sábado, 15 de junho de 2013

Brasil: Protestos em São Paulo revelam insatisfação da população e excesso da polícia



Deutsche Welle

Com mundo de olho no Brasil pelos eventos esportivos, São Paulo vira palco de manifestações contra aumento na tarifa do transporte público. Para especialista, grande diferença social no país gera distorções no sistema.

A Prefeitura de São Paulo convocou para a próxima terça-feira (18/06) uma reunião extraordinária do Conselho da Cidade – órgão consultivo composto por diversos representantes da sociedade civil – para discutir a questão do transporte público na capital paulista. Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL), que organizou os recentes grandes protestos contra o aumento das passagens, foram convidados a participar do encontro e "explicar suas propostas e visões para o setor", segundo a prefeitura.

Desde que as tarifas do transporte público foram reajustadas em 20 centavos de real (subindo de 3 reais para 3,2 reais), no dia 2 de junho, quatro grandes protestos ganharam as ruas de São Paulo. O mais violento deles aconteceu no centro da cidade na quinta-feira passada e reuniu, segundo os organizadores, 15 mil pessoas – de acordo com a Polícia Militar (PM), foram apenas cinco mil. Manifestantes ocuparam as principais vias do centro. Eles foram reprimidos com violência pelas forças policiais, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha na ação.

Na sexta-feira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, defendeu a PM. "É dever da polícia proteger a população, garantir o direito de ir e vir, [o direito do] comércio abrir, preservar o patrimônio público e o patrimônio privado", disse Alckmin, rebatendo críticas de que a polícia fez uso de repressão violenta. Ele afirmou ainda que a Corregedoria da Polícia Militar está apurando os episódios de violência durante as manifestações.

Ao todo, mais de 200 pessoas foram detidas. Na quinta-feira, quatro foram presas em flagrante acusadas de formação de quadrilha, incitação ao crime e dano ao patrimônio público. Entre detidos e feridos estão vários jornalistas.

Protestos em apoio aos manifestantes paulistas foram registrados em outras grandes cidades, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Niterói. Manifestações em pelo menos 27 cidades de diferentes países do mundo estão sendo organizados.

Dada a preocupação com o início da Copa das Confederações, que começa neste sábado, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, garantiu que os protestos não irão afetar o evento.

“O mundo perceberá que o Brasil não dispõe apenas dos direitos, mas também dos instrumentos capazes de conter qualquer tipo de abuso, seja por parte das manifestações ou da repressão”, afirmou Rebelo.

"Possível excesso policial"

A Prefeitura de São Paulo alega que o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde janeiro 2011, quando houve o último aumento. Em coletiva à imprensa na quinta-feira, o prefeito Fernando Haddad reafirmou que o reajuste será mantido. Ele disse ainda que "São Paulo está acostumada a manifestações, mas a cidade não aceita a forma violenta de se manifestar e de se expressar".

No entanto, o prefeito admitiu um "possível excesso da força policial". A atuação da polícia também foi alvo de críticas do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos.

Há seis anos, Raphael Tsavkko Garcia, 28 anos, participa do movimento contra o aumento do preço de passagens. Durante essa semana ele fotografou e gravou os protestos. "A brutalidade da polícia só foi crescendo. A ação de ontem [quinta-feira] foi desproporcional e brutal, sem qualquer tipo de provocação", disse Tsavkko à DW Brasil. "Foi um verdadeiro pânico, não tinha como fugir".

Alguns manifestantes foram flagrados destruindo lojas e incendiando ônibus, o que gerou muitas críticas ao movimento. Segundo Tsavkko, porém, as cenas de vandalismo foram cometidas apenas por um grupo isolado. Ele garante que a maioria dos manifestantes foi às ruas protestar de forma pacífica.

O operador do mercado financeiro Marcel Bari, 25, também compareceu aos protestos. Na quinta-feira, ele filmou a ação da tropa de choque contra um grupo de manifestantes desarmados. "A violência se entendeu por todo o centro durante horas. O intuito ali era reprimir as pessoas. Eles [os policiais] não estavam somente pensando em dispersar", contou Bari. Até a manhã deste sábado, o vídeo feito por ele já havia sido compartilhado por quase cem mil pessoas.

Jornalistas feridos

Profissionais da imprensa que acompanhavam as manifestações também acabaram atingidos – pelo menos 17 jornalistas ficaram feridos e outros três foram presos. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha (veículo da Folha de São Paulo), foi atingida por uma bala de borracha no rosto e precisou ser internada em um hospital. Em seu perfil no Facebook, a jornalista contou que, enquanto filmava a manifestação, foi ameaçada por um policial.

"Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar", relatou Giuliana.

Em nota divulgada na tarde desta sexta-feira, a Federação Nacional dos Jornalistas responsabilizou as autoridades públicas federais, estaduais e municipais pela "gravidade da repressão policial" registrada na cidade. "Além da tentativa de criminalização do direito constitucional de livre manifestação, as inadmissíveis agressões e prisões de jornalistas no exercício de suas funções requerem uma ação imediata de interrupção de tais atentados à democracia e punição dos responsáveis por tais atos", traz a nota.

Em entrevista à DW Brasil, o presidente da Fenaj, Celso Schröder, disse que o que se viu em São Paulo na última quinta-feira pode ser comparado a um cenário de guerra. "Do nosso ponto de vista, foi uma violência desnecessária e, principalmente, inaceitável no que diz respeito às agressões aos jornalistas", avaliou. "As imagens são muito claras e demonstram agressões a jornalistas claramente identificados. Portanto, não foi uma ação ocasional."

A Associação Nacional de Jornais também se manifestou por meio de nota. "A ação policial extrapolou o rigor cabível em ações voltadas à manutenção da ordem", afirmou o órgão.

Além dos 20 centavos

Para Marcel Bari, o protesto vai além do aumento de 20 centavos de real nas passagens. “[Pagar] 3,20 reais pelo péssimo transporte público que a gente vê em São Paulo... não tem como a gente continuar aceitando isso calado”, afirmou.

Queixas sobre a má qualidade do transporte público nas grandes cidades brasileiras são antigas. "Os protestos demoraram a aparecer, esse processo deficitário do sistema vem de longa data", avaliou o pesquisador Pastor Willy Gonzales Taco, da Universidade de Brasília.

Ele lembra que nas grandes cidades do mundo o transporte público é usado por pessoas de todas as classes. Mas, no Brasil, os principais usuários são pessoas de baixa renda – e isso, na visão do pesquisador, causa uma distorção do serviço. Diante das grandes diferenças sociais no país, a parcela da população que depende do transporte público gasta parte significativa do orçamento familiar com o pagamento de passagens. "O custo nas grandes capitais é altíssimo", disse Gonzales Taco, doutor em Engenharia de Transportes.

Na visão dele, três fatores levaram à atual situação do transporte público brasileiro: políticas públicas de incentivo à aquisição de carros; domínio de algumas empresas no mercado e que impossibilitam entrada de concorrentes internacionais; e falta de participação da sociedade nos processos decisórios.

