sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sistema financeiro mundial está avariado e corrupto - Xanana Gusmão




Díli, 30 mai (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, acusou o sistema financeiro mundial de ser corrupto e estar avariado, num discurso proferido durante a terceira reunião ministerial do G7+, presidido por Timor-Leste, que terminou hoje em Lomé, no Togo.

"Vivemos num mundo caracterizado por um sistema financeiro avariado e corrupto, em que o suor e o sangue dos nossos povos beneficiam os super-ricos internacionais", afirmou Xanana Gusmão, recordando que os povos dos países frágeis continuam a sofrer.

O primeiro-ministro timorense chegou quarta-feira ao Togo para participar na reunião do G7+, organização criada em abril de 2011 que reúne 18 Estados-membros, entre os quais, Timor-Leste e Guiné-Bissau, e que defende reformas no modo como a comunidade internacional apoia os países frágeis ou em situação de pós-conflito.

"É um mundo em que a divisão nos nossos países ajuda os poderosos a ditar as condições dos pobres, ao mesmo tempo que transferem o seu dinheiro de um lado para o outro a fim de evitar pagar impostos e assim contribuir para o bem-estar humano. Infelizmente, as elites globais beneficiam do perpetuar da divisão, da intolerância e do ódio", salientou.

Segundo Xanana Gusmão, o mundo atual enfrenta uma "crise de confiança", que vai desde o "fracasso das instituições financeiras internacionais ao comportamento político dos poderosos".

"No nosso mundo subdesenvolvido, a crise é uma crise de liderança. Atualmente a liderança não consiste em ter um líder, mas sim em ter um entendimento nacional e um compromisso por parte dos homens e das mulheres relativamente aos interesses coletivos do país e às aspirações do povo", disse.

No discurso, o primeiro-ministro timorense insistiu que o "mundo precisa mudar" e que os Estados frágeis têm de ser ativos naquela mudança.

Do Togo, Xanana Gusmão segue para a Guiné Equatorial onde deve chegar domingo para uma visita de trabalho, que termina a 04 de junho.

MSE // APN - Lusa

CPLP estuda patrulhamento anti-pirataria no Golfo da Guiné




Luanda, 30 mai (Lusa) - Os países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estão a estudar a realização de operações de combate à pirataria no Golfo da Guiné, afirmou o ministro da Defesa angolano.

Em declarações à comunicação social, em Luanda, João Lourenço, que participou na reunião de ministros da Defesa da CPLP realizada esta semana em Portugal, admitiu que a formação de forças para o patrulhamento conjunto no Golfo da Guiné é uma hipótese em cima da mesa.

"Para o caso da pirataria marítima já há algumas ações conjuntas concretas, nomeadamente a formação de forças para fazerem patrulhamento conjunto no Golfo da Guiné, mas é assim mesmo que se começa", disse o ministro da Defesa Nacional angolano, no regresso de Lisboa, citado pela imprensa pública.

Em fevereiro deste ano, o ministro português da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, apontou "sinais preocupantes" de pirataria no Golfo da Guiné, os quais podiam justificar a preparação de uma possível missão da União Europeia na região, em 2015.

"Para Portugal é mais importante concentrar esforços de preparação, exercícios, de análise, no Golfo da Guiné porque é uma região que do ponto de vista estratégico é mais prioritária", disse na ocasião, à Lusa, o governante português.

A 15.ª reunião dos Ministros da Defesa da CPLP decorreu em Lisboa nos dias 26 e 27 de maio.

A CPLP é formada por Angola, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, países distribuídos entre Europa, América, África e Ásia.

PVJ (SF) // APN - Lusa

Murteira Nabo critica falta de coordenação da CPLP no setor económico




Lisboa, 30 mai (Lusa) - O economista português Francisco Murteira Nabo criticou hoje a falta de coordenação da CPLP no setor económico, considerando que a área foi a que menos cresceu desde a criação da organização em 1996, se comparada à cultura.

Falando numa conferência sobre o "Espaço Lusófono (1974-2014): Trajetórias económicas e políticas", Francisco Murteira Nabo defendeu uma mudança da estratégia dos oito estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) visando o reforço da cooperação económica.

"Passados 18 anos já não se justifica certas coisas", disse na intervenção feita no painel que discutiu a Cooperação, Empresas e Investimentos nos países lusófonos.

Francisco Murteira Nabo considerou, por exemplo, que Portugal perdeu uma "enorme oportunidade" de negócio ao voltar as costas ao Atlântico, nomeadamente o Brasil.

Contudo, criticou a atitude de certas empresas portuguesas que ignoram os riscos de investimentos no Brasil, por achar que a língua é um fator de aproximação.

Citando o caso da Portugal Telecom, na altura em que era dirigida pelo próprio economista português, Murteira Nabo reconheceu que a empresa ignorou o risco do mercado ao se instalar no Brasil baseando-se no fator língua, quando, neste campo de telefonia móvel, o mercado brasileiro é tradicionalmente virado para as regras de negócios norte-americanas.

Para Murteira Nabo, verifica-se "negligência de análise dos novos mercados" por parte de certas empresas portuguesas.

"A língua é igual, mas a realidade é diferente. O fator de proximidade, por vezes, leva à negligência por aspetos técnicos", pelo que "o risco tem que ser avaliado", afirmou.

Na opinião do economista, as empresas portuguesas devem procurar uma integração mais fácil nos países de língua portuguesa, porque no "espaço lusófono" existe "oportunidade para todos".

MMT // EL - Lusa

A PERSPETIVA MARXISTA NA UCRÂNIA



Yury Shakhin – Revista Rubra

Para a maioria dos europeus, a Ucrânia deve parecer um país muito estranho. Enquanto na UE as massas protestam activamente contra as suas políticas, o povo ucraniano quer com toda a sua força entrar na UE e, aos seus olhos, a imperialista União Europeia parece ser a Terra Prometida. Contudo, a nossa tarefa não é surpreendermo-nos mas explicar o que aconteceu na Ucrânia.

Antes de mais, tenho de dizer quais foram as razões para o surgimento do movimento de Maidan. É sobejamente conhecido que os trabalhadores ucranianos estavam fartos de exploração e corrupção. Havia um poderoso descontentamento social na sociedade ucraniana. No decurso dos últimos anos, foram muitos os sinais inequívocos dessa realidade. Protestos espontâneos, principalmente da facção pequeno-burguesa, estalaram em diferentes partes da Ucrânia. Por isso, foi um real descontentamento social que levou finalmente a Maidan.

