domingo, 5 de janeiro de 2014

EUROPA: O ESPECTRO DA EXTREMA-DIREITA

 


Em três países, partidos ultra-conservadores e xenófobos podem vencer eleições para Parlamento Europeu. Ascensão revela, em contrapartida, oportunidade para esquerda
 
Antonio Martins – Outras Palavras, em Blog da Redação
 
Como o bom jornalismo, mesmo quando produzido com viés conservador, ajuda a enxergar os fatos e a interferir sobre seu desfecho. A revista inglesa Economist acaba de publicar um editorial e uma análise sobre uma das tendências políticas mais preocupantes da atualidade: o rápido crescimento, na maioria dos países da Europa, de partidos políticos de extrema-direita. Os textos revelam: tais agremiações podem conquistar até 10% das 751 cadeiras do próximo Parlamento Europeu, a ser eleito em maio. Mais: em nações com influência destacada sobre o continente e além dele — como Inglaterra, França e Holanda — a ultra-direita pode ser majoritária, nesse pleito. Não se trata apenas de um fenômeno eleitoral. O estado de bem-estar social, que constituiu uma espécie de identidade comum europeia no pós-II Guerra, entrou em declínio agudo, com a crise econômica pós-2008. A esquerda não foi capaz, ainda, de apresentar uma alternativa. Diante do vazio, uma parcela considerável das populações busca refúgio em três atitudes: uma crítica difusa e desesperançada às instituições políticas, vistas como elitistas e corruptas; a nostalgia em relação a um passado comunitário ou nacional supostamente glorioso; e, em especial, o ressentimento — ou o ódio — em relação ao outro, em especial o não-europeu.
 
A extrema-direita que cresce, mostram os textos de Economist, não é homogênea. Em alguns casos, ela assume claramente seu caráter truculento e brutal. O partido grego Aurora Dourada (7% dos votos, em 2012), por exemplo, assemelha-se aos nazistas tanto em seu símbolo (muito semelhantes à suástica) quanto em suas práticas. Constitui milícias armadas, agride imigrantes e envolveu-se em assassinatos. Já Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional francesa (17,9%, e 2012) e Nigel Farage, à frente do Partido Independentista do Reino Unido procuram construir para suas agremiações uma imagem respeitável. Rejeitam associação a regimes autoritários, participam sem exaltação de debates na TV.
 
Há divergências inclusive em relação a questões que simbolizaram a atitude da extrema-direita no passado: a postura diante dos judeus, por exemplo. A Frente Nacional não dissociou-se de seu passado antissemita (Jean-Marie Le Pen, pai de Marine e fundador do partido, afirmava que o Holocausto promovido pelos nazistas foi “um detalhe” na História) Já o Partido da Liberdade (PVV) holandês é ardorosamente pró-Israel (além de defender o casamento gay).
 
Mas todos estes partidos têm, em comum, um tipo de crítica às instituições e ao status-quo que merece ser examinado atentamente, inclusive porque pode fazer sucesso não apenas na Europa. Eles denunciam o empobrecimento de parcelas crescentes da população. Não desejam, é claro, associar este fenômeno a suas causas reais — em especial, o avanço da desigualdade e o surgimento de uma oligarquia financeira. Mas são hábeis em apontar, como culpados, os “políticos” (em especial a Comissão Europeia) e, em especial, o estrangeiro. Apresentam os imigrantes como bárbaros que vão à Europa para disputar os serviços sociais com os cidadãos “nacionais”. Odeiam, em especial o Islã e os muçulmanos. Estes representam, em seu discurso, o mesmo papel de “ameaça externa” que Hitler associava aos judeus.
 
Esta capacidade de capitalizar o sentimento social e dirigi-lo para causas retrógradas torna a extrema-direita perigosa não apenas pelo risco de sua eventual chegada ao poder. Ela contamina, crescentemente, as agendas nacionais. Os partidos da direita tradicional (e mesmo da antiga social-democracia), têm aprovado, cada vez mais, leis e medidas que restringem a imigração e limitam os direitos e liberdades dos estrangeiros.
 
Embora sombrio, o cenário revela, visto por outro ângulo, uma janela de oportunidade. Se parcelas crescentes dos europeus assumem posições anti-establishment, não seria possível oferecer-lhes outras saídas? Como fazê-lo? Dependerá, provavelmente, de dois fatores. Um deles está nas ruas: os movimentos autônomos de protesto, que eclodiram em diversos países do Velho Continente em 2011, conseguirão se rearticular — e mais que isso, formular reivindicações e programas claros? O outro encontra-se no cenário institucional: os partidos de esquerda serão capazes de dar outro sentido ao desconforto das populações?
 
Vale registrar um fato animador. Na semana passada, Alexis Tsipras, líder do partido grego Syriza foi escolhido num congresso de partidos de esquerda europeus, como candidato do grupo, à presidência da Comissão Europeia. Esta condição torna-o uma espécie de porta-voz comum dos partidos, nas eleições europeias de maio. O Syriza (27% nas eleições gregas de 2012) é conhecido precisamente por sua capacidade de dialogar com amplos setores do eleitorado e da articular ação institucional com mobilização dos movimentos sociais.
 
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UM ANO DE CONTINUIDADE SEM BRILHO NEM GLÓRIA

 

Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião
 
O ano de 2013 termina como começou, sem brilho nem glória sem que o Mundo e o pensamento dominante se alterassem, nem a situação humanitária evoluísse para melhor.
 
Bem pelo contrário, a situação dos refugiados sírios agrava-se dramaticamente com a chegada do Inverno e a falta de recursos e no Sudão do Sul, onde a independência foi tema de celebração, os confrontos fazem retomar correntes de refugiados de há décadas.

Como escrevi há um ano: Apesar de bastante combalido, com uma baixa oximetria, saturação de CO2, dissimetrias sociais, sociogeográficas, excesso populacional, violência recorrente, erros outros e má fortuna, a Terra continua a fazer o que Galileu disse e roda em torno de Sol transportando os seus incompreensíveis passageiros.

Barack Obama foi reeleito, também ele sem brilho nem glória.

As chamadas “Primaveras Árabes” transitam do passivo de 2012 para o activo de 2013 que as passa a 2014 sem final à vista mesmo que a Rússia tenha in extremis conseguido travar a escalada do conflito, levando Damasco a aceitar um plano de entrega e destruição do seu arsenal químico. Um plano diplomático de Moscovo, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU e que teve o acordo do Governo sírio embora reservas da oposição no exílio.

O facto é que a chamada Conferência de Genebra não arrancou como era de esperar e os combates reacendem-se, como era previsível, na procura de posições estratégicas para uma negociação.

Por todo o Médio Oriente os acontecimentos evoluíram de mau para pior, resta saber se e quando melhoram. No Egipto o domínio da Irmandade Muçulmana levou os militares a destituírem um Presidente vinco dos militantes islâmicos, o que os levou a ir para as ruas onde os confrontos se multiplicam e agravam com alguns períodos de acalmia pelo meio.

O vazio de poder criado pela queda de Kadahfy continua dois anos depois por preencher e a oposição tornada poder mostrou-se incapaz de gerir os equilíbrios tribais que o Presidente assassinado controlou ao longo de mais de três décadas. Os bandos tribais combatentes da Líbia e extremistas islâmicos lançaram-se para Sul criando no Mali e outros países da região uma ameaça para os Governos seculares instituídos, desencadeando novos conflitos e levando nalguns casos à intervenção de forças estrangeiras, designadamente tropas francesas. Estendendo por África o conflito que varreu o Norte do continente.