Brasil - Copa das Confederações: Ao lado de Blatter, Dilma é vaiada antes de jogo da Seleção




Presidente brasileira recebe três grandes vaias da torcida ao anunciar abertura da Copa das Confederações. Presidente da Fifa pede "fair play" ao público e também é hostilizado.

A presidente Dilma Rousseff foi vaiada seguidas vezes neste sábado, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, durante a abertura da Copa das Confederações.

A primeira vaia foi ainda antes de Dilma se dirigir ao público, quando o sistema de som anunciou seu nome aos cerca de 70 mil torcedores que foram ao estádio para acompanhar a vitória de 3 a 0 do Brasil sobre o Japão.

A segunda foi quando ela foi mencionada pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, que estava a seu lado na tribuna de honra.

Durante as vaias, Blatter chegou a pedir respeito aos torcedores: “Amigos do futebol brasileiro, onde está o respeito e o fair play, por favor?"

O pedido do dirigente fez o barulho aumentar, e a presidente brasileira fez o discurso de abertura oficial do torneio sob vaia intensa.

"Declaro oficialmente aberta a Copa das Confederações", disse Dilma, sem conseguir esconder o constrangimento com a situação.

Brasil: NÃO É UMA LUTA SOBRE VINTE CENTAVOS




Temos presos políticos! Cenário em S.Paulo, sob brutalidade da polícia, truculência do governador e omissão do prefeito em que votei

Marília Moschkovich – Outras Palavras - Foto: Ninja 

Na segunda-feira, dia 10 de junho, expliquei aos meus alunos do primeiro ano do ensino médio: o Estado detém o monopólio legítimo sobre o uso da violência física. Mal sabia eu que no dia seguinte o Estado, essa supra-organização fundamentada na dominação racional (já diria Weber) daria um exemplo claro da minha explicação, nas ruas da cidade onde nasci, cresci e participei de manifestações.

Venho de uma família de militantes. Aprendi desde bem cedo que ir às ruas causa mudanças sociais, incomoda. Aprendi também que ir às ruas é, no Brasil e em qualquer lugar do mundo, colocar a sua própria segurança e integridade física em jogo. É uma troca. Nos colocamos vulneráveis ali porque a causa é maior. A causa pode ser o direito à cidade, o direito de ir e vir, o fim de um regime autoritário ou eleições diretas. É uma causa sempre maior do que julgamos ser nossa segurança pessoal, individual.

[Aos que ainda não aprenderam, que fique claro: cidadania não tem nada de “individual”. “Individual” é direito do consumidor. Cidadania é necessariamente coletivo.]

Cidadania é a coragem de arriscar sua individualidade pelo bem-estar do maior número de pessoas o possível. O risco que protestar representa à segurança dos indivíduos felizmente nunca fez ninguém deixar de exercer a própria cidadania. Mesmo nos tempos em que ela foi proibida.

Esse é um dos melhores motivos para no indignarmos com o que aconteceu em São Paulo no dia 11 de junho, e com o que está acontecendo hoje, dia 13 (apenas dois dias depois). Para saber mais, recomendo a cobertura da Fórum, a cobertura em tempo real da Folha (apesar dos pesares), o incrível tumblr “O que não sai na TV”, a cobertura da Agência Pública de notícias em seu Facebook e, claro, a página do Movimento Passe Livre.

Um resumo dos fatos poderia ser o seguinte: temos presos políticos. O fato de termos, nesse momento da história do Brasil, presos políticos, diz muito sobre a relação entre Estado e cidadania que estamos vivendo. Jornalistas, trabalhadores e estudantes foram deliberadamente encarcerados no dia 11. Mesmo com alvará de soltura de dois presos, eles foram transferidos para presídios, dificultando a liberação. Fianças desproporcionais foram estabelecidas. Na manifestação marcada para hoje, estima-se que 60 pessoas tenham sido presas na primeira hora de concentração (ou seja, antes mesmo de começar a manifestação), entre elas um jornalista da Carta Capital. Sessenta cidadãos e cidadãs foram detidos pela possibilidade de haver protestos. Líderes do movimento estão sendo investigados pela Abin com base em atuação nas redes sociais e alguns foram caçados e presos no ato agora há pouco, pelo que informam os manifestantes.

Aí eu pergunto: que porra é essa? Que porra é essa?

Em 2013 precisaremos cobrir o rosto para que a polícia não nos filme, como já avisou por meios dos jornais que faria? Precisaremos combinar local de manifestações no boca-a-boca, usando codinomes, como se fazia durante o regime militar? Foi pra isso que centenas de pessoas arriscaram sua segurança, sua integridade física e suas vidas durante a ditadura?

Minha mãe, meus professores, meus heróis e heroínas foram presos, torturados, mortos para que eu pudesse ter o direito constitucional de me manifestar numa democracia. A PM corrupta (mantida corrupta e mantida no poder pelo PSDB que ocupa o governo do estado há 20 anos) empoderada pela ausência e omissão do prefeito em quem eu votei e pra quem fiz campanha, está jogando esse direito no lixo. Está fazendo pouco com a nossa cara. Está impedindo o exercício da cidadania.

Como bem disse o blogueiro no “Esquema”, essa luta obviamente não é mais sobre 20 centavos (leia aqui). Assim como a luta em Istambul não é sobre o Parque Gezi. Assim como a luta em Belo Monte não é (e nunca foi) sobre uma usina hidrelétrica.

Brasil: A SEMANA EM QUE UMA NUVEM DE BOMBAS COBRIU O CÉU DE SÃO PAULO




Quarta manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público reuniu milhares nas ruas da capital paulista. Com um saldo de mais de 250 detidos, a escalada de repressão chegou à imprensa sob a forma de balas de borracha contra os seus jornalistas. Apesar das cenas de guerra, o governo estadual e o prefeito da cidade não cedem: a tarifa e a “ordem” serão mantidas. Por Xenya Bucchioni e Tulio Bucchioni, Esquerda.net

Xenya Bucchioni e Tulio Bucchioni - Esquerda.net – Carta Maior

São Paulo - Eram cinco horas da tarde. Trabalhadores, estudantes, idosos e famílias ganhavam, pouco a pouco, as ruas, exercendo o direito de manifestar livremente as suas opiniões em um ato contra o aumento da tarifa do transporte público de São Paulo. Juntos, somavam 15 mil pessoas – algo raro para um país pouco habituado às ruas, legado de seus vinte e um anos de ditadura civil-militar. Deslegitimados pela grande imprensa desde o começo das mobilizações, sob a alcunha de “baderneiros” e “vândalos”, os manifestantes gritaram em coro pela não-violência e, mesmo assim, receberam, na noite de quinta-feira, 13 de junho, um tratamento exemplar: à base de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e muito cassetete – espetáculo promovido pela Polícia Militar e pela Rota, polícia especial subordinada à PM. O resultado de tal atuação contabiliza até o momento um saldo de mais de 250 presos, entre eles cerca de dez jornalistas.

