terça-feira, 30 de abril de 2013

Portugal: DITO & FEITO




José António Lima – Sol, opinião

Quando decidirem parar de fazer remodelações, não se esqueçam de avisar – era uma piada que, por estes dias, corria com sucesso nos meios políticos e jornalísticos.

Na verdade, desde Fevereiro até agora, mês após mês, Passos Coelho já fez entrar no Governo 2 ministros acompanhados por 15 secretários de Estado. E aos bochechos: a 4 de Abril, a 13 de Abril e a 22 de Abril. Com esta cadência de 9 em 9 dias prevê-se nova mexida na próxima 4.ª-feira...

Mas, para lá das ironias, o facto é que estas remodelações aos soluços e em sessões contínuas não abonam a favor da imagem de coesão do Governo. Nem da capacidade de planeamento do primeiro-ministro. Que, depois de ter manifestamente hesitado entre uma remodelação profunda e alargada do seu Executivo e uma mini-alteração apenas na pasta ocupada por Miguel Relvas, acabou por se deixar arrastar para esta sucessão de tomadas de posse, para acorrer a fogos pontuais e sem fim à vista. O que virá a seguir?

Acresce que, entre os nomes agora chamados ao Governo, podemos encontrar uma secretária de Estado que ainda há meses pedia que se votasse contra o Orçamento de Vítor Gaspar, um outro que criticou a proposta de aumento da TSU feita por Passos Coelho, ou ainda um ex-jornalista que não disfarçava o seu alinhamento com o santanismo, o menezismo ou o relvismo e agora recebe a sensível pasta da Cooperação no MNE de Paulo Portas. Convenhamos que é, no mínimo, preocupante esta salgalhada no que respeita à coerência política e à unidade estratégica do Governo.

Não deixa de ser estranho, por fim, que dois secretários de Estado tenham saído por força dos contratos swaps que caucionaram no seu passado de administradores – num processo conduzido no interior do Governo por uma outra secretária de Estado, Maria Luís Albuquerque. Reconhecidamente competente, mas também ela envolvida na celebração de swaps, melhores ou piores, no seu passado recente.

Há dois pesos e duas medidas? Não seria curial que fosse uma entidade independente a conduzir o processo das swaps? Passos Coelho não percebe o efeito descredibilizador de tudo isto?

jal@sol.pt

Portugal: AUSTERIDADE DE 4700 MILHÕES ENTRE 2014 E 2016




SÉRGIO ANÍBAL - Público

Novas medidas só serão anunciadas nos próximos dias

Portugal vai ter de aplicar medidas de consolidação orçamental no valor de 4700 milhões de euros no período entre 2014 e 2016, anunciou nesta terça-feira o ministro das Finanças.

O anúncio foi feito por Vítor Gaspar no Parlamento, onde apresenta as linhas gerais do Documento de Estratégia Orçamental (DEO), que será tornado público ainda nesta terça-feira.

O ministro das Finanças afirmou que, para cumprir o objectivo de défice estrutural de 0,5% do PIB em 2017, será necessário adoptar medidas de contenção orçamental de 2800 milhões de euros em 2014, 700 milhões em 2015 e 1200 milhões em 2016.

O ministro fez questão de lembrar que, mesmo depois do final do programa de ajustamento assinado com a troika, Portugal terá de adoptar políticas de consolidação orçamental. 

Para 2013, o Governo terá ainda de colocar em prática medidas de austeridade no valor de 1300 milhões de euros que substituam as que foram chumbadas pelo Tribunal Constitucional. Cerca de 800 milhões foram já anunciados através da imposição de limites de despesa mais apertados para os ministérios no decorrer deste ano.

Vítor Gaspar disse ainda, poucos dias depois de um conselho de ministros em que terá havido uma discussão acesa entre os vários ministros sobre as medidas de austeridade, que cabe ao Ministério das Finanças especificar qual é o limite de despesa que tem de ser cumprido, mas que a responsabilidade de cumprir esse limite "cabe ao Governo todo".

De acordo com Vítor Gaspar, o DEO mantém as projecções para a evolução da economia que já tinham sido actualizadas pelo Governo, como a recessão de 2,3% deste ano e a retoma de 0,6% em 2014. O Governo prevê igualmente uma taxa de desemprego de 18,7% este ano e de 18,5% em 2014.

Apesar de apresentar o DEO, o Governo não dará já a conhecer quais as medidas de austeridade concretas que serão aplicadas. Estas, disse Vítor Gaspar, serão apenas divulgadas nos próximos dias.

Leia também em Público

DEPUTADO ACUSA REDE GLOBO DE PRESTAR SERVIÇOS À DITADURA




Correio do Brasil - de Brasília

Líder do Partido da República na Câmara, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que hoje está na frente nas intenções de voto para o governo do Estado, distante do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e do vice-governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, respondeu com um pesado discurso às críticas formuladas  na última edição da revista semanal de ultradireita Época, de propriedade da Editora Globo.

No plenário da Câmara dos Deputados, Garotinho disse que apoia a convocação dos dirigentes da emissora pela Comissão da Verdade, para explicar o apoio do grupo à ditadura militar. O parlamentar também denunciou uma suposta conta de João Roberto Marinho num paraíso fiscal e citou até o suposto envolvimento do diretor de jornalismo, Ali Kamel, no escândalo do Banestado.

“Sr. Presidente, meus colegas Deputados, no final de semana, fui surpreendido por uma matéria publicada na revista Época, de propriedade das Organizações Globo, uma verdadeira salada. A matéria não dizia coisa com coisa, tentando induzir o eleitor, como se eu tivesse feito alguma coisa errada ao alugar, com a quota parlamentar, um carro aqui em Brasília, para meu uso pessoal,de uma empresa que licitamente ganhou a concorrência na Prefeitura de Campos.

“As Organizações Globo, Sr. Presidente, há muito tempo, têm essa mania de afrontar as pessoas, de mentir, de caluniar. Alguns recuam. Eu, como não devo nada à Globo e sei que aquela matéria é mentirosa, falsa e eleitoreira, quero fazer aqui um desafio aos autores da matéria e aos proprietários das Organizações Globo.

“Sr. João Alberto Marinho, Sr. José Roberto Marinho — seu irmão —, quem comprou a TV Globo de São Paulo com uma procuração falsa foi o seu pai, não foi ninguém da família Garotinho, e ninguém toma atitude contra vocês porque neste País a Justiça tem medo das Organizações Globo. O processo se arrasta há anos, trocando de juiz para juiz, de desembargador para desembargador, e ninguém dá a sentença de uma televisão comprada com uma procuração falsa, Sr. Presidente.