O drama de África continua. O continente rico em matérias-primas é palco de interesses financeiros externos à região, que se sobrepõem à convivência e à moderação, antes optando por fomentar crises para manter discórdias e financiar a instabilidade. A crise no Sudão do Sul continuou a evoluir para uma guerra não reconhecida. A par com as instabilidades a Norte do Equador continua a crise na região dos Grandes Lagos e em particular na disputa pelas matérias primas do Congo Kinshasa. Em Moçambique a Renamo parece ter procurado reeditar, até agora sem sucesso, o regresso à guerra que a UNITA fez após as eleições de 92 e o processo de paz de Bicesse.

O final de 2013 viu desaparecer uma figura de referência mundial: Nelson Mandela.

A Europa desde a crise dos Balcãs não conhecia uma situação de instabilidade grave junto à porta como a que a Turquia sente nos últimos meses. Inicialmente pelas concessões, consideradas excessivas, feitas por Erdogan aos islamitas, depois, a encerrar o ano, em virtude de um escândalo de corrupção que obrigou o Primeiro-Ministro à substituição de 11 ministros do seu Governo.

Para que nem tudo seja negativo os EUA parecem ter, por uma vez, dado a possibilidade a um homem considerado moderado de o mostrar. O novo Presidente do Irão teve finalmente a hipótese que Washington nunca deu aos seus antecessores. O diálogo prevaleceu e algumas sanções foram levantadas em troca de concessões de Teerão sobre o seu programa nuclear, mesmo contra a vontade e os avisos de Israel e por razões diferentes da Arábia Saudita e seus aliados do Golfo.

O ano de 2014 será testemunho de um desenvolvimento que pode mudar muito os equilíbrios na região, uma mudança que pode ter vários sentidos em função das oposições que vão tentar torpedear as conversações. E o que se passar neste diálogo influencia as negociações dormentes sobre uma resolução política da situação na Síria.

Os problemas vão continuar, quer para Leste quer para Sul. A Leste Paquistão e Índia mantiveram-se relativamente calmos, dentro da anormalidade de relações entre Islamabad e Nova Deli com a Índia a progredir económica e demograficamente para o estatuto de gigante consolidando o estatuto de potência regional. No Paquistão a situação tem sido extremamente complicada dada a tradicional falta de autoridade do Governo nas províncias limítrofes com fronteiras com o Afeganistão, onde Obama tem ordenado a multiplicação de ataques com aviões não tripulados (drones). A área da Indochina e Malásia mantêm-se discretamente fora das noticias. Em Myanmar a libertação de Aung San Suu Kyi e as eleições intercalares em 2012 trouxeram alguma acalmia e reconhecimento internacional. Todavia na turística Tailândia os ânimos têm estado exaltados desde o início da crise política em 2008. A vitória eleitoral do PheuThai, por uma esmagadora maioria, em 2011, apenas abrandou a contestação que ressurgiu este ano e se reacendeu em Dezembro após a dissolução do Parlamento. À contestação política não é alheia a herança separatista do Sul após o final da II Guerra Mundial.

A China em 2013 mostrou-se determinada a afirmar a sua posição como potência económica e militar na cena internacional e em particular no Mar da China. Em Março um novo líder ascendeu ao poder em Pequim, Xi Jinping. O novo dirigente, eleito em Março passado, sublinhou a importância incontornável do país, sugerindo uma partilha de influência dos EUA que significava o final da hegemonia americana nos mares. Para os aliados de Washington na região, do Japão à Austrália, a situação financeira nos EUA levanta sérias questões sobre a capacidade americana de continuar a garantir as alianças militares e de defesa que existem desde o final da II Guerra Mundial e se multiplicaram e consolidaram durante a Guerra Fria.

A verdade é que ao longo do ano a marinha chinesa tem feito incursões em todas as zonas em que Pequim considera ter interesses estratégicos ou direitos territoriais, das Filipinas ao Norte do Mar da China, criando situações potencialmente conflituosas com o Japão o a Coreia do Sul. No arco Ásia Pacífico a grande incógnita mantém-se na Coreia do Norte e na sua atitude agressiva apoiada por um arsenal nuclear de dimensões desconhecidas. A América do Sul foi varrida por uma sucessão de acontecimentos dos quais salientamos a morte de Hugo Chávez, opositor do imperialismo e defensor da identidade sul-americana. Odiado pela direita, adorado pelo povo, desenquadrado de uma esquerda tradicional, Chávez fez estremecer o mundo financeiro. Ali perto o Brasil está a passar por uma sucessão de manifestações que põem em causa os partidos tradicionais e os políticos.

Um novo Papa parece querer dar uma nova imagem e porventura uma nova orientação à Igreja Católica. Mudar a Igreja Católica é bem mais difícil do que esperar modificações radicais no Kremlin. Yuri Andropov, após a morte de Brejnev, conseguiu algumas vitórias que abririam o caminho a Mikhail Gorbatchov. O Papa Francisco, em teoria, dispõe de mais tempo que Andropov e os católicos em geral sentem que a sua igreja tem de mudar.
Mudanças que o mundo financeiro não conheceu em 2013. O economia financeira parece não ter sofrido com a crise económica mundial e está determinada a manter o rumo em 2014. As crises económicas na Europa e EUA apenas enriqueceram a economia financeira que emprestou dinheiro aos países em crise para se recomporem e com esses empréstimos vai ganhar dividendos chorudos nas próximas décadas.

Quanto ao ambiente exasperadamente pode-se dizer apenas que estamos conversados. Nem mesmo as catástrofes naturais de 2013 irão mudar o rumo definido pela economia financeira. O ano que termina só não foi um desapontamento porque os que o antecederam também foram absolutamente desapontadores.

ATÉ SEMPRE, EUSÉBIO!

 

Homenagear Eusébio da Silva Ferreira e a sua memória é o propósito de imensos portugueses e de cidadãos de todo o mundo. Também nós aqui queremos deixar a nossa homenagem ao desportista e ao homem que foi Eusébio.
 
Até sempre, Eusébio!
 
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Portugal: EMPURRÃO PARA O CONFORMISMO

 


Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião
 
A mensagem de Ano Novo do presidente da República (PR), interpretada por analistas diversos como uma intervenção com "ausência de novidades", "previsível" e até catalogada como "discurso humilde", constitui uma das intervenções mais conservadoras que o PR produziu até hoje e é, sem dúvida, um fortíssimo empurrão para o conformismo dos portugueses.
 
As suas aparentes fragilidades na interpretação da democracia são amputações objetivamente ideológicas e o "terreno" está propício à penetração deste tipo de mensagens.
 
A afirmação de que "a questão é nacional, não é partidária" podia ter sido feita no Estado Novo por qualquer dirigente da União Nacional, e continua a servir os mesmos interesses que nessa altura. Dizer que o 25 de Abril "trouxe aos portugueses a democracia e a liberdade", mas apenas "uma promessa de desenvolvimento e justiça social" é ignorar a extraordinária transformação social, económica, cultural e política que nos propiciou grandes avanços nos principais indicadores de desenvolvimento humano e nas diversas vertentes da igualdade, do progresso e da justiça sociais. Mas, a violência das políticas atuais tolda a muitos portugueses a perceção das mudanças, logo esta mensagem entra como pão em manteiga derretida, deixando ainda mais frágil a defesa da democracia e da liberdade.
 
