sábado, 3 de agosto de 2013

Portugal: “A UNIÃO NACIONAL”

 

Pacheco Pereira - Abrupto
 
Não vale a pena fazer muitas ondas com o uso da expressão “união nacional” por Passos Coelho, ainda por cima enunciando que a escolhera em detrimento de outra, a de “unidade nacional”. A ignorância de Passos da história portuguesa recente não é novidade, mesmo em quem apresenta dados “antifascistas” na sua “biografia” ficcional e foi da JCP. Também importa pouco o facto de ele mesmo já ter usado e recusado a mesma expressão” união nacional”. Como aquilo é tudo colado a cuspo, não admiram estas flutuações. Passos não é salazarista, é indiferente ao salazarismo. No fundo, Passos quer dizer a mesma coisa com a sua “união nacional”, que Cavaco com a “salvação nacional”. Ambos comparticipam de uma cultura política que menospreza o valor da diferença, das “partes” em democracia, das ideias e das políticas como interpretações distintas da mesma realidade social, ambos ocultam o papel dos interesses e das ideias em democracia, tudo aquilo que faz com que duas pessoas “igualmente informadas” não cheguem às mesmas conclusões.
 
O problema não é pois o uso da expressão, mas sim o pensamento que está por detrás dela: o de que o seu programa é “natural”, é a “realidade” e só gente pervertida pela “porca” da política, o pode recusar. A expressão é um apelo a que o PS se junte à “realidade”, àquilo que é a política do governo, entendida como não tendo alternativa. A pulsão pelo Único é que é preocupante, os termos e o seu uso, são apenas ignorância.
 

Portugal: ENRIQUECIMENTO SEM JUSTA CAUSA

 

Vital Moreira – Causa Nossa
 
O problema com os políticos numa República constitucional é que não basta que as suas actividades não sejam ilegais.

Há também a ética republicana, que exige que eles não se aproveitem da sua condição política -- mesmo quando ex-políticos -- para efeitos de enriquecimento pessoal. No caso do BPN, não podem hoje restar dúvidas de que se tratou de uma conspiração organizada por ex-governantes do PSD para proveito pessoal à custa dos clientes do Banco e do interesse público. Não estando as acções do Banco, nem da SLN, no mercado, as luxuriantes mais-valias na transacção das mesmas só podem configurar uma operação deliberada de favorecimento do pequeno grupo pessoas envolvido no negócio.

Um verdadeiro enriquecmento sem justa causa, como se diz no direito civil.

CALOTE DA EDITORA QUIDNOVI - “GUERRA COLONIAL – A HISTÓRIA NA PRIMEIRA PESSOA”

 


A QuidNovi – Edições e Conteúdos, SA,  uma empresa portuguesa sediada na Rua 10 de Junho nº 54, Aveleda – Vila do Conde, editou em 2011 uma obra, em 16 volumes, intitulada: “Guerra Colonial - A História na Primeira Pessoa”.
 
Esses livros foram distribuídos por três jornais portugueses (“Jornal de Notícias” e “Diário de Notícias” em 2011) e, em 2013, pelo jornal “i”.
 
Os dois autores destes 16 volumes (Paulo F. Silva e Orlando Castro), apesar de a obra ter sido distribuída em 2011, continuam, ao contrário do acordado com os administradores da QuidNovi (Ricardo Afonso e Francisco Melo), sem receber milhares de euros em dívida há dois anos.
 

Moçambique: SACANICE

 


Verdade (mz) - Editorial
 
Nós sabemos de ciência certa que toda a liberdade que a imprensa conquistou foi arrancada a ferro e fogo, com muitas lágrimas, sacrifícios sobre-humanos e sangue derramado. Será assim sempre que as lideranças pensarem que a liberdade é uma coisa que só pode residir na Pereira do Lago. Sabem-no os filhos de Carlos Cardoso que viram o pai morrer pelo poder da sua caneta.
 
Sabem todos os que ousaram hastear a bandeira da liberdade e da livre expressão. Nada do que foi conquistado pelos moçambicanos foi gratuito ou uma dádiva da Frelimo de Guebuza. Moçambique só é livre porque o solo sagrado da pátria foi regado com muitas lágrimas, muito suor e muito sangue dos moçambicanos. Morreram homens, mulheres e crianças na luta de libertação nacional que os livros de história não homenageiam. Morreram inocentes na guerra dos 16 anos.
 
Outros cidadãos foram presos por contestar a legitimidade do regime. Outros perderam empregos por causa das suas cores políticas. Moçambique também é feito dos que são miseravelmente exploradas com o fardamento da PRM, nas empresas de segurança privada, nos armazéns. Os que apodrecem injustamente nas prisões. O país é a soma disso. Dos empregados do regime e dos que se opõem às suas amarras.
 
O país é e deve ser feito de todos. Cada homem é um cidadão livre de escolher entre o caminho das privações ou uma bota para lamber. Cada um de nós é livre de honrar as calças que veste ou de ser sacudido por pesadelos constantes durante a vigília. A independência serve exactamente para seguirmos as nossas vocações e gritarmos para todo o mundo o que pensamos. Sem reservas e sem máscaras.
 
Exactamente por isso é que julgamos que as listas congeminadas no esgoto da sacanice não carecem de secretismo. Nós aceitamos a vossa condição de polidores oficiais. O que não precisam de fazer, no conforto da cobardia, é atacar-nos pelas costas. Isso é inadmissível. Nós nunca jogamos sujo dessa forma. Os nossos ataques ao regime foram sempre frontais e escudados no mais alto interesse da pátria. Não fica bem, por isso, que nos apunhalem pelas costas.
 
Deixem que os órgãos de informação tracem as suas próprias agendas. Essa lista de analistas para denegrir o trabalho do Jornal @Verdade e Canal de Moçambique revela um regime em desespero e à beira da falência.
 
A posição do Eduardo Constantino, nos programas na Televisão Prostituída de Moçambique, vulgo TVM, nem parecem de um jornalista que deve pautar pela isenção e rigor. O seu desprezo pelo “cidadão repórter” é o mesmo que desandar o caminho que percorremos para alcançar a liberdade.
 
A grande vantagem da denúncia do Savana é que já não precisamos de pensar que um Gulamo Taju ataca cobardemente jornais livres por mera ignorância. É mesmo sacanice. E da pior espécie.
 

Moçambique: HÁ 250 CRIANÇAS NAS RUAS DA CIDADE DE MAPUTO

 


Coutinho Macanandze – Verdade (mz)
 
Tende a reduzir o número de crianças que têm a rua como seu abrigo devido a vários problemas que acontecem nas suas famílias, segundo a Associação Meninos de Moçambique, que refere, também, que entre 1998 e 2013 o número desses petizes baixou de 450 para 250 na cidade de Maputo.
 
O oficial de programas daquela agremiação, Abdul Remane, disse, esta sexta-feira (03), ao @Verdade, que os meninos fogem da casa dos seus pais e/ou encarregados de educação devido à desestruturação familiar, pobreza, influência dos amigos, perda de progenitores por causa do HIV/SIDA, aos maus-tratos, dentre outros.
 
Entretanto, alguns parentes dessas crianças reunificam-se e os filhos voltam para os seus lares, onde têm reintegração social e vão à escola novamente graças ao trabalho da Associação.
 
Aliás, algumas famílias, neste momento em número 400, receberem apoio financeiro para o início de pequenos negócios e reabilitação de suas casas e acompanhamento médico diário.
 
Paralelamente às acções de reintegração de petizes nas famílias, decorrem cursos de formação vocacional nas áreas de carpintaria, serralharia, mecânica, culinária, costura e cabeleireiro com vista a assegurar que os jovens e os próprios meninos cujo domicílio é a rua tenham habilidades profissionais.
 
Refira-se que a Associação Meninos de Moçambique desenvolve acções de protecção da criança de rua em conflito com a lei, combate ao trabalho infantil, promoção da assistência jurídica, sanitária, dentre outras.
 

FLEC: 50 ANOS A AFIRMAR “CABINDA NÃO É ANGOLA”

 


 
A Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) completa 50 anos no dia 2 de agosto. Desde a sua fundação, no Congo Brazzaville, o movimento luta pela separação do território, rico em petróleo, do resto de Angola.
 
Ao longo dos anos, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações. Meio século depois, a fação da FLEC de Nzita Tiago é a única que ainda mantém a resistência armada contra a administração de Luanda.

“A história é muito longa", recorda Nzita Henriques Tiago, o líder histórico da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, quando evoca o dia em que ajudou a fundar o movimento. A FLEC foi criada oficialmente num congresso que se realizou de 2 a 4 de agosto de 1963, ainda antes da independência de Angola. A cidade de Ponta Negra, no Congo Brazzaville, foi o berço da sigla que se viria a tornar famosa.

A FLEC resulta da fusão de três organizações: o Movimento para a Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC), de Luís Ranque Franque; o Comité de Acção da União Nacional de Cabinda (CAUNC), de Nzita Tiago; e a Aliança Nacional Mayombe (ALLIAMA), de António Sozinho. Franque assume a presidência da FLEC, Sozinho é eleito secretário-geral e Nzita é o vice-presidente.

"Cabindas não podem aceitar o neo-colonialismo"

“Eu próprio abri o escritório da FLEC em Cabinda", afirma Nzita Tiago, acrescentando que foi "preso em São Nicolau por causa da independência de Cabinda". "Quando os angolanos tiveram a independência deles, em 1975, os cabindas reclamaram a sua independência aos portugueses. E esse processo continua hoje. Tem que continuar", considera.

Nzita Tiago tem hoje 86 anos e vive na capital francesa. Mas muito antes de se exilar em Paris, a luta independentista custou-lhe uma estadia na cadeia de São Nicolau no Bentiaba. A única prisão a céu aberto em Angola, onde a PIDE-DGS, a então polícia política portuguesa, torturou muitos nacionalistas.

Quando é posto em liberdade, em 1974, abre um escritório da FLEC na cidade de Tchiowa, capital de Cabinda. Um ano depois, a FLEC forma um governo provisório que proclama a independência de Cabinda de Portugal. Mas quem ganha terreno no enclave é o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), na altura liderado pelo primeiro Presidente do país, Agostinho Neto.

Nzita Tiago explica que “os portugueses entregaram Cabinda aos angolanos. Mas os angolanos devem saber que os cabindas não podem aceitar o neo-colonialismo".

50 anos, inúmeras FLECs

No final da década de 1970, a FLEC divide-se em várias fações. Além daFLEC-Nzita, surgem a FLEC-Ranque Franque e a FLEC-Lubota, líderes históricos entretanto falecidos. E a multiplicação continua nos anos seguintes. FLEC-FAC, FLEC- Posição Militar, FLEC-Renovada, FLEC-Nova Visão… A lista de FLECs vai crescendo, sobretudo na Europa, onde vivem muitos antigos quadros despromovidos que anseiam por protagonismo.
 
“Há FLECs que provavelmente serão duas ou três pessoas” que, aproveitando as novas tecnologias, "aparentam algo que não são", explica o analista político Orlando Castro. A FLEC-Lopes, por exemplo, chega até a emitir passaportes de Cabinda e “nomeia chefes militares que ninguém sabe se existem ou não".
 
De acordo com o analista, "há muito oportunismo nestas situações, que eventualmente se poderá compreender numa tentativa única de subsistência e que normalmente acontece com pessoas que estão no exterior e que deixaram de comer farelo como come o povo e passaram a comer durante algum tempo lagosta". "E para se manterem à mesa da lagosta inventam tudo e mais alguma coisa", conclui. Uma multiplicação que Orlando Castro vê também como "uma estratégia do MPLA para dividir a resistência para a tornar mais fraca."
 
"Falta capacidade aos dirigentes", diz MNC

Hoje, a única fação que ainda mantém a resistência armada contra a administração de Luanda é a FLEC de Nzita Tiago, que não poupa críticas aos restantes grupos: “Mas o que é que eles têm feito?", questiona Tiago. "Estão a fazer o comércio deles. Mas depois de receberem o dinheiro de José Eduardo dos Santos, o que é que eles fazem no terreno?”.

Foi precisamente a multiplicidade de siglas e dissidências que acabou por dar argumentos ao Governo angolano de que não existe um “interlocutor válido” com quem possa negociar a questão de Cabinda.

Mas o Movimento Nacional Cabinda (MNC), que se demarca da FLEC, não considera que esse tenha sido o principal problema. Até porque nessa mesa se podem sentar várias FLECs, como defende Bartolomeu Capita. O representante do grupo, que luta pela independência do território através de meios diplomáticos e pacíficos, chegou a ser militante da FLEC dirigida por Ranque Franque nos anos 70.
 
“A principal causa do fracasso é talvez a falta de capacidade dos próprios dirigentes", afirma Capita, explicando que "Cabinda é um pequeno território entre os dois Congos. Durante a época colonial tinha pouca abertura com o exterior. Houve uma espécie de clausura em Cabinda que impediu, sobretudo os jovens, de terem contactos com o exterior e de terem um espírito político e revolucionário".

Questiona-se se um possível desaparecimento de Nzita Tiago, que tem 86 anos, poderá provocar novas lutas pela liderança do movimento. Para já, a escolha do seu sucessor continua no segredo dos deuses. Mas certamente será alguém que continuará a fazer passar a eterna mensagem da FLEC, nas palavras do líder histórico: “Cabinda não é Angola. Vamos continuar a luta até nos libertarmos da escravatura angolana".
 

Angola: O ESTADO E A JUVENTUDE

 


José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião - 28 de Julho, 2013
 
O mundo desenvolvido está em crise económica. O caminho seguido está levar os povos para o beco da recessão e da pobreza. No lugar de alguns países antes prósperos está a surgir a penúria.
 
A crise eclodiu por erros sistemáticos na regulação financeira e porque a ideologia do mercado se sobrepôs à política a favor do bem comum. A solução agora adoptada, na Europa e nos EUA, está em fazer cortes nas despesas sociais e isso debilita os Estados e esmaga os mais vulneráveis.

Alguns países desenvolvidos estão a viver graves problemas sociais. A falência de Detroit, a cidade dos EUA que se tornou em fantasma, é mais um exemplo. Os que chegaram ao fim da sua vida activa perdem grande parte das suas pensões de reforma e são castigados com impostos cada vez mais elevados. O desemprego entre os jovens atinge números assustadores.

O Estado Social Europeu, construído ao longo de décadas após a II Guerra Mundial para eliminar graves convulsões sociais e o perigo de novas guerras, está a ser desmantelado, deixando sem protecção milhões de seres humanos.

Neste crítico quadro planetário, Angola, ainda com o fardo da guerra do “apartheid” e da rebelião destruidora de Jonas Savimbi, vive as mesmas dificuldades de todos os países com as suas características. As economias emergentes tentam a todo o custo libertar-se das amarras da grande crise nascida na febre especulativa de Wall Street e remar contra a maré mundial, procurando soluções entre si e multiplicando os investimentos públicos e privados.

Angola tenta recuperar a economia e reabilitar a infra-estrutura, como forma de fazer renascer o tecido social, promover o emprego e criar riqueza. O Governo angolano, em pouco tempo, retirou milhões de pessoas do flagelo da fome, alargou a protecção social às franjas mais vulneráveis, universalizou o direito à Educação, à Saúde, à Habitação.

O Executivo lançou políticas que multiplicam os postos de trabalho. Criou condições para a criação da própria empresa, a formação profissional, o acesso ao crédito bonificado.

A crise global está a criar grandes dificuldades a Angola, mas no meio da tempestade, aqui ninguém fica para trás. Como disse o Papa Francisco aos jovens no Rio de Janeiro, nenhum ser humano é descartável.

O Presidente José Eduardo dos Santos defende há muitos anos políticas arrojadas e inovadoras para a Juventude. Foi ele que, ainda na vigência do regime centralista, que terminou em 1992, chamou os jovens do seu partido, para com eles protagonizar a abertura vitoriosa e única na História que desembocou no pluripartidarismo e na economia de mercado. Todos os seus governos têm a marca da juventude, nos conteúdos e nas estruturas.

O Presidente José Eduardo dos Santos teve sempre o cuidado de lançar pontes para que as novas gerações tivessem sempre uma importante palavra a dizer nas decisões políticas e nos grandes desígnios nacionais. A renovação dos quadros políticos é um a evidência, desde que assumiu a liderança do país. E hoje, os que estão à frente dos destinos do nosso país, das instituições e das empresas são, na grande maioria, jovens.

A grande riqueza de Angola é a sua juventude. Temos uma população cada vez mais jovem e, na última década, mais qualificada. Ainda temos um longo caminho a percorrer até que essa qualificação atinja o nível ideal. Mas é inquestionável que existe uma explosão da população escolar a todos os níveis e que o Ensino Superior está a afinar a qualidade, depois da sua expansão a todas as províncias e até aos mais importantes municípios do interior.

O regime político liderado por José Eduardo dos Santos é popular e democrático. A juventude angolana tem de perceber o que isto significa. O poder político e económico está nas mãos dos angolanos e os órgãos de soberania exercem a soberania. É evidente que todos gostávamos que já tivéssemos pleno emprego e que as nossas Universidades estivessem nesta altura a contribuir decisivamente para o desenvolvimento de que Angola necessita.

Mas uma década de paz não é suficiente para permitir o nível ideal. O nosso país tem um défice de quadros, por isso o esforço tem de ser redobrado. A economia tem horror ao vazio e se não formos nós a criar rapidamente as elites angolanas necessárias nas ciências, no empresariado, na cultura e nas artes, outros ocupam o vazio. É necessário trabalho árduo para recuperarmos o tempo perdido.

Esta missão fica simplificada e facilitada se os departamentos ministeriais fizerem mais para orientarem e ajudarem os jovens a encontrar os caminhos certos. Os jovens precisam de saber como se devem formar e onde podem procurar emprego. As oportunidades em Angola para os jovens que querem entrar na vida activa, são imensas, mas os procedimentos a adoptar para conseguirem o emprego, são poucos ou mesmo desconhecidos. O caminho alternativo é desperdiçarem o elevado potencial e a grande energia que têm no mercado informal ou baterem à porta da “cunha” e das empresas que já têm números excedentários de trabalhadores.

Quem entra nas empresas espalhadas pelo país, apenas vê jovens a trabalhar. Isso é bom. Mas orientar e explicar aos jovens desempregados, através de campanhas de informação permanente e em massa, quais as vias para conseguirem trabalhar por conta de outrem ou abrirem a sua empresa particular ou familiar, é responsabilidade dos departamentos governamentais, em primeiro lugar. Depois vêm as instituições especializadas do Estado, os meios da comunicação social, as organizações não governamentais, os voluntários e a sociedade civil. Um bom começo para cada um conhecer o que se perde com o desemprego por falta de informação, sugerido há tempos por um economista, é começar a registar quem está a trabalhar no mercado ambulante, quem está no mercado informal e paralelo, qual a população de jovens e adultos que precisa de informação.

O programa de auscultação da juventude lançado pelo Executivo vem no momento certo preencher uma lacuna de comunicação. A Juventude é a maior riqueza de Angola e está uma vez mais provado que tem sempre uma via sempre aberta para dialogar com os detentores do poder político. Num momento de forte proteccionismo mundial e em que a manipulação e a demagogia são utilizadas para lançar os jovens em aventuras, esse diálogo permanente está a ser reforçado.

Poucos países do mundo dão aos jovens tanta atenção como Angola. Em poucos países os jovens têm tantas facilidades de acesso ao ensino técnico e profissional, à constituição das suas próprias empresas, ao crédito, ao apoio institucional. Em poucos países do mundo se colocam os jovens no centro das políticas de Estado. O poder político em Angola cuida bem dessa grande riqueza que é a juventude angolana. Essa opção política é importante. Mas é preciso fazer mais.

NEGOCIAÇÕES COM ISRAEL SÃO UM LOGRO

 


José Goulão – Jornal de Angola, opinião
 
O mundo já se habituou a este cenário, a esta rotina que há duas décadas começou por ser esperançosa e que, com o desgaste do tempo e a denúncia dos comportamentos associados, acabou por se tornar burocrática e, agora, enganadora e trágica.
As negociações de paz israelo-palestinianas recomeçaram. Será desta?, pergunta um jornal de referência que tanto poderia ser português, como inglês como chinês porque as referências também se parecem cada vez mais com negociações assim, pouco recomendáveis.
 
É claro que não será desta, nem de nenhuma outra vez qualquer em que o formato, os intérpretes e os mediadores sejam os mesmos ou semelhantes. Todos sabemos a resposta, do mesmo modo que o tal jornal da retórica pergunta.

Estas negociações onde nada se negoceia a não ser as fórmulas de propaganda que vão ser transmitidas a cada uma das clientelas – as que ainda se deixam iludir – estão viciadas. Hipotecam tempo, tão importante como a própria sobrevivência, para o lado palestiniano; oferecem tempo generoso para a estratégia de facto consumado do lado israelita; e desperdiçam mais água na bacia de Pilatos onde as administrações americanas, umas atrás das outras, vão lavando as mãos e garantindo “nós bem tentámos...”

Porque voltaram então a sentar-se à mesma mesa, e agora, os comparsas (ou substitutos) que há três anos se não viam? Mudou alguma coisa nas posições comuns? Haverá sinais de desgaste nas estratégias que todos os lados têm vindo a tomar, incluindo o destroçado sector político palestiniano? Nada disso. Existe, tão só, uma convergência de episódios conjunturais e de oportunismos viscerais.

John Kerry, o secretário de Estado norte-americano, apresentado agora como o novo profeta da paz no Médio Oriente, emerge espezinhando a desgraça em que por culpa própria caiu a sua antecessora, Hillary Clinton, instalando um palco de onde pretende projectar-se como o próximo presidente dos Estados Unidos. Será desta?, alguém perguntará, talvez o mesmo jornal.

Mahmud Abbas, o presidente palestiniano cujo mandato há muito expirou, regressa às negociações sem que haja uma moratória, pelo menos declarada, nas acções de colonização israelita que inviabilizam qualquer solução satisfatória e digna para o povo palestiniano – dos territórios e da diáspora. Este regresso acontece no momento de mais profunda divisão no universo palestiniano. Uma administração da Autonomia de fachada em Ramallah; a Faixa de Gaza isolada nas mãos do Hamas, por sua vez a contas com uma situação de extrema vulnerabilidade depois de uma das acusações feitas ao presidente egípcio deposto por golpe de Estado ser a de “cumplicidade” com este grupo palestiniano. Além do inimigo israelita e americano, o Hamas tem agora o inimigo egípcio e americano depois de Ramallah e Gaza terem deitado fora todas as hipóteses de um entendimento nacional.

Mahmud Abbas poderá ter caído na tentação dos apelos israelitas e de Washington, mas o que está em jogo, relembra-se, é a criação de um Estado palestiniano viável, contínuo, nas fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Leste e com solução do problema dos refugiados. No contexto negocial existente, Abbas não está em condições de obter nada disto e já fala até na possibilidade de entrar pelo movediço terreno da troca de territórios que Israel lhe oferece.

Do lado israelita tudo caminha bem enquanto caminhar assim. Além de ter como mediador de um processo desequilibrado e viciado o seu grande aliado norte-americano, que tudo lhe tem perdoado, o governo de Benjamin Netanyahu, recauchutado como algum “centrismo” colaborante, não fez qualquer declaração suspendendo a colonização, o mesmo comportamento que levou Abbas a abandonar as negociações há três anos.

Diz a tal comunicação social de referência que nos bastidores sim, aceitou declarar uma moratória quanto ao início de novos colonatos, sem abranger a ampliação dos existentes. Pois sim, mas o que se conhece à luz do dia é que as autoridades militares israelitas que administram a Cisjordânia ocupada acabam de autorizar a construção de 450 quilómetros de vias férreas e 170 quilómetros de estradas para ligar entre si os colonatos e facilitar as comunicações entre a costa israelita e o Vale do Jordão. O que significam estas construções? Mais casas palestinianas derrubadas, aldeias arrasadas, hectares de terras confiscados, novas áreas interditas a palestinianos no território vocacionado para ser o novo Estado palestiniano.

Por cada dia, semana ou ano de negociações que passa menor será o território disponível, o problema ir-se-á resolvendo. O processo de paz, tal como está, é um logro.

Foto: AFP
 

A CRISE DA DIREITA BRASILEIRA

 


Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
 
É um fenômeno geral no continente: os governos progressistas deslocaram a direita e a ultra esquerda, que não encontram forma de acumular força. A ultra esquerda insiste em não reconhecer que a situação social desses países melhorou substancialmente, que deram passos importantes na contramão do modelo neoliberal, que têm uma politica externa que se opõem à dos EUA, que recuperaram o papel ativo do Estado. Ficam isolados dos processos que se dão em cada país e do grupo de governos progressistas na América Latina, que representam o contraponto internacional ao eixo neoliberal ainda hegemônico no capitalismo mundial. Não conseguem apoio em nenhum dos países com governos progressistas, frequentemente aparecem aliados à direita, considerando aqueles governos como seu inimigo principal.

A direita fracassou com seus governos neoliberais, leva esse peso nas costas – imaginem o que é carregar o peso de governos como os de Menem, Fujimori, Carlos Andrés Peres, FHC? Mas tampouco conseguiu uma nova identidade durante os governos progressistas. Em todos os países lhe faltam lideres, programa, apoio popular.

No Brasil, além da dificuldade do que fazer com o governo FHC – Serra e Alckmin tentaram distancias e não deu certo pra eles, Aécio tenta reivindicar FHC e, como se vê, não decola – não consegue lideres, nem programa. A velha mídia, sua ponta de lança e farol ideológico, mantem capacidade de gerar ou multiplicar circunstâncias, que geram certo desgaste nos governos, mas daí não se fortalecem lideres da direita.

Apesar da sua insistência – até porque não sabe fazer outra coisa -, o Serra é carta fora do baralho, sua validade já venceu. Aécio não consegue crescer, em nenhuma circunstância, nem com todo o beneplácito da mídia. Não dá confiança nem a seus correligionários mais fiéis – como é o caso de FHC agora. Não creem que ele tenha possibilidades de vitória e até corre o risco de ficar em terceiro lugar, consolidando a debacle dos tucanos.

O balão de ensaio do Joaquim Barbosa não funcionou, o mesmo aconteceu com o Eduardo Campos. As possibilidades eleitorais da Marina são limitadas porque, apesar do seu desempenho nas pesquisas, seu tempo de TV será exíguo e ela não conta com alianças nos estados, nem com bancadas de parlamentares. Além da falta de um programa minimamente apegado à realidade do Brasil.

Parece que a direita se contentaria com chegar a um segundo turno, com qualquer candidato, porque seu objetivo é: qualquer um, menos a Dilma. Muito pouco pelo estardalhaço da sua mídia.
 

Brasil: Lula da Silva exortou a esquerda a aprofundar a democracia na América Latina

 

RTP - Lusa
 
O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva exortou na sexta-feira a esquerda da América Latina reunida no Fórum de São Paulo a aprofundar a democracia e a integração face aos esforços dos Estados Unidos de "dividir" a região.
 
"A história encarregou-se de provar que a democracia exercida a partir da participação das massas é a melhor fonte e a melhor via para que a esquerda chegue ao poder em qualquer país", afirmou Lula na abertura do Fórum.
 
O ex-Presidente brasileiro também defendeu um reforço dos esforços para se desenvolverem projetos de integração concretos além dos acordos de comércio livre e que se foquem em aspetos políticos, sociais, económicos e científicos, entre outros.
 
Perante cerca de 600 delegados de uma centena de partidos de esquerda da América Latina, Lula da Silva apontou o "incómodo" que os "governos progressistas" que surgem na região causam aos Estados Unidos ao constatar que este país e outras grandes potências "não aceitam a nova integração".
 
Essa integração, disse, é a Mercosur, a União das Nações Sul-americanas (Unasur) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
 
Lula apelou aos participantes no Fórum de São Paulo para darem continuidade aos esforços de integração e homenageou, na ocasião, o ex-Presidente venezuelano Hugo Chávez, falecido a 05 de março, ao salientar o papel importante que este líder teve neste âmbito.
 
Ao observar que o Brasil é a maior economia da região, o ex-Presidente considera que, por isso, o país "tem uma maior responsabilidade do que outros na consolidação do processo de integração da América Latina".
 
Na abertura do Fórum de São Paulo, que se prolonga até domingo, foi divulgada uma mensagem de vídeo da Presidente brasileira, Dilma Rousseff, na qual defendeu que foram os "partidos progressistas que formularam os projetos e as alternativas que estão a mudar" a América Latina.
 

Brasil: 'Mídia Ninja’ cresce com as manifestações e se contrapõe aos veículos tradicionais

 


Matheus Espíndola - Universidade Federal Minas Gerais (br)
 
No cenário configurado pelas manifestações políticas que se espalharam pelo Brasil ao longo das últimas semanas, as redes sociais e outras mídias colaborativas têm sido fundamentais na tarefa de assegurar ao público outro tipo de acesso às informações sobre os protestos. Isso porque a transmissão feita pelos veículos tradicionais, detentores da maior audiência, é superficial e carregada de interesses.
 
Essa é a opinião compartilhada pelos professores da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG Carlos D’Andrea e Joana Ziller, que participaram de debate sobre o tema na semana passada, na Fafich.
 
“Na cobertura tradicional, o processo produtivo é massivo, pois há a necessidade de estar sempre no ar, ainda que não haja nada de interessante ou enriquecedor a ser divulgado. Além disso, as rotinas são frágeis e as coberturas ruins. Na maioria dos sites convencionais, inexiste a revisão do conteúdo; o editor só vê o texto quando já foi para a rede”, argumenta D’Andrea.
 
Para Joana Ziller, os meios tradicionais camuflam uma opinião moralista. “A TV mostra um embate entre polícia e manifestantes, quando na verdade se trata de um massacre imposto pelas autoridades. Recria-se uma paisagem na qual as manifestações são criadouros de vândalos. Fala-se de demanda difusa ou mesmo de luta sem causas, em vez de retratar a multiplicidade de reivindicações”, exemplifica.
 
A professora também observa que as ações pacíficas perdem foco para as violentas na mídia convencional, embora as últimas sejam absolutamente minoritárias. “Não convém à grande mídia divulgar quando tudo corre bem”, reflete.
 
Nas palavras de D’Andrea, nessa "batalha comunicacional", a superexposição da violência tem o intuito de deslegitimar os protestos. “Muitas vozes políticas que influenciam os meios de comunicação aproveitam-se do cenário de conflitos e fazem com que as impressões sobre o movimento caminhem para uma direção oposta, conforme seus interesses”, argumenta.
 
Liberdade de expressão absoluta

Além dos dois professores, o debate contou com a participação de representantes dessa mídia que constitui um movimento conhecido pela sigla Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação.
 
A PósTV é uma das principais experiências protagonizadas pela mídia Ninja. Trata-se de um projeto de emissora livre, criado em São Paulo, que utiliza a tecnologia do streaming (transmissão de vídeo pela internet) para fazer frente à mídia tradicional.
 
“Ao contrário das TVs comerciais, a PósTV baseia-se na liberdade de expressão absoluta, já que não temos anunciantes nem padrinhos”, explica o jornalista Rafael Vilela, presente ao debate.
 
A emissora promove debates em estúdio e nas ruas. “Como estamos na internet e sempre ao vivo, a interatividade contribui para o sucesso da iniciativa. Os telespectadores mandam comentários e perguntas e, às vezes, participam do papo via skype”, descreve.
 
Telespectadora da emissora alternativa, Joana Ziller relata episódios que acompanhou durante a cobertura das manifestações em Belo Horizonte no dia 26 de junho. “A PósTV mostrou quando um membro da Guarda Municipal adentrou o galpão de uma empresa invadida por manifestantes. Por recomendação de um elemento desse grupo, o guarda foi poupado de qualquer violência. Em outro momento, os radicais interromperam o ataque a um pequeno comércio, atendendo à súplica da proprietária. Isso a mídia tradicional não mostra, porque interessa a ela apenas estabelecer a ‘dicotomia emburrecedora’ entre vândalos e não vândalos”, analisa.
 
Sucesso instantâneo

Mais de 90 mil usuários do Facebook recebem atualizações da comunidade virtual BH nas Ruas. Trata-se de cobertura interativa das manifestações que ocorrem na capital mineira organizada por estudantes de Comunicação Social e outros colaboradores. Para o aluno de jornalismo da UFMG Gustavo Magalhães, o "Caçamba", um dos criadores da página, a rápida popularização do veículo foi surpreendente.
 
“Criamos um meio somente para reunir as informações que circulavam entre os estudantes. Mas a ideia se propagou de maneira tão vultosa que ficou até difícil administrar”, comenta ele. O perfil foi criado em 16 de junho e no dia seguinte seus idealizadores já estavam nas ruas cobrindo a segunda manifestação de rua da atual leva de protestos em Belo Horizonte.
 
Segundo "Caçamba", o grupo de internautas que dinamiza o BH nas Ruas conta com muito mais colaboradores do que os veículos tradicionais entre os que acompanham a situação pela rede e os que vão atrás das notícias in loco, no seio das manifestações. “Durante os protestos, chegou a 400 o número de colaboradores que nos enviaram informações, dicas e fotos de todas as partes da cidade”, descreve.
 
Embora a linguagem e identidade visual da página guardem semelhanças com veículos consolidados – a ponto de a BH nas Ruas já ter sido cogitada como um "braço" da Rede Globo –, "Caçamba" conta que a experiência ainda é incipiente e sem estrutura. “Certa vez, fiquei fora do ar porque a bateria do equipamento esgotou. O público ficou preocupado, temeroso de que algo havia me acontecido”, relata.
 
“Caçamba” admite que a ficha ainda não caiu. “Somos um simulacro dos meios tradicionais, sem experiência e know-how suficientes. Confesso que estou tentando entender esse fenômeno”, afirma o estudante.
 

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