Algumas horas antes, no início da manifestação, o major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, já havia confessado que a situação tinha saído do controlo e advertiu: “Não nos responsabilizamos mais pelo que vai acontecer”. As palavras de Lidio tornaram-se realidade antes mesmo da concentração tomar fôlego, quando a polícia militar fazia revistas em jovens e os detinham na sequência. O motivo? Porte “ilegal” de vinagre – sim, no Brasil, andar com vinagre, agora, pode dar cadeia. Nem mesmo os jornalistas saíram imunes. Piero Locatelli, repórter da revista Carta Capital, teve o seu “artefato” confiscado e seguiu para a prisão. Há relatos de jovens presos por formação de quadrilha (crime inafiançável), fichados em presídios da capital, onde, após a nefasta noite de quinta, passam a ter um número no cadastro de criminosos – sem sequer terem sido submetidos a qualquer julgamento. Além disso, a criminalização do movimento contra o aumento repercute, também, nos bolsos: a fiança para os presos na manifestação é de inacreditáveis 20 mil reais – valor que, em uma rápida pesquisa na internet, demonstra-se incompatível com as fianças cobradas em atropelamentos culposos ou em casos de porte de arma ilegal no Brasil, entre outros exemplos.

Enraízado na história do país, o autoritarismo presenciado na capital paulista não se limita à ação policial e é, sobretudo, endossado pelas autoridades estaduais e municipais e pela grande imprensa, sendo também compartilhado por amplos setores da classe média. Um dia antes do ocorrido, no dia 12 de junho, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do partido de oposição (PSDB), elogiara o trabalho da polícia, enquanto o prefeito Fernando Haddad, do partido do governo (PT), optara por declarações de “não diálogo em situações de violência”. Apesar de supostamente atuarem em campos políticos opostos, ambos viram os seus discursos convergirem para um ponto comum: a defesa da manutenção da tarifa e da ordem contra as manifestações e o fecho de vias públicas.

Os títulos dos editoriais dos dois maiores jornais da capital paulista, publicados no dia da manifestação, eram claros: “Retomar a Paulista” (Folha de S. Paulo) e “Chegou a hora do basta” (O Estado de São Paulo). O repúdio à postura da grande imprensa, de incentivo tácito à ação da polícia na repressão aos manifestantes, foi sentido nas muitas mensagens que circularam pelo Facebook ao longo do dia. Entretanto, foi apenas depois do primeiro estalo das balas de borracha nos corpos de jornalistas destes dois veículos que o horror mostrou a sua verdadeira face em uma capa de jornal. A partir daí, não havia mais como manipular a opinião pública.

Vídeos e imagens capturadas por manifestantes e pessoas comuns invadiram as redes e a notícia das muitas agressões contra os jornalistas vieram a público. Uma coletânea significativa dessa produção pode ser vista no Tumblr Feridos no Protesto em São Paulo. O caso mais emblemático, com repercussão internacional, foi o da jornalista Giuliana Vallone, da Folha de S. Paulo, atingida no olho direito por uma bala de borracha disparada por um policial da Rota enquanto a jornalista prestava socorro a uma mulher durante as barricadas.

No Brasil, o transporte público coletivo urbano atende maioritariamente às pessoas de média e baixa renda, o que torna o valor da tarifa desses serviços um instrumento importante na formulação de políticas de inclusão social e também na gestão da mobilidade urbana. De acordo com a inflação, com dados básicos de correção pelo IPCA (IBGE), a passagem de ônibus que custava R$ 0,50 em 1994, deveria custar R$ 2,16 em maio de 2013. De lá para cá, a alta da inflação foi de 332,22%. Já o valor do metrô, seguindo o mesmo índice, deveria ser de R$ 2,59. Ambos custavam, em 2013, R$ 3,00 e passaram a custar, com o reajuste atual, R$ 3,20 (aproximadamente 1,12 euros - 5 vezes maior do que a tarifa da vizinha Buenos Aires e 4 vezes maior que na Cidade do México).

Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em relatório publicado em 2011, entre 1995 e 2008 as tarifas dos sistemas de ônibus urbanos nas nove maiores cidades brasileiras – Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo – tiveram um aumento de cerca de 60% acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O estudo ainda aponta o sucessivo aumento na tarifa do transporte público como um dos elementos que permitem explicar a perda da capacidade de compra do salário mínimo, observada entre 1995 e 2003. E conclui: a retomada do poder de compra do salário mínimo, ocorrida desde 2003, por si só, não é capaz de manter um aumento sustentado do volume de passageiros capazes de arcar com os custos do sistema de transporte urbano. Em outras palavras, parte da população brasileira permanece excluída do uso do transporte público coletivo no Brasil.

Frente a esse cenário, a mobilização segue. O próximo protesto, marcado para a segunda-feira, dia 17, já conta com mais de 70 mil confirmações pelo Facebook - 40 mil a mais do que as obtidas na última mobilização.

Fotos: EBC

ELE HÁ CADA PINÓQUIO POR AÍ




Numa entrevista concedida à Euronews, Cavaco Silva disse, que é com vista à criação de emprego e à prioridade de crescimento económico que em Portugal têm sido feitos ajustamentos, salientando que o programa não está a ser cumprido cegamente. «Não é isso que tem vindo a acontecer, na medida em que alguns ajustamentos têm vindo a ser feitos nos programas. Tem vindo a ser concedido mais tempo para os países saírem da situação de défice excessivo, o caso de Portugal».

O menor consenso social foi um ponto que o Chefe do Estado salientou: «O divórcio entre cidadãos europeus e os líderes acentua-se ainda muito mais.»

Instado a comentar uma eventual falta de transparência da vida pública portuguesa, o Presidente da República respondeu: «Não é correta a visão que transmitiu até porque a transparência da vida pública em Portugal é muito forte.» 

"A transparência da vida pública em Portugal é muito forte". Não fosse tão triste até dava vontade de rir. Isto por cá é só transparência na vida pública. Pelo menos telhados de vidro há muitos, falta é quem atire as pedras. Oh Cavaco, vai mas é trabalhar, que nem para ser um bom Pinóquio tens jeito.

Portugal: A MINHA AUTOCENSURA SOBRE CAVACO




“Ó Cavaco tu na verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é trabalhar!”

Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Vasco Pulido Valente, ontem no 'Público', escrevia que a coisa parecia do tempo da PIDE. Exagera; mas, de certo modo, é bom que o faça. Deter um cidadão e obrigá-lo a pagar 1300 euros porque chamou uns nomes ao Presidente da República, durante o dia de Portugal, em Elvas, é estúpido. Mas é mais do que estúpido: é um conceito, um programa, um modo de estar que não é admissível no séc. XXI. Ainda por cima, o que o cidadão gritou (parece que foi "Vai trabalhar, mas é!") nem sequer é bem um insulto e insere-se na linha cavaquista do "Deixem-me trabalhar!". Ainda mais por cima, o Ministério Público diz que o processo sumário foi ilegal, pelo que o cidadão foi mal condenado.

Tudo isto é mau. Péssimo! 