No seu discurso, o PR borrifa-se para o Estado de direito democrático. Por isso, nada disse sobre o Orçamento do Estado, ou sobre a distribuição da riqueza, e fez uma caricatura dos conceitos de liberdade e de cidadania, insinuando que os portugueses, na generalidade, só têm tido "redução dos padrões de bem-estar". Toda a sua reflexão é centrada na garantia de Portugal agradar aos credores e aos mercados, associando aí o conceito de interesse nacional e, por decorrência, toda a ação política que ele idealiza para o seu "compromisso de salvação nacional". Credibilizou as desastrosas políticas que o Governo e a troika têm imposto, deixando a ilusão de que nos podemos safar por entre os pingos da chuva, de que há soluções fugindo da vida real e não encarando os problemas.
 
O homem que "na altura devida", ou seja, em finais de 2010, início de 2011, classificou as condições em que o país vivia como "situação explosiva", afinal age ideologicamente, pois nada faz contra a implosão do país e não assume que o perigo e a dimensão da explosão possível não são hoje menores.
 
Em 2011, o PR devia ter agido de forma a proteger o país, ter sabido gerir a crise política e responsabilizado, num quadro sério, todas as forças políticas; não devia ter ajudado à construção de um cenário que permitiu à direita fazer uma campanha eleitoral mentirosa; jamais devia ter apoiado a chantagem das agências de "rating" e outros especuladores, nem as operações de transformação de roubos privados em dívidas do Estado, nem feito coro com os que apresentaram a troika como a entidade séria que ia trazer justiça, rigor e salvar Portugal.
 
Um país que está a perder uma geração preparada e qualificada com o esforço do Estado social e das famílias; um país que tem hoje a segunda mais baixa taxa de natalidade do Mundo e não perspetiva recompor--se pela imigração; um país com perda de direitos sociais, de retribuição e valor do trabalho, com forte empobrecimento, aumento brutal do desemprego e das desigualdades e com destruição de estruturas da economia e do Estado; um país com a sua soberania comprometida não inicia um processo de recuperação com umas mezinhas de crescimento económico, uns pozinhos de caridade e um "programa cautelar". Fazer esta leitura é ato de hipocrisia política.
 
O PR fez um discurso marcelista. Da mesma forma que Marcelo não conseguia imaginar um Portugal próspero sem colónias e sem limitações às liberdades, Cavaco Silva não é capaz de imaginar futuro para o país que não seja o da obediência aos "mercados", do seguidismo das políticas desastrosas da União Europeia, das imposições do capitalismo neoliberal, de jogos de "oportunidades" e favores que enriquecem uns quantos espertos à custa da pobreza coletiva.
 
O PR não vislumbra um futuro sem a amputação dos direitos sociais e de cidadania. Por um Bom 2014, não nos conformemos!
 

Portugal: A CRUEL ASFIXIA DOS REFORMADOS

 

Eduardo Oliveira Silva - jornal i, opinião
 
Passos Coelho cumpre com o que sempre quis e Portas volta a trair a palavra dada e aceita uma TSU
 
Não haja dúvida de que há um motivo ideológico puro e duro que emerge por detrás de cada medida que o governo anuncia quando se trata de agravar a austeridade. A experiência demonstra que existe o propósito assustador e deliberado de impor cortes e sacrifícios acrescidos a dois grupos específicos de cidadãos: os reformados e os funcionários públicos, nomeadamente aos primeiros, agora já independentemente do sector de onde são oriundos.
 
Para arranjar menos de 400 milhões de euros, que poderiam ser encontrados com um aumento de meio por cento do IVA (um imposto cego mas justo) ou numa gestão racional da execução orçamental ao longo de seis meses de exercício, o governo recusou-se pura e simplesmente a procurar uma alternativa que não fosse sacrificar perversamente o grupo mais frágil de cidadãos, que não tem hipótese nenhuma de fugir ao alargamento da contribuição extraordinária de solidariedade (CES), que passou a permanente, tendo o efeito de um imposto ou taxa, o que vem dar rigorosamente no mesmo.
 
Não houve um esboço de esforço para flexibilizar o défice junto da troika nem para ir buscar dinheiro às PPP, que são fortalezas inexpugnáveis, protegidas por escritórios ligados à política.
 
Além de a CES, que, tanto quanto se sabe, pode passar a incidir sobre rendimentos de reformas que rondam os novecentos ou mil euros, embora seja possível que o governo aplique um valor ligeiramente acima para desanuviar a tensão em cima da hora, o que mais impressiona em todo este processo é a lamentável figura de Paulo Portas.
 
De Passos Coelho esperava- -se este trilho desde o dia em que tomou posse, após uma campanha em que prometeu exactamente o contrário do que faz com o maior dos desplantes. Mas Portas não pára de surpreender pela falta de palavra, para não dizer de carácter.
 
É que foi ele que falou de linha intransponíveis e de decisões irrevogáveis. Foi ele que ameaçou o governo até receber a ornamentação de vice-primeiro-ministro. Foi ele que se atirou para o chão aquando da TSU, que agora ressuscita. Foi ele que fez do CDS o partido do contribuinte e que tem andado a mudá-lo de CDS para PP à medida de interesses pontuais e demagógicos, que já passaram por fases pomposas como a defesa da lavoura, e recentemente a inauguração de um relógio que supostamente faz as contas do regresso do país à soberania plena e ao fim do protectorado. Seria risível se não fosse trágico.
 
Há no comportamento permanente dos líderes da coligação algo de obsessivo e sistemático dirigido contra extractos muito concretos da população, aos quais pouco ou nada resta para se defenderem além do exercício do voto como penalização, mesmo que se atirem para os braços de outros incompetentes ou até de demagogos.
 
É este o exercício medíocre do poder de quem se sente forte quando ataca os fracos sem a menor compaixão e com uma imperturbável frieza, que perpassou na forma como as coisas foram anunciadas de chofre e sem outras considerações.

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Portugal: CAVACO E A ESTRATÉGIA DO RELÓGIO

 

Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
1-Segundo o Presidente da República, para que possamos ter acesso a dinheiro emprestado a juros razoáveis é essencial que a conclusão do programa de ajustamento seja feita com sucesso. Deixemos agora de lado os sucessos que foram o desemprego, a emigração em massa, a deterioração de serviços essenciais, as falências, a inexistência de reformas estruturais, o reforço do papel do Estado nos principais sectores de atividade, o aumento da dívida, o confisco fiscal, o assalto aos reformados, para que não fosse cumprido um único objectivo orçamental. Se chegarmos a Maio sem sermos sujeitos a um segundo resgate e o Governo, o Presidente da República e a troika desatarem a gritar que a conclusão do programa foi um sucesso, quer dizer que foi um sucesso. Tudo o resto não interessa, mesmo que o programa cautelar nos imponha ainda mais austeridade, mesmo que as contrapartidas para esse seguro forem maiores do que as dum segundo resgate, mesmo que o País esteja de rastos, mesmo que o ajustamento dure décadas, temos de ir todos dançar em redor do relógio de Paulo Portas: eis a estratégia do relógio.
 
