quinta-feira, 20 de março de 2014

Angola: DE COMO O SOCIÓLOGO PAULO DE CARVALHO MUDOU A HISTÓRIA DO MUNDO



José Eduardo Agualusa – Folha 8, 15 março 2014

Leio e não acredito. En­tão volto a ler: “Quando as pessoas, e alguns polí­ticos, inclu­sivamente, dizem que em Angola vigora um sistema ditatorial, isso não é ver­dade”, sustentou Paulo de Carvalho, professor cate­drático da Faculdade de Ciências Sociais da Uni­versidade Agostinho Neto, em Luanda, numa confe­rência proferida a convite do Centro de Estudos Afri­canos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políti­cas (ISCSP) de Lisboa, su­bordinada ao tema “Siste­ma democrático e direitos de cidadania em Angola”.

Para sustentar essa sua convicção, Paulo de Car­valho contou um episódio ocorrido há tempos na Fundação Mário Soares, em Lisboa, em que o jorna­lista e activista dos direitos humanos criticou o regime angolano, tendo-lhe o aca­démico respondido: “Se em Angola houvesse um sistema ditatorial, tu, meu amigo Rafael Marques, não estarias aqui a falar para nós, estaríamos nós a cho­rar na tua campa”.

A notícia é da agência Lusa e tem sido reproduzida em diversos meios de comuni­cação social desde a última quarta-feira. Vou partir do princípio que é verdade. Sendo verdade, o sociólo­go Paulo de Carvalho abriu campo – com a sua arro­jada linha de pensamento – para uma completa rein­terpretação da História da Humanidade. Senão, veja­mos: Agostinho Neto es­teve nas mãos de Salazar. Contudo Salazar não o ma­tou – logo, o regime salaza­rista foi uma democracia. Uma democracia exube­rante, diga-se, pois Salazar também poderia ter morto, entre tantos outras impor­tantes vozes contestárias, Álvaro Cunhal, Mário Soa­res, etc., etc.

Pinochet poderia ter man­dado matar Pablo Neruda (adiantando-se alguns dias ao tumor na próstata do qual, efectivamente, mor­reu o grande poeta). Con­tudo, não o fez. Logo, o seu regime foi uma democracia.

Dllma Roussef, actual pre­sidente do Brasil, foi presa, no início dos anos setenta, pelo regime militar que se instalou no seu país em 1964. Contudo, os militares não a mataram. Logo, esse mesmo regime militar foi uma democracia.

O assassinato dos jovens Isaías Cassule e Alves Ca­mulingue, em Maio de 2012, pelos Serviços de In­teligência e Segurança do Estado (SINSE), é um por­menor que não parece in­comodar o sociólogo Paulo de Carvalho. Segundo esta curiosa linha de pensa­mento, se um democrata consegue fazer ouvir a sua voz, sem ser morto, então existe democracia – isto mesmo que todas as outras vozes tenham sido silen­ciadas. Sim, Salazar ma­tou Humberto Delgado (e tantos outros). Porém não matou Mário Soares. En­tão o salazarismo foi uma democracia. Sim, Pinochet assassinou o cantor e com­positor Victor Jara. Porém, não assassinou Neruda. Logo, o regime de Pinochet foi uma democracia.

E a vergonha?! Não há ver­gonha?! Volto a ler a notí­cia da Lusa e sinto vergo­nha por ele, pelo sociólogo Paulo de Carvalho, sinto vergonha pelo Presidente José Eduardo dos Santos, sinto vergonha por toda essa gente que ousa apon­tar o dedo a um homem como Rafael Marques para lhe lembrar que ainda está vivo, que podia estar mor­to, mas que ainda está vivo, e que deve a vida ao espí­rito democrático de quem tem o poder para nos ma­tar – e não o faz.

Nas democracias não se aponta o dedo a quem discorda de nós para lem­brar que o pode fazer, que não morrerá por o estar fazendo. Nas democracias permitir que os outros dis­cordem não é um gesto de tolerância (ou de ternura) – é a própria essência do sis­tema. A qualidade de uma democracia mede-se pela diversidade de opiniões livremente expressas. E é por isso que em Angola não temos uma democra­cia.

Guiné-Bissau: ONU condena intimidação de candidatos às eleições gerais




O representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Ramos-Horta, avisou hoje que a organização não vai tolerar qualquer atitude intimidatória «de quem quer que seja» contra políticos durante a campanha eleitoral.

O Partido da Renovação Social (PRS) denunciou o sequestro hoje de um dos seus candidatos às eleições legislativas de 13 de abril, Mário Fambé, que terá sido levado para parte incerta por homens armados, ao sair da sua casa, em Bissau, e por razões não reveladas.

O caso foi denunciado numa conferência de imprensa do candidato presidencial Abel Incada, segundo o qual tem havido perseguições contra outros dirigentes do PRS por parte de elementos que não identificou.

O representante do secretário-geral das Nações Unidas em Bissau, José Ramos-Horta, disse hoje à Lusa que já está ao corrente da situação.

Segundo referiu, foi informado por dirigentes do PRS e está em contacto com as autoridades políticas para um esclarecimento e resolução do caso, referiu.

«Há contactos feitos por quem de direito no Governo e nas autoridades militares. Vamos ver a evolução da situação nas próximas 24 horas. Já alertei o secretário-geral [da ONU] e o Conselho de Segurança para essa questão», disse Ramos-Horta.

Para o responsável, a ONU não vai tolerar a interferência de forças estranhas ao processo eleitoral.

«É totalmente inaceitável, por parte de quem quer que seja. Ninguém neste país está acima da Constituição, da lei, dos tratados internacionais, que obriga-nos a todos a respeitar a dignidade humana, a liberdade num Estado de direito», avisou Ramos-Horta.

A ONU poderá mesmo vir a tomar uma atitude no sentido de garantir segurança e tranquilidade às eleições, precisou o seu representante em Bissau.

«Se for preciso, o secretário-geral, através do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, tomará as medidas que achar pertinentes para garantir a paz, segurança, a tranquilidade durante todo este processo», sublinhou Ramos-Horta.

José Ramos-Horta falava à margem da cerimónia de assinatura de um código de conduta eleitoral proposto pelas organizações da sociedade civil aos candidatos e partidos concorrentes às eleições gerais de 13 de abril.

Lusa, em Diário Digital

Portugal: FRAUDES NA BANCA, BUFOS NO AUTOCARRO



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Espalhados por Lisboa, andam cartazes com dois olhos vigilantes. Só graficamente, a coisa já é sinistra. Mas faz justiça ao que nos pede: que ajudemos a combater a fraude. Como o apelo não se resume ao pagamento do nossos bilhetes, o que se pede é que sejamos bufos. E explica-se porquê. Porque menos gente a pagar é menos carreiras e pior qualidade no serviço. Na realidade, fico espantado. Os preços dos títulos de transporte subiram exponencialmente nos últimos anos, por decisão dos mesmos senhores que fizeram estes cartazes. As carreiras diminuíram. O serviço degradou-se. E, ao que parece, os serviços da Carris e do Metro até vão ser concessionados a privados, até junho, o que torna este anúncio ainda mais absurdo. Foi por causa das fraudes que tudo isto aconteceu? Só se nela se incluírem os swaps. E nem todos os olhos bem abertos para as responsabilidades passadas e presentes da ministra das Finanças, enterrada na coisa até às orelhas, a tiraram do lugar.