“Quero dizer mais: a família Garotinho, a D. Rosinha Garotinho, atacada injustamente na matéria; a minha filha, a Deputada Clarissa Garotinho; e eu fomos eleitos pelo povo. O que vocês têm vocês ganharam prestando favores à ditadura militar. Vocês ganharam canal de rádio e canal de televisão prestando serviços aos ditadores de plantão.

“Fala-se aí em convocar Fulano, Beltrano, para ir à Comissão da Verdade. Quem tem que ir à Comissão da Verdade explicar porque mentiram nas Diretas, quando tinha um comício em São Paulo e disseram que era comemoração do aniversário da cidade… O Deputado Arlindo Chinaglia sabe disso. Mentiram no Jornal Nacional.

“Eu queria ir um pouquinho mais além. O Sr. João Roberto Marinho deveria explicar porque no ano de 2006 tinha uma conta em paraíso fiscal não declarada à Receita Federal, com mais de 100 milhões de reais, e porque a Receita Federal não fez nada em 2006. Deveria explicar mais: o Sr. Ali Kamel estava na lista dos que estavam com dinheiro no escândalo do BANESTADO. O Sr. Ali Kamel é o editor do Jornal Nacional, Diretor de Jornalismo da Globo.

“Olhem o rabo de vocês. Vocês não têm autoridade moral para criticar ninguém na política deste país, muito menos alguém que foi prefeito da sua cidade duas vezes, governador de Estado, secretário de Estado três vezes, deputado estadual, deputado federal, minha esposa é prefeita pela segunda vez, minha filha é Deputada, e eu moro na mesma casa em que nasci, na Rua Saturnino Braga, 44, no Bairro da Lapa.

“Então, estou hoje aqui indignado e peço que V.Exa. e os colegas votem o projeto de direito de resposta sumário, porque se não essa gente vai continuar fazendo isso. Mentem e daqui a 5 anos, nós vamos ganhar o direito de resposta.

“Se a Globo pensa que vai fazer comigo o que ela faz com Sérgio Cabral, com Eduardo Paes e aquele bando de frouxos do PMDB do Rio de Janeiro, que não aguentam uma notinha no Jornal Nacional, que não aguentam uma notinha na Coluna do Ancelmo Gois, estão muito enganados. Pode vir quente que eu estou fervendo”.

BRASIL TEM PIOR SUPERÁVIT PRIMÁRIO EM MARÇO




Correio do Brasil, com Reuters - de São Paulo

O setor público brasileiro registrousuperávit primário de R$ 3,500 bilhões no mês passado, informou o Banco Central nesta terça-feira, o pior resultado para meses de março desde 2010. O número foi pior que o esperado por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava saldo positivo de R$ 5,6 bilhões.

Em 12 meses até março, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 1,99%  do Produto Interno Bruto (PIB).

Os governos regionais (Estados e municípios) garantiram a maior parte do primário de março, comsuperávit de R$ 2,143 bilhões. Já o governo central governo federal, BC e INSS registrou saldo primário positivo de R$ 1,059 bilhão no período, enquanto que as estatais, R$ 298 milhões.

O BC informou ainda que o déficit nominal do país somou R$ 15,859 bilhões no mês passado, enquanto a dívida pública representou 35,5%  do PIB.

Em março, as contas públicas do país foram afetadas pela arrecadação federal, que registrou queda de quase 10 % sobre um ano antes, somando R$ 79,613 bilhões. O resultado veio da economia ainda sem sinais de recuperação mais robusta e pelas desonerações fiscais feitas pelo governo.

Diante desse quadro, recentemente o governo encaminhou ao Congresso medida que flexibiliza ainda mais a meta de superávit primário deste ano definida em R$ 155,9 bilhões e de 2014. Por meio dela, os Estados e municípios poderiam abater seus investimentos da meta que cabe a eles, de R$ 47,8 bilhões em 2013.

Antes dessa medida, o governo havia anunciado no início do ano que poderia abater até R$ 65 bilhões em gastos com investimentos e desonerações da meta cheia de superávit primário do setor público consolidado.

PORTUGAL NO PÉRIPLO QUE LEVARÁ LÍDER DA OPOSIÇÃO ANGOLANA TAMBÉM AOS EUA



NME -EL – APN - Lusa


Luanda, 30 abr (Lusa) - Portugal vai ser uma das etapas do périplo que levará entre 04 e 23 de maio Abel Chivukuvuku, líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), à Europa e Estados Unidos.

Em conferência de imprensa, Lindo Bernardo Tito, um dos vice-presidentes da CASA-CE, segundo maior partido da oposição angolana, disse que as visitas a Portugal, França, Reino Unido e Estados Unidos visam contactar as comunidades angolanas radicadas nesses países.

"Desde agosto do ano passado que a CASA-CE, no seu programa de ação, consagrou visitas às comunidades angolanas no exterior para, por um lado corresponder às várias solicitações e convites. Mas, por outro lado, a CASA-CE vai apresentar-se nesses países como uma nova força política que nos resultados eleitorais conseguiu posicionar-se em terceiro lugar", disse Lindo Bernardo Tito.

Segundo aquele dirigente e também deputado, além da Europa e América a coligação tem igualmente convites para visitar países africanos e asiáticos, que deverão ser agendados a seguir a este périplo.

O programa de visita de Abel Chivukuvuku, que é acompanhado por dois vice-presidentes daquela força política, nomeadamente, André Mendes de Carvalho "Miau" e Manuel Fernandes, não foi divulgado, tendo sido apenas avançado que não estão previstas reuniões com entidades locais.

"Aí onde for possível eventualmente haverá encontros formais ou institucionais. Onde não forem possíveis os encontros institucionais, o nosso objetivo fundamental é única e exclusivamente mantermos contactos com as comunidades angolanas no exterior", salientou.

"A CASA-CE vai partilhar com as comunidades angolanas no exterior as perspetivas do ponto de vista político, económico e social do país a médio prazo, ou seja, a CASA-CE vai transmitir na pessoa do seu presidente o que pensa do ponto de vista económico, social e político sobre Angola e as soluções da casa para a melhoria da qualidade de vida e para uma ampla participação dos cidadãos na vida política angolana independentemente de viver no interior ou no exterior do país", frisou o político.

Criada em abril de 2012, a CASA-CE tornou-se a surpresa das eleições gerais de agosto passado, quando se tornou a terceira força política, com oito deputados eleitos.

Abel Chivukuvuku foi um antigo dirigente da UNITA, principal partido da oposição, e chegou a ser considerado o delfim de Jonas Savimbi, líder histórico e fundador daquele partido.