Com a declaração de falhanço da estratégia de Gaspar, feita pelo próprio, era preciso outra. Chegou há pouco tempo, foi inventada pelo irrevogável ministro, e o Presidente da República aderiu entusiasticamente.
 
Ora, para que esta estratégia resulte num fantástico sucesso, leia--se chegarmos a Maio sem segundo resgate, é preciso, segundo Cavaco Silva, salvaguardar o Orçamento do Estado, esse documento da "maior relevância". Esqueçamos também que a probabilidade de Paulo Portas respeitar a sua palavra é maior do que chegarmos ao fim de 2014 com 4% de défice, ou seja, estamos perante um orçamento ficcional. Finjamos que não sabemos que não haverá segundo resgate em nenhuma circunstância, não por obra e graça do Governo ou do genial programa de ajustamento, mas porque pura e simplesmente a Europa jamais assumiria o seu próprio fracasso.
 
Exige-se, porém, a "máxima ponderação e bom senso, um sentido patriótico de responsabilidade", a todos os agentes.
 
Que o Presidente ache que eu ou qualquer outro agente, cidadão ou instituição, é um irresponsável, um destituído de bom senso e sem amor à pátria, se pensar que este orçamento é péssimo para o País e que nem sequer vai atingir os objectivos a que se propõe, vá que não vá. Não é muito simpático ser insultado pelo nosso máximo representante, mas, francamente, Cavaco não nos tem feito outra coisa e à nossa inteligência nos últimos anos.
 
E se, por hipótese, o Tribunal Constitucional declarar inconstitucionais partes do orçamento, devemos entender que são os juízes que nos estão a atirar para a "continuação da política de austeridade e a deterioração da credibilidade e da imagem de Portugal" inerentes, segundo o Presidente, a um segundo resgate? Será que os juízes irão agir com ponderação, bom senso e amor à pátria? Cuidado juízes, segundo o Presidente pode haver um Miguel Vasconcelos em cada um de vós. Quererá o Presidente da República dizer que a Constituição se deve sujeitar à definição de bom senso feita por ele próprio?
 
O Presidente acha que quem não comprar a estratégia do relógio não é patriota. Que quem não pensar como ele não está "à altura do momento crucial" que vivemos. Não falta gente que acha que é ele que não está à altura do momento, que é ele que não mostra bom senso, ponderação e sentido patriótico de responsabilidade. Eu sou um deles.
 
2-É muito difícil perceber como é que o Presidente da República Portuguesa não fala da Europa e dos problemas europeus, quando fala aos portugueses. E logo numa ocasião em que (enfim...) define metas, aborda assuntos que define como essenciais e fala em compromissos e consensos.
 
A decisão de não falar da Europa pode ter uma das seguintes razões: ou Cavaco Silva pensa que podemos resolver todos os nossos problemas sem que os decisores europeus sejam tidos ou achados, ou pura e simplesmente não sabe o que há-de dizer ou acha que está tudo certo na política europeia e, logo, não há nada a acrescentar. Convenhamos, nenhuma das opções é de modo a deixar o cidadão descansado. Mas, o que mais assusta é sabermos que o nosso representante pode não perceber que não há solução para a nossa situação sem que a Europa mude de políticas e que, se não as mudar, iremos regredir economicamente e sobretudo socialmente várias décadas. Ou então sairmos do euro e da Europa que ainda nos faria regredir mais.
 
O Presidente que em Florença, em Outubro de 2011, tinha uma ideia para a Europa, o Presidente que ainda o ano passado dizia que tínhamos argumentos para exigir o apoio dos nossos parceiros europeus, foi tomado pelo provinciano Cavaco Silva. É preciso ter azar.
 

EUSÉBIO: Pantera Negra morreu aos 71 anos - Corpo de Eusébio chega à Luz às 17.30

 


Corpo de Eusébio estará em câmara ardente, na porta 1 do Estádio da Luz. Segunda-feira, dia do funeral, dará uma última volta ao estádio e será homenageado na Câmara Municipal de Lisboa.
 
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EUSÉBIO, UM MOÇAMBICANO QUE NASCEU REI PARA PORTUGAL E PARA O MUNDO

 


Eusébio, um moçambicano-português que nunca foi príncipe porque nasceu rei do futebol, como em todo o mundo assim o reconhecem. Eusébio, um jovem de 17 anos que desembarca no aeroporto de Lisboa e vai habitar o Lar do Benfica, junto ao cemitério, em Benfica – depois de algumas peripécias recambolescas protagonizadas pelo Sporting e pelo Benfica. 
 
Era tão jovem que a mãe escreveu a Mário Coluna, também moçambicano, jogador de gabarito do Benfica, com mais idade e experiência de vida e no mundo do futebol, para que tomasse conta do filho. E Coluna quase fez de Eusébio seu filho, sendo exigente no “mundo novo” de Lisboa que para Eusébio era deslumbrante mas não foi de perdição. “Pai” Coluna tinha o seu “filho” marcado e controlado – tirando uma fuga ou outra que Eusébio fazia, às vezes em véspera de jogo. Mas rápidamente os “mais velhos” o faziam arrepiar caminho e “ter juízo”.
 
A dedicação e o potencial de força do jovem Eusébio tudo superava. Eusébio no Estádio da Luz, nos treinos, era o exemplo a seguir… Até pelos mais velhos. Não era uma fuga do jovem Eusébio do Lar do Benfica para vir cavaquear ao Penalty (restaurante do Cávem e do Bastos, ambos jogadores do Benfica), logo ali ao lado do café Nilo, frente à igreja de Benfica, que manchava o desempenho do Rei Eusébio nos jogos ou nos treinos. O profissionalismo primeiro, a responsabilidade, o querer e o saber também. O resto nasceu com ele, por isso nasceu Rei.
 
Para os mais jovens ou para os que esqueceram o percurso deste grande futebolista e bom homem retirámos da Wikipédia referências do historial do grande homem e desportista que faleceu esta madrugada, aos quase 72 anos. Todas as homenagens que lhe façam será pouco, principalmente pelo homem que era. Como futebolista foi um Fora de Série, um potentado que pairava (e paira) acima das clubites. Eusébio estará sempre nos corações daqueles que o conheceram, por isso vive. Eusébio manterá viva a chama da admiração de todos que o viram jogar e também daqueles que de Eusébio ouvem falar. O rei continuará vivo, eternamente. (Redação PG)
 
Infância e juventude
 
Eusébio nasceu no bairro de Mafalala, em Maputo (na época Lourenço Marques), em Moçambique (ex colônia portuguesa), a 25 de janeiro de 1942, filho de Laurindo António da Silva Ferreira, ferroviário, branco, natural de Angola e, de Anissabeni Elisa, uma negra moçambicana. Foi o quarto filho do casal. Criado numa sociedade extremamente pobre, costumava faltar às aulas para jogar descalço futebol com os seus amigos em campos improvisados e utilizando bolas de futebol improvisadas. O seu pai morreu com tétano, quando Eusébio tinha 8 anos de idade, de modo que Elisa tomou quase exclusivamente cuidado parental do jovem Eusébio.
 