Mas o que mais me perturbou foi ver aqueles olhos azuis esbugalhados a apelarem à delação enquanto lia, nas capas dos jornais, que Jardim Gonçalves se tinha safado de uma multa de um milhão de euros, por prescrição. É ver que Oliveira e Costa e Rendeiro podem ir pelo mesmo caminho. E que é mais fácil um banqueiro manipular o mercado de ações e enganar o Estado e os depositantes em milhões do que um desgraçado andar no metro à borla.

Sim, a fraude ajuda a que haja menos autocarros, menos escolas, menos hospitais. Que os títulos de transporte, as propinas ou as taxas moderadoras pesem mais nas nossas carteiras. Que os serviços públicos percam qualidade. A fraude do BPN, que nos está a levar milhares de milhões de euros que ninguém parece querer cobrar a ninguém. Mas não apenas ela. A fraude em que se transformou o sistema financeiro, onde enterramos dinheiro em resgates e juros e que, em Portugal e por todo o mundo, é hoje sinónimo de abuso, escândalo e amoralidade. E nem quando as comadres se zangam e uma delas põe a boca no trombone, como aconteceu com Joe Berardo, alguma coisa acontece. Esta é a fraude que me interessa. Se não querem mobilizar a coragem dos políticos, os recursos do Estado e o empenho dos cidadãos contra ela, como têm o atrevimento de apelar à bufaria nos transportes públicos?

Um desempregado anda nos transportes que o senhor Sérgio Monteiro se prepara para privatizar? Comigo, pode estar descansado. O máximo que farei será empatar algum tempo o fiscal para lhe dar tempo para escapar. Faço mal? Não farei nem mais nem menos do que o Banco de Portugal e o Ministério Público fizeram com Jardim Gonçalves. E sempre ajudo alguém que precisa.

Portugal: SARGENTOS ACUSAM GOVERNO DE “EMBUSTE” COM FUNDO DE PENSÕES




Militares reformados correm o risco de perder os complementos de pensão vitalícios se aceitarem a devolução das contribuições.

Carlos Abreu – Expresso

O BPI Vida e Pensões, a companhia de seguros que responde pela gestão do extinto do Fundo de Pensões dos Militares das Forças Armadas (FPMFA), está a enviar cartas aos subscritores já reformados nas quais omite a possibilidade de continuarem a receber os complementos de pensão. Aos antigos militares apenas é dada como alternativa a devolução das contribuições ou o seu reinvestimento noutro fundo de pensões, à escolha.

Na carta a que o Expresso teve acesso, o BPI começa por informar, citando um decreto-lei (166-A/2013, de 27 de dezembro) e uma portaria (33-A/2014, de 16 de janeiro) relativas à extinção do fundo, que irá "proceder à devolução de todas as contribuições devidamente atualizadas" a qual poderá ser efetuada "por uma de duas formas: a) Em dinheiro, por transferência bancária; b) Pela constituição de uma adesão individual num fundo de pensões aberto", sendo enviada uma lista de 13 entidades gestoras de 43 fundos, de bancos a companhias de seguros.

Informa ainda o BPI que, "se passados 30 dias (calendário) após a data de emissão desta carta, não tivermos recebido o pedido de transferência para um fundo de pensões aberto, procederemos à transferência do valor". Ou seja, não é considerada a hipótese do militar reformado recusar a devolução das contribuições e continuar a receber o complemento de pensão a que tenha direito.

De acordo com o decreto-lei 166-A/2013, o reembolso das contribuições efetuadas "determina a cessação do direito ao complemento de pensão".

Num dos casos que chegou ao conhecimento do Expresso, um militar reformado, de 72 anos, receberá até à sua morte 300 euros mensais de complemento de pensão e o BPI pretende devolver-lhe 800 euros de contribuições.

Em comunicado enviado esta quinta-feira, a Associação Nacional de Sargentos (ANS) apela a todos os "camaradas que não caiam no logro, que não se deixem iludir pela eventual devolução de um magro pecúlio, que não se deixem deslumbrar pela extensa lista dos ditos fundos abertos e que exijam o cumprimento das obrigações previstas para com aqueles que optem pela manutenção da sua situação como beneficiário titular ou como herdeiro hábil".

Para a ANS, "é aviltante esta forma grosseira da entidade gestora do FPMFA, com a cobertura e conivência da tutela política, procurar eximir-se de responsabilidades para com aqueles que optem por manter a sua situação até ao fim da vida, estando devidamente legitimados para assumirem tal opção. Esta atitude tem na língua portuguesa uma designação que a caracteriza: Embuste!"

Foto: Miguel A. Lopes/Lusa

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Portugal: TRIBUNAL CONSTITUCIONAL LEGALIZA LIVRE




Há mais um partido em cena na política portuguesa. O Livre, do eurodeputado independente Rui Tavares, foi hoje legalizado a tempo de concorrer nas próximas europeias. 

Cristina Figueiredo - Expresso

O Tribunal Constitucional deu luz verde ao Livre. Os juízes do Palácio Raton não encontraram ilegalidades nas mais de 7500 assinaturas que a lei exige para a constituição de um novo partido.

Há, assim, mais um ator no panorama político nacional, perfeitamente a tempo de ser posto à prova nas eleições europeias de 25 de maio.

A notícia foi recebida com "grande satisfação" pelos fundadores do Livre - entre os quais se inclui o eurodeputado independente Rui Tavares - que, em comunicado de imprensa intitulado "a primavera chega hoje",  dizem encarar com "orgulho" e "humildade" a "responsabilidade de, a partir de agora, contribuirmos como partido para o reforço da democracia portuguesa e europeia". 

Antes ainda de ter a certeza se já seria partido a tempo de concorrer às europeias, e num gesto inédito na política portuguesa, o Livre já tinha convocado primárias para a escolha dos seis candidatos (três homens e três mulheres) que irá levar a votos a 25 de maio.

Os candidatos a candidatos tiveram de se propor até dia 18. As primárias - abertas a todos os militantes e apoiantes do Livre - realizam-se a 6 de abril.

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BRASIL OFERECE AVIÕES DE TREINO TUCANO A MOÇAMBIQUE



Rádio Moçambique

A Presidente do Brasil já sancionou a oferta de três aviões de treino Tucano (Embraer EMB-312) a Moçambique, faltando apenas a aprovação do Congresso Nacional, disse quarta-feira em Maputo o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim.