O movimento Maidan tem uma importante particularidade — era de natureza pequeno-burguesa. Os nossos camaradas de Kiev, que visitaram Maidan, notaram a presença de camponeses, de trabalhadores sazonais do campo, de comerciantes urbanos, os chamados estratos médios urbanos,  da intelligentsia, mas não encontraram os trabalhadores comuns a participar activamente em Maidan. De qualquer modo, muitos deles insurgiram-se contra as más condições de vida e a governação dos grandes capitalistas, chamados oligarcas na Ucrânia. Assim, Maidan tinha realmente algumas tendências democráticas e foi por isso que alguns esquerdistas ucranianos tentaram participar nele.

No entanto, o movimento pequeno-burguês não era independente. Desde o princípio, aceitou a hegemonia das forças nacionalistas burguesas. Estas forças oposicionistas recebiam abertamente a ajuda financeira americana e europeia e tentaram manobrar este protesto para a sua luta de poder na Ucrânia. Tiveram sucesso nesta empresa.

Ora, fora da Ucrânia desconhece-se que, no princípio, desenhavam-se duas Maidans: uma fora formada espontaneamente na praça da Independência, a outra tinha sido organizada pelo partidos da oposição na praça Europeia. Quando os partidos da oposição perceberam que o seu campo não era popular, deslocaram-se para a praça da Independência e assumiram o seu controlo, dado a sua melhor organização e capacidade financeira. Assim, Maidan caiu nas mãos das forças nacionalistas da burguesia que trabalhavam como agentes do EUA e da UE. Este facto beneficiou o fortalecimento das tendências extremistas pró-Nazi em Maidan.

Depois da vitória de Maidan, a sua natureza de classe mudou completamente. Se, antes da vitória, ainda se verificavam algumas tendências democráticas, depois dela desapareceram completamente. Desde o final de Fevereiro que Maidan se transformou na base do novo regime burguês. E se alguém tenta descobrir alguma tendência democrática, terá de procurar aqueles grupos de pessoas que não caíram sob a influência Nazi e se opõem ao actual governo de Kiev.

Quanto à natureza de classe do novo poder estatal estabelecido por Maidan, ela é baseada na aliança entre oligarcas e a cáfila Nazi. Aqueles que falaram sobre uma vitoriosa revolução democrática na Ucrânia estavam completamente enganados. As forças da oposição burguesa usaram os protestos de massa para alcançar o poder e nada mais. Não se tratou de uma revolução, mas de um golpe de Estado reaccionário — nada mudou nas relações de propriedade, nada mudou na estrutura política. A única mudança foi que os extremistas nacionalistas ucranianos alcançaram o poder. E eles nada têm a ver com o fortalecimento da democracia.

A liberdade política é agora mais limitada do que nos tempos de Yanukovitch. O novo governo de Kiev passou imediatamente a controlar todos os principais canais de televisão na Ucrânia. Os jornais oposicionistas mais influentes foram encerrados, por exemplo, o que aconteceu com o jornal “2000”, que se orientava consistentemente pela Rússia e não pela UE ou pelos EUA.  Verificaram-se ataques DDOS (ataque de negação de serviço) contra sítios da net oposicionistas, como o «Українська кривда», que expunha as mentiras e a natureza corrupta dos ditos média democráticos e independentes — este sítio da net não funciona desde a vitória dos “democratas”.  Todas as tipografias receberam uma ordem do serviço de segurança do Estado para não imprimir materiais contra o novo regime — é, por isso, que até o nosso pequeno jornal enfrenta dificuldades pela primeira vez na sua história: nós denunciamos abertamente a aliança entre a cáfila Nazi e os oligarcas como a base do novo regime e, por esta razão, é difícil conseguir publicá-lo.

Como é evidente, o novo governo ucraniano tem o apoio externo. Ele depende do imperialismo da UE e dos EUA. A cada dia que passa, vai-se tornando claro o plano dos EUA de o usar como um simples instrumento na sua disputa hegemónica com a Rússia. Por isso, na perspectiva internacional, o governo de Kiev é instrumental na repartição das esferas de influência mundiais. Assim, a sua natureza reaccionária deve-se não só ao seu papel interno, como externo.

Portanto, a tarefa de todas as forças da classe trabalhadora não está em procurar as tendências democráticas do novo regime, mas em proclamar desafogadamente: não apoiem o governo de Kiev!

Os aventureiros que tomaram o poder em Kiev analisaram realisticamente a situação e compreenderam muito bem que, nos próximos meses, se tornarão extremamente impopulares. E, inesperadamente, a Rússia auxiliou-os no momento certo! Quando as tropas russas entraram na Crimeia, uma extraordinária onda patriótica levantou-se em toda a Ucrânia. O governo de Kiev  desencadeou activamente uma intensa propaganda patriótica. Todos os média ucranianos produzem a ilusão de que a guerra Rússia-Ucrânia é inevitável. Proclamou-se na Ucrânia uma parcial mobilização militar. Ainda que toda a gente que ouça atentamente o ministro dos negócios estrangeiros Lavrov perceba que a Rússia não tem quaisquer planos de movimentar as suas tropas no interior dos territórios ucranianos (as recentes revoltas na Ucrânia do Leste provaram isso: durante duas semanas, pessoas em Donetsk e Lugansk clamaram pela ajuda da Rússia, mas nenhum tanque russo atravessou a fronteira ucraniana). Seja como for, uma real histeria bélica começou na Ucrânia. O regime usa habilmente a actividade russa na Crimeia como um instrumento de auto-fortalecimento.