Carreira - O início
 
Mais tarde, Eusébio procurou inscrever-se no clube O Desportivo, mas não foi aceite, por ter um problema no joelho. A vontade de jogar futebol falou mais alto do que o clubismo, por isso, dirigiu-se ao Sporting Lourenço Marques. Tendo sido aceite nesta filial moçambicana do clube leonino de Lisboa, Eusébio jogou de leão ao peito até à sua ida para Portugal. Antes disso, chegou a ser indicado à equipa brasileira do São Paulo, após o ex-jogador do clube José Carlos Bauer, que havia participado nos Campeonatos Mundiais de 1950 e 1954, observá-lo em Lourenço Marques, em 1960. O Tricolor Paulista, entretanto, desdenhou do investimento. Bauer então conversou com Béla Guttmann, que fora seu treinador no São Paulo, sobre o jovem. Guttmann já treinava o Benfica na época.
 
O negócio da transferência do menino de 17 anos ficou então marcado pela polémica, devido à luta que houve entre os dois rivais de Lisboa para conseguir o passe do rapaz. O [Benfica] tinha tudo acordado com Eusébio e com o Sporting Lourenço Marques. No entanto, os responsáveis sportinguistas, sabendo tratar-se de um diamante em bruto, foram buscar o jogador ao Aeroporto, encaminhando-o para um hotel. Desta forma, Eusébio não pode assinar pelo Sporting visto que o seu pai já teria assinado pelo S.L.Benfica]] quando ainda corria o ano de 1960. Logo na primeira época de camisola vermelha vestida, o "Pantera Negra" ajudou o Benfica a conquistar o seu último troféu europeu e a sua segunda Taça dos Campeões Europeus consecutiva, acabando de vez com a hegemonia do Real Madrid.
 
Benfica
 
A 15 de dezembro de 1960 chegou a Lisboa. Eusébio jogava na filial leonina de Lourenço Marques quando um funcionário do Benfica tratou da sua transferência para as águias. Colocou o Eusébio num avião sob um nome falso (Ruth Malosso - que pertence a uma cidadã portuguesa) e avisou os leões de que o jogador tinha partido para Lisboa de barco. Na capital, Eusébio era esperado por dirigentes da turma da Luz e alguns jornalistas.
 
O Sporting Clube de Portugal não desistiu e voltou à carga, duplicando a oferta do Benfica, que acabou por pagar à mãe de Eusébio, Elisa Anissabene, 250 contos (250 milhares de escudos) pela transferência. Os encarnados esconderam o rapaz de 18 anos numa unidade hoteleira em Lagos, Algarve, evitando que ele fosse comprado pelo Sporting, e assim seguraram o reforço.
 
Menos de uma semana passou e Eusébio regressou à capital e já era jogador do Benfica.
 
Estreou-se no Estádio da Luz a 23 de maio de 1961, num jogo amigável contra o Atlético em que marcou 3 dos quatro golos do Benfica. As peripécias que se sucederam desde a sua chegada atrasaram a assinatura do contrato, o que iria impedir de estar presente em Berna, na noite do primeiro triunfo europeu do Benfica. A sua fama internacional vem do jogo da segunda final europeia do Benfica em 1962, contra o Real Madrid. Não só marcou dois golos como fez uma exibição de luxo com as características que o iriam tornar famoso: a velocidade estonteante e o remate fortíssimo.
 
A France Football considera-o o segundo melhor jogador do mundo, em 1962. Os convites para jogar no estrangeiro obviamente surgiram. A Juventus oferece-lhe 16000 contos, em 1964, numa altura em que ganhava 300 contos no Benfica. A tentação era tão grande que o governo de então o envia para a tropa, não permitindo que se venda um tesouro nacional deste tamanho. O Benfica acabaria por lhe aumentar o salário para 4000 contos. No mundial de 1966 em Inglaterra, torna-se definitivamente uma estrela mundial, um digno rival de Pelé. O epíteto de "Pantera Negra" vai correr o mundo. A facilidade em marcar golos torna-o no melhor marcador do mundial com 9 golos, ajudando a levar Portugal ao terceiro lugar. Após o mundial, os italianos fazem uma nova oferta a Eusébio: 90000 contos. Quando parecia que desta vez nem o governo poderia impedi-lo de aceitar, surge a notícia de que os clubes italianos deixam de poder contratar jogadores estrangeiros.
 
A carreira de Eusébio foi recheada de lesões, tendo sido operado 6 vezes ao joelho esquerdo e 1 vez ao direito. Nunca deixou de jogar, mesmo em condições dolorosas, até porque sabia que o Benfica dependia muito dele e que os espetadores não aceitariam bem a sua ausência. Realizaram-lhe uma festa de despedida, em Setembro de 1973, mas continuou ainda a jogar até 1979.
 
O seu último jogo com a camisa do Benfica foi no dia 18 de junho de 1975, frente à seleção africana, em Casablanca.
 
Seleção Nacional Portuguesa
 
Estreou-se na Seleção Nacional Portuguesa a 8 de outubro de 1961. Em 1966, vestindo a camisola das quinas, foi um dos protagonistas do Campeonato do Mundo jogado em Inglaterra. Com uma prestação fenomenal, Eusébio foi uma das principais armas portuguesas para uma das melhores campanhas internacionais de sempre. Logo no primeiro Campeonato do Mundo, Portugal chegou aos quartos-de-final, deixando pelo caminho equipas como a da Coreia do Norte (a grande surpresa do torneio, logo depois de Portugal), Hungria e Brasil (um dos principais favoritos, sendo que de entre uma equipa genial se destacava o número 10, Pelé). Portugal acabou por sair derrotado contra a equipa da casa, num jogo que ficou conhecido pelo "Jogo das Lágrimas", e que ficou marcado por contestações à organização do torneio. A marca de Eusébio de golos marcados no Campeonato do Mundo de 1966 ficou registada como a maior da prova.
 
Eusébio obteve a sua última internacionalização a 19 de outubro de 1973.
 
Final de carreira
 
Nas temporadas de 1976-77 e 1977-78, Eusébio jogou em duas equipas menores portuguesas: Beira-Mar, na Primeira Divisão e União de Tomar, na Segunda Divisão.
 
Jogou também na North American Soccer League (NASL), por três equipas diferentes, de 1975 a 1977: Boston Minutemen (1975), Toronto Metros-Croatia (1976, e Las Vegas Quicksilvers (1977). O seu maior sucesso na NASL foi em 1976, com Toronto Metros-Croatia. Eusébio marcou na vitória por 3-0 no 76 Soccer Bowl para ganhar o título da NASL. No mesmo ano, disputou dez jogos pelo Monterrey no campeonato mexicano.
 
Na temporada seguinte (1977), assinou pelos Las Vegas Quicksilvers. Acabaria por ser um final muito decepcionante da carreira de Eusébio. Por esta altura, as lesões tinham magoado o "Pantera Negra", e ele estava constantemente a receber tratamento médico enquanto jogava pelos Las Vegas Quicksilver. Durante a temporada, ele só conseguiu marcar dois golos.
 
Apesar de os joelhos lhe terem roubado a capacidade de continuar na NASL, Eusébio queria continuar a jogar futebol. Encontrou uma casa em 1978 com os New Jersey Americans da segunda linha American Soccer League (ASL). Foi forçado a aposentar-se de vez no final da temporada. Eusébio jogou cinco jogos pelos Buffalo Stallions durante a temporada 1979-1980 da Major Indoor Soccer League.
 
Em Outubro de 1963, foi seleccionado para representar a equipa da FIFA no "Aniversário de Ouro" da "Football Association" no Estádio de Wembley.
 