Moçambique: RENAMO REAFIRMA EXIGÊNCIAS PARA PERMITIR REALIZAÇÃO DE ELEIÇÕES




AYAC - MLL – VM - Lusa

Chimoio, Moçambique, 30 abr (Lusa) -- O secretário-geral da Renamo reafirmou hoje, em Chimoio, Manica, que o partido não permitirá a realização de eleições enquanto não for garantido consenso quanto ao processo de arbitragem e controlo das eleições previstas para novembro (autárquicas) e 2014 (gerais).

"Desta vez não podem acontecer eleições sem que ao nível do STAE (Secretariado Técnico da Administração Eleitoral), CNE (Comissão Nacional de Eleições), defesa e segurança e da polícia, entre várias questões que afligem os moçambicanos, sejam resolvidos, porque democracia é isso tudo, não é a Frelimo (no poder) armar-se até aos dentes para reprimir os que não concordam com a sua ideologia", disse Manuel Bissopo.

A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição moçambicana, reuniu hoje, em Chimoio, os seus quadros, incluindo delegados distritais, ligas da juventude e da mulher, para "planificar os próximos dias", no sentido de que as eleições, autárquicas e gerais, "não aconteçam", enquanto "não houver consenso" sobre o processo de arbitragem e controle.

A reunião decorre sob um cordão de segurança dos ex-guerrilheiros armados da Renamo, separados apenas por uma rua de elementos da Força da Intervenção Rápida (FIR), que vigiam fortemente o encontro.

Para a próxima quinta-feira, está agendado um encontro entre o Governo e a Renamo, que já foi adiado por duas vezes por divergências deste partido quanto ao local da reunião.

No encontro de hoje, o secretário-geral da Renamo garantiu que o partido não teve qualquer prejuízo com os assaltos feitos pela polícia às suas sedes em Gondola (Manica) e Muxúnguè (Sofala), centro de Moçambique, considerando que o que aconteceu "foi uma vitória".

"A Renamo não teve nenhum prejuízo (com gastos de viagens e alimentação dos seus membros 'aquartelados' durante semanas), porque quando aceitamos fazer um projeto temos um conjunto de custos, e esses custos, em política, resulta no que aconteceu (dispersão e ataques) e para nós foi uma vitória", disse Manuel Bissopo.

A polícia antimotim "expulsou e ocupou" as sedes do maior partido da oposição, no início do mês, no distrito de Gondola (Manica) e em Muxúnguè (Sofala), expulsando cerca de 350 homens ali "aquartelados".

Os homens expulsos pela polícia, a maioria ex-guerrilheiros vindos de vários distritos distantes, aguardavam uma "capacitação", cuja agenda a Renamo nunca chegou a anunciar, no âmbito das manifestações à escala nacional que o partido pretende que confluam no boicote às eleições autárquicas de 20 de novembro e às gerais de 2014.

Em retaliação à invasão e ocupação da sua sede, os ex-guerrilheiros da Renamo atacaram o comando da polícia de Muxúnguè, provocando a morte a quatro agentes. Um ex-guerrilheiro foi abatido na ocasião, a 04 de abril.

"Se a Frelimo (no poder) quiser insistir na força, vamos generalizar o que aconteceu em Muxúnguè, no mesmo dia e na mesma hora, do Rovuma ao Maputo e vamos ver se a Frelimo vai fazer eleições ou não", afirmou Manuel Bissopo, que assegurou estarem criadas condições humanas e materiais para a "revolução".

PR moçambicano diz que os novos salários aprovados "são os possíveis na situação atual"




MMT – VM - Lusa

Maputo, 30 abr (Lusa) - O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, reconheceu hoje que os novos salários mínimos nacionais aprovados em abril pelo Governo moçambicano "não são os que muitos desejariam", mas defendeu que "são os possíveis na situação atual" do país.

Na mensagem por ocasião do 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, Armando Guebuza considerou que "o aumento da produção e da produtividade nas diferentes áreas da economia constituiu uma das condições essenciais para a melhoria das tabelas salariais" dos trabalhadores moçambicanos.

O chefe de Estado moçambicano felicitou a Comissão Consultiva do Trabalho "pelos resultados consensuais alcançados no processo das negociações dos salários mínimos por setores de atividade para o presente ano".

Para Armando Guebuza, o diálogo social tripartido continua a crescer e a afirmar-se como um mecanismo fundamental de prevenção e resolução de diferendos, concorrendo para a manutenção e consolidação da harmonia social no mercado de trabalho.

No discurso a que a Lusa teve acesso, Armando Guebuza felicitou todos os trabalhadores moçambicanos que trabalham no país e no estrangeiro pela forma como se entregam na luta contra a pobreza e destacou "o empenho dos trabalhadores estrangeiros na implementação da agenda contra esse flagelo" em Moçambique.

SINDICATOS MOÇAMBICANOS ASSINALAM “VIOLAÇÃO DA LEGALIDADE LABORAL”




PMA – MLL - Lusa

Maputo, 30 abr (Lusa) - Os sindicatos moçambicanos assinalaram hoje, em Maputo, que os trabalhadores moçambicanos vão comemorar, na quarta-feira, o Dia Internacional do Trabalhador num contexto de prevalência no país de "casos gritantes de violação da legalidade laboral".

Numa declaração alusiva ao 1º de Maio, os cinco sindicatos e confederações sindicais moçambicanos, congregados no Movimento Sindical moçambicano, apontam a persistência de baixos salários, despedimentos sem justa causa e o incumprimento das prestações à segurança social como alguns dos atropelos aos direitos dos trabalhadores.

"Ao comemorarmos o 1º de Maio deste ano, temos presente as principais preocupações então apresentadas nas comemorações desta data no ano de 2012, em que se protestava os baixos níveis salariais, o elevado custo de vida, bem como os despedimentos sem justa causa", enfatiza o documento.

Qualificando essas práticas de "casos gritantes de violação da legalidade laboral", o Movimento Sindical moçambicano diz que as precárias condições dos trabalhadores moçambicanos são agravadas pela insuficiência e falta de segurança dos transportes públicos nas zonas urbanas e periurbanas e a intransitabilidade das vias de acesso na maioria das zonas de produção.

"O agravamento do custo de vida, as consequências resultantes da existência de uma economia liberalizada e de competição desenfreada e o elevado índice de desemprego associado à precariedade do emprego continuam a constituir as principais preocupações dos trabalhadores", afirmam os sindicatos moçambicanos.

Na declaração do Movimento Sindical moçambicano, é exigida, igualmente, a necessidade de reformas do sistema de segurança social, para que passe a ter uma gestão inclusiva e melhor.

A legalização do Sindicato Nacional da Função Pública é outra das preocupações das organizações sindicais moçambicanas, como se refere na declaração.