O ministro brasileiro disse ainda que Moçambique poderá ainda comprar aviões de ataque Super Tucano e um simulador de manobras navais ao Brasil, podendo “contar com financiamento a médio e longo prazo do Brasil para adquirir três aviões Super Tucano (Embraer EMB-314).”

“Se Moçambique confirmar o interesse manifestado no passado de adquirir três aviões de ataque, que são relativamente caros, há possibilidade de financiamento a médio e longo prazo”, afirmou o ministro brasileiro.

Celso Amorim anunciou a “oferta brasileira de contribuir para a estrutura naval de Moçambique”, num programa que se deverá traduzir no envio de uma missão, no início de Abril, “para analisar algumas bases navais”, como a de Pemba e de Maputo.

O ministro brasileiro considerou ainda que “as necessidades de protecção e defesa dos recursos naturais em Moçambique são muito grandes”, referindo-se ao reforço de cooperação que os dois países pretendem empreender.

Os interesses económicos do Brasil em Moçambique estão sobretudo centrados nas áreas dos recursos minerais, através da mineira Vale Moçambique, e agrícola, com o projecto ProSavana, que envolve também o Japão.

(rm/macauhub)

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Moçambique – 2013: SEQUESTRADORES FIZERAM 44 VÍTIMAS EM TODO O PAÍS



O País (mz)

A criminalidade está a ganhar cada vez mais terreno no país e o Ministério do Interior procura encontrar formas de a contrariar. Ontem, em Maputo, num seminário organizado pelo Ministério do Interior, em que se esperava colher sensibilidades de diversas personalidades, a ministra da Justiça, Benvinda Levi, que abriu oficialmente a reunião, fez uma retrospectiva do cenário criminal em 2013. Na ocasião, falou de diversos casos criminais que ocorreram entre 2012 e 2013.

A ministra revelou que os sequestradores fizeram 44 vítimas um pouco por todo o país, um fenómeno que acontece de forma estranha, tendo como principais vítimas moçambicanos de origem asiática, mas também europeus.

O crime de sequestro tem como principal palco a cidade de Maputo. É que, dos 44 casos registados em 2013, 31 ocorreram na cidade capital, nove na cidade da Matola, três na cidade da Beira e a cidade nortenha de Nampula registou um caso.

A ministra da Justiça diz que, na sequência deste tipo de ilícitos, foram remetidos aos tribunais 20 processos-crime, com arguidos em privação da liberdade. Desses processos, 14 foram já julgados e os outros ainda estão na fase de instrução contraditória, ou seja, uma fase processual que visa proporcionar ao arguido, antes da formação definitiva da culpa, um meio complementar de defesa pela efectivação das diligências por ele requeridas, tendentes a preparar ou corroborar a sua defesa e a elidir ou enfraquecer a prova fundamentadora da acusação.

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Guiné-Bissau: ADVOGADO ALBERTO SANHA DETIDO PELA POLÍCIA JUDICIÁRIA




Bissau - A Polícia Judiciária guineense deteve, na manhã desta quarta-feira, 19 de Março, o advogado do processo em investigação que envolve a antiga direcção da Administração do Portos da Guiné-Bissau (APGB), sobre o desvio de milhões de Francos Cfa.

A notícia foi avançada à PNN por uma fonte do Ministério Público, que revelou que a detenção de Alberto Sanha foi realizada em flagrante delito quando este exibia uma soma estimada em cerca de 10 milhões de Francos Cfa. (cerca de 15 mil euros) ao magistrado do MP encarregue do processo em causa. 

«Há muito tempo que acompanhávamos a verdadeira intenção destas pessoas que nos querem aliciar com dinheiro para darmos como arquivado este processo, mas essa não é a nossa missão», revelou a fonte da PNN.

Alberto Sanha, que desempenhou a função de Reitor da Universidade Amílcar Cabral, em Bissau, e foi militante do Partido da Renovação Social, tem como constituintes neste processo o então Director-geral da APGB, Augusto Cabi, Midana Na Tcha e Armando Dias, conhecido entre os colegas como «Ndinho Dias & Dias».

O assunto já é do conhecimento de Abudu Mane, Procurador-geral da República, que tem tentado a todo custo minar o processo, tendo chegado mesmo a solicitar ao magistrado que devolvesse o procedimento em causa.

A PNN soube que, no próximo passo, a justiça guineense vai averiguar em que circunstâncias Alberto Sanha apareceu junto do gabinete do advogado do processo com a soma de 10 milhões de Francos Cfa., bem como a origem deste valor.

Trata-se da primeira vez que um magistrado é detido pela própria justiça da Guiné-Bissau, por tentativa de suborno a outros magistrados.

Bissau Digital - (c) PNN Portuguese News Network

Guiné-Bissau: DIRIGENTE E CANDIDATO DO PSR LEVADO POR “HOMENS ARMADOS”




Um dirigente e candidato a deputado do Partido da Renovação Social (PRS), principal força da oposição no Parlamento da Guiné-Bissau, foi hoje levado por "homens armados" para parte incerta, anunciou o partido, que pede a sua libertação.

A denúncia da ação contra Mário Fambé, membro do Conselho Nacional e candidato a deputado nas eleições gerais de 13 de abril, foi feita em conferência de imprensa por Abel Incada, candidato do PRS às presidenciais.

"Mário Fambé estava a sair de casa, dirigindo-se para a sede do partido, quando foi abordado por homens armados que o levaram para parte incerta", disse Abel Incada.

A Lusa contactou uma fonte do Estado-Maior das Forças Armadas que disse desconhecer a situação.

Mostrando-se preocupado com aquilo que poderá acontecer, Abel Incada apelou para a imediata libertação de Mário Fambé, um conhecido ativista político do PRS, lembrando que o político "está a coberto de imunidade" por ser candidato às eleições.

De acordo com Abel Incada, são várias as situações de perseguição aos militantes e dirigentes do PRS por pessoas que não quis identificar.

Com o objetivo de prestar informações, uma delegação da direção superior do partido deslocou-se hoje aos escritórios das Nações Unidas em Bissau para falar com o representante do secretário-geral no país, José Ramos-Horta.

"Vamos informar o senhor Ramos-Horta sobre o que se está a passar com os nossos militantes e pedir a sua intervenção no sentido de Mário Fambé ser libertado imediatamente", defendeu Abel Incada.

O político aproveitou a ocasião para afastar a possibilidade de desistir da corrida eleitoral a favor do candidato independente, Nuno Nabian.

"Essa informação não corresponde à verdade, pois em nenhum momento me passou pela cabeça tal coisa", declarou Abel Incada.

Na quarta-feira, o candidato referiu à Radio Jovem de Bissau que estavam em curso negociações no sentido de fundir a sua candidatura à do independente Nuno Nabian, apoiado pelo ex-presidente do PRS, Kumba Iála.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola: A JUSTIÇA A TEMPO INTEIRO



Arnaldo Santos – Jornal de Angola, opinião

A justiça faz muita falta e quando fica de férias, por razões que até podem ser justificadas, tende a inscrever-se a eito ou, o que é pior, a direito e nem sempre sob inspiração divina como no tempo de Moisés.

