pelos governos distritais, para apoio alimentar, além de isenção de pagamento de taxas de ação social escolar.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Dhlakama quer fazer pré-campanha mas os militares cercam o seu refúgio




Em Moçambique o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama exige que o exércíto governamental pare de o cercar para que ele possa também fazer pré-campanha com vista às eleições gerais previstas para outubro próximo.

Observadores e analistas consideram que o cerco é propositado justamente para impedir a segunda maior força da oposição de participar no processo e que tal pode durar ainda muito tempo.

Mas o partido já manifestou publicamente as suas intenções no contexto da crise e das eleições, declarou António Muchanga, porta-voz da RENAMO em entrevista à DW África. "O presidente Afonso Dhlakama na entrevista que deu basicamente manifestou o desejo de ver o conflito terminado, que se feche o dossier sobre questões militares e que sejam retiradas as tropas da zona onde estão para permitirem a normalidade política do país e principalmente para que possa circular como os outros condidatos às presidenciais estão a fazer."

Afonso Dhlakama deu nesta sexta-feira (23.05) uma conferência de imprensa, por telefone, a partir de algures na Serra da Gorongosa a vários media reunidos na sede da RENAMO em Maputo.

E Muchanga aos microfones da DW África sublinhou que chegou a hora de se concluir a fase da composição do exército, tema crítico na mesa de negociações entre a RENAMO e o Governo, e convidar a comunidade internacional a testemunhar as reformas das forças de defesa e segurança.

Entretanto, esta fase da negociação dura já muito tempo, e o Governo da FRELIMO há dois meses que se recusa negociar mais do que uma vez por semana.

Impedimento propositado

O porta-voz do principal partido da oposição considera que as limitações impostas ao seu líder são propositadas e argumenta: " Visa efetivamente fortalecer o candidato da FRELIMO porque mesmo para o presidente Dhlakama poder recensear houve uma ginástica muito séria, porque havia pessoas na FRELIMO que não aceitavam o seu recenseamento. Só se recenseou depois de mais de dez dias ter declarado o termo das ações militares pela parte da RENAMO. E o Governo não está a corresponder."

E enquanto Afonso Dhlakama permanece cercado, os principais partidos já estão em pré-campanha, principalmente a FRELIMO, partido no poder, que não cessa de promover o seu candidato Filipe Nyussi.

O analista político do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais, Henriques Viola, tal como Muchanga, considera que encurralar Dhlakama é uma estratégia da FRELIMO, que visa também outros actores: "Não tenho dúvidas que se tente impedir Afonso Dhlakama de poder levar a bom termo a sua atividade política, mas simultaneamente também visa criar um clima de medo, um clima de tensão para os outros atores políticos para que estes não possam realizar as suas atividades da melhor forma".

Os "frutos" da crise para Dhlakama 

Se por um lado Afonso Dhlakama e o seu partido estão limitados fisicamente em termos de pré-campanha, por outro, estão a ser muito mediatizados. Os dados em cima da mesa fazem com que analistas deem razão às reivindicações do partido.

Se realmente a intenção do Governo é limitar a RENAMO, então pode-se dizer que o tiro lhe saiu pela culatra? A resposta de Henriques Viola: "Vejo que a coisa está a ganhar o efeito boomerang, um efeito contrário ao desejado. Mas também não tenho dúvidas de que essas ações têm vários efeitos e um deles é precisamente reduzir o campo de manobra sob ponto de vista da atuação política direta, de contactos com os eleitores por parte de Afonso Dhlakama."

Mas, por outro lado, ainda de acordo com Viola "isso cria uma bipolarização demasiadamente intensa entre o Governo, liderado pela FRELIMO, e por outro a RENAMO, o maior partido da oposição, neste momento de governação nacional".

De qualquer forma o maior partido da oposição em Moçambique não está parado, de acordo com o seu porta-voz, António Muchanga, os seus membros já se posicionaram com vista às eleições de 15 de outubro próximo: "A RENAMO tem brigadas centrais em todo o país que estão a mobilizar os membros e simpatizantes desde a integração dos nossos homens nos orgãos eleitorais."

António Muchanga conta ainda que "neste momento, essas brigadas estão a dirigir a recolha de assinaturas para apoiar a candidatura do presidente Dhlakama, porque feitas as consultas os membros decidiram que é ele o candidato."

Relativamente a votação em si, o porta-voz garante: "Estamos a preparar as pessoas que irão estar nas mesas de voto. Nos próximos dias, na segunda quinzena de julho, vai ter início o processo dos membros das Assembleias provinciais e dos deputados à Assembleia da República."