ELEIÇÕES NA GUINÉ-BISSAU EM NOVEMBRO - acordo no parlamento




MB – VM - Lusa

Bissau, 30 abr (Lusa) - Políticos e outros responsáveis da Guiné-Bissau concordaram hoje no parlamento que as eleições gerais devem ser em novembro e que o período de transição deverá terminar a 31 de dezembro.

As propostas foram aprovadas pelos presentes numa reunião no parlamento (políticos, chefias militares, chefes religiosos e lideres sindicais) e resultaram de um consenso sobre o novo modelo para o período de transição em curso na Guiné-Bissau desde o golpe de Estado militar.

Além da realização de eleições gerais em novembro, em data a ser marcada pelo Presidente da República de transição, Serifo Nhamadjo, as partes concordaram também na formação de um novo Governo "mais inclusivo" e ainda na eleição de um novo presidente da Comissão Nacional de Eleições, cujo nome deve ser indicado pelo Conselho Superior de Magistratura Judicial.

O presidente do parlamento, Sory Djaló, anunciou que as partes chegaram a um acordo de princípio sobre aquilo que será o roteiro político e um pacto de regime, a serem apresentados no dia 02 de maio no parlamento para serem adotados como leis.

A ideia dos atores políticos e sociais da Guiné-Bissau é, de acordo com o presidente do parlamento, ter um roteiro de transição e um Governo inclusivo antes do dia 09 de maio, data em que a situação do país será debatida no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O chefe das Forças Armadas, general António Indjai, disse que os militares concordaram com os pontos propostos pelos políticos, mas pediu aos dirigentes do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), para que "deixem de ser guiados por 'Cadogo'".

Cadogo é o diminutivo de Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril do ano passado. Desde então a Guiné-Bissau vive um período de transição.

Central sindical guineense pede a trabalhadores compreensão e que apertem o cinto




FP – MLL - Lusa

Bissau, 30 abr (Lusa) - A União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG), Central Sindical, apelou hoje à compreensão dos trabalhadores "no sentido de apertarem o cinto e consentirem sacrifícios a que foram impingidos a sofrer".

Numa mensagem por ocasião do 01 de Maio, dia do trabalhador, a central sindical afirma que o importante é "saber viver consoante as circunstâncias", lutando "pela sobrevivência" e por melhores condições de vida.

"Estejam confiantes de que melhores dias virão, em que haveremos de esquecer as difíceis condições que vivemos este 1.º de Maio de 2013", diz a mensagem.

Nesta data, segundo o secretário nacional para a organização e dinamização sindical da UNTG, Pedro de Carvalho, os trabalhadores da Guiné-Bissau não têm motivos para festejar, porque até hoje a grande maioria ainda nem recebeu o ordenado de abril.

Na Guiné-Bissau, o principal empregador é o Estado e, até agora, tirando as forças de defesa e segurança, a maior parte dos trabalhadores ainda não recebeu o ordenado, apesar de os funcionários do Ministério das Finanças terem interrompido uma greve precisamente para possibilitar o pagamento de salários, disse o responsável.

Outro motivo para não comemorar o dia do trabalhador, acrescentou, prende-se com o facto de até agora Governo e sindicatos não se terem entendido na revisão dos salários e na instituição de um salário mínimo, que na Guiné-Bissau não existe.

Na Função Pública, o salário mais baixo é de 32 mil francos CFA (49 euros), mas a UNTG propõe que seja criado um salário mínimo e que este seja de 90 mil francos (137 euros), valor que considera mínimo para uma família pagar alimentos, renda de casa, escola, medicamentos e transportes.

"O salário que se pratica até agora é de miséria", disse Pedro de Carvalho à Lusa, acrescentando que os sindicatos estão disponíveis para negociar a proposta dos 90 mil francos, mas que os 32 mil é um valor inaceitável.

A UNTG quer também que haja da parte do Governo uma definição de salários consoante as habilitações, para acabar com a atual situação em que "há desigualdade em termos remuneratórios nos Ministérios", disse.

A central sindical afirma-se ainda, no comunicado, consciente do "desespero e desilusão" dos trabalhadores e diz que agendou "propostas realistas" para o Governo que for eleito nas eleições previstas para este ano, "tendo em conta as limitações do atual Governo".

Garante igualmente estar ao lado dos que lutam contra poderes antidemocráticos e por estabelecer uma paz duradoura na Guiné-Bissau, tornando possível a colaboração internacional e a criação de mais emprego e melhor nível de vida dos trabalhadores.

São Vicente: UCID classifica de "calamitosa" situação do desemprego em Cabo Verde




30 de Abril de 2013, 13:46

O presidente da UCID classificou hoje de "calamitosa" a situação do desempergo no país e pediu ao Governo para “deixar de retórica”e  criar condições para que a banca nacional possa disponibilizar crédito aos empresários privados.

Em confrerência de imprensda na cidade do Mindelo para comentar os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE)  sobre o desemprego, apresentados na sexta-feira, 26, António Monteiro explicou que “não obstante o Governo ter nos últimos três anos feito grandes investimentos públicos”, estes não serviram para debelar a “situação conflituosa” que “milhares de cabo-verdianos” estão a viver no seu dia-a-dia por falta de emprego.

“A União Cabo Verdiana Independente e Democrática não entende como é possível investir-se tanto, mais de 100 milhões de contos,  para, em três anos, termos quase que a duplicação do desemprego, de cerca de 10 por cento (%) para cerca de 17%”, lançou, acrescentando que as medidas de política económica assumidas pelo Governo foram “muito mal” aplicadas.

As medidas, segundo o líder da UCID, serviram “apenas” para “aumentar a dívida pública” do país e para “retirar aos privados” a capacidade de irem à banca nacional buscar esse mesmo dinheiro para investimentos, o que considerou ser “concorrência desleal” do Governo, já que “mais de 30%” dos montantes destinados aos investimentos públicos foram disponibilizados pela banca.

A UCID têm dúvidas em relação ao modelo do INE para calcular o desemprego e citou os casos de São Vicente e do município de São Salvador do Mundo, na ilha de Santiago.

“No caso de São Vicente, a taxa de desemprego é de 28,9 por cento, mas a ilha tem também cerca de 17 por cento de pessoas que normalmente, numa semana, conseguem ter uma ou duas horas de trabalho e são consideradas pelo INE como pessoas no sub-emprego”, considerou António Monteiro,  para quem a “taxa real” deve andar à volta de 45%, porque “quem trabalha uma ou duas horas por semana” não tem meios para satisfazer as necessidades básicas.