Eusébio aposentou-se em 1979 e fez parte da comissão técnica da Selecção Nacional Portuguesa até ao seu falecimento.
 
Falecimento
 
Eusébio faleceu cerca das 3h30m da madrugada de domingo, 5 de janeiro de 2014, vítima de uma insuficiência cardíaca, a poucos dias de completar 72 anos de idade.
 

O DRAMA HUMANO DOS DIVINOS COMERCIANTES

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - Os ideólogos do sionismo, os seus historiadores e os seus distintos grupos e sectores, ignoraram a presença dos judeus palestinianos. Foram muitos os judeus palestinianos e judeus árabes que durante o Mandato Britânico da Palestina, militaram nas fileiras da Palmach, um comando sionista que foi referenciado como “terrorista”. Os caminhos da luta levaram-nos ao sionismo, ao qual entregaram os melhores anos da sua vida, de forma incondicional e alguns revelaram-se estrategas brilhantes (como, por exemplo, Mattityahu Peled, que foi general do IDF, as Forças de Defesa de Israel).
 
Os caminhos que os conduziram ao sionismo levaram, estes combatentes, após a formação do Estado de Israel, á resistência palestiniana, muitos deles convertidos á metodologia da não-violência, forma de luta que foi também assumida por diversos intelectuais palestinianos como Issam Sartawi e Walid Khalidi. Este sector da sociedade israelita representa um outro Israel, um país de paz e justiça, um Estado democrático e laico, em oposição ao actual Estado Judaico Terrorista. São homens e mulheres que lutaram por um Israel onde não fosse possível ocorrerem casos como os do recente período natalício, em que 4 jovens palestinianos morreram às mãos do IDF, número de mortos que parece ter sido insuficiente para ser notícia na indústria mediática internacional.
 
O que levou esta comunidade a mudar de ideias, passando de “falcões” a resistentes decididos a obter a paz? Em primeiro lugar o Estado Terrorista de Israel, que ao pretender tornar-se num Estado exclusivamente judeu, caiu na tentação do etnocídio, eliminando palestinianos – quer sejam ateus, cristãos ou islâmicos – que decidiram ficar a viver em Israel e cujo crescimento demográfico é impossível de deter. Os judeus da Palestina, pertencentes á geração nascida durante o Mandato Britânico, assumiram, numa primeira etapa, a sua condição de judeus, horrorizados com o Holocausto da II Guerra Mundial e com o sofrimento dos judeus da (e na) Europa, compartilhando a ideologia sionista com o intuito de resolver o que o Ocidente racista denominava “problema judeu”, “questão judaica”. Grande parte desta comunidade assumiu a ideia de implantação de um Estado judaico na Palestina, como forma de resolução do problema e aderiram á luta armada contra os ingleses, realizando atentados, sabotagens e outras acções. Para este sector os ingleses eram invasores e muitos converteram-se em guerrilheiros judeus.
 
Em 1907 os ingleses implantaram um enclave colonial na Palestina, com o intuito de impedir a independência destes territórios e de impossibilitar a união e soberania dos povos árabes. Para isso elaboraram o Informe Campbell-Bannerman, um documento redigido por peritos da Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Itália, Espanha e Portugal e que o Imperio britânico manteve secreto por um século. Os guerrilheiros judeus do Palmach desconheciam o informe, mas foram um dos factores que levaram á sua anulação na práctica, mesmo ignorando o documento e correndo o risco, em algumas das suas acções no terreno e da sua linha politica, de serem utilizados para os fins do Imperio.
 
Este percurso levou muitos destes homens e mulheres a aprender que a terra não pertence a ninguém, mas que os Homens pertencem á terra donde nasceram. Aprenderam esta lição na luta contra o colonialismo britânico e reaprenderam, anos mais tarde - depois da implementação do Estado de Israel - no sofrimento dos palestinianos, seus compatriotas, às mãos do IDF, convertido em exército de ocupação. Esta reaprendizagem levou-os a combater contra a colonização sionista, imposta às populações palestinianas, árabes e berberes.
 
Permaneceram actores, encarnando o mesmo personagem, mas num diferente cenário, encabeçado por diferentes personagens.
 
II - Se fizermos uma análise exaustiva aos textos escolares israelitas, ficaremos perplexos com as inexactidões e a as falsidades inculcadas aos estudantes israelitas, sobre a Palestina e os palestinianos. Neste país os livros escolares são escritos para jovens que cumprirão, compulsivamente, aos 18 anos de idade o serviço militar obrigatório. Estamos, assim, na presença de um Estado para o qual as políticas de Educação têm como finalidade a criação de super-soldados, um pouco á imagem e semelhança das políticas nazis na Alemanha da década de 30 e 40 do século passado.
 
Este é um dos muitos obstáculos á criação de um Estado laico e democrático, que mina por completo os resíduos estruturais democráticos ainda existentes na sociedade israelita e que afecta de forma profunda a integridade ética da sociedade israelita. O Estado de Israel não foi, afinal, implantado para resolver “a questão judaica”, mas sim para cumprir o papel de enclave colonial. O Informe Campbell-Bannerman continua, desta forma, a ser cumprido.
 
A crença do “povo eleito” e da “terra prometida” acabam por ser o grande coveiro do pensamento democrático sionista, tornando o sionismo uma imensa colagem de discursos incongruentes, ao estilo do fascista judeu Avigdor Lieberman – um imigrante russo chegado a Israel em 1987- que em nome do “povo eleito na terra prometida” pretende expulsar e exterminar os palestinianos. O perigo deste mito e a ameaça que representam para a democracia em Israel estão patentes no quotidiano da sociedade israelita, na violência sem limites, nas agressões e humilhações a que os palestinianos são sujeitos, nos roubos de terras a que os berberes assistem como vitimas.
 
A este Israel, a esta Palestina opõem-se as palavras de Abu Ali Shahin, comandante da Fatah, líder dos presos políticos palestinianos por mais de duas décadas, um dos assistentes mais próximos de Arafat e um dos homens mais procurados pelos sionistas: “Todos pertencemos a esta terra e necessitamos de viver juntos. Nem Estado Árabe, nem Estado Judeu. O judaísmo é uma religião e eu luto por um Estado secular. Essa é a única forma de todos vivermos aqui. Ser judeu, muçulmano, cristão ou ateu, é uma opção pessoal, não é uma questão de eu ditar ou que os outros ditem. Não quero um sacerdote, um rabino ou um shaij a governarem a minha vida. Pertencemos a esta terra e necessitamos de viver aqui como iguais. E isso apenas será possível num Estado democrático secular”.
 
Esta mensagem de Abu Ali Shahin é também parte do manifesto da Fatah e do programa da OLP: a criação de uma democracia secular na Palestina. E neste ponto os combatentes palestinianos cruzam-se com os velhos combatentes sionistas, sejam de origem europeia (que andaram nos campos de batalha da guerra civil de Espanha, ou que provinham da Revolução soviética), ou dos judeus árabes, os judeus do Norte de África e os judeus palestinianos (alguns deles islamizados, outros cristãos).
 
As elites sionistas actuais espalham museus necrófilos por toda a Europa, amparando-se nas mortes e no sofrimento dos judeus europeus que padeceram os horrores da II Guerra Mundial, que foram vítimas do Holocausto e da brutalidade nazi e do esquecimento dos governos ocidentais. Mas, em Israel, sinistras figuras fascistoides como Lieberman ou Marcos Aguini (que lança longas e prolongadas diatribes contra os palestinianos), falam o que as elites sionistas não podem dizer no exterior.
 