Não é bom que ela se aplique sob o império das emoções de homens impacientes.

Há que ter em conta os Direitos Humanos, mas as pessoas não são de ferro e por vezes excedem-se e perante o espectáculo de alguns assassinatos brutais – cometidos por comandos motorizados em plena luz do dia, numa das ruas mais concorridas da cidade – o sangue do cidadão pacífico ferve.

A vista turva-se e mal se entendem os intentos reorganizativos subjacentes aos discursos proferidos na abertura do Ano Judicial, distinguido desta vez com a presença do próprio Presidente da República.

Começa por não se compreender por que o Ano Judicial tem que se encerrar. Estranha-se que a Justiça para Todos (ainda que seja por enquanto apenas um simples programa experimental), não tenha garantia do mais alto Magistrado da Nação para ganhar uma maior permanência e efectividade a nível de todo o país. Anuncia-se mesmo a sua suspensão para breve, mas entretanto a própria Justiça é posta à prova de uma forma singularmente provocatória por quifumbes motorizados da capital, ansiosos por se exibirem à galera.

Na circunstância, e de certo não apenas por estarmos no mês de Março consagrado à Mulher, os quifumbes decidiram convertê-la no seu alvo principal e de preferência. A mulher trabalhadora e não acompanhada nas suas viaturas. Esta aberrante distinção, além de repugnante, atinge directamente a vida das famílias que normalmente têm nelas o seu principal esteio.

Mas os criminosos que até já nem sequer se escondem, parecem querer ser bem visíveis aos olhos de todos, e dos observadores da Human Rights Watch e outras Agências Internacionais, não vá surgir alguma reacção de parentes cacimbados mesu makusuku, que pretendam exercer a justiça por sua conta e risco.

Deste modo, a problemática do Direito para Todos talvez tenha que ser redefinida de maneira a incluir o Direito de Todos e da Mulher em especial.

Desta circunstância ocorre-nos a alusão às “mulheres invisíveis”, no sentido que lhe é dado nessa feliz expressão, atribuída pela Fundação Gotz Fidel às mulheres que se distinguem como verdadeiros agentes de transformação, numa inspiração do Papa Francisco, e creio também caber às mulheres angolanas que vivem no meio rural ou fora das zonas urbanas. Há muito que são tão mais vulneráveis quanto menos protegidas pelo direito. As suas vozes são pouco audíveis, mas a sua fé é evidente relativamente ao futuro por que não se cansam de lutar.

Meu kamba Fernando Oliveira, douto Professor de Direito, diria, se tivesse sido consultado, que para a mulher cairia bem a máxima latina, sum quique tribuere, que eu me atrevo a deturpar de acordo com a conclusão a que pretendo chegar relativamente às dificuldades da mulher do meio rural: “a cada uma segundo o que é de todos e o seu próprio trabalho”.

Na realidade, não antevejo a possibilidade de sobrevivência para grande parte da população neste país, e as crianças em especial que dependem das mamãs, sem atender a essa máxima, já que na administração da justiça parece não se ter isso em muita conta.

Foto Pedro Parente, Angop


Angola - Ermelinda Freitas: "Corrupção está implantada em todas as instituições"




A responsável da Unita pelos Direitos Humanos pede mudança em Angola e diz que o pai da corrupção é o presidente José Eduardo dos Santos.

Voz da América

A situação dos direitos humanos em Angola é péssima e não haverá melhoria enquanto o actual Governo permanecer no poder, disse  Ermelinda Freitas, porta-voz do Secretariado Nacional da Justiça e dos Direitos humanos da UNITA.

Freitas fez notar o que disse serem assassinatos impunes nas províncias, como nas Luandas e no Kwanza Sul, e ainda o facto de se continuarem a fazer demolições de casas sem alternativas viáveis para os seus habitantes.

“Jogam as pessoas nas matas como se fossem lixo”, denunciou.

Ermelinda Freitas falava no programa Angola Fala Só que foi marcado por fortes críticas às autoridades pela  violação de direitos humanos básicos e  impunidade dos responsáveis que cometem crimes.


Interrogada sobre o a recente morte de três militantes da Unita no Kwanza Sul, a porta-voz disse não poder detalhar o que o partido vai fazer em relação a esse caso porque a direcção ainda não se tinha reunido para decidir um plano de acção.

“O que eu sei é que a Unita não vai ficar quieta, não vai ficar calada”, revelou.

O tema das zungueiras não podia faltar. O ouvinte Lucélio Francisco disse ter participado na reunião de hoje sobre as actividades das “zungueiras”  em que o Governador de Luanda Bento Bento prometeu arranjar espaço nos mercados da cidade. O Governador revelou terem sido dadas ordens para se acabar com a s agressões às “zungueiras”, segundo Francisco.

“É mais uma promessa”, reagiu  Ermelinda Freitas que se mostrou convencida de que dentro de pouco tempo  “as zungueiras vão continuar a apanhar”, porque "o Executivo angolano não tem, não teve e nunca terá um programa para o bem-estar do povo angolano,” disse a porta voz do Secretariado dos Direitos Humanos da Unita.

Ermelida Freitas disse que “em Angola nada funciona”, e aponta que "não há correios". Mais:“Nunca vi um certeiro em Angola e as coisas  mais básicas não existem como água e luz”.

A corrupção em várias  instituições do Estado foi levantada por vários ouvintes e Ermelinda Freitas disse que “a corrupção está implantada em todas as instituições” de Angola desde as escolas à polícia.

Para Freitas, o responsável é óbvio: “A corrupção tem pai e o pai tem nome e o nome é José Eduardo dos Santos”, disse em referência ao presidente angolano.

  Clique aqui para ter acesso ao arquivo do programa – áudio em Angola Fala Só

Angola: PROVÍNCIA DA HUÍLA EXPLORA DIAMANTES



Domingos Mucuta, Lubango - Jornal de Angola

A prospecção de diamantes foi este ano alargada a toda a província da Huíla, anunciou em conferência de imprensa a directora provincial da Indústria, Geologia e Minas.

Paula Joaquim explicou, sem revelar os fundos envolvidos, que a actividade de prospecção em curso na província da Huíla visa confirmar fortes indícios da existência de diamantes no subsolo daquele território. Acções de prospecção, reconhecimento e avaliação dos novos recursos minerais decorrem em todos os municípios, com destaque para Quipungo e Matala, em resultado de estudos anteriores. Os trabalhos estão a cargo da empresa Gevale em simultâneo com as províncias do Cunene e Namibe.

A prospecção vai determinar, também, a quantidade e qualidade de diamantes existentes na Huíla para posterior exploração.

“Sabemos que existem diamantes na província da Huíla, mas são necessários estudos para sabermos se vale a apenas fazer-se uma exploração industrial. Todos tipos de investimento nesse sentido devem ser feitos com precisão”, disse.