Como salienta Pulido Valente, um pouco mais acima ou um pouco mais abaixo, há grupos organizados de sindicatos e de partidos que, em coro, chamam todos os nomes ao venerando Chefe do Estado. Um pouco mais para lá, no Parlamento Europeu, um grupo parlamentar mostra-lhe cartazes. Definitivamente, estes não são bons tempos para um Presidente não ser insultado, invectivado, gozado, achincalhado, humilhado, rebaixado, ridicularizado, ofendido, ultrajado. zombado e mofado. Mas, a menos que pretenda deter e multar mais de meio país que o não grama, Cavaco tem de aguentar.

O mal do cidadão em causa terá sido, portanto, não estar integrado num grupo onde os seguranças à paisana (aí sim, aproximam-se da PIDE) não se atrevem a ir buscar os insultadores. O mal do senhor (de apelido Costal) foi agir por sua conta e risco, coisa que em Portugal é sempre mal vista.

Cavaco devia ter vergonha. O modo como se comportou em relação a Miguel Sousa Tavares (ao apresentar queixa na PGR) e agora em Elvas é de molde que um homem como eu, sempre disposto a manter a calma e a apelar ao bom senso, fique um bocado dividido. Não sei se hei de chamar também um nome a Cavaco e contradizer-me (acho que em princípio não se devem chamar nomes a ninguém), se não chamar e assim autocensurar-me. Porque, na verdade, o que me apetecia mesmo era dizer-lhe: Ó Cavaco tu na verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é trabalhar!

Portugal: “HÁ AUTORITARISMO E FALTA DE COMPREENSÃO PELO SISTEMA DEMOCRÁTICO”




Comentário de Constança Cunha e Sá na TVI24 - ontem

Constança Cunha e Sá considera que «houve um esticar de corda por parte do Governo que não se justifica» no atual braço de ferro com os professores, mas salienta que «o mais grave é o que foi dito pelo primeiro-ministro» «Nós vamos recorrer e, das duas uma: ou o tribunal nos dá razão, ou nós mudamos a lei», sintetiza a comentadora de política da TVI.

«A lei não serve para andar a ser mudada conforme os anseios do Governo: A lei é uma coisa estável», aponta Constança Cunha e Sá com críticas a Pedro Passos Coelho: «Não acho que seja possível um primeiro-ministro ameaçar um tribunal e dizer-lhe: se vocês decidirem no meu sentido, eu acato e não mudo a lei; se eu discordar dessa decisão, então vou mudar a lei e nunca mais há tribunais para coisa nenhuma e nunca mais se recorre.»

«Isto é típico de uma pessoa que não respeita um estado de direito. Nós agora compreendemos melhor as reações do primeiro-ministro e de parte do Governo em relação ao Tribunal Constitucional. Ele se pudesse fazia a mesma coisa. Precisa é de dois terços Na constituição», analisa Constança Cunha e Sá tirando uma conclusão: «É um certo autoritarismo: isto ou vai como eu quero, ou então mudo a lei».

A comentadora da TVI afirma que «o primeiro-ministro não se cansa de dizer que a greve é um direito democrático, mas depois atua como se fosse um direito um pouco excessivo». «No fundo, ele é que determina quando é que a greve deve ser feita e quando é que não deve ser feita», constata.

«A questão da greve aos exames está ultrapassada e o que se passa aqui já é algo muito mais sério», considera Constança Cunha e Sá concluindo que «é uma tentativa de limitação do direito à greve». «Há um toque autoritário e uma falta de compreensão pelo sistema democrático», assume.


MILHARES DE PROFESSORES “INVADEM” LISBOA, PAIS PEDEM SUSPENSÃO DE EXAMES



Manifestação junta milhares de professores na rua


Protesto em Lisboa contra medidas do Governo

Milhares de professores desfilam este sábado da Praça do Marquês de Pombal para os Restauradores, em Lisboa, numa marcha de protesto contra a medidas do Governo. Na primeira linha do protesto estão os responsáveis dos dois maiores sindicatos de professores, Mário Nogueira, da Fenprof, e João Dias da Silva, da FNE.

Presentes na manifestação está Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, e políticos que se opõem ao aumento da carga horária e mobilidade especial dos professores, como o coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo.

Professores de todo o país juntaram-se neste protesto com faixas onde pode ler-se, por exemplo, «Nós também temos filhos» em outra está escrito «Lutamos pelo futuro dos nosso filhos e alunos», havendo bandeiras pretas com as palavras «Professores em luta». 

Pais pedem ao ministro da Educação suspensão imediata dos exames

TVI24

«Pensamos que esta decisão é a decisão mais democrática», defende a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação

A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) apelou este sábado ao ministro Nuno Crato para suspender de imediato os exames do Ensino Secundário marcados para segunda-feira, devido à greve dos professores.

«Pensamos que esta decisão é a decisão mais democrática e que põe todos os alunos em igualdade de circunstâncias», disse à agência Lusa o dirigente da CNIPE Rui Martins.

Os pais alegam que não existem condições para que todos os alunos realizem o exame com normalidade.

«Como pais, aquilo que temos verificado é que não houve consenso, nem chegaram a conclusão. Há, de facto, aqui extremos por parte do ministério e dos sindicatos», afirmou.

A CNIPE pede, assim, ao ministério, «democraticamente», que suspenda a data de segunda-feira, de modo a que todos os alunos façam o exame noutro dia.

«Seria a melhor decisão, suspender esta data», referiu.

Nuno Crato disse na sexta-feira que só na segunda-feira o ministério terá uma resposta para dar aos alunos que eventualmente não consigam fazer os exames nacionais devido à paralisação.

Os exames nacionais do Ensino Secundário, determinantes para o acesso dos alunos ao Ensino Superior, iniciam-se na segunda-feira, decorrendo a primeira fase até 26 de junho.

Para segunda-feira estão marcados exames de Português e de Latim.

Milhares de professores são esperados este sábado pelos sindicatos para uma manifestação em Lisboa, com concentração marcada para as 15:00 na rotunda do Marquês de Pombal, seguida de desfile pela Avenida da Liberdade, contras as políticas do Governo.

A aplicação do regime de mobilidade especial aos professores, as distâncias a que podem ficar colocados e o aumento do horário de trabalho das 35 para as 40 horas semanais são os principais pontos que opõem os docentes ao Governo.

Houve intervenção direta de Cavaco Silva e Passos Coelho

Segundo o jornal «Expresso», Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva tiveram uma intervenção directa em busca do diálogo. 

O semanário avança ainda que no Conselho de Ministros da última quinta-feira alguns membros do Executivo defenderam o adiamento dos exames. 

Segundo o «Expresso», para além do primeiro-ministro e do Presidente da República, a maioria dos ministros defendeu ser necessário explorar todas as hipóteses para evitar pôr em causa os exames.

Paulo Portas, também terá tido uma intervenção directa, mas esta manhã, de visita à feira da agricultura em Santarém, recusou se a falar do assunto que está a marcar a atualidade.