Deutsche Welle – Autoria: Nádia Issufo – Edição: António Rocha

Moçambique: É necessário distribuir dinheiro aos pobres para criar emprego




Esta posição foi defendida ontem na conferência “África em ascensão”

O País (mz)

O antigo ministro brasileiro do desenvolvimento social e luta contra a fome, Patrus Ananias, afirma que em parte alguma do mundo há emprego para todos. Por isso, é necessário transferir dinheiro para as famílias pobres, de modo a que consigam comprar comida para se alimentar, ir à escola para depois arranjarem emprego.

“Não há pleno emprego numa sociedade capitalista. Isto está a acontecer agora nos países desenvolvidos. Os programas de transferência de rendimentos às famílias pobres, como fizemos no Brasil, não se contrapõem ao emprego. Uma família sem renda ou com uma renda abaixo das suas necessidades básicas tem o direito de receber um complemento salarial que possibilite uma vida minimamente digna. Trata-se de um direito social”, explicou o antigo ministro do Brasil.

O ex-governante brasileiro defende que o assunto de emprego não deve ser tratado com “ilusão”, isto é, fazendo apenas promessas de emprego à população, enquanto nela se encontram analfabetos que são excluídos pelos capitalistas quando são lançadas oportunidades de trabalho no mercado.

Moçambique: Presidente Guebuza reafirma eleições gerais em Outubro




O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, reconheceu hoje em Maputo que as tensões militares com a Renamo, maior partido de oposição, são um fator de perturbação das eleições gerais, mas reafirmou que a votação terá lugar a 15 de outubro.

Numa conferência de imprensa no final de uma visita de trabalho de três dias à cidade de Maputo, Guebuza defendeu que os confrontos entre Exército e Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) justificam a necessidade de eleições na data prevista.

"Nós temos de viver dentro de uma certa ordem e dentro de uma certa lógica. As eleições fazem parte da ordem e da lógica e vão ser realizadas", afirmou o Presidente moçambicano.

"A Renamo não está a reagir positivamente. Não me parece que a Renamo tenha a mesma agenda connosco. A nossa agenda é garantir o bem-estar do nosso povo", disse ainda Guebuza, quando questionado sobre o que está a dificultar o diálogo, iniciado há mais de um ano, com o maior partido de oposição.

Moçambique vive o seu pior momento político-militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992, entre a Renamo e o Governo, que pôs fim à guerra civil de 16 anos.

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, refugiou-se na Serra da Gorongosa, centro do país, na sequência da ocupação pelo Exército moçambicano do acampamento em que vivia na região, em outubro passado, no seguimento da tensão política e militar que assola o país desde finais de 2012, devido a divergências em torno da lei eleitoral e da alegada marginalização dos antigos guerrilheiros do movimento no exército.

Apesar de o diferendo em torno da legislação eleitoral ter sido ultrapassado com a aprovação de emendas exigidas pelo principal partido da oposição, a tensão política e militar ainda não foi resolvida, devido a desentendimentos em torno da desmilitarização do braço armado da Renamo e da integração de militares do movimento na hierarquia das forças de defesa e segurança.

A Renamo acusa o Governo de reforçar as suas posições militares na Gorongosa, com vista à eliminação de Dhlakama, mas o executivo diz que o líder da oposição é livre de sair do seu esconderijo.

Numerosos confrontos têm tido lugar na região entre homens armados ligados à Renamo e o Exército.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal: Mais IVA ou mais cortes nos salários? Eis a questão




Aguarda-se o plano do Governo para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional. Se aumentar o IVA em um ponto percentual no início do ano traria receitas de 600 milhões de euros, o facto de se viver já o meio de junho obriga a medidas adicionais, que podem passar pelo regresso aos cortes salariais aplicados por José Sócrates, refere o Diário Económico.

Desde sexta-feira que o Governo está a tentar abrir novas portas para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional a três normas do Orçamento do Estado para 2014. O primeiro-ministro não se quer precipitar, se bem que o timing é apertado e, para bem dos cofres do Estado, uma alternativa terá de chegar o mais depressa possível.

A declaração de inconstitucionalidade do corte nos salários da Função Pública, as taxas sobre os subsídios de doença e desemprego e os cortes nas pensões de sobrevivência abrem um buraco de 610 milhões de euros.

Se a aplicação da primeira medida geraria poupanças de 700 milhões de euros, o facto de o chumbo não ter efeitos retroativos permite ao Estado poupar 290 milhões, pelo que o buraco se fica pelos 410 milhões. Já cada uma das outras medidas tem um peso de 100 milhões de euros.

Foi para traçar um plano para compensar estas perdas que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, estiveram reunidos durante o dia de ontem.

Em cima da mesa está um novo aumento de impostos, a que o Tribunal Constitucional parece ser mais recetivo. Se, aquando da elaboração do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) o aumento do IVA em 0,25 pontos percentuais significava um aumento das receitas em 150 milhões de euros, uma subida dos 23% para os 24% gerará 600 milhões. Isto se a medida tivesse sido aplicada no início do ano.