Em relação à São Salvador do Mundo, o presidente da UCID enumerou uma uma taxa de desemprego de cerca de três por cento e de sub-emprego de cerca de 53%, tudo somado, disse, revela que 56 % da população activa de São Lourenço dos Órgãos está em “penúria de trabalho”.

Por isso, António Monteiro pediu ao Governo para criar as condições para que a banca nacional disponibilize crédito e para os empresários assumirem na plenitude a dinâmica económica do país, e para analisar a questão dos impostos e tome as medidas capazes de permitir aos empresários dinamizar a economia principalmente os empresários que estão em situação de falência devido à “carga” das Finanças.

“O INE veio trazer um quadro negro do país que exige tomadas de posições urgentes para que se criem as condições para debelarmos esse nível de desemprego, e esperamos que o Governo tome as medidas necessárias”, concluiu o líder da UCID, que é também deputado eleito por São Vicente.

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o desemprego no país indicam um aumento no país de 12,7 por cento, em 2011, para 16,8 por cento, em 2012.

De acordo com os números do o INE, os concelhos do Barlavento são os mais afectados pelo desemprego do que os do Sotavento, excepto os municípios da Praia (17,2 por cento) e de São Domingos (16,6 por cento), que têm taxas superiores à Boa Vista (14,3 por cento).

Os dados do INE revelam ainda que São Vicente é o concelho com maior número de desempregados, apresentando uma taxa de desemprego de 28,9 por cento, muito acima da média nacional, ao contrário do concelho dos Mosteiros que se verifica a menor taxa (1,5 por cento).

Sapo com Inforpress

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO, AFINAL, ESTÁ COM MEDO




Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

António José Seguro teve o seu congresso norte-coreano. Todos os congressos dos partidos são, agora, momentos cerimoniais de aclamação e legitimação do líder, com distribuição, negociada em bastidores, dos lugares secundários do poder partidário. Para disfarçar, passa um desfile, nas pantalhas televisivas, com uma multidão de dirigentes em simulacro de discussão e a manifestar, mão no peito, apoio ao grande líder.

Andam os partidos, não é só o PS, muito satisfeitos com este método, resultado da aplicação de "diretas" para a eleição do secretário-geral. É uma melhoria democrática, dizem. Não vejo em quê, nem onde mas, enfim, o caso não é comigo. Portanto, calo-me com as comparações, certamente muito, muito injustas, para mais vindas de um comuna que, segundo o clichê, só pode ser idiota, ou estalinista ou ambos...

O que é comigo e com todos os portugueses é António José Seguro pedir votos para ganhar as eleições com maioria absoluta, sem descartar a possibilidade de vir a governar em coligação.

Antonio José Seguro quer ser primeiro-ministro. OK. Admito que ache útil pedir já votos para umas eleições que, em princípio, ocorrerão daqui a dois anos. OK. Talvez preveja eleições antecipadas e tenha decidido, à cautela, entrar em campanha. OK.

Sendo assim, há algo que não está OK: a ausência de uma clarificação sobre que tipo de coligação governamental está na mente de Seguro. E essa explicação não é difícil: o PS, sim ou não, aceita governar coligado com o PSD? Com o CDS? Com o PCP? Com o Bloco? Com todos? Só com a direita? Só com a esquerda? Em bloco central? E, das oito hipóteses, qual prefere? Qual rejeita?

Um congresso partidário não responder a coisa tão óbvia é, para ser caridoso, frustrante.

Seguro preocupou-se em divulgar propostas de medidas económicas, não sei se boas mas certamente de discussão pertinente. Mas estas ideias juntam-se às, literalmente, centenas de outras, mais ou menos exequíveis, que os parceiros sociais anteriormente fizeram, tal como os partidos (o próprio PS e, até, o CDS) e numerosos economistas. Só o autismo deste Governo levou a que pouco ou nada fosse daí aproveitado. As propostas económicas do congresso do PS têm, portanto, um mérito limitado no que diz respeito a uma definição distintiva da sua política para o País.

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és", proclama o provérbio. Se António José Seguro quer esclarecer verdadeiramente os portugueses sobre o que pretende - se mais do mesmo, com retoques, se mudança substancial - terá que dizer, inequivocamente, com quem quer governar. É simples mas, parece, mete-lhe medo.

PORTUGAL 2013, O DIREITO À REBELIÃO




Miguel Urbano Rodrigues – O Diário

O desemprego galopante, a miséria de centenas de milhares de famílias, numa sociedade onde a fome já é uma realidade, a convergência de uma multiplicidade de sofrimentos numa angústia colectiva anunciam a proximidade de uma situação de ruptura, num desembocar da indignação das massas.

A Assembleia da Republica, no dia 25 de Abril, tornou-se cenário de um espetáculo que foi ofensa ao povo português.

Para comemorar a data, Cavaco Silva e a presidente da Assembleia pronunciaram ali discursos que foram exercícios de hipocrisia.

Assunção Esteves, numa fala ridícula, com pretensões académicas e literárias, ao evocar a jornada de Abril fez a apologia da liberdade e da democracia para ligar ambas ao momento que se vive hoje em Portugal. Na contrarrevolução identifica progresso, continuidade do processo libertador.

Cavaco Silva excedeu-a no cinismo. Em tom grandiloquente abriu com uma ode a Abril para fechar, sob os aplausos frenéticos das bancadas do PSD e do CDS, com a justificação e a defesa da política do governo. Fez recordar, pelo farisaísmo, discursos de Salazar.

No final, de cravo ao peito, os coveiros de Abril, cantaram Grândola Vila Morena.

Numa manhã de pesadelo, o anfiteatro do palácio que faz de Parlamento foi transformado em palco de um teatro de absurdo.

Horas depois, nas ruas de Lisboa, descendo a Avenida da Liberdade, uma multidão representativa do povo português respondeu à farsa reacionária, exigindo a demissão da camarilha que oprime e desgoverna o país.

O protesto das massas não terá por ora força para varrer do poder Passos e seus ministros.
Utilizando os mecanismos de um sistema institucional controlado pela classe dominante, o Primeiro-ministro prepara-se mesmo para anunciar e aplicar novas medidas contra os trabalhadores.

Elas configuram mais um desafio ao povo. Mas o desemprego galopante, a miséria de centenas de milhares de famílias, numa sociedade onde a fome já é uma realidade, a convergência de uma multiplicidade de sofrimentos numa angústia coletiva anunciam a proximidade de uma situação de ruptura, num desembocar da indignação das massas.