A empresa Somepa aponta o próximo ano como o período indicativo para o arranque do projecto de exploração de ouro na localidade de Mupopo, município da Jamba mineira, disse Paula Joaquim.

Em declarações anteriores, a directora provincial afirmou haver um crescimento acentuado do sector industrial e mineiro na província, fundamentalmente no segmento da construção civil e exploração de rochas ornamentais.

Crescimento 

Ao falar sobre o desenvolvimento do sector depois da paz, em 2002, disse ter-se registado a abertura de unidades de indústria pesada e ligeira, com destaque para o ramo alimentar, do engarrafamento de água e materiais de construção. “A Huíla possuía 20 fábricas (em 2002). Actualmente, contamos com 42 unidades fabris espalhadas por 14 municípios, graças, também, ao financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), que tem estado a ajudar os empresários nacionais”, realçou.

Paula Joaquim disse que  o parque da Huíla tende a crescer, pois está em curso a legalização de mais seis unidades fabris, cujos pedidos estão em análise no seu gabinete.

A HISTÓRIA BRINCALHONA



José Goulão – Jornal de Angola, opinião

Como todas as actividades sérias e rigorosas, a História tem o seu lado brincalhão, aquele que lhe permite apanhar nas suas contradições, expor na sua irresponsabilidade e exibir na sua ignorância os que por terem poder no mundo se julgam com direito a um inerente lugar de culto mesmo não conseguindo ver além do umbigo dos verdadeiros amos.

O referendo na Crimeia teria reaberto farândolas carnavalescas em plena Quaresma se isso não fosse insultuoso, não tanto por respeito aos sombrios véus que cobrem esta quarentena mas porque, nunca é excessivo dizê-lo, se jogam milhões de vidas humanas nas poses bacocas, frases ocas e reuniões redundantes para decidir o que já está decidido, redizer o que foi dito e chamar os fotógrafos a captar apertos de mãos há muito apertadas. Uma tenebrosa e ameaçadora fantochada – na essência verdadeira do termo. Por isso é útil que às vezes a memória da História brinque com estes fantoches que julgam conquistá-la e nela nunca passam do que já são hoje. Ou pior, a ver vamos.

Aqueles que do alto da colina do Capitólio, mas em Washington, bradam contra a invasão militar da Crimeia sob forma de consulta popular são os mesmos que ainda hoje estão no Iraque depois de terem mentido ao mundo inteiro sobre armas que não existiam , os que se mantêm no Afeganistão para supostamente capturarem ou matarem (mataram-no e logo a seguir os que o mataram também pereceram por “acidente”) um fabricante de bandos terroristas que eles próprios criaram e financiaram.

Os mesmos que sentenciam e executam, sem culpa formada, sem julgamento e em qualquer lugar do mundo, compatriotas ou não compatriotas cujos conhecimentos têm de ficar guardados com eles para todo o sempre porque o silêncio é mais eficaz que o mais barulhento dos mísseis. E que dizer dos que das escadarias históricas de Paris, Berlim, Londres ou dos tapetes de Bruxelas clamam contra esse neo-sovietismo putinista, afinal muito mais afim do romanovismo imperial? –  Mas isto não convém dizer para não ferir os ouvidos delicados desta Europa tão monárquica...Sim, eles estão revoltados com a actuação da Rússia na Crimeia. Sim, eles estão rendidos às virtudes do governo democrático e fascistóide de Kiev, que ninguém elegeu ao contrário do que até com Hitler aconteceu. Sim, eles proclamam os votos dos cidadãos da Crimeia “ilegais” e “ilegítimos”. Pelo que estalam sanções, troam ameaças, navios da NATO avançam, estreito a estreito, para o Mar Negro.

Sim, diz a História que eles são todos co-responsáveis, recorrendo até aos bandos terroristas que foram criando pelo caminho, pelos bombardeamentos assassinos de Belgrado, em 1999, de que o Tribunal de Haia ainda não tomou conhecimento. Sim, a História conta que eles montaram um referendo para separar o Kosovo da Sérvia, anexando-o à Albânia sob forma mista de província deste país e protectorado da NATO, relegando para um gueto a desprotegida minoria sérvia. Sim, eles abafam na sua comunicação social corporativa os protestos que se multiplicam na Bósnia-Herzegovina, que não são contra a Rússia, nem qualquer temida vizinhança, tão só contra o regime da NATO e da União Europeia, usando a abusando das políticas da troika sem precisar de troika para nada, e que agora seguem direitinhas para a Ucrânia. Sim, a História recorda-se de que a democrática França continua a ocupar a ilha de Mayotte, nas Comores, organizando referendos que violam posições do Comité de Descolonização da ONU e da União Africana para manter no Índico, à beira de Madagáscar, o 101º Departamento da República Francesa. Sim, de muitas destas coisas já poucos se lembram, a maioria talvez ignore. Porém, a História, essa manhosa, tem memória.

Brasil: MENSALÃO DO PSDB COLOCA JOAQUIM BARBOSA CONTRA A PAREDE




Embora o relator já tenha concluído seu voto sobre a ação penal 536, o presidente do STF não colocou na pauta de votação desta semana o que fazer com ela.

Najla Passos - Carta Maior

Brasília - A batata quente da ação penal 536, o chamado “mensalão do PSDB”, está assando nas mãos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, mas ele ainda não sabe o que fazer com ela. Na última quarta (12), o ministro relator da ação, Luís Roberto Barroso, afirmou à imprensa que concluiu seu parecer e gostaria de discuti-lo com a corte o mais rápido possível. O presidente do STF, entretanto, não a incluiu na pauta desta semana. Ele já deve prever que, qualquer que seja a decisão do tribunal, ele sairá perdendo.

O caso se refere às denúncias de um suposto esquema de corrupção armado em Minas Gerais para beneficiar a reeleição do então governador, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998. Apresenta inúmeras similaridades com o chamado “mensalão do PT”, já julgado pela corte, embora tenha ocorrido só cinco anos depois, em 2003. Envolve, inclusive, alguns personagens em comum, como os publicitários Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, apontados como os operadores do esquema tucano, e já condenados pela participação no petista.

O impasse ocorre porque, apesar das similaridades evidentes entre os casos, o STF agiu com dois pesos e duas medidas. Os réus do “mensalão do PT” foram todos eles julgados pelo STF, inclusive os que não tinham o chamado foro privilegiado e, por isso, deveriam ter tido direito ao duplo grau de jurisdição, em instâncias diferenciadas. Já o processo do mensalão do PSDB foi desmembrado: as denúncias contra réus sem mandato eletivo foram remetidas para a justiça mineira. No STF, só sobrou o processo contra o único político ainda em exercício de mandato: o próprio ex-governador que, até fevereiro deste ano, atuava como deputado federal pelo PSDB.