Assim sendo, são necessárias mais reformas, pelo que poderá haver lugar a um novo plano de cortar nos salários. O recuo para os cortes aplicados por Sócrates é uma das possibilidades.

Notícias ao Minuto

Portugal: ESTES PS’s SÃO LOUCOS!?



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Nesta semana que decorreu desde as eleições para o Parlamento Europeu tenho assistido a diversas mistificações sobre os diferentes resultados eleitorais. Em primeiro lugar, que a derrota da coligação de Direita "não foi assim tão grande".

Descontando aqueles que acham que, para o que o PSD e o CDS têm feito ao país, qualquer voto é de mais, a mistificação da dimensão da derrota parte dos próprios e dos comentadores que lhe são próximos - como vimos na própria noite das eleições. E o principal argumento é que "perderam por poucos" relativamente ao vencedor.

Sendo verdade que o PS não teve um resultado por aí além, este argumento entra na esfera do "pobre a rir-se do remediado". Não, a derrota da coligação PSD/CDS atingiu a maior dimensão de sempre da Direita em Portugal: coligados perderam relativamente a 2009 mais de 517 mil votos, o que significa que mais do que um em cada 3 votantes na Direita deixaram de o fazer! Antes destas eleições, o pior resultado que a Direita coligada tinha tido em Portugal era de 33% (eleições de 2004 para o PE, que traduziram uma derrota tal que Durão Barroso "fugiu" para Bruxelas).

Escamotear estes factos não é sério. Dizer que uma derrota desta dimensão abre boas perspetivas para que a coligação PSD/CDS ganhe as próximas legislativas soa a Zandinga de má qualidade e confunde os desejos com a realidade. E esquece que, à Direita, nada mais resta para apoiar um eventual governo PSD/CDS. Salvo se o PS fizer o frete - mas já abordaremos o assunto.

A outra mistificação prende-se com o notável resultado da CDU, cujos adversários procuram minimizar, atribuindo a sua subida ao facto de os seus eleitores serem "ferrinhos" ou seja, vão sempre votar, o que num quadro de abstenção elevada permite reforçar posições sem reforçar votações. Nada mais falso. Efetivamente, a CDU num quadro com maior abstenção conseguiu conquistar mais 36 mil votos, o que corresponde a um reforço de 10% da sua votação relativamente a 2009. E, analisados os resultados com mais pormenor, constata-se que o reforço da votação da CDU vem muito de fora das suas zonas tradicionais de influência. Como no distrito do Porto onde o reforço foi de 13,6%, superior à média nacional. Ou seja, a CDU conquistou novos eleitores que, neste quadro de crise, conseguiram vencer o preconceito anticomunista e dar o passo para votar naqueles que, há muito, reconhecem como necessários e úteis, mas a quem não davam o seu voto. Deram este passo definitivamente? Veremos. Mas que deram o passo não há dúvidas.

Mas, esperando ter desmistificado estas duas falácias, vamos ao tema de título desta crónica. O PS no seu melhor, que faria com que o Obélix, se por cá andasse, os comparasse aos romanos.

A primeira coisa que choca é que, na sequência das eleições do passado domingo, a que se segue mais um chumbo redondo do Tribunal Constitucional, o assunto em discussão deveria ser o da legitimidade deste Governo (política, dado que não representa, já, o eleitorado e legal, dado que abusa do desrespeito pelo quadro constitucional do país, colocando-se fora da lei), apontando-se as baterias para a sua substituição. Procurando que Cavaco, a quem compete cumprir e fazer cumprir a Constituição (e que há um ano, na sequência da crise do Portas "irrevogável", acenou com a convocação de eleições antecipadas se houvesse o consenso da troika nacional,) deixasse de ser cúmplice do Governo, assumindo, finalmente, o que se espera de um presidente da República.

Não, num verdadeiro frete ao Governo, o PS enredou-se numa luta de protagonismos. E o que mais choca é que, não entendendo nada da mensagem que o eleitorado transmitiu no passado dia 25, esta luta no PS nada tem a ver com políticas alternativas: é, apenas, uma luta de "galos" e das suas fações.

A derrota do PS nas eleições (apesar de ter ganho, apenas teve 30% dos votos) não se deve a quem é líder ou a quem foi candidato. Isso tem uma importância marginal no cômputo geral da fraca votação do PS. O que os eleitores disseram (e o líder do PSOE, em Espanha, teve a clarividência de o reconhecer quando, após os maus resultados, de imediato apresentou a sua demissão) foi que atribuem ao PS e às suas políticas parte das culpas pela situação do país.

Logo, o que se esperava do PS era que rompesse com essas políticas. Mas não: procuram, na senda politiqueira de que as pessoas já se fartaram, mudar umas caras criando a ilusão de mudança para facilitar a inércia e tudo ficar na mesma.

E não deixa de ser curioso que o protagonista que salta para o terreiro seja um ex-ministro e acrítico dirigente do PS de Sócrates.

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