Para os palestinianos, um outro Israel é essencial para a reconstrução de uma Palestina democrática. Para os judeus a democracia e a Paz são as únicas formas de construírem um espaço onde a memória dos seus antepassados vítimas das barbáries identitárias, não seja esquecida. Para ambos, judeus e palestinianos, há uma ponte, fundamental, em construção e que urge ser reforçada.
 
Afinal, não é todos os dias que podemos falar de um palestiniano sionista, de um árabe cristão, de um berbere ateu ou de judeus islâmicos…
 
III - O maior perigo que corre Israel não é a bomba nuclear iraniana. O maior perigo advém dos seus dirigentes, o que diga-se em abono da verdade, não é um exclusivo de Israel. A mediocridade e a imbecilidade são factores preponderantes nas actuais lideranças mundiais e esse não é um sinal dos tempos. Já noutras épocas existiram conjunturas idênticas, em que a imbecilidade demente predominava nas elites de poder, como em 1914, em que essa acumulação de incompetências conduziu á I Guerra Mundial. No entanto no meio da actual incompetência generalizada, Benjamin Netanyahu e o seu gabinete ministerial alcançaram um novo recorde nos medidores de insensatez e da ausência de bom senso.
 
O perigo não é o Irão. Aliás o Irão é o grande vencedor. Foi reconhecido no seio da comunidade internacional, a sua moeda está em fase de revalorização, o seu prestígio e influência na região tornaram-se fundamentais e os seus inimigos no mundo islâmico – a Arábia Saudita e os Estados do Golfo – foram humilhados. A imagem, vendida pelo Ocidente, de um Irão governado por aiatolas dementes, desvaneceu-se e com ela a hipótese de um ataque militar ao Irão, pelo menos na actual conjuntura. A opinião publica internacional – e a Ocidental, em particular – vê, agora, o Irão como um país responsável, com lideranças sóbrias e astutas.
 
O grande derrotado é Israel. As manobras da elite sionista conduziram-no, nesta questão, a uma posição isolada, assistindo ao distanciamento dos seus tradicionais amigos. Acima de tudo, as relações entre Israel e os USA foram afectadas. A dependência total de Israel em relação aos USA é assunto conhecido por todos, inclusive pelos mais acérrimos defensores do sionismo. Mas há um aspecto neste relacionamento que nunca é focado: os corredores conducentes á Casa Branca, controlados por Israel. Este activo é uma posição única e de grande vantagem para Israel. Ora, a derrota do governo de Netanyahu na questão iraniana, minou estes corredores e a perda é incalculável.
 
Os políticos israelitas, iguais á grande maioria dos seus colegas no resto do mundo, não são gente versada em História. Preferem mergulhar na intriga política e nas cotoveladas nos bastidores, a cultivarem os espíritos, lendo alguns livros de História, ou assistindo a palestras e conferencias. Porque se estudassem qualquer coisa de História, nunca teriam construido a armadilha em que eles próprios caíram. É que não basta olhar para o mapa e saber onde está o Estreito de Ormuz. É essencial saber o que este estreito representa no grande painel de mosaicos em que Israel encontra-se geográfica e culturalmente inserido. Qualquer acção militar contra o Irão está condenada ao fracasso – na melhor das hipóteses – ou a desencadear uma guerra de grande amplitude, o que fará eclipsar, em primeiro lugar, a rede petrolífera e afins.
 
A nova palavra de ordem da propaganda sionista é que o “Irão engana”. A mensagem que está a ser passada pela indústria mediática a soldo da elite sionista é que os “iranianos são mestres na arte do engano”. Esta estratégia é reveladora do racismo intrínseco da elite sionista, mas é também o reflexo do próprio passado de Israel. Quando na década de 50 do século passado, Israel iniciou o seu programa nuclear, em parceria com a França, enganou toda a gente, com uma eficácia impressionante. Nesses tempos idos, a Lakam – uma agência israelita de inteligência, especializada em espionagem industrial e tecnológica, desmantelada durante a década de 80 – adquiriu os materiais necessários para o arranque do programa nuclear. Os ensaios foram realizados longe da vista do mundo, na África do Sul (no regime do apartheid, um velho aliado do sionismo), na orla litoral banhada pelo Oceano Indico. A História (que as elites teimam em ignorar) está carregada de ironias e uma delas foi o facto de, nesses tempos, o Irão (governado pelo Xá) ter uma grande cooperação com Israel e a Mossad ter ajudado o Irão no seu programa nuclear (iniciado durante a administração do Xá, com o apoio dos USA e da NATO).
 
No que se refere á camuflagem israelita e á forma como estes enganaram a comunidade internacional em relação ao seu projecto nuclear, basta referir que o edifício do reactor nuclear de Dimona era uma “fábrica têxtil” e que os convidados estrangeiros de visita ao edifício de Dimona eram enganados com paredes falsas, pisos ocultos e outras artimanhas. Portanto, quando as elites sionistas acusam os iranianos de estarem a enganar a comunidade internacional, estão, no fundo, a reproduzir o seu comportamento anterior, dos tempos em que para iludir a aplicação e o desenvolvimento do seu programa nuclear, ludibriaram este mundo e o outro.
 
Mas a encenação maior é a indignação com que Israel refere o facto de que os norte-americanos terem optado por manter um via diplomática secreta com o Irão, como se Israel não tivesse conhecimento disso! E o tom indignado dos sionistas atinge o choro, quando afirmam, a soluçar, que esse acordo USA / Irão foi obtido através desses encontros secretos e não durante as demoradas negociações em Genebra. E para que os USA não fiquem com dúvidas de como é que os serviços de informação israelita sabiam dessa via diplomática secreta, os sionistas afirmam que a fonte foi a Arábia Saudita e não um dos milhões de informadores que Israel tem na administração norte-americana e corredores afins (Congresso, Senado, Agências…)!
 
E para os que pensam que na esquerda sionista existe contestação a esta birra sobre a Pérsia, estão equivocados. O novo líder trabalhista, Yitzhak Herzog, juntamente com a centrista Tzipi Livni e com Netanyahu, é um guardião do muro das lamentações…
 
IV - O apartheid sionista não é do mesmo tipo do apartheid sociobiológico das elites bóeres que governaram a África do Sul, nem do mesmo tipo de apartheid sociocultural ou etno-social que as elites africanas e asiáticas praticam, nem do género de apartheid social-hereditário das elites hindus, ou do tipo de apartheid social das oligarquias sul-americanas, nem mesmo do novo tipo de apartheid das novíssimas e sempre liberais elites ocidentais. O apartheid sionista é um hibrido, onde misturam-se todos estes tipos e géneros. É racista, classista, arrogante, tem conotações religiosas, biológicas e genéticas, étnicas, mas tudo bem doseado e em busca de um equilíbrio da atitude, que mais nenhum outro mito identitário conseguiu.
 