A história ensina que na vida dos povos vítimas de uma opressão intolerável, as grandes lutas fermentam por tempo variável ate que eles se levantam em explosões sociais vitoriosas. Então exercem o direito de resistência e à rebelião - direito que é antiquíssimo e consta do artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão promulgada pela Revolução Francesa de 1789. É o direito à resistência contra a opressão económica e social, direito que, após os horrores da segunda guerra mundial, foi incluído na Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 22 a 25). A Constituição da Republica Portuguesa menciona-o no artigo 21,um direito que o PSD e o CDS, em sucessivas revisões, não conseguiram eliminar da nossa Lei Fundamental.

Repito: a opressão económica e social ultrapassou em Portugal os níveis do suportável. Mas no país não existem ainda as condições subjectivas para o exercício pleno e eficaz do direito à resistência.

Contribuir para a sua criação é hoje um dever dos comunistas. A manifestação do Primeiro de Maio dará continuidade ao protesto do 25 de Abril. Expressará, certamente, a indignação popular numa atmosfera de combatividade crescente das massas. Será um avanço.

Em grandes momentos da nossa Historia o exercício do direito à resistência desembocou na rebelião popular. Isso aconteceu nas revoluções de 1383 e 1640. E no levantamento nacional de 25 de Abril de 1974.

Serpa, 28 de Abril de 2013

PASSOS REÚNE-SE COM BARROSO E ROMPUY NA 5ª FEIRA À NOITE




Sol - Lusa

O primeiro-ministro vai ser recebido pelos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia na quinta-feira à tarde, para dar conta da posição de Portugal sobre o orçamento comunitário plurianual, que será negociado na cimeira com início no mesmo dia.

O encontro de Passos Coelho com Herman van Rompuy e Durão Barroso, que faz parte da série de reuniões bilaterais que os presidentes do Conselho e da Comissão manterão com todos os 27 chefes de Estado e de Governo, terá lugar às 15h30 locais (14h30 de Lisboa), indicou fonte diplomática.

Na carta-convite hoje dirigida a todas as capitais, Van Rompuy explica que a cimeira extraordinária, que terá início às 20 horas locais (19 horas de Lisboa) de quinta-feira, será antecedida de encontros bilaterais com todos os líderes europeus, ao longo do dia, começando o Conselho Europeu precisamente com um “apanhado” de todos esses encontros e o ponto da situação sobre as negociações em torno do orçamento da União Europeia para 2014-2020.

A ideia de Van Rompuy é ter um novo projecto de conclusões, ou seja, uma última versão da proposta de orçamento, ao final da noite.

Na missiva, o presidente do Conselho alerta para a necessidade de os Estados-membros fazerem escolhas políticas quando decidirem, na cimeira de quinta e sexta-feira, o montante do envelope financeiro para o período 2014-2020.

«Todos temos que perceber que, com menos dinheiro, não podemos continuar a fazer o mesmo. Há opções políticas a tomar», escreveu.

Van Rompuy alerta ainda para a necessidade de se chegar a um acordo em torno do próximo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia, sublinhando ter diligenciado para que, caso seja preciso, os trabalhos da cimeira se prolonguem.

O presidente do Conselho apresentou na semana passada uma proposta de redução do orçamento da UE em 80 mil milhões de euros para 2014-2020, em relação à proposta original da Comissão Europeia, sublinhando a «quase proporcionalidade» dos cortes por si indicados.

Portugal, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, já indicou, na segunda-feira, que considera «inaceitável» a proposta actualmente em cima da mesa, sobretudo devido aos avultados cortes na política de coesão.

Laicidade: UE DIVIDIDA DÁ LIÇÕES SOBRE A LIBERDADE DE RELIGIÃO




TROUW, AMESTERDÃO – Presseurop – imagem Vlahovic

A UE está a preparar diretrizes destinadas aos diplomatas europeus no estrangeiro, para que estes se encarreguem de promover a liberdade de religião e a separação entre a Igreja e o Estado, nos países onde estão colocados. Uma questão delicada, uma vez que a UE se encontra no mínimo dividida e tem uma posição ambígua nesta matéria.


Muitos países da UE não são neutros no que se refere à religião. A rainha de Inglaterra é a chefe da Igreja Anglicana, os euros holandeses têm cunhada a divisa “God zij met ons” (“que Deus nos proteja”) e o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem não se opõe a que haja crucifixos pendurados nas paredes das escolas públicas italianas.

A despeito desta grande tolerância perante a interação entre a Igreja e o Estado no seio da União, os diplomatas da UE irão receber em breve diretrizes que lhes exigem que promovam, no estrangeiro, a neutralidade dos poderes públicos e a proteção da liberdade de culto.

Isto parece contraditório, declararam, em 25 de abril, vários participantes num debate no Parlamento Europeu sobre a liberdade de religião.

Definir a identidade europeia

“Antes de enveredarmos por essa via, devíamos começar por saber como definir a identidade europeia”, observou Lorenzo Zucca, jurista ligado ao King's College, de Londres, que foi convidado para o debate. “Toda a gente sabe que é extremamente complicado falar de religião, à escala europeia.” Dois bons exemplos dessa dificuldade são a forte oposição ao facto de o Governo húngaro fomentar o catolicismo nas instituições públicas e o aceso debate que rodeou a referência à “tradição judaico-cristã” da Europa na Constituição Europeia que foi rejeitada.

Robert-Jan Uhl, conselheiro para os direitos do homem da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, considera que a UE deveria manter uma abordagem muito pragmática. “O importante são os direitos elementares: que medidas tomar para que as pessoas possam importar e difundir literatura religiosa ou, ainda, para que os detidos possam fazer refeições conformes com a sua religião”. Uhl refere a situação de budistas polacos detidos que, inicialmente, não tinham acesso a refeições vegetarianas. “O caso foi remetido para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que decidiu que era preciso fornecer essas refeições.”

O direito a não ser crente

Robert-Jan Uhl menciona outro problema: em muitos países, uma religião minoritária só passa a ser protegida depois de as pessoas se inscreverem oficialmente. “É absurdo. As pessoas devem poder rezar com quem quiserem, sem terem de se inscrever previamente. A UE poderia intervir no que se refere a este tipo de problemas.”

Dois deputados europeus holandeses têm desenvolvido uma intensa atividade de lóbi em favor das diretrizes, que deverão ser aprovadas em junho pelos ministros da UE. Peter van Dalen (partido da União Cristã) e Dennis de Jong (do Partido Socialista) esboçaram o conceito no qual se baseia agora o Serviço Europeu para a Ação Externa.

“Um aspeto importante a defender é também o direito a mudar de religião e a não ser crente. Em alguns países, é-se excluído, mas a liberdade de culto e as convicções religiosas também incluem o direito a não ser crente.”

Introspeção da UE

Jean-Bernard Bolvin, do Serviço Europeu para a Ação Externa, reconhece que existem na Europa situações inadmissíveis no plano religioso. A Comissão Europeia não dispõe praticamente de competências neste domínio e as decisões do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem são frequentemente demasiado demoradas e nem sempre são aplicadas.