Portugal: NÃO DESVALORIZEMOS OS SINAIS DE TEMPESTADE



Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião

Ao longo dos anos tenho vindo a utilizar com todos os pruridos a comparação entre a realidade presente e o Fascismo. É bom não esquecer que num regime fascista este texto não seria publicado ou que este autor, muito provavelmente, não estaria a escrevê-lo em liberdade. Contudo, olho à minha volta e diferentes momentos da semana fazem adivinhar um negro destino que paira sobre nós.

Na Turquia o protesto local contra a construção de um centro comercial desencadeou uma guerra civil. Milhares dão o corpo às balas (literalmente) para derrubar mais um ditador protegido pela NATO. Quem duvidar do estado de excepção, basta ver alguns vídeos que circulam pela internet, as imagens da prisão dos advogados que se voluntariavam para defender os manifestantes ou saber das multas aplicadas aos canais de televisão que transmitem os protestos. Ao invés, na Grécia, do dia para a noite o primeiro ministro decidiu encerrar a televisão pública e lançar no desemprego mais uns milhares de trabalhadores.

A nuvem negra do fascismo paira novamente sobre a Europa. E Portugal está no pelotão da frente.

O que dizer de um governo que recorre a dispositivos ilegais para condicionar o direito à greve de professores? O que dizer de um ministro que, do dia para a noite, decreta a suspensão do pagamento dos subsídios dos funcionários públicos? O que dizer da morte* de "Mucho" depois de 15 dias em coma por ter sido espancado pela polícia num bairro da Damaia? O que dizer de uma justiça que condena em dois dias quem manda trabalhar o Presidente da República e que lhe diz na cara que está farto de ser roubado ao mesmo tempo que ignora, iliba ou adia decisões em todos os casos que envolvem as figuras poderosas do regime? O que dizer dos 25% de cidadãos residentes em Portugal que vive abaixo dos limiares de pobreza?

Os sinais de tempestade estão todos aí.

Escreve ao sábado

Portugal - Sem-abrigo. Ninguém conta as vidas que vão parar à rua como eles

 

Marta F. Reis – Jornal i
 
Na gare do Oriente dormem 40 pessoas. Só em Lisboa há três vezes mais sem-abrigo do que as estatísticas nacionais atribuem a todo o país
 
Luís tem 43 anos e saiu de casa com 16. Eram 11 irmãos numa aldeia do concelho de Alcobaça. Em miúdo, o tempo era passado no campo, a trabalhar sem ganhar e a comer pouco. "Era uma escravidão. Para arejar, comprávamos um maço de tabaco e ficávamos fora até fumarmos os cigarros todos. Em casa levávamos." Chegou a Lisboa e começou a trabalhar nas obras. Um dia experimentou heroína com um colega e ficou 20 anos agarrado. O patrão metia-os na carrinha e a caminho do estaleiro parava para curarem a ressaca. "A minha vida é uma história de terror. Que quer que lhe conte?"
 
Aos 9 anos viu o melhor amigo morrer afogado, viu a mãe ser espancada e ficar em casa a aguentar - ainda lá está. Nunca mais falou com o pai, mas ela vai ligando. Deixou-se levar pela droga enquanto estava incluída no salário. Depois tornou--se difícil continuar a trabalhar daquela forma e quis parar de consumir. Começou uma desintoxicação numa comunidade terapêutica e parou antes do fim, a pensar que estava livre. Meses depois voltou ao mesmo. Há seis anos tentou uma segunda e ficou limpo. Acredita que é de vez, porque desce as ruas onde se injectam os velhos amigos e não se se sente tentado. Com mais baixos que altos, assume a depressão diagnosticada pelo médico. "Como é que podia ter acabado de outra forma?", remata. Instável, mas limpo, ainda arranjou trabalho. Pagava um quarto. Depois, outro depois, o serviço começou a falhar. Há cinco meses ficou na rua.
 
As histórias dos sem-abrigo que as aceitam contar são assim: cruas, rápidas, desarmantes. Perturbadoras por terem tantas vezes um rastilho antigo, casas onde faltaram os pais, onde faltou dinheiro. Onde sobejava álcool e violência. Ou simplesmente um azar. Há um antes e um depois que acaba na rua, seja a calçada, seja o caixote, a casa abandonada ou o albergue.
 
Luís conseguiu vaga no abrigo nocturno da AMI, na Graça, um dos seis espaços na cidade que faz que metade dos 2 milsem-abrigo sinalizados, números revelados pela vereadora Helena Roseta, não durmam na rua. Só por estes números, divulgados há duas semanas, percebe-se que é normal não se saber ao certo quantos sem-abrigo existem em Portugal, porque as estatísticas estão longe de espelhar a realidade. No último censo, o Instituto Nacional de Estatística contou 696 pessoas sem tecto. Só em Lisboa, pelos dados da autarquia, há o triplo. O INE só contabiliza quem está na rua. Fica de fora quem dorme em albergues, como o abrigo da AMI, que abre ao fim do dia e fecha pelas 9h. Fica de fora quem não está à vista.
 
ELES CONTAM 
 
Não gostam de falar, mas quando o fazem contam-se melhor que qualquer estatística. Vítor, 58 anos, casou--se com 22 anos. Jogador profissional de basquetebol, trabalhava na fábrica militar do Braço de Prata, a fazer munições. Perto dos 30, chegou ao fim a carreira no basquete e teve o seu depois. Apesar de ter casado jovem, e de ter um filho pequeno, o tempo livre e as amizades deram- -lhe a conhecer a noite e o álcool. Um dia, nesse mundo de descobertas tardias, experimentou a droga. "Eu era tão certinho que só percebi que viciava à primeira ressacada."
 
Só pararia 15 anos depois. Quando a fábrica fechou, propuseram-lhe um esquema parecido com o da mobilidade. Nunca houve outra colocação e por fim deram--lhe a escolher entre uma indemnização e um subsídio de desemprego. "Tive o discernimento de não pedir o dinheiro todo, sabia para onde ele ia", lembra.
 
Separou-se e a mulher levou o filho. Começou a falhar a pensão de alimentos e o tribunal ordenou que fosse descontada do subsídio. Sem conseguir largar a droga e sem trabalho, começou a andar na rua. "Um dia quis parar, mas entendi que podia fazê-lo a frio. Fui a um centro de desabituação e disseram-me que tinha de fazer a metadona. Disse não: não ia sair de uma para outra."
 
Encontrou apoio na Cais e agora está no abrigo nocturno da AMI quase há um ano. Fez um curso de cerâmica que dava rendimento para pagar um quarto, mas depois do estágio no Museu do Azulejo não conseguiu emprego. Entrou então num projecto destinado a recuperar a profissão de engraxador e hoje tem o seu posto de trabalho num café no centro de Lisboa. Todos os dias sai com a esperança de descolar, de o rendimento ser o suficiente para deixar o abrigo e voltar a ter um quarto sem que tudo se desmorone de repente, um medo que fica. "Num momento a pessoa tem a família e depois aparece a droga. Percebi a rapidez com que caímos. Eu tinha 30 anos, já não era um miúdo. No dia do funeral da minha mãe estava a ser julgado por roubo. Estava a ressacar e não podia ir assim para o funeral. Lembrei-me de roubar uma mala para comprar droga. Nunca o tinha feito. Tinha tanto jeito que me caíram cinco polícias em cima. A família nunca me perdoou e não o peço. Estou a pagar pelos meus erros."
 