Assim, o imperialismo russo auxiliou os Nazis ucranianos. Muitas pessoas moderadas, que não estavam satisfeitas com a vitória de Maidan, submeteram-se à propaganda nacionalista e patriótica. E isto teve duas consequências negativas: primeiro, os apoiantes de Maidan proclamaram que era impossível criticar o novo governo enquanto a Ucrânia não tivesse vencido a guerra e recuperado a Crimeia, o que preveniu, ou adiou, a ruptura entre as massas e os novos governantes capitalistas reaccionários; segundo, a situação na região sudeste modificou-se. Logo que o governo de Kiev se estabeleceu, começou nesta região da Ucrânia uma larga movimentação de pessoas anti-Maidan. Esta detinha algumas tendências de classe e esperamos que elas sejam fortalecidas, mas a entrada russa na Crimeia veio cerceá-las. Muitas das pessoas abandonaram o movimento anti-Maidan porque entraram numa histeria patriótica, e este tornou-se cada vez mais estreitado com as forças nacionalistas russas a aumentarem nele a sua presença. Na verdade, os trabalhadores ucranianos sofreram em Março duas mobilizações nacionalistas — a ucraniana e a russa. O lugar para uma posição de classe autónoma estreitou-se rigorosamente.

A única forma de travar as tendências nacionalistas é reconhecer que a alteração das fronteiras ucranianas não é razão suficiente para parar a luta de classe contra o regime. Ainda que tal possa conduzir à guerra pela Crimeia, devemo-nos recordar da corajosa posição de princípio de Lenine, Karl Liebknecht e outros sociais-democratas de esquerda, durante a I Guerra Mundial, quando os regimes reaccionários embateram. Eles deram-nos o exemplo da posição que a esquerda consciente deve tomar relativamente aos regimes reaccionários e à luta das forças imperialistas. Eles não pararam a luta de classe mesmo durante a Guerra Mundial.

Por isso, na presente situação, o nosso slogan, Não apoiem o governo de Kiev!, é uma espécie de derrotismo revolucionário. E nós temos o direito moral de escolher esse caminho.  Alguns protestos públicos contra Putin e a sua política para a Crimeia tiveram lugar na Rússia no passado Março. A posição dos marxistas russos, que protestam contra o chauvinismo das políticas de Putin, abrem a possibilidade moral de executar actividades semelhantes contra o governo nacionalista na Ucrânia. Pois, como Lenine ensinou, o derrotismo revolucionário é somente possível quando tais políticas são conduzidas em ambos lados dos Estados beligerantes.

Na nossa luta, devemos perceber e reconhecer que a revolução socialista na Ucrânia não está, há muito tempo, na ordem do dia. Actualmente não existem sinais de um movimento de classe autónomo. Não só não existem partidos de esquerda influentes, como não existem partidos de esquerda de génio. Não existem sindicatos influentes e os sindicatos existentes estão quase completamente fora do movimento socialista, dada a sua ideologia. Não existe consciência de classe nas classes trabalhadoras, substituída actualmente por diferentes ilusões burguesas.  A crise actual tornou a situação ainda pior. Muitos trabalhadores ficaram encandeados com a ideologia nacionalista da mobilização. Por isso, nas circunstâncias actuais, temos de criar condições prévias para um movimento de classe autónomo e o mais importante ponto de partida para os marxistas ucranianos é destruir as ilusões burguesas e fortalecer a consciência de classe.

Nesta tarefa, nós temos um aliado inesperado — o governo actual. As suas políticas reaccionárias neoliberais irão produzir e aprofundar o descontentamento nas massas trabalhadoras. As reformas neoliberais, que o governo de Kiev pretende prosseguir sob a aparência de luta contra a agressão externa, irão abrir rapidamente os olhos às pessoas, independentemente da sua presente orientação política. Quer a população neutral, quer a que luta, seja no lado Maidan, seja no lado anti-Maidan, começarão a perceber o que está a acontecer. Nós temos de aproveitar esta influência na consciência das massas para formar a consciência de classe, seja em pessoas de Maidan ou anti-Maidan, seja em pessoas da população neutral.

Quais são as principais tarefas ideológicas neste processo? A crítica deve ser dirigida principalmente contra as ilusões Europeias: sem as destruir será impossível conduzir o descontentamento de massas na direcção socialista. Actualmente, tais ilusões são hegemónicas. Por isso, devemos confrontar as esperanças de colher o maná na UE com a verdadeira imagem da dura realidade da luta de classes nesse bastião do imperialismo mundial. Mas não é tudo.

Nas regiões onde a influência da União Aduaneira existe, o desapontamento com as ilusões Europeias irão trabalhar para o benefício do centro imperialista. Deste modo, devemos complementar a crítica das ilusões Europeias na região sudeste com a crítica da União Aduaneira, de outro modo as nossas críticas anti-Europeias irão produzir novas ilusões burguesas e fortalecer um imperialismo em detrimento de outro.

A tarefa seguinte. No oeste e este do país, a mobilização nacionalista da população foi realizada por meio de várias ideologias nacionalistas. Deste modo, devemos criticar o nacionalismo, seja ele ucraniano, seja ele russo. Ao mesmo tempo, devemo-nos recordar que o nacionalismo ucraniano é o mais activo actualmente. Ele tem do seu lado o poder de Estado e de grupos armados, e é muitas vezes mais popular entre a juventude do que o nacionalismo russo. Portanto, devemos dirigir contra ele o nosso fogo.

O sucesso desta proposta de programa não depende somente da actividade dos esquerdistas. Ele depende muito mais da evolução interna do regime. É altamente provável que o regime atinja formas francamente fascistas. Neste caso, todas as recomendações supra-referidas se tornarão inúteis.

Outro grande problema nas tácticas propostas é a falta de forças esquerdistas na Ucrânia.  A mobilização ucraniana produzida tornou muito fortes as organizações ucranianas. Algumas submeteram-se às ilusões de Maidan, às ilusões Europeias, e envolveram-se com o movimento nacionalista ucraniano. Isto aconteceu com os anarquistas (excepto os anarco-sindicalistas) e a maioria do grupo trotskista “Oposição de Esquerda” em Kiev. O mais vergonhoso exemplo desta táctica aconteceu na rua Grushevskogo, em Kiev. Anarquistas lutaram contra a força especial da polícia e atiraram cocktails molotov ombro a ombro com os Nazis do Right Sector. Outra parte dos grupos de esquerda caíram sob as ilusões Russas. Tal aconteceu com a organização neo-estalinista Borotba e outros pequenos grupos estalinistas. Actualmente, estão activos no movimento anti-Maidan. Infelizmente, alguns camaradas do meu grupo “Contra-Corrente” submeteu-se também às ilusões Europeias. O nosso grupo fracturou-se porque não conseguíamos encontrar uma plataforma comum.