Em fevereiro, porém, para escapar dos holofotes de um julgamento no STF, ele acabou renunciando e, portanto, perdeu a prerrogativa do foro privilegiado.  Na época, o relator da ação condenou a manobra. “O STF tem reagido um pouco quando considera que tem havido algum tipo de manipulação da jurisdição. Não estou fazendo nenhum tipo de juízo de valor, mas é um dois elementos a serem considerados", disse Barroso aos jornalistas.

Foi o que ocorreu, por exemplo, no caso do ex-deputado Natan Donadom, eleito pelo PMDB de Rondônia, que, em 2010, um dia antes de ir a julgamento pelo STF, decidiu renunciar ao mandato para que o processo fosse reencaminhado à 1ª instância. A corte, porém, decidiu mantê-lo e o condenou à prisão. Em 2007, porém, ocorreu o contrário. O então deputado Ronaldo Cunha Lima, do PMDB da Paraíba, renunciou ao cargo cinco dias antes do julgamento e seu processo foi transferido para o tribunal inicial. Ele acabou morrendo, em 2012, sem acertar suas contas com a justiça.

Nos dois casos, Barbosa votou pela competência do STF para julgar os ex-deputados. Perdeu e ganhou, mas manteve a coerência. Agora, a situação é outra. Desgastado com a esquerda por conta das arbitrariedades cometidas durante o julgamento da ação penal 470, o ministro precisa manter o apoio que conseguiu da direita e da imprensa que a serve se quiser, de fato, se dedicar à carreira política. E isso, claro, inclui arrumar uma desculpa jurídica plausível para beneficiar Azeredo, como a corte já o fez ao desmembrar o processo do ‘mensalão do PSDB’ e retardá-lo ao máximo. 

Entretanto, a estratégia pode significar também um certo desgaste com a opinião pública. Ficará impossível disfarçar o tratamento diferenciado dispensado a petistas e tucanos. Será como uma confissão final de que este novo STF rigoroso e impassível com a corrupção de que ele é garoto-propaganda não existe para todos, mas apenas para réus provenientes do campo popular. E este também não é o perfil desejável para um pretenso candidato que tem como principal bandeira a moralidade política.

Na foto: Joaquim Barbosa, em arquivo Carta Maior

Brasil: As pesquisas que a mídia escondeu enquanto insuflava o golpe de 64



Laurindo Lalo Leal Filho - de São Paulo – Correio do Brasil, opinião

Hoje, quando abrimos jornais, ouvimos o rádio e vemos as TVs comerciais, o retrato é de um país à beira do abismo, tudo vai mal. Situação de quase pleno emprego, milhões de pessoas retiradas da miséria pelo Bolsa Família, pacientes atendidos em cidades que nunca haviam visto um médico antes são apenas alguns exemplos do Brasil ignorado pelo jornalismo “independente”.

Em março de 1964, o quadro era semelhante, embora houvesse um fantasma a mais, além do descalabro administrativo: o “perigo vermelho” representado pelo comunismo. Para a mídia, ele estava às nossas portas.

A televisão e demais meios de comunicação se prestavam a esse serviço de doutrinação diária azeitados por fartos recursos vindos de grandes grupos empresariais canalizados por meio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), em estreita colaboração com a agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA.

O principal mensageiro televisivo dos alertas sobre a “manipulação comunista” do governo Goulart era o jornalista Carlos Lacerda. Apesar de afinados ideologicamente com os golpistas, os veículos de comunicação não faziam isso de graça.

Segundo o economista Glycon de Paiva, um dos diretores do Ipes, de 1962 a 1964 foram gastos nesse trabalho de desinformação US$ 300 mil a cada ano, em valores não corrigidos. Os dados estão no livro O Governo João Goulart, As Lutas Sociais no Brasil 1961-1964, do historiador Moniz Bandeira.

“O Ipes conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública, através do seu relacionamento especial com os mais importantes jornais, rádios e televisões nacionais, como: os Diários Associados (poderosa rede de jornais, rádio e TV de Assis Chateaubriand, por intermédio de Edmundo Monteiro, seu diretor-geral e líder do Ipes), a Folha de S.Paulo (do grupo de Octavio Frias, associado do Ipes), oEstado de S. Paulo e o Jornal da Tarde (do Grupo Mesquita, ligado ao Ipes, que também possuía a prestigiosa Rádio Eldorado de São Paulo)”, relata René Armand Dreifuss, no clássico 1964: A Conquista do Estado.

Foi um período longo de preparação do golpe, e quando ele se concretizou a mídia ficou exultante. O Globo estampou manchetes do tipo “Ressurge a democracia”, “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restabelecida”. Sob o título “Bravos Militares”, o jornal da família Marinho, no dia 2 de abril de 1964, dizia que não se tratava de um movimento partidário: “Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira”. O Estadão seguia na mesma toada, enfatizando “o aprofundamento do divórcio entre o governo da República e a opinião pública nacional”.

Foram necessários 50 anos para termos a confirmação que o tal divórcio não existia. Pesquisa do Ibope, feita à época, e só agora revelada graças ao trabalho do historiador Luiz Antonio Dias, da PUC de São Paulo, mostra que 72% da população brasileira apoiava o governo. Entre os mais pobres, o ­índice ia para 86%.

E se Jango pudesse se candidatar nas eleições seguintes, previstas para 1965, tinha tudo para ser eleito. Pesquisa de março de 1964 dava a ele a maioria das intenções de voto em quase todas as capitais brasileiras. Em São Paulo, a aprovação do seu governo (68%) era superior à do governador Adhemar de Barros (59%) e à do então prefeito da capital, Prestes Maia (38%).

Dados que a mídia nunca mostrou. Para ela, interessava apenas construir um imaginário capaz de impulsionar o golpe final contra as instituições –democráticas.

Laurindo Lalo Leal Filho é sociólogo, jornalista, professor de Jornalismo da ECA-USP.

Na foto: Há 50 anos, como agora, existiam dois Brasis: o real e o inventado pela mídia. Pesquisa do Ibope, feita à época, e só agora revelada, mostra que 72% da população brasileira apoiava o governo.

Brasil: Marcha da ultradireita golpista conta com apoio de Geraldo Alckmin



Correio do Brasil – de São Paulo

Concentrada na capital paulista, com o apoio explícito do governador do Estado, Geraldo Alckmin, a extrema direita programou para o próximo sábado, no Centro de São Paulo, a reedição da Marcha que procurou justificar socialmente o golpe militar de 1964: a Marcha da Família, com Deus pela Liberdade. Analistas políticos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil não apostam R$ 0,10 no sucesso da passeata mas, se veem com naturalidade o apoio que tem recebido de meios de comunicação ligados aos setores mais retrógrados da sociedade brasileira, como o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), chamaram atenção para o envolvimento de uma TV pública na divulgação do libelo golpista, que defende uma nova tomada do poder por parte dos militares.