“Isso não impede que possamos estar atentos [a essas situações], ao definirmos a nossa política externa. Não é nossa intenção insistir sem cessar em que a única boa solução é um Estado secular. Mas, se há grupos da população que são objeto de discriminação, se há pessoas enforcadas por causa da religião, mais vale que os nossos representantes saibam quais os argumentos jurídicos que devem evocar.”
Em seu entender, este debate também produzirá efeitos no seio da União Europeia. “Vai incitar os Estados-membros da UE a realizar espontaneamente um trabalho de introspeção.”

REVIVER O PASSADO EM REIQUIAVIQUE




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Aviso: se está sem tempo, guarde esta leitura para mais tarde. O texto é longo.

A direita que levou a Islândia à maior crise financeira que todo o mundo alguma vez conheceu num país, pelo menos nos últimos cem anos, venceu, para espanto de muitos, as eleições. Há um ano, quando lá fui fazer uma reportagem para o EXPRESSO, esperavam-se as eleições presidenciais, o julgamento do ex-primeiro-ministro e muitos suspeitavam que seria este o resultado eleitoral nas legislativas seguintes. Eu próprio fiquei convencido disso. O Presidente, um dos poucos políticos respeitados na Islândia, foi reeleito, o ex-primeiro-ministro foi absolvido e a direita voltou ao poder.

Porque tem tão pesada derrota um governo que consegue conter, depois de uma hecatombe financeira, o desemprego próximo dos 7%, consegue que a economia cresça acima da média europeia, consegue que o FMI já se tenha ido embora e deixa, no essencial, o poderoso Estado Social islandês intacto? Porque apesar de tudo isto nos parecer extraordinário, não lhes parece a eles? Porque não estavam preparados para viver esta crise e porque esperavam muito mais deste governo, depois de, pela primeira vez na sua história recente, se terem realmente mobilizando por uma mudança. As coisas não pioraram como podiam ter piorado, é verdade. Não pioraram como aqui. Mas não mudaram no fundamental. Porque vivem na Islândia e não aqui, os islandeses não terão a consciência do que teria sido a crise se tivesse sido outro o caminho. Mas sabem o que poderia ter sido a mudança se o governo tivesse acompanhado o sentimento social saído da "revolução das frigideiras". Ou pode dar-se o caso das pessoas estarem de tal forma frustradas com esta crise que não haja resposta política possível para esta ansiedade e decepção.

"O anterior governo caiu por causa de nós e isso deu-nos a sensação de ter poder. Reconheço tudo: que podíamos estar muito pior, que há julgamentos, que, ao contrário de outros, não usámos o dinheiro dos contribuintes para salvar bancos. Mas julgávamos que isto ia muitíssimo mais longe." Foi isto que uma das pessoas com quem falei me explicou para dizer porque era impopular este governo e porque não conseguia animar tanta gente afundada em dívidas aos bancos. O escritor Einar Már apontou o principal erro do governo de esquerda: "Quando os sindicatos americanos exigiram mais a Roosevelt, ele respondeu: rapazes, eu não posso fazer isso por vocês, mas vocês podem obrigar-me a fazê-lo. O nosso governo disse o contrário: vão para casa, não nos perturbem."

Deixo aqui, na íntegra (e sem os cortes que, por razões de falta de espaço, tive de fazer para edição impressa), a reportagem que então publiquei na revista do EXPRESSO. É jornalismo, sem qualquer opinião. Talvez a dimensão do texto não seja a ideal para publicar online, mas pode ajudar a compreender as razões deste resultado num país que, quando lá estive, não vivia em festa, mas em ressaca.

A minha estada na Islândia, assim como este resultado eleitoral que, como podem ver na reportagem, apesar de me entristecer não me surpreende muito, não muda a opinião que formei sobre os caminhos acertados que a Islândia seguiu. Apenas confirma que os processos políticos de ruptura não dependem exclusivamente de soluções de poder. Precisam de ser acompanhados por um processo social e têm de ser tão mobilizadores que contrariem a enorme desconfiança que as pessoas sentem hoje em relação à política. Uma reflexão para a esquerda. Sendo certa uma coisa: a direita pode ter ganho, mas a Islândia não deixa, depois de ter feito algumas opções que nem os que agora regressam ao poder se atrevem a contestar, de estar bem melhor do que Portugal, Irlanda ou Grécia. Segue a reportagem de Maio de 2012.

A RESSACA ISLANDESA

A luz clara de um dia soalheiro entra forte pelas janelas grandes do apartamento branco, bem no centro de Reiquiavique. Uma pequena vivenda de madeira, como muitas numa capital que mais parece uma vila europeia. É véspera de feriado. O dia que marca, no antigo calendário, o começo do Verão. Lá fora, estão 4 graus. Uma festa para os islandeses. Foi fácil juntar Thóra, o marido, os filhos, a irmã e o cunhado. Para falar com o jornalista que queria saber da sua "loan story" (história de empréstimos). Quase todos os islandeses têm uma. Quase todas dramáticas. Num país onde 90% das pessoas têm casa própria, cerca de 40% tem hoje dificuldades em pagar as dívidas bancárias. Thóra recebe-nos com a sua enorme barriga e um grande sorriso. Duas coisas comuns na Islândia: a simpatia e a gravidez. A Islândia tem uma das mais altas taxas de natalidade da Europa. "No Inverno e sem dinheiro, o que mais há para fazer?", ri-se Thóra.

Falam todos ao mesmo tempo, interrompem-se, riem-se, provocam-se, fazendo da sua tragédia um bom motivo de piada. No meio da desgraça, Thóra e o seu marido Jón até podem rir. Sim, ele era vendedor e perdeu o emprego. Sim, tiveram, como quase todos os islandeses, problemas com o empréstimo da casa. Depois da crise, disparou. Mas a regra decidida pelo governo em 2010 impôs que nenhuma dívida pode ser superior a 110% do valor da casa. E é isso que estão a pagar com o salário de professora de Thóra, enquanto Jón toma conta dos filhos. A irmã de Thóra, Ragnhildur, que se mantém em silêncio, e o seu marido francês, Stanislas, é que estão mesmo em dificuldades. Stanislas chegou à Islândia em 1978. Por causa de uma mulher, claro. "Não foi seguramente pelo queijo e pelo vinho", diz, perante o riso de todos, habituados às suas provocações altivas. Como Jón, perdeu o emprego. É arquiteto paisagista. "Quem havia de querer jardins no meio de uma crise?"