Por este artigo, podem compreender as diferenças entre nós e os nossos oponentes. Mas é necessário formulá-las, frontal e abertamente, para um melhor entendimento. Será útil para os esquerdistas europeus que cometem erros semelhantes. Portanto, em que é que estamos em desacordo com os nossos oponentes?

Eles acreditam que todos os recursos devem ser dirigidos para a crítica do imperialismo russo, ignorando completamente a actividade do imperialismo europeu e americano;

Eles acreditam que o principal golpe deve ser desferido contra o nacionalismo russo, sendo que o nacionalismo ucraniano não é considerado a sua principal ameaça;

Eles ignoram a tendência acelerada no sentido de um regime fascista e continuam a acalentar ilusões democráticas;

Eles acreditam que é necessário apoiar incondicionalmente a escolha Europeia da Ucrânia, porque eles vêem nisso algo distinto da simples absorção da Ucrânia ao imperialismo europeu.

A situação na Ucrânia é muito difícil.  Seja como for, há algumas hipóteses de constituir uma autónoma consciência de classe — espero. E nesta base, iremos finalmente formar um movimento independente, tanto do nacionalismo ucraniano, como do nacionalismo russo. Um movimento independente, tanto do imperialismo americano e europeu, como do imperialismo russo. Um movimento de classe consciente da força dos trabalhadores.

Traduzido do inglês por Pedro Bravo

A EUROPA QUE SURGE APÓS AS ELEIÇÕES




Políticas de “austeridade” e ditadura financeira persistem, porém agora sob intensa pressão. Ultra-direita e esquerda autêntica crescem. O “Velho Continente” patina

Frédéric Lebaron*, no Mémoire des Luttes  - Outras Palavras - Tradução João Victor Moré Ramos - Ilustração David Parkins

Terremoto, agitação, maremoto, trovão, tsunami, decomposição da política nacional: metáforas naturais se multiplicam para descrever os resultados das eleições europeias de 25 de Maio de 2014.

Estes resultados podem ser resumidos por algumas tendências a nível europeu: a manutenção da abstenção a um nível elevado (57% contra 57% em 2009…) avanço importante das forças que desafiam a construção européia; possível surgimento, no Parlamento Europeu (PE), de um grupo enraizado na extrema-direita nacionalista, articulado em torno da Frente Nacional; sucesso da esquerda radical em alguns países do Sul, como a Grécia, Portugal e Espanha. A crise da União Européia convidou-se às urnas, conforme previam as pesquisas.

Se olharmos mais de perto, nem a interpretação dos resultados nem — ainda mais importantes – suas conseqüências são simples. A dispersão significativa de votos também deve se expressar numa dispersão paralela das cadeiras do Parlamento Europeu entre os diferentes grupos políticos. [1]. Ela se repete também no interior desses grupos e, é claro, entre os deputados que não estão ligados a nenhum (os “independentes”).

A nomeação do Presidente da Comissão Européia não é uma conseqüência mecânica do voto e, na ausência de um grupo  com clara maioria – o mais numeroso, dos liberais de direita ligados ao Partido Popular Europeu (PPE), deve reunir apenas 212, entre 751 parlamentares —  as negociações podem durar dias ou semanas. De forma mais ampla, estarão em jogo a futura “governança” do Parlamento e as instituições da UE, num novo contexto.

Correndo o risco de surpresas, no momento dos superlativos, pode-se questionar até que ponto as eleições de 25 de maio de 2014 significam mudança real. Ou, se, ao contrário elas não acentuarão a característica principal do jogo parlamentar atual nas instituições da UE: a aliança pragmática entre a direita liberal (PPE) e a antiga social-democracia (PSE), fortalecida com os deputados eleitos peloo Partido Democrata italiano. Ambos os grupos, juntos, continuam a uma maioria. Ela é ainda mais clara, se somarmos os Liberais e os Verdes, fervorosos partidários da União Europeia. Em um contexto de marginalização estrutural do Parlamento em relação a outras instituições da UE, somam-se as contradições entre as lógicas nacionais e a europeia.

O mais razoável nesta fase é analisar a evolução de cada grande família política, para compreender melhor as dinâmicas europeias e nacionais que as caracterizam, e as consequências para o espaço político europeu.

A abstenção popular

A continuidade da abstenção em níveis muito elevados era, provavelmente, o  resultado mais previsível, e constitui sem  dúvidas o dado mais estável da paisagem eleitoral europeia.

Pode haver diferenças entre os novos Estados-Membros, onde o número de eleitores é baixo ou muito baixo (cerca de 13% na Eslováquia, 18% na República Checa), e os países em que o voto é obrigatório (Bélgica, Luxemburgo), ou tradicionalmente superior.

Como os países da Europa Central e Oriental, admitidos na União Européia em 2004 e 2007, são também aqueles onde as classes trabalhadoras são mais fortemente representadas, a abstenção maciça é produto de uma pesada tendência pós-soviética  de descompromisso cívico. Some-se ainda o efeito das diferenças de estrutura e de mobilização eleitoral desigual dos grupos sociais, importantes neste tipo de eleição. [2]

PPE: uma hegemonia enfraquecida

Bem à frente do Grupo Socialista em 2009 com 274 deputados, a direita neoliberal e pró-europeia agrupada no Partido Popular Europeu (PPE) sofreu agora uma clara erosão de suas posições. Esta queda está ligada ao mau desempenho em vários países: na Itália, onde a direita pós-Berlusconi ainda engatinha e ofereceu apoio passivo ao novo governo do Partido Democrata, ehefiado por Matteo Renzi — o que não lhe permitiu avançar; na Alemanha, onde o PPE perdeu 2 pontos percentuais e 6 membros do Parlamento Europeu; na França, onde o retrocesso é ainda mais claro, com um percentual de votos de 20, 79%, contra 28% no pleito europeu anterior.

No entanto, os bastiões da direita liberal ainda são fortes na Europa, como mostram as vitórias que ela obteve em muitos países: Áustria, Bulgária, Chipre, Finlândia, Hungria, Letônia, Polônia…

No entanto, o PPE, que dirigia até agora as instituições da UE e promoveu as políticas “de austeridade”, é cada vez mais confrontado com conseqüências sociais e políticas multifacetadas desta atitude. Na França, o seu integrante, o UMP, está sujeito a fortes tensões internas, tanto ideológicas quanto organizacionais.