O eixo deste equilíbrio é a cultura milenária do judaísmo, a religião hebraica, de raiz semita que sempre representou um arquétipo contraditório, mesmo dialéctico, na vida das comunidades judaicas. Por exemplo: a contradição povo eleito / movimento de libertação (tanto no que respeita a luta contra o faraó e a escravatura no Imperio do Egipto, como á luta de libertação nacional no Imperio romano); ou a contradição teológica em que Deus é apresentado, numas passagens, como Senhor dos Exércitos e noutras (quando não nas mesmas) como um ser profundamente justo e misericordioso (embora esta seja uma característica semita, visível também no Islamismo e que marcam, ainda, o Cristianismo, nascido no seio do judaísmo). Em termos prácticos esta contradição pode ser observada em qualquer hospital israelita, onde podem ser encontrados pacientes e internados judeus, árabes, berberes, palestinianos, etc..
 
Em Israel o apartheid é camuflado por uma série de factores, que devidamente trabalhados pelo discurso oficial passam de secundários a principais, como a segurança (este assunto não consegue ser tratado com mais mestria do que em Israel), as referências históricas ao Holocausto, ou a “origem divina” da terra. Se for feita uma sopa com estes três ingredientes, teremos um cenário onde os judeus, vítimas de perseguições através da História da Humanidade (sempre perseguidos pelos carros do faraó, ou pelo menos pelos que conseguiram contornar a separação das águas, realizada por Moisés), vítimas das atrocidades da barbárie nazi (o Holocausto), em busca da “Terra Prometida”, durante milénios e agora nela residentes, têm toda a legitimidade para manterem-se nos territórios ocupados e de forma impune (porque é assim que no Antigo Testamento o Senhor dos Exércitos “fere” os seus inimigos) executa os seus oponentes e ultrapassa todas as normas e recomendação da ONU.
 
Vejamos um exemplo do apartheid sionista: a Cisjordânia. Existem dois sistemas judiciais em vigor: um civil, para judeus e outro militar, para os palestinianos. Esta filosofia é válida, também, para as infraestruturas: estradas para os judeus circularem (sempre em bom estado); estradas (sinuosas) feitas para os palestinianos circularem; rede de distribuição eléctrica para judeus e outra para palestinianos; um sistema de abastecimento de água para judeus e outro para palestinianos e inclusive locais, semelhantes aos bantustões do apartheid sul-africano de outros tempos, onde os palestinianos administram – de forma muito limitada – os seus assuntos públicos. Aliás no ano em que os sul-africanos aboliram os sistemas de restrições de viagens e as normas impeditivas da livre-circulação de pessoas no território sul-africano (1991), entrou em vigor um sistema de vistos e de restrições á livre-circulação de pessoas em Israel.
 
No entanto os palestinianos que são cidadãos israelitas votam. Este é um elemento que distingue o apartheid sionista do seu congénere sul-africano de outros tempos. Em Israel os cidadãos árabes são eleitores, exercem o seu direito de voto (o voto deve sempre ser entendido como um direito, nunca como uma obrigação, como acontece em algumas legislações ou como as elites pretendem fazer crer, para poderem obter uma legitimidade mais consensual), mas servem apenas para votar (á semelhança do que acontece na maioria do continente africano, onde o voto é a única possibilidade de expressar a soberania popular, mas em que a participação é vedada, em nome de uma pretensa estabilidade, o malcheiroso pântano africano da paz podre da putrefação social), estando excluídos da participação.
 
Em relação á Africa do Sul existia um componente essencial no tempo do apartheid que era a relação entre raça e classe. A classe operária era maioritariamente negra e a burguesia maioritariamente branca. Em Israel o capitalismo não depende da mão-de-obra palestiniana, embora esta seja importante em alguns sectores da economia.
 
Um outro factor de relevo no apartheid sionista em Israel é diferenciação a que os judeus são sujeitos entre si, segundo a sua origem (judeus europeus, judeus árabes e judeus africanos), a residência, (nos centros urbanos ou nas periferias) ou o tempo de permanência (entre os que chegaram á muito ao país, os que nasceram em Israel, os que chegaram depois, ou vão chegando). Estes factores no entanto são geralmente factores de diferenciação (que cavam fossos sociais, mais notórios nos judeus africanos, que estão em ultimo lugar nesta escala) sem grandes efeitos no plano jurídico.
 
Qualquer judeu, seja qual for a sua origem, usufrui dos direitos da Lei de Retorno, podendo regressar ao país em qualquer altura da sua vida, direito que não é aplicável aos palestinianos nascidos em Israel. Da mesma forma, os judeus podem mudar de residência livremente (alguém que viva em Telavive, pode mudar-se para a Margem ocidental), mas um palestiniano que resida em Belém, por exemplo, não pode mudar para as zonas costeiras. A escala de desigualdades tem diferentes patamares para os residentes da Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém Este e todos os cidadãos palestinianos de Israel. Estas divisões e subdivisões são desenhadas em função da fragmentação da nação palestiniana, criando diferente enfoques em relação á “área”, as “zonas”, de forma a diferenciar palestinianos, drusos, berberes, beduínos, árabes, mouros e depois em função da identidade cultural e religiosa (cristãos, muçulmanos e respectivas matizes).
 
Estes princípios de desigualdade são administrados por uma burocracia minuciosa, de forma a beneficiar o grupo hegemónico. Vejamos por exemplo a Zona C da Cisjordânia. Uma forma de entender a administração colonial da Zona C é recuarmos á década de 50 na África do Sul, quando o governo racista desalojou os residentes negros e mestiços das suas casas e despejou-os das suas terras, para criar espaço de colonização para os brancos. Na Zona C passou-se o mesmo. Os colonos sionistas desalojaram os residentes palestinianos e apossaram-se das terras dos palestinianos. Estamos, portanto, na presença de uma componente colonial comum.
 
Se é certo que o apartheid racial institucionalizado desapareceu na África do Sul (pelo menos institucionalmente, claro que na sociedade ainda existem sectores onde estes sentimentos e estruturas culturais estão arreigados) o apartheid classista nunca foi abolido e tomou, inclusive novas formas e características. E isso parece despertar a atenção das elites sionistas, se atendermos á forma calorosa com que Shimon Peres elogiou Nelson Mandela.
 
Não deixa de ser curioso o facto de Peres, que jogou um importante papel nas relações económicas e na cooperação militar entre Israel e o governo bóer (cujos ideólogos eram pró-nazis) da África do Sul, fosse um dos pais fundadores dos assentamentos na Cisjordânia e seja o instigador principal da “solução funcional” (uma daqueles diatribes que “harmoniza” a “solução final” dos nazis, transformando-a num instrumento mais soft e “liberal” de genocídio), ter prestado tamanhos encómios a Mandela.
 
O drama maior é que o perdão torna-se imperdoável e com sabor a traição. Por isso perdoa-lhes Tu, Pai! Não porque eles não saibam o que estão a fazer, mas porque o fazem da única forma que sabem…
 
Fontes
Peled,Miko El hijo del general. El viaje de un israelí en Palestina. Editorial Canaán, Buenos Aires, 2013
D. Smith, Anthony Chosen peoples. Sacred Sources of National Identity. Oxford University Press, 2003.
Prior, Michael La Biblia y el colonialismo. Una crítica moral. Editorial Canaán, Buenos Aires,2005.
Chedid, Saad y Masalha,Nur La Biblia leída con los ojos de los cananeos. Editorial Canaán, Buenos Aires, 2012.
Peled-Elhanan, Nurit Palestine in Israel School Books. Ideology and Propaganda in Education. I. B. Tauris & Co. Ltd., New York, 2012
 

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