Os vídeos publicados nas redes sociais mostram contradições e muita confusão ideológica por parte dos organizadores, o que beira o ridículo. Em seu vídeo de convocação para o ato, uma das integrantes fala contra a desigualdade social, enquanto outro ‘coxinha’, como são chamados os direitistas reacionários, em entrevista à FSP, critica a distribuição de renda no país: “Imagina todo mundo tendo condições de viver num mundo igualitário, não existe isso”.

Uma foto divulgada no perfil que a manifestante de ultradireita mantinha em seu perfil doFacebook, removido há pouco, a colocava ao lado do governador do Estado, GeraldoAlckmin, no que parece ser um evento da extrema direita. Ao fundo outro rapaz que foi entrevistado no vídeo da FSP. No caso, a presença do governador Alckmin, ainda que não confirmada, oficialmente, indica ainda participação da extrema direita religiosa, posto ser de domínio público sua participação na Opus Dei, a facção da Igreja Católica mais à direita.

Além de Alckmin, já se manifestaram abertamente favoráveis à manifestação golpista outros representantes da direita nacional como o colunista da FSP Olavo de Carvalho, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a jornalista Rachel Sheherazade que recentemente justificou e defendeu a agressão contra um jovem negro amarrado em um poste no Rio de Janeiro.

Para enfrentar os golpistas, setores da esquerda convocaram, para o mesmo local e horário, a Marcha Anti-Golpista e antifascista. A concentração será dia 22, na Praça da Sé, no Centro de São Paulo, às 15h.

Incitação ao crime

Em sua página, na internet, o jornalista Fernando Brito, editor do site O Tijolaço, questiona a presença pública de manifestantes que, abertamente, incitam o crime. “Qual a dosagem de ódio e insanidade que determina que alguém passou da linha?”, questiona. Brito exemplifica o caso do fotógrafo Bruno Toscano:

“Bruno é uma das sumidades que apareceram num vídeo como organizadores da Marcha da Família com Deus 2, o Retorno. É ele de óculos escuros, despejando asneiras como ‘não votaria em alguém menos preparado intelectualmente do que eu’, ‘imagina eu tendo uma Ferrari, você tendo uma Ferrari, todo o mundo tendo uma Ferrari’ e ‘quem é o dono do mundo é o barão Rothschild’. Se fosse só mais um maluco anticomunista falando bobagens, tudo bem. Mas Bruno é mais do que isso. Um apologista da violência com obsessão pela ‘ameaça socialista’, os gays, clamando por um golpe militar e pedindo sangue”, afirma, em seu artigo.

“Já era uma figura carimbada na internet, foi processado e denunciado algumas vezes no Facebook. Nascido em Belém do Pará e morando em São Paulo, era administrador de uma página no FB chamada Revoltados Online. No ano passado, convocou seus amigos para um ato contra o Foro de São Paulo que acabou em pancadaria. Skinheads e neonazistas partiram para cima de militantes de esquerda. Uma senhora de 56 anos apanhou”.

“Adora ameaças e bravatas: ‘Vamos lançar uma campanha: Cuspa na cara de um político, ministro e abutre togado… É o que 99% deles merecem… Já que cuspiram na cara de nossos bravos militares que impediram a comunização do Brasil na década de 60… Se eles podem, porque não podemos???’. Também sugere justiçamentos: ‘Está mais do que na hora dos PTraíras serem fuzilados em praça pública de preferência… Assim como os italianos fizeram com Mussoline (sic)’. No pacote de imbecilidades entram também, claro, as doenças de sempre, como homofobia, racismo (há uma série inacreditável sobre nordestinos) e irresponsabilidade generalizada. O ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues, do Psol, o processou depois de ser acusado de ‘roubar o leite das crianças’ e de ter ‘enriquecido ilicitamente’. Claro que quem o leva a sério são os fanáticos de extrema-direita que, no final das contas, não enchem um microônibus, apesar do barulho que fazem. Mas basta um para uma besteira acontecer. Basta um palhaço, como Bruno. Um palhaço perigoso, que comete diariamente o incitamento de crimes de ódio e intolerância sob o governo que ele chama de ditadura”, alerta Fernando Brito.

TV pública

O jornalista Paulo Nogueira, editor do site Diário do Centro do Mundo, também aborda a questão sob o ângulo do apoio que um evento, marcadamente golpista, recebe de uma emissora estatal de TV: “Os contribuintes de São Paulo estão pagando para que a TV pública do Estado, a TV Cultura, divulgue a Marcha da Família. O evento é organizado por golpistas e terroristas assumidos, embora a TV os tenha pintado com tintas graciosas. O tal Bruno Toscano, que ganhou destaque no jornal impresso, no UOL, e agora é estrela da TV Cultura, tem longa ficha criminal”.

Nogueira também aponta a presença de “Maycon Freitas, eleito pela (revista semanal de ultradireita) Veja no ano passado como ‘a voz que emergiu das ruas’. Hoje ele se assume, com orgulho, de direita, e também defende uma intervenção militar. ‘Provisória’, diz ele, sem saber que repete o que também diziam em 64. É evidente que a mídia está procurando salvar a marcha de um fracasso absoluto. Tenta-se, a todo custo, promovê-la, por motivos que não seria difícil imaginar. A TV Folha até tentou fazer um contraponto: uma entrevista com Clovis Rossi falando mal da Marcha, mas a tentativa é só para disfarçar”.

“Há 50 anos, a Folha de São Paulo assumia-se francamente em favor da derrubada do presidente eleito, João Goulart. Para isso, o jornal, assim como quase todos os grandes meios de comunicação da época, se valiam de uma verdadeira alquimia verbal: os golpistas eram chamados de democratas e o golpe foi chamado de movimento de retorno à democracia. Foi o maior engodo da história do Brasil. E foi preparado meticulosamente, ao longo de muitos anos, contando com gordo financiamento dos Estados Unidos. Agora sabemos que a cúpula militar foi subornada. Há relatos de generais recebendo ‘malas de dólares’ pouco antes do golpe”, segue Nogueira.

É curioso que a Folha, que jamais se desculpou pelo apoio ao golpe, agora dê tanto espaço a Bruno Toscano, um dos organizadores da Marcha da Família, a qual defende, entre outras coisas, justamente uma nova “intervenção militar”, conclui o jornalista Miguel do Rosário, editor do site O Cafezinho.

Na foto: Bolsonaro apoia a ditadura militar no Brasil (clicar para ampliar).

REFRESCA BRASIL!



Flávio Mattel, Rio de Janeiro

Chegou ao fim o verão carioca. A invasão das praias se mantém porque a temperatura ambiente é convidativa e assim se manterá por mais alguns dias ou semanas. Mas este foi o último dia de verão. Não o último de praia e de mar. Existem os que fazem praia todo o ano.

A reportagem de O Dia mostra o amor dos cariocas pela praia e pelo mar. O Rio de Janeiro ainda ferve. Céu limpo e graduação que vai dos 25 aos 35 graus. O caldeirão assim se manterá até que Deus queira. E a praia será sempre a fuga refrescante, saudável e recreativa dos habitantes do Rio. Mas não só no Rio. O litoral brasileiro é vasto e os que o preferem são em grande número. Fim do verão só para assinalar, não para dizer adeus à época balnear. Refresca Brasil! 