PSE: um retrocesso apenas parcial

Em alguns países, os partidos socialistas ou social democratas viveram um impressionante revés: é o caso especialmente da Grécia, onde o Pasok, que chegou 36,65% dos votos em 2009, não teve mais de 8,1% % agora; também é o caso da França, onde o percentual do Partido Socialista em 2009 já era muito baixa (e caiu agora de 16% para 14%). Mas o mesmo ocorreu na Holanda e a Irlanda … Em outros países, os resultados são decepcionantes em comparação com as pesquisas pré-eleitorais, como na Eslováquia.

Em contrapartida, o SPD na Alemanha ressurge de forma significativa, com uma fatia de 27,40% dos votos, e a corrente social democrata alcança percentuais mais altas, e mais esperadas em alguns países, como Portugal e Romênia. Já o Partido Trabalhista britânico e o Partido Socialista Espanhol beneficiaram-se da rejeição das políticas de austeridade dos governos de direita. A centro-esquerda italiana teve um resultado muito favorável (mais de 41% dos votos), o que confirma a popularidade do governo Renzi — provavelmente, o  mais crítico em relação às políticas de austeridade da UE.

No cômputo geral, deverá haver sutil  erosão do grupo social democrata no Parlamento Europeu.

A desaceleração da corrente liberal-centrista

Marcada por sua adesão à União Europeia, a corrente liberal-centrista européia está perdendo força: de seus antigos 85 membros, restam apenas 70 no próximo Parlamento. O colapso do Partido Liberal alemão (FDP), o declínio acentuado dos democratas liberais no Reino Unido e Dinamarca irão contribuir significativamente para esse resultado.

Hoje, o domínio das duas grandes forças (PPE, de centro direita e PSE, ex-social-democrata) é atacado pelos extremos de espectro político, não pelo centro. O movimento liberal centrista, que encarna o projeto europeu na sua forma “idealista”, sofre diretamente este fenômeno.

Estabilidade dos Verdes

Depois de seus excelentes percentuais nas eleições de 2009 (especialmente na França e Alemanha), era difícil para o Partido Verde, forte principalmente no Norte e no Ocidente ricos (Alemanha, França, Reino Unido e países nórdicos), manter seus resultados, num contexto em que a participação no governo em alguns países (até muito recentemente na França) expôs as decepções do eleitorado. Na França, o índice de 9% está longe de ser os de 16% alcançado cinco anos antes.

O resultado dos Verdes é comparável ao desastre que atinge as correntes liberais abertamente pró-europeias, muitas vezes em apuros depois de colidir com um dos partidos dominantes.  Mesmo assim, o grupo verde vai experimentar uma estabilidade relativa, com 55 membros, aproximadamente o mesmo número de antes (58), graças a bons resultados na Bélgica e na Áustria.

Crescimento de uma crítica conservadora à União Europeia

O Partido Conservador britânica, muito mais crítica em relação à UE que os partidos correspondentes na França e Alemanha, havia constituído, em torno de si mesma, um grupo parlamentar chamado Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), nas últimas eleições europeias. Fez isso em aliança com os partidos ultra-conservadores poloneses e tchecos. Um dos desafios para este grupo era manter o resultado nas eleições de 2014, dado o aumento de forças ainda mais conservadoras e críticas da UE, como o Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP). O resultado europeu dos conservadores britânicos, no poder, caiu de 27% para 24%, o que resultou em queda de 57 para 44, no nnúmero de eurodeputados da ECR. O UKIP, ao contrário viveu um avanço notável: ao se tornar o partido mais votado em seu país, nas eleições europeias (com 27,50% dos votos), ele passará a pesar muito — tanto no campo político nacional, quanto  no debate europeu, num contexto em que a adesão do Reino Unido à UE está agora em questão.

O grupo parlamentar Europa da Liberdade e Democracia (EFD), claramente contrário à UE pela direita (e dentro do qual despontam o UKIP, e o Partido do Povo Dinamarquês — DF –, que venceu o pleito eu seu país, com 26,60 % dos votos), poderá ser reforçado pelo surgimento de novos partidos, também formados em torno de uma rejeição ácida à construção européia. É o caso, por exemplo, da Alternativa para Alemanha (AFD), que recebeu mais de 6% dos votos em seu país.

Na Itália, o Movimento 5 Estrelas (MVE, de Beppe Grillo), difícil de classificar e cortejado por uma variedade de forças (incluindo os Verdes) confirmou seu peso eleitoral significativo (25,5%), mesmo que não tenha alcançado avanço importante após as eleições nacionais.

É a ascensão de forças localizadas ainda mais à direita no espectro político tradicional (embora muitas vezes adotassem um discurso radical anti-austeridade, como na França) que limita o crescimento da corrente conservadora anti-UE mais tradicional, não tão diretamente ligada à extrema-direita histórica.

A extrema-direita começa a se estruturar

Incapazes, em 2009, de constituir um grupo parlamentar, as forças da direita radical (em cujo núcleo estão o Front National (FN) francês, o Vlaams Belang belga, o FPO austríaco, e o Partido da Liberdade holandês) foram um dos grandes vencedores nesta eleição. Na França, a pontuação da FN (25%), muito à frente da direita tradicional (UMP, com 20,79 %) e do Partido Socialista (14%), marcou um grande fenômeno político, gerando impactos potenciais em toda a Europa.

O desafio para o FN, no entanto, será constituir um grupo parlamentar suficientemente homogêneo, o que exige presença de representantes em sete países. Ele pode contar com o forte crescimento da FPO, na Áustria. Por outro lado, alguns de seus aliados estão enfraquecidos, como o Vlaams Belang ou o Partido da Liberdade na Holanda.

A radicalização da direita é expressa, também, pelo sucesso do mais radical de seus partidos ideológicos. Na Grécia, o partido nazista Aurora Dourada confirma seu importante papel, com cerca de 10% dos votos. A entrada de um deputado do NDP, Partido Nazista alemão, no Parlamento Europeu (com uma pontuação de 1%), é um evento altamente simbólico. É, sem dúvida, ajudar a despertar memórias na Alemanha da década de 1930.

Ao todo, a crítica de direita à UE deve agrupar cerca de 140 eurodeputados, o que pesará sobre os debates e os rumos do Parlamento.

