segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Portugal: E O POVO, PÁ?



João Luís

Alvíssaras, alvíssaras, nasceu o novo rei.

Assim poderia começar esta crónica caso vivêssemos num regime monárquico, tal a euforia dos média em torno do depressivo espectáculo das primárias do Partido Socialista. O povo e o país ganham com isto? Não, não ganham.

Costa venceu Seguro, sem nenhuma proposta, sem nenhum projecto, sem por em causa nenhum dos tratados da União Europeia que têm arrastado, e vão continuar a arrastar, este país para o abismo. Um cheque em branco oferecido pelos militantes e simpatizantes “socialistas” que se prestaram alegremente em dar mais uma facadinha na nossa ainda jovem democracia.

E o mesmo se diga de Seguro, obviamente. Três anos de “oposição” ao desgoverno da direita mas que no fundo, não passaram de ligeiras cócegas.

A verdade é que após a maior derrota eleitoral no pós-25 de Abril que a direita toda junta sofreu, eis que o PS, mais uma vez, vem em auxílio daqueles que diz combater. Ou seja, estando reunidas condições para intensificar a luta pela demissão do governo e a exigência de eleições antecipadas, o PS “inventa” uma crise política, fazendo esquecer a hecatombe eleitoral dos partidos da direita. O PSD passaria a ser o partido do mini-bus e o CDS o partido da bicicleta.

Para não buscar outros exemplos, basta recordar o recente escândalo de Passos Coelho-Tecnoforma- Centro Português para a Cooperação-exclusividade e outras cont(h)abilidades(1), e como este caso não teve da parte do PS a devida atenção porque os meninos andavam a brincar à apanhada.

E assim lá vão, PSD e CDS gerindo a seu bel-prazer os destinos da nação. Verdade seja dita, apesar dos órgãos de comunicação omitirem descaradamente o facto, vale ao povo o olhar atento, a crítica severa e a luta contra os desmandos do governo por parte do PCP e do BE, mais o primeiro, diga-se em abono da verdade, que o segundo, mas ainda assim, a real, e não virtuais, oposição.

Depois das primárias que até meteram chutos e pontapés, seguem-se as secundárias. Seguro deixou o cargo de secretário-geral; Alberto Martins demitiu-se de líder da bancada parlamentar do PS; segue-se a marcação de congresso e lá para o Natal teremos (?) a casa “socialista” arrumada. E o povo, pá? O povo aguenta, ai aguenta, aguenta.

Que dizer da vergonha do aumento do salário mínimo nacional e a posição do PS?

No Largo do Rato acendem-se velinhas pedindo a todos os santos que o governo não caia. Agora não dava jeito nenhum aos democratas moderados.

O povo de Lisboa votou António Costa para presidir aos destinos da cidade. E agora, como é? Costa deixa a Câmara? Deixa para alguém que ninguém conhece? Haverá eleições intercalares?

Conclusão. O povo e o país “vão de carrinho”(2) em direcção ao barranco; a miséria e o desespero das famílias aumentam e o que fazem os responsáveis por 30 e tal anos de desgovernação, dos submarinos, dos contratos a prazo, do Freeport, do agravamento das condições de vida, do descalabro na justiça e educação, do 25 de Novembro, do FMI, do desemprego, da perda de direitos, dos PEC’S e outra vez do FMI? Brincam à “democracia”.

E o povo, pá?

Notas:
(1)autoria de Sérgio Ribeiro;
(2)autoria de Zeca Afonso.

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