Em 2008, quando os bancos faliram, percebeu que estava tudo acabado. Para piorar as coisas, uma súbita doença levou-lhe a perna, o que atrasou a recuperação financeira urgente. A mulher é cozinheira e é hoje quem sustenta, como Thóra, a casa. Tudo se poderia compor se não fosse, claro, a dívida. Uma parte do empréstimo estava em moeda estrangeira. Um negócio que, explicado pelos bancos aos seus clientes, parecia infalível. Veio a crise e a coroa caiu para metade. Essa parte da dívida triplicou. Com a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, em 2010, que decretou que esta indexação era ilegal, voltou a descer. O resto estava, como era a regra para proteger as poupanças das tendências inflacionistas da economia islandesa, indexado à inflação. A inflação disparou e passou dos iniciais 18 milhões para 25,3. Passaram 10 anos de um empréstimo de 20 e devem bem mais do que pediram. Estão em negociações e, como muitos islandeses, há dois anos que não pagam nada. "Esperamos que o banco nos ajude a sair da alhada em que nos meteu", diz, com otimismo, Stanislas. Se nada resultar, resta declarar bancarrota, a terceira solução que o governo encontrou para os devedores. Não podem pedir empréstimos nos dois anos seguintes. Mas ficam com as suas contas limpas.

Que Deus abençoe a Islândia

Tudo começou nos anos 90, quando um grupo de jovens neoliberais do jornal "A Locomotiva" tomou o poder do Partido da Independência (de centro-direita, no poder de 1946 até esta crise) e, a partir dele, o governo. A conduzir o comboio ia Davíd Oddsson, antigo presidente da Câmara de Reiquiavique. Chegou a primeiro-ministro em 1991 e lá ficou durante 14 anos. A Islândia era, então, um típico estado social escandinavo, apenas mais clientelar e corrupto que os seus vizinhos, comandado pelo "polvo" (14 famílias poderosas). Os dois principais bancos eram públicos e dirigidos por dois partidos: o Partido da Independência e o Partido do Progresso (centrista). Assim como quase toda a economia, política e sistema judicial. Saído do poder, Oddsson tomou conta do banco central da Islândia, como seu governador. E, depois de um pequeno intervalo, o seu protegido de sempre, o antigo ministro das Finanças Geir Haarde, chega a primeiro-ministro, em 2006.

Num processo mais alargado de liberalização da economia, os dois bancos públicos foram privatizados e ficaram exclusivamente na mão de quadros dos dois partidos do poder. Landsbanki para um, Kaupthing para outro, e um terceiro, o Glitnir, foi criado por pequenas instituições públicas e privadas. Seriam estes três bancos, com a proteção do poder político e do Banco Central, a levar a Islândia à desgraça. Em 2001, um conselheiro de Davíd Oddsson escrevia um relatório com o sugestivo título: "Como fazer da Islândia o país mais rico do mundo". Estava encontrado o caminho: criar, no meio do Atlântico, um paraíso financeiro. O trabalho começou com dois enormes projetos internacionais para uma central eléctrica e uma fundição de alumínio. Era o começo da massiva entrada de dinheiro que os novos bancos precisavam. A partir daí, iniciou-se a roda viva da compra e venda de ações dos bancos, entre si, a transformação de poupanças em ações e a caça desvairada ao empréstimo. Mas este mercado era demasiado pequeno e o Landsbanki criou a Icesave, que funcionava na Internet e permitia depósitos internacionais. E é assim que, em 2007, os três insignificantes bancos já valem oito vezes o PIB da pequeníssima Islândia. Mais do que isto, só na Suíça. Até que veio a crise imobiliária nos EUA e a bolha rebentou.

A 8 de Outubro, o primeiro-ministro informava a um País a transbordar de dinheiro e de dívidas que os três bancos tinham falido. Ao mesmo tempo. No mesmo dia. "Deus abençoe a Islândia", conclui Geir Haarde. Nesse mesmo mês não era Deus que socorreria a ilha. Era o FMI. Em Novembro de 2008 a coroa caía de 70 por euro para 190 por euro. A derrocada islandesa entrava diretamente para a lista dos 11 maiores colapsos financeiros da história mundial.

À volta de um peixe, num restaurante da Laugavegur, a mais animada rua da capital, que nos fins de semana se enche de raparigas demasiado despidas para a temperatura pouco convidativa e de rapazes demasiado alcoolizados para o sossego dos turistas que enchem os hotéis, Gulla tenta dar o retrato da Islândia que reencontrou em 2008, a quatro meses da crise rebentar. Primeiro as apresentações. Gulla tem dupla nacionalidade. Portuguesa e islandesa. Estudou em Coimbra e é tradutora. Agora trabalha numa embaixada. Foi viver para Portugal depois de conhecer o seu marido. Viveu 25 anos em Leiria. Metade de uma vida. Quando finalmente regressou sentiu-se uma intrusa no meio de uma festa.

Conta que, quando chegou, o banco lhe ofereceu, sem que ela o tivesse pedido, um plafom de crédito de 10 mil euros. Três vezes superior ao seu salário na altura. Isto para além do que já lhe ofereciam na sua conta à ordem. "As pessoas iam de férias para o estrangeiro no Inverno e no Verão, sem problemas. Os refeitórios dos bancos tinham chefes gourmet." O melhor Natal para o comércio local, em muitos anos, foi depois de rebentar a crise. "As pessoas iam a Londres fazer as compras de Natal", conta Gulla. Nesse ano ficaram em Reiquiavique. Stanislas já explicara como se passavam as coisas: "Podíamos ir de manhã ao banco e voltar de lá com 10 milhões de coroas. Era terrível." Jón interrompe: "Terrível? Era bom. Agora é que percebemos que é terrível." Em 2007, o rendimento médio da Islândia era o quinto maior do Mundo: 160% do dos Estados Unidos. Um estudo internacional indicava, em 2006, que os islandeses eram "o povo mais feliz do mundo". Mas não nos iludamos com as aparências. Nos meados dos anos 90 a igualdade na distribuição dos rendimentos disponíveis era semelhante à da Noruega. Em 2007 estava próxima da dos Estados Unidos, o país mais desigual do mundo desenvolvido. Num país orgulhoso da sua cultura igualitária, este crescimento desigual, seguido de tamanho trambolhão, abalou os alicerces de toda a sociedade. Gulla viu, diante dos seus olhos, um povo a mudar do dia para a noite: "Nas primeiras semanas não havia ninguém na rua e nas lojas. Era como se fosse pecado divertirem-se, comprarem, viajarem."

A revolução das frigideiras

Depois do choque veio a revolta. Começou logo em Outubro, com pequenas manifestações em frente ao Parlamento. Thóra conta, com um brilho nos olhos