Uma esquerda em ascensão

Em alguns países, a esquerda ultrapassou passou a social democracia: é o caso do Sinn Fein na Irlanda (17%, um aumento de 6 pontos), o Partido Socialista (marxista) dos Países Baixos (10%, um aumento de 3 pontos). O aumento mais evidente, é claro, é o Syriza que venceu as eleições na Grécia, com um percentual de votos de mais de 26,50%.

No entanto, os resultados são estáveis e relativamente decepcionantes, em grandes países como a Alemanha e a França, (a esquerda teve 7% no primeiro caso e 6,34% no segundo). A esquerda esteve presente em 18 dos 28 países, e só irá eleger eurodeputados um número limitado deles. No plano geral, seu grupo viverá, contudo, uma forte expansão, passando de 35 a 43 deputados.

Terremoto ou continuidade?

Ao que tudo indica, o “terremoto” representado pelas eleições europeias terá consequências fortes especialmente em espaços políticos e meios de comunicação nacionais. É o caso, em especial, do Reino Unido, Grécia e França. Mas não haverá mudança realmente profunda no funcionamento interno da UE .

As eleições não permitiram que surgissem alternativas à crise europeia, embora tenham revelado um espaço político europeu fragmentado e clivado. Pluralista na aparência, a votação reforça ainda mais a paralisia e a desesperança em que  a Europa mergulha, a cada dia um pouco mais.

As conseqüências políticas da crise continuam de qualquer forma, e o futuro é difícil de prever. Os efeitos das políticas de “austeridade”, verdadeira bomba fragmentaria, assumem muitas formas, nos contextos nacionais. Tudo isso alimenta o sentimento, cada vez mais difundido, de uma Europa construída em meio ao caos, sem perspectiva real. Será preciso acompanhar, em especial, os desdobramentos do voto grego.

Os mercados financeiros devem comemorar um risco político em parte “sob controle”. A perspectiva é um Parlamento onde o bloco central, embora enfraquecido, continue a controlar o centro do jogo político-institucional europeu. No entanto, será pressionado por forças até agora periféricas, porém cada vez mais estabelecidas e ameaçadoras.
[1] São sete os grupo políticos existentes no Parlamento cuja legislatura termina agora: PPE (direita liberal), S&D (a social-democracia e a centro-esquerda), ALDE (Democratas e Liberais), Greens / EFA (Verdes), ECR (conservadores e reformistas, “eurocriticos”), GUE-NGL (esquerda radical e Ecossocialista), ELD (direita Eurosceptic). Os “independentes” reúnem várias correntes, entre elas a extrema direita francesa.
[2] Uma explosão participativa ocorreu em vários países, incluindo a França, mas é baseada em dinâmicas específicas difíceis de interpretar. Ela foi compensada pelo declínio em outros países.

* Professor de sociologia na Universidade de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines, membro do laboratório Ocupações-Instituições-Temporarias, e presidente da associação de Conhecimento / Ação.

Portugal: Maioria chumba moção de censura do PCP ao Governo




A Assembleia da República rejeitou esta sexta-feira a moção de censura ao Governo PSD/CDS-PP apresentada pelo PCP, com os votos contra da maioria que apoia o executivo e os votos favoráveis do PS, BE e PEV.

A moção de censura, a sexta que o atual executivo enfrentou desde que iniciou funções, em junho de 2011, foi rejeitada sem abstenções.

O texto foi rejeitado com os votos contra de 101 deputados do PSD, incluindo o da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e de 22 deputados do CDS-PP.

Na bancada do PS, votaram a favor os 65 deputados presentes - faltaram nove deputados, entre os quais Francisco Assis, que se ausentou imediatamente antes da votação.

Os oito deputados do BE, os dois deputados do PEV e os 14 deputados do PCP votaram a favor.

Nas bancadas da maioria registaram-se as ausências de sete deputados do PSD e de dois deputados do CDS-PP.

Intitulada "Travar a política de exploração e empobrecimento - Construir uma política patriótica e de esquerda", a apresentação da moção de censura foi anunciada no domingo, pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, na sequência do resultado das eleições europeias.

PS "afastado" do centro político

O vice-primeiro-ministro considerou que o PS se afasta do centro político ao votar favoravelmente uma moção de censura ao Governo do PCP que propõe "objetivamente a saída do euro" e "uma espécie de neo-PREC".

No encerramento do debate da moção de censura do PCP, na Assembleia da República, Paulo Portas alegou que os comunistas recorreram a este instrumento constitucional para "enredar o PS" e tiveram sucesso.

"Fica deste debate, certamente, a coesão da maioria, a coerência no erro do PCP e a hesitação inexplicável do maior partido da oposição. Digamos que foi um contributo do PS para se afastar do centro político. Não me parece que alguém lhes agradeça, muito menos o PCP", afirmou o vice-primeiro-ministro e presidente do CDS-PP.

Jornal de Notícias

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Portugal: Como pegar o touro pelos cornos?



Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião

O fim do armistício entre alas desavindas do Partido Socialista estava há muito escrito nas estrelas. O cinismo (e o calendário) foi preponderante nas várias concertações ensaiadas nos últimos três anos para fazer de conta estar desarmadilhado o poder saído de uma estrondosa derrota eleitoral após o pedido de socorro internacional para salvar o país da bancarrota. Os novos "oficiais" do PS, encabeçados por António José Seguro, conviveram com um campo minado, ou não exista um grupo parlamentar formatado segundo o ADN anterior.

A contagem de espingardas era inexorável. Mais dia, menos dia. Chegou agora a vez.

O resultado pírrico da liderança de António José Seguro nas eleições europeias caiu como sopa no mel dos aspirantes à (re)tomada do poder no PS. Trata-se do último argumento capaz de os fazer suspirar com a governação após as legislativas de 2015, e daí à entrada em pista de António Costa - ainda nem há um ano reeleito presidente por quem confiou nele para governar a Câmara de Lisboa por quatro anos.

De tão básico, mete dó o modo como se tentam encontrar argumentos sofisticados para o derrube de António José Seguro, um dos quais é de todo em todo música cantada aos ouvidos dos mais incautos: a consciência de que o país, reverencial e agradecido, precisa de quem se disponibilize para o governar bem.