*Reportagem de Agência O Dia. Foto em PG de Alessandro Buzas

Snowden faz aparição virtual surpresa em Vancouver e anuncia mais revelações




Ex-analista da CIA disse que "algumas das coisas mais importantes ainda estão por vir"

Opera Mundi – EFE, Toronto

O ex-analista da CIA Edward Snowden fez uma aparição surpresa e virtual na conferência TED 2014, realizada em Vancouver (Canadá), e advertiu que ainda tem informações importantes a revelar sobre o programa de espionagem americano, publicaram nesta quarta-feira (19/03) veículos de imprensa locais.

Snowden apareceu na terça-feira (18) à noite em TED 2014 por videoconferência da Rússia, onde está refugiado, em um monitor montado em um robô que ele operava de seu computador e no qual mostrava seu rosto.

É a segunda vez em poucos dias que Snowden aparece virtualmente em um evento na América do Norte.

No dia 10 de março, Snowden utilizou a mesma tecnologia para participar do festival de tecnologia, música e cinema SXSW (South by Southwest) em Austin (Estados Unidos).

Snowden advertiu nesta última aparição que "algumas das coisas mais importantes ainda estão por vir", em referência a revelações sobre o programa da NSA.

Em um blog postado pelos organizadores de TED 2014, Snowden, que foi acusado por políticos americanos de traição enquanto outros o consideram um herói, defendeu seus vazamentos de informações confidenciais.

Não sou "um herói, um patriota, um traidor. Diria que sou um americano e um cidadão", afirmou.

Às perguntas do moderador sobre a acusação de que roubou 1,7 milhões de documentos, dos quais só se conhece uma quantidade mínima, Snowden disse que "definitivamente serão feitas mais revelações. Algumas das coisas mais importantes ainda precisam surgir".

Assegurou que as autoridades norte-americanas estão utilizando o medo do terrorismo para "cobrir suas ações" e que não está justificado o nível de espionagem que estão exercendo sobre a população.

O ex-analista também declarou que voltará aos Estados Unidos se lhe concederem uma anistia.

"O governo apontou que quer algum tipo de acordo, um compromisso para que retorne. Mas quero deixar claro que fiz isso porque era o certo. Não deixarei de trabalhar pelo interesse público para me beneficiar", explicou.

ACERCA DA UCRÂNIA E DO REFERENDO NA CRIMEIA



KKE

O KKE desde o primeiro momento denunciou a intervenção imperialista dos EUA-NATO-UE na Ucrânia e o golpe executado por forças reaccionárias, com a participação de nazis, o qual criou grandes perigos para o povo ucraniano. A postura destas forças e a sua crítica em relação aos desenvolvimentos na Ucrânia e ao referendo na Criméia são um monumento de hipocrisia. Pois estas são as mesmas forças que desempenharam o papel principal no desmembramento da Jugoslávia, na secessão do Kosovo, nas intervenções imperialistas no Iraque, Afeganistão, Líbia, nas organizações de golpes contra governos que não são do seu agrado. Elas tentaram fazer na Síria o mesmo que estão a fazer agora na Ucrânia. 

Tendo como nosso critério os interesses do povo, consideramos que a assimilação da Criméia dentro da Rússia não trata eficazmente desta intervenção, não resolve no essencial qualquer dos problemas reais do povo da Criméia, não significa qualquer normalização da situação ou solução a longo prazo de paz e cooperação para os povos da região com prosperidade e progresso. A maioria do povo está a sofrer tanto na Rússia como na Ucrânia, a viver em condições de barbárie capitalista, as quais foram provocadas pelas mudanças contra-revolucionárias em 1991. 

Compreendemos que os povos da Criméia, que em grande medida são de ascendência russa e tártara, estejam preocupados acerca da tomada de poder governamental por forças nacionalistas e fascistas, as quais dentre os seus primeiros esteve o ataque a minorias e comunistas, abolindo por lei das "línguas regionais" e destruindo monumentos anti-fascistas. No entanto, a retirada da Criméia da Ucrânia e sua assimilação à Rússia não resolverá o problema de mudar a correlação de forças contra as forças fascistas e reaccionárias. 

Seria diferente se a Rússia fosse um país socialista e o povo da Criméia houvesse feito a escolha e pedido acesso a uma união socialista juntamente com a Rússia, como ocorreu com o acesso de países à URSS. 

A secessão da Criméia e a sua assimilação na Rússia promoverá o fortalecimento da corrente nacionalista, tanto na Ucrânia como na Rússia. Isto enredará milhões de trabalhadores numa confrontação com base na nacionalidade, ocultando as causas reais do conflito, bem como a única solução alternativa, a qual existe para os trabalhadores e é encontrada em outro caminho de desenvolvimento, o socialismo. 

Há também o perigo de abrir a "Caixa de Pandora" igualmente em outras regiões, especialmente nos Balcãs, levando outras regiões a serem assimiladas, por exemplo, a assimilação do Kosovo na chamada "Grande Albânia" a qual está ligada às anexações dos territórios dos países vizinhos. De qualquer forma há exemplos a partir do desmembramento da Jugoslávia o qual, em nome da auto-determinação dos povos, abriu o caminho para mudanças de fronteiras. 

Os desenvolvimentos verificados confirmam a superioridade do socialismo no tratamento de problemas relacionados. Todas as mudanças administrativas na Criméia, desde a sua declaração como uma república autónoma em 1921, no quadro da URSS, até a sua assimilação administrativa na Ucrânia na década de 1950, verificaram-se suave e pacificamente, porque prevaleciam relações de produção socialistas e consequentemente o critério era os interesses da classe trabalhadora e do povo. 

O povo da Criméia, o povo ucraniano, o povo russo tem memórias históricas e experiências positivas dos anos de socialismo, as quais não estão apagadas apesar de mais de 20 anos terem decorrido desde o derrube. O povo da Criméia tem memórias intensas da luta anti-fascista do povo soviético, que fez história no sítio de Sebastopol. O facto de que em várias regiões que procuram união com a Rússia estejam a manifestar-se com, dentre outras coisas, bandeiras vermelhas exprime tal memória ou expectativa, apesar do facto de que uma tal expectativa não se baseia realistamente na realidade de hoje. Porque hoje a Rússia é um país capitalista, o qual está em competição com os outros centros imperialistas e cujo povo também está a sofrer. 

A experiência histórica ensina que foi condições do socialismo que os povos e as nacionalidades na URSS viveram fraternalmente e progrediram em paz, ao passo que agora está a ser propagado o desagregador veneno nacionalista. Estes povos, todos os povos, devem hoje seguir este caminho. 

14 março 2014

O original encontra-se em inter.kke.gr/... 

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ 

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