O depois de José Moura, natural de Cabo Verde, mas com nacionalidade portuguesa desde a juventude, foi o desemprego. Foi manobrador de gruas durante 20 anos. Depois as empreitadas começaram a ser cada vez menos. As últimas grandes obras foram as torres de Sete Rios e um prédio na Lapa. Há um ano o serviço começou a ser tão precário que deixou de pagar a prestação da casa. O banco ficou com ela. Sem família que o possa ajudar, ficou primeiro na rua, depois nos bancos do aeroporto e por fim encontrou vaga no abrigo da AMI.
 
"Há sempre um princípio que nos leva à rua", resume Pedro, 33 anos. É daqueles que já estiveram em associações, já esteve em albergues nocturnos, já esteve simplesmente na rua. Vende na Feira da Ladra. Quando tem dinheiro fica numa pensão. Quando não tem, fica no aeroporto, onde o encontramos a pedir uma ceia à carrinha da Comunidade Vida e Paz. Não entra em estatística nenhuma. "O meu princípio foi quando me separei. Mas antes comecei a ir para a rua procurar o que não tinha em casa." Depois apareceu o álcool e a droga. Os factores misturam--se, as histórias enrolam-se. "Isto é um mundo clandestino. Nas associações é-se muitas vezes escravo. Dão-nos cama e comida, mas fazem de nós motoristas o dia todo e os presidentes aparecem com carrões. Numa, no Norte, até me proibiam de procurar trabalho. Alguns ficam com os subsídios e as reformas, ninguém controla nada. Nalguns albergues somos tratados como animais."
 
No aeroporto, melhor que abrigos ou ficar na rua, diz Pedro, os seguranças têm dias. "Às vezes metem-nos na rua ou implicam. Estão fartos de me ver e outro dia perguntaram-me se ia viajar e o que é que tinha na mala. Eram livros para vender, disse-lhe que se quisesse fazíamos já ali negócio. E viajar, se calhar um dia vou. Posso ganhar a lotaria."
 
MILHO AOS POMBOS 
 
Dificuldades económicas, desamores, acidentes, droga, alcoolismo, doenças mentais. Nas conversas de rua há um fio condutor que torna as palavras de há umas semanas da vereadora Helena Roseta, na melhor das leituras utópicas e na pior redutoras. Helena Roseta descreveu as equipas de voluntários que distribuem refeições na rua como uma resposta a lembrar quem dá "comida aos pombos", defendendo a distribuição em locais onde quem precisa possa comer sentado e a criação de um hotel social, uma vez que a câmara não consegue responder a todos os pedidos de habitação.
 
Para quem conduz as carrinhas que distribuem refeições, as palavras de Roseta valem o que valem. Só a Comunidade Vida e Paz e o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA) distribuem mil refeições todas as noites, 520 cada uma. "Não distribuir comida na rua é um bom princípio se houver condições para isso. Mas haverá sempre pessoas que não irão aos espaços da câmara. Se quisermos que comam temos de continuar a ir ter com eles", diz Jorge Correia, presidente da CASA, que acredita ainda assim que tem havido um esforço de articulação no terreno, liderado por Roseta, como nunca existiu nesta área. Pedro Sousa, director do abrigo nocturno da AMI, também acredita que será difícil resolver a realidade dos sem-abrigo com medidas como as propostas pela vereadora, mas vê lacunas. O abrigo da AMI, por exemplo, tem 26 vagas, o que contrasta com outros com mais de 100 onde os relatos que lhe chegam são de falta de condições. Ali há uma resposta personalizada, um encaminhamento com vista à reintegração e não apenas o tecto por uma noite, estruturas que entende que ainda fazem falta. Depois há o desafio das regras, que muitos não querem aceitar. "São pessoas livres, adultas, mas qualquer casa precisa de regras. É uma fronteira difícil."
 
A Igreja de Arroios é um ponto de distribuição de refeições onde se cruzam carrinhas de diferentes associações, outra realidade que Roseta contesta, defendendo que não faz sentido um sem-abrigo ser visitado por cinco equipas numa mesma noite. A partir das 20h há mais de uma centena de pessoas à espera junto às escadas da igreja. Algumas vão dormir ali, outras mais acima, na Travessa das Freiras. Mas a maioria dos que vêm buscar sacos de comida, roupa ou cobertores às carrinhas da CASA e Comunidade Vida e Paz, que vemos cruzarem-se como diz Roseta, não dorme na rua. Para quem está no terreno, esta procura por quem tem casa, mais ou menos precária, é uma das realidades em que se nota maior aumento de pedidos e justifica o trabalho intenso no terreno.
 
Vemos Marina duas noites seguidas. Com 27 anos, vive com o marido, a irmã, o cunhado e a mãe numa casa que diz estar a cair, com a casa de banho inoperacional. Conheceu o marido na rua, grávida de outro namorado. Chegaram a viver numa casa abandonada. A Segurança Social tirou-lhe a filha com poucos dias, faz três anos, e continua sem trabalho. Lá em casa só a irmã trabalha, faz limpezas numas escadas. Comem o que levam dali, conta. Levam mais de um saco, mas porque guardam para as refeições do dia seguinte. É jantar, pequeno-almoço e almoço. Tília, 57 anos, vive num quarto sem janela. Tosse muito enquanto a vemos ir às carrinhas também duas noites seguidas. "Tenho um quarto, mas fumam dentro de casa, fico atacada. Quase prefiro estar na rua." Quando recebe a pensão de invalidez paga a renda. Sobram 50 euros para remédios e comida. Não chega, por isso agarra o que consegue.
 
O QUE FAZ FALTA 
 
Para quem está no terreno, as lacunas são consensuais: falta alojamento, emprego e respostas nos cuidados de saúde, sobretudo para doentes mentais. Se há a sensação que a crise fez disparar o número de pessoas na rua, mais em 2012 do que este ano, parecem dominar as situações desencadeadas por desemprego de longa duração, de portugueses mas também de imigrantes sem apoio familiar. Isabel Oliveira, da Comunidade Vida e Paz, assinala também o aumento de perturbações psicológicas. "Encontramos pessoas jovens que estavam estruturadas mas perderam o emprego e deixaram de conseguir pagar a medicação." Na voltas de distribuição de comida isso é evidente. Numa paragem de autocarro, um homem recebe o saco sem reagir. Vêem-no ali há alguns meses. "Uma vez disse-me que tem 12 anos. Não temos para onde sinalizá-lo", conta Ana Bela, voluntária da volta.
 
Desde 2009 existe uma Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, que levou à formalização de núcleos de resposta na maioria dos concelhos. Ainda assim, o reconhecimento desta área não tornou os balanços mais periódicos: o i pediu informação sobre casos sinalizados ao Instituto de Segurança Social, que diz que só tem dados sobre o ano de 2009, quando foram sinalizados 2133 sem-abrigo em Portugal. O Instituto sublinha ainda que tem estabelecido acordos de cooperação com instituições privadas de solidariedade social para centros de alojamento temporários e que em Maio havia 31 CAT com capacidade para cerca de 950 utentes.
 