A atual luta no interior do Partido Socialista, de facto, tem na sua génese uma base simples, mas de inconveniente divulgação: a de saber quem, de entre os ilusionistas, é mais capaz de convencer os portugueses em legislativas. A atual discussão faz-se entre o vozeirão e o aspeto de pegador de touros de António Costa e o silabar fininho e semblante meio enjoado de António José Seguro. Pouco, muito pouco, para do Partido Socialista se esperar uma verdadeira alternativa.

O debate no PS, em traços gerais, faz-se na expectativa de faturação nas urnas de vendedores de um mesmo produto - pouco apelativo. E esse é o ponto.

António Costa e António José Seguro são parte, curiosamente, de um dos poucos partidos da área socialista com um resultado positivo nas últimas eleições europeias. Com o mal dos outros podem bem os portugueses, é certo, mas dever-se-á exigir uma reflexão mais profunda sobre as causas para o definhamento das hostes.

A social-democracia e o socialismo democrático não dispõem, hoje, de qualquer projeto alternativo às políticas liberais e restritivas. Enveredaram por vias de extravagância - a terceira via de Tony Blair, por exemplo... - e acabaram exaustos como projetos políticos.

Falar mais grosso não basta. Enquanto a social-democracia e o socialismo democrático viverem sem rumo, os respetivos líderes falam, falam, falam, mas na hora da verdade vergam-se aos ditames da moda. Hollande ou Renzi são os casos mais recentes.

Por estas e por outras é que a discussão em torno do duelo entre António José Seguro e António Costa não passa de um "fait divers" destinado a apenas garantir a distribuição de benesses entre os apaniguados de ambos os lados.

Na hora da verdade, um e outro não serão capazes de dar o grito do Ipiranga. Farão o mesmo.

Jerónimo: "Não há encenação" que disfarce derrota da coligação




O secretário-geral do PCP afirmou hoje que "não há encenação própria ou alheia" que disfarce a pior derrota eleitoral desde 1975 de PSD e CDS-PP, nas recentes europeias, reiterando a exigência de demissão do Governo.

"A clamorosa derrota sofrida por PSD e CDS-PP nas eleições para o Parlamento Europeu do passado dia 25 de maio - o pior resultado desde 1975 - representa uma poderosa manifestação de vontade do povo português em interromper este caminho de desastre e não há encenação própria ou alheia que possa disfarçar tal derrota e tal facto", afirmou Jerónimo de Sousa, na apresentação da terceira moção de censura comunista ao executivo de Passos Coelho, no Parlamento.

O líder do PCP destacou que "há muito que o Governo tinha perdido a sua legitimidade política, pela rutura com os seus compromissos eleitorais, particularmente, por uma prática governativa em obstinado e reiterado confronto com a Constituição".

"Seja qual for o desfecho deste debate e da votação e seja qual for a decisão do Presidente da República, esta maioria já só existe aqui. Já não existe no país!", rematou.

Para Jerónimo de Sousa, foram a "aplicação de um pacto de agressão imposto pelas 'troikas' nacional e estrangeira, das próprias opções deste Governo e as opções de uma União Europeia - um vasto programa ao serviço do grande capital" - que provocaram "100 mil empresas falidas, mais de 670 mil desempregados, 470 mil postos de trabalho destruídos, mais de 200 mil emigrantes, 600 mil novos pobres".

"A fantasiosa historieta da 'saída limpa'" vai manter Portugal "amarrado a uma situação de subalternidade e dependência, por novos compromissos com a 'troika' estrangeira e outros instrumentos de dominação da UE, designadamente por via do Tratado Orçamental que PSD, CDS e PS aprovaram, apoiam e ambicionam utilizar para perpetuar a mesma política que nos conduziu à crise", segundo o deputado comunista.

O deputado social-democrata Matos Correia contrapôs que "o PSD não recebe lições de moral do PCP sobre a defesa dos interesses nacionais".

"Quem merece censura são aqueles que com a sua cegueira ideológica provocaria que os portugueses passassem por ainda mais dificuldades do que as que já passaram", disse, revelando-se perplexo pelo voto favorável do PS a um texto que condena o Tratado Orçamental e as principais políticas europeias, acusando os socialistas de "tentar fugir entre os pingos da chuva".

Jerónimo de Sousa denunciou que "Portugal e o povo português estão a braços com um Governo que, assumindo uma política de subversão do regime democrático e de confronto com a Constituição da República Portuguesa e de chantagem perante o Tribunal Constitucional, põe em causa o regular funcionamento das instituições democráticas" e voltou a defender uma "política patriótica e de esquerda", incluindo "a renegociação da dívida, a defesa da produção nacional, a recuperação para o Estado de setores estratégicos fundamentais e a valorização de salários e pensões".

O Governo enfrenta hoje a sexta moção de censura da legislatura, mas mais uma vez o documento tem 'chumbo' garantido com os votos contra da maioria PSD/CDS-PP.

Lusa, em Notícias ao Minuto 


Portugal: Soares apoia António Costa na corrida à liderança do PS



TSF

O ex-Presidente da República declarou, esta noite, o apoio a António Costa na corrida à liderança do PS. A posiçao de Mário Soares surge num artigo de opinião publicado no Público online.

No artigo de opinião, Mário Soares diz que António Costa «é uma nova esperança para todo o povo que tem sofrido tanto com este Governo», bastando isso para fique ao «lado dele».

O antigo Presidente da República elogia o presidente da Câmara de Lisboa pelo «acto de grande coragem que faz esquecer as hesitações do passado».

Soares coloca-se ao lado dos socialistas que, além de ganharem eleições, querem dar a Portugal uma «alternativa de esquerda, coerente e credível».

O apoio a Costa cola-se ao desagrado manifestado por Soares pela vitória de «Pirro» obtida nas europeias. Uma vitória que para o fundador do PS revela uma preocupante indiferença do povo português face ao partido liderado por António José Seguro.

O ex-chefe de Estado lembra ainda que a natureza livre do PS sempre levou o partido a nunca resolver os problemas políticos na secretaria.

Leia mais em TSF

VASOS COMUNICANTES



Martinho Júnior, Luanda

1 – Quer aqueles que perfilham o capitalismo neo liberal, hegemónico e unipolar, quer aqueles que assumem o capitalismo que persegue a via da emergência multipolar, estão a procurar reforçar as suas próprias articulações e as suas próprias linhas-de-força e de conduta, reagrupando os recursos económicos e financeiros, assim como reorganizando as infra estruturas e estruturas afectas, de modo a intensificar a energia das suas respostas.

Os fulcros de poder estão a reformular por isso filosofias, ideologias e conceitos, sobretudo os conceitos geo-estratégicos, uma vez os embates a curto prazo se aproximarão dos níveis típicos daqueles que ocorreram ao longo da chamada “Guerra Fria”.

Este é o momento de transição que foi impulsionado com o despoletar da crise na Ucrânia pelo que as questões energéticas se situam no eixo de qualquer uma das iniciativas, com as vantagens do momento a recair em favor da Rússia e do que ela está já agilmente a realizar.

A Rússia foi prática e sagaz na reacção aos acontecimentos na Ucrânia e está a tirar partido do facto de ser o único estado que distende seu espaço nacional em dois continentes, neste caso o único estado euro-asiático!

Os acontecimentos na Ucrânia não prenderam, nem toldaram psicologicamente os governantes da Rússia, muito pelo contrário: eles desencadearam de forma clarividente uma ofensiva geo-estratégica de grande amplitude, acima desse tabuleiro para o qual foi deliberadamente empurrada, uma ofensiva que joga com uma lógica surpreendentemente consistente e que está em pleno, correspondendo à dimensão do seu espaço físico-geográfico e dos problemas que tem de enfrentar, grande parte deles com implicações globais!

O império da hegemonia unipolar queria que a Rússia se comportasse como uma potência regional submissa, mas a Rússia ao recusar-se a tal com argumentação consistente e sem prévio aviso, está a surpreender por outro lado por causa da fasquia a que colocou o nível da sua resposta em todos os sectores, demonstrando que a articulação dos BRICS é já muito mais que um potencial!
  
2 – Com as conexões em direcção à União Europeia em expectativa, sob observação intensiva e prevendo o afrouxar dos nexos, a Rússia deu vários passos geo-estratégicos importantes com vista à afirmação global por via euro-asiática, defendendo ao mesmo tempo todos os seus flancos, de forma a estabelecer no seu entorno uma flexível armadura:

As tentativas para gerar contradições internas e criar divisões em relação à imensa Federação Russa, terão agora mais obstáculos e dificuldades que vencer e só por via do terrorismo, uma ameaça que vai crescer em relação à Rússia, se poderão manifestar!

Entre os passos dados destaco estas condutas que são efectivamente linhas-de-força:

- Incrementou a interconexão económica, financeira, militar e geo-estratégica com a China, de forma a articular outras iniciativas, em outras direcções, a partir dessa interconexão;

- Criou a União Económica Euroasiática que conta com o Cazaquistão no seu flanco sul e a Bielorrússia no seu flanco oeste, como seus membros fundadores, garantindo desde já o estatuto de observadores, no seu flanco sul, à Arménia e ao Quirguistão, autênticos elementos de pressão avançados, destinados a explorar a tendência de progressão do sistema a médio-longos prazos;

- Implementa as acções de permanência e intervenção no Árctico, no flanco norte, de forma a, entre as várias opções, tornar viável a exploração da rota entre o Pacífico Norte e o Atlântico Norte, atraindo parceiros e associados como a China e a Índia, os outros dois componentes euroasiáticos dos BRICS;

- Reforça os sistemas de exploração e transporte de petróleo e de gás, assim como outras formas de articulação e de conexão em relação a outros produtos, reunindo investimentos sérios na implantação dos nós infra estruturais, estruturais e organizativos internos, tornando-os de forma consistente em importantes polos de desenvolvimento em seu próprio território e em territórios e mares vizinhos;

- Cria mais suportes de apoio em relação às alianças tácitas dentro da conturbada região da Ásia do Sudoeste (Médio Oriente), de modo também a melhor se posicionar no Cáspio, no Cáucaso e no Mar Negro.

Estes passos revelam como a Rússia fez rapidamente o diagnóstico da situação em relação à crise ucraniana e seu significado, conferindo outra dimensão às respostas face às ameaças e aos riscos: não numa amplitude regional, mas numa amplitude global que permite também a catapulta de iniciativas e acções em direcção a outros países e continentes, entre os quais a Ucrânia e a União Europeia. 

*Mapa da União Económica Euroasiática

PM timorense considera exercício Felino da CPLP demasiado dispendioso




Díli, 28 mai (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, considerou o exercício militar Felino demasiado dispendioso e sugeriu uma reflexão mais profunda no setor da Defesa e Segurança na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Na minha opinião, programas demasiado dispendiosos, como é o caso do Exercício Felino, consomem demasiados recursos, sem que seja evidente um impacto para os nossos povos", afirmou Xanana Gusmão, num discurso proferido na V reunião de ministros da Defesa da CPLP, que se realizou na segunda-feira em Portugal, e enviado hoje à agência Lusa.

O exercício Felino, que se realiza desde 2000 em regime de rotatividade pelos diferentes países da CPLP, tem como objetivo desenvolver a cooperação técnico-militar.

No discurso, o primeiro-ministro timorense defendeu também uma "reflexão mais profunda acerca das prioridades" sobre as quais a CPLP se deve debruçar nos setores da Defesa e Segurança.

"Já que os países membros da CPLP não podem desobrigar-se dos possíveis contributos que cada um dos nossos países tem para com as organizações ou blocos regionais a que nós pertencemos separadamente, teremos de adotar um novo mecanismo de reforço das nossas cooperações nos setores da Defesa e da Segurança, a fim de sermos promotores dos Direitos Humanos, promotores da estabilidade social e servidores do povo em caso de grandes emergências", salientou o também ministro da Defesa e Segurança timorense.

O primeiro-ministro timorense esteve em Portugal entre domingo e terça-feira para participar na V reunião dos ministros da Defesa da CPLP e realizar uma visita de trabalho.

De Lisboa, Xanana Gusmão viajou hoje para o Togo, onde vai participar na terceira cimeira ministerial do G7+, organização presidida por Timor-Leste.

O G7+ é uma organização criada em abril de 2011 que reúne 18 Estados-membros, entre os quais Timor-Leste e Guiné-Bissau, e que defende reformas no modo como a comunidade internacional apoia os países frágeis ou em situação de pós-conflito.

MSE // VM - Lusa

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