Só Lisboa, pelos dados avançados pela câmara, esgota estas estatísticas. Mas há mais. Em Setúbal, revelou ao i a autarquia, foram sinalizados 91 sem-abrigo no levantamento de 2011 e em 2012 mais 71 casos. Em Faro, o primeiro levantamento sinalizou 68 processos e em 2012 somaram-se mais 38. No Seixal, indicou a associação local Criar-T, foram sinalizados 65 casos em 2011. Ainda não têm dados de 2012, mas sentem que há mais casos. Já a AMI sente que o aumento de sem-abrigo aconteceu sobretudo em 2010 e 2011 e nos últimos meses têm sinalizados menos casos. Em 2012 apoiaram 1683 pessoas, menos 132 que no ano anterior. No primeiro trimestre deste ano deram apoio a 825 sem-abrigo.
 
Para Fernando Marques, da Criar-T, o problema já não é de falta de plano, mas de compromisso. "Apesar de ser um documento bem elaborado, a estratégia nacional ainda não tem legislação aprovada. Até ao momento não recebeu um cêntimo. O que acontece no terreno tem a ver com mobilização das instituições, o que se tem mostrado insuficiente quando o objectivo do programa é que ninguém fique na rua mais de 24 horas."
 
Mas e se o objectivo for demasiado ambicioso? "Acho que devemos aspirar a isso. Há pessoas que dizem que estão na rua porque querem mas é uma atitude defensiva. Se calhar não encontrámos ainda a resposta certa para elas", diz Isabel Oliveira. Tem números que a fazem acreditar. Em 25 anos de história, a Comunidade Vida e Paz ajudou a reintegrar 1700 sem--abrigo.
 
Reacção defensiva ou não, parece impossível pensar no relento zero. Manuel, 61 anos, dorme no Rossio há duas semanas e, confessa, porque quer. Tem casa em Belas. A história começa lá atrás: o pai bebia, ele bebe, o filho mais velho também. Chateou-se com a mulher, porque toma o partido do filho, e saiu de casa para espairecer sem dinheiro ou comida. Acorda, vai lavar-se às casas de banho públicas e fica a pensar e a ler. Tira um livrinho do bolso. O título é "Perdoa-me". À noite espera a comida das carrinhas. Da outra vez que isto aconteceu o filho foi buscá-lo passado um mês.
 
Há quem esteja fugido da polícia, conta Pedro e quem queira apenas viver à margem. "Às vezes até dava para ir para a pensão, mas vou gastar dinheiro para quê? É como ter de pagar impostos, prefiro andar na feira." José, 68 anos, dorme há mais de um ano numa carrinha estacionada à porta do mercado de Arroios. Lá dentro, cobertores, sacos, lixo, um cheiro agoniante que se entranha na roupa. "Já vivi numa casa aqui na rua, mas prefiro estar aqui", diz. Tem uma reforma que dava para pagar alojamento. Tem uma filha, netos que vê de vez em quando. Diz que é uma escolha. O cheque da reforma é enviado para uma tasca ali perto. Gasta-o em comida e bebida.
 
O ABRIGO NA ESTAÇÃO 
 
Entre tudo o que há a fazer, e nunca se resolverá de um dia para o outro, há imagens que se estranham. No acesso ao estacionamento subterrâneo da Gare do Oriente, num dia da semana, contam-se 40 pessoas enroladas em mantas e sacos-camas. Enchiam dois abrigos como o da AMI.
 
Como no aeroporto, haver tanta gente a dormir ali não é segredo para ninguém. Há regras e seguranças para as impor. Quem lá dorme guarda as coisas em carrinhos de supermercado, que a partir das 21h pode trazer para baixo. Às 6h têm de sair. Há uma ala de indianos, outra de romenos. Quem chega fica ao fundo ou onde há lugar. Esperam os sacos de comida para os esconder, se não de manhã desapareceram.
 
Gil, 54 anos, é dos poucos acordados perto da meia-noite e dos mais antigos. Dorme ali há nove anos. Como todos, tinha a vida dele até àquele depois. Era encarregado de uma firma de limpezas e fazia uns biscates por fora. Um dia, a limpar os vidros de um prédio num desses biscates, o cabo partiu e caiu do terceiro andar. O colega morreu e ele ficou com a perna atravancada. Como era por fora, não teve indemnização. Depois não voltou a trabalhar e deixou de conseguir pagar a renda da casa. Acabou na rua. "Habituamo-nos. Já estive bem e agora não tenho nada. Nunca se pode confiar muito, mas acabamos por ser uma família. Se aparece algum artista juntamo- -nos e pomo-lo fora."
 
A noite é calma. Gil conta que só há duas alturas em que o cenário é diferente: o dia em que alguns recebem o rendimento social de inserção e o dia em que caem as reformas. "Pagam-se dívidas e alguns gastam em bebida. Começa em festa e acaba em confusão." É assim, são as voltas que a vida dá, diz. "Espero que nunca aconteça. Para aquilo que já vivi, se fosse para me matar já o tinha feito." Com 38 anos de serviço, espera os 55 anos que fará a 12 de Novembro para meter os papéis da reforma e sair da rua.
 

COM CAVACO E O SEU GOVERNO A ARROGÂNCIA GERA SEMPRE CONFRONTAÇÃO



António Veríssimo

Dizem-se democratas mas o que têm feito é aproveitarem-se da democracia para a destruírem e imporem figurinos que se assemelham aos métodos do salazarismo fascista derrubado em 25 de Abril de 1974. A memória curta dos povos e das gerações mais jovens permitem-lhes cumprir o refrão da canção de António Mourão “Oh Tempo Volta P’ra Trás” e que seguidamente solicitava o “Dá-me Tudo Que Eu Perdi”. O saudosismo, o revivalismo, a revanche, a vingança, a mesquinhez ativa e demonstrada por Cavaco Silva e outros assim nos leva a concluir.

Aquele mamarracho mumificado que ocupou o Palácio de Belém e o mais alto cargo da República Portuguesa – saído de uma percentagem ínfima que lhe permitiu vencer eleições – está a representar a desgraça da República, a desgraça da Democracia, a desgraça de Portugal. Dizem que tem legitimidade para o fazer… Também os Patriotas e Republicanos têm legitimidade para nas suas análises políticas o considerar nocivo aos interesses de Portugal e da vasta maioria dos portugueses. Porque está a apoiar e é cúmplice declarado de um governo que destrói o país e nos miserabiliza. Porque subverte os princípios da República ao assemelhar-se a um rei que vai nu no seu conservadorismo, no seu narcisismo, na sua mesquinhez, no seu débito de democracia, no seu génio de banalidade e de distanciação do povo, dos que apesar de enganados nele votaram e lhe deram a oportunidade de se arrogar com legitimidade para contribuir na destruição do país.

Ó Elvas, ó Nova PIDE mascarada de PSP

É nesta era de Cavaco que temos em ação a Nova PIDE numa pretenciosa e fascizante PSP – Polícia de Segurança Pública(?). Isso mesmo se vê em supostos agentes da dita corporação que vestidos à civil se misturam com a população e os prendem porque este ou aquele cidadão reage à vista de Cavaco e lhe grita “Vai trabalhar”. Foi aquilo que se sabe ter acontecido em Elvas, onde Cavaco e Passos Coelho foram vaiados por não lhes reconhecerem honra. Parece que o manifestante não gritou Vai Trabalhar em prol de Portugal, Malandro… Mas, já que ali estava, podia.

Como se agora não chegasse a Nova PIDE sob a forma de agentes da PSP também um juiz se achou com poderes bastantes ao estilo do Tribunal Plenário do Salazarismo Fascista e sumarissimamente julgou e condenou* o cidadão que em Elvas mandou Cavaco ir trabalhar e parece que nem sequer lhe chamou malandro, que é o que ele tem sido. O fascismo está a avançar, demonstram-no estes processos subrepticios. Urge que se reaja ou senão depois será tarde demais. Esta é a “democracia” que Cavaco quer. Cavaco e todos aqueles que estão e sempre estiveram saudosistas do salazarismo que nunca contestaram, antes pelo contrário. E foi aquela “coisa” que foi eleita para representar e defender a República Portuguesa, a Nossa Pátria…

Não ocorre por acaso e lamentavelmente assistirmos a sistemáticos atos de vaias na presença de Cavaco e de elementos do governo. O povo está farto e a dizer-lhes que se devem ir embora, que já não lhes reconhece legitimidade para ocuparem os poderes que democraticamente lhes entregou ao engano. Mas Cavaco e o seu governo sentem-se com a legitimidade de cumprirem a sua missão. Destruir Portugal de Abril, que é como quem diz: Portugal da Democracia onde tem sido o Povo Quem Mais Ordena. Não agora, agora já não ordena nada porque as teias da subjugação, da repressão, estão cada vez mais evidentes. Cenário que não é absolutamente nada estranho a Cavaco Silva e aos seus métodos. Já quando foi primeiro-ministro a repressão fez jus aos seus propósitos com a ajuda da PSP.  Numa manifestação na Ponte 25 de Abril, no Pragal, disparos dos agentes atiraram para uma cadeira de rodas um jovem que afinal só estava a protestar e não mais que isso. Decerto que para Cavaco isso ainda hoje será motivo de orgulho. A arrogância, o narcisismo, os laivos fascistas deste personagem que infelizmente saiu por rifa à democracia portuguesa são na devida proporção acompanhados por Passos Coelho e demais avantesmas que influenciam ou compõem o governo. É aquilo que nos tem sido dado a observar e a sentir no quotidiano. A confrontação é o seu método, a sua preferência. Incutir medo é a sua arma. Isso está patente em Elvas e noutros exemplos.

Milhões de portugueses deitam pela boca fora o que pensam de Cavaco e de Passos, do governo, das suas políticas. Palhaços, traidores, vendidos, filhos desta e daquela, ladrões, etc. É aquilo com que os mimam nas conversas do dia-a-dia. E merecem-no, em minha opinião. Porém parece que agora os portugueses vão ter de voltar a falar por “código” e mesmo assim podem arriscar-se a serem levados por alguns agentes da Nova PIDE, dita PSP. Como no tempo de Salazar, em que bastava chegar na mercearia e dizer-se que o bacalhau em demolho era delgado ou que se queria “aquela posta do mais delgado”, para ser interpretado como evocação ao General Humberto Delgado e um PIDE salazarista e fascista levar o povinho para a António Maria Cardoso (sede da PIDE em Lisboa) sob o pretexto de que era um perigoso comunista. Isto, assim, aconteceu. E muito pior. Os sintomas acontecidos em Évora são preocupantes. Para destruir assim a democracia, a liberdade, Portugal… Só não democratas nem patriotas podem aceitar mansamente, sem se rebelarem, o que está a acontecer e não reagirem em defesa de Portugal e dos portugueses. Não podemos permitir que este presidente e este seu governo prossigam na senda do regresso ao passado ausente de liberdade e democracia mas abundante em pobreza e miséria atrozes. Por isso o que se pode perspetivar é que com Cavaco e este seu governo a confrontação suba de tom. Com gente deste jaez sempre assim acontecerá. Ou mais ou menos. Desejemos que menos e que a democracia saia reforçada depois desta fase negra e fascizante que Portugal e os portugueses estão a vivenciar. Tempos perigosos. 

*O Ministério Público (vá lá!) manifesta-se contra julgamento sumário. Ver em: Ministério Público pede anulação de julgamento sumário por insultos a Cavaco

Portugal: PROFESSORES MANIFESTAM-SE EM LISBOA ANTES DA GREVE NACIONAL



Milhares de professores esperados hoje para manifestação em Lisboa

Milhares de professores são esperados hoje pelos sindicatos para uma manifestação em Lisboa, com concentração marcada para as 15:00 na rotunda do Marquês de Pombal, seguida de desfile pela Avenida da Liberdade, contras as políticas do Governo.

A luta dos professores iniciou-se na semana passada, com uma greve ao serviço de avaliações que se prolongará até dia 28, fazendo com que não se realizem as reuniões destinadas a validar a nota dos alunos em muitas escolas, nem a afixação das pautas.

Para segunda-feira, dia em que se iniciam os exames nacionais do Ensino Secundário, está agendada uma paralisação geral dos docentes.

As ações de luta juntam as duas grandes federações do setor: FNE (UGT) e FENPROF (CGTP).

Os sindicatos contestam a aplicação do regime de mobilidade especial aos professores, por temerem despedimentos, e o aumento do horário de trabalho das 35 para as 40 horas semanais.

A mobilidade geográfica, que implica o aumento da distância da residência a que os professores podem ficar colocados, é também motivo de contestação.

As estruturas sindicais esperam milhares de apoiantes, entre educadores, docentes e investigadores, na manifestação nacional de trabalhadores da educação.

AH // CC - Lusa

Braço de ferro entre professores e Governo mantém greve e exames na 2ªfeira

Depois de três rondas negociais falhadas, com trocas de acusações de inflexibilidade de parte a parte, os professores avançam para a greve na segunda-feira, com o ministério a recusar remarcar os exames nacionais agendados para esse dia.

Incerteza é a palavra que vai dominar o fim de semana e as primeiras horas de segunda-feira de milhares de alunos e respetivas famílias.

Depois de semanas de negociações, indefinições e ausência de cedências significativas, os professores mantêm a convocação da greve, afetando os exames nacionais do 12º ano de Português e Latim, provas que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) recusou reagendar, incluindo para dia 20, como sugerido pelo colégio arbitral, que recusou a fixação de serviços mínimos.

Os sindicatos garantiram publicamente que não fariam greve nem a 20 de junho nem a outras datas de exames nacionais, mas o MEC contrapôs que nas reuniões algumas estruturas foram menos assertivas, não se comprometendo em relação a futuras greves.

Foto: Manuel de Almeida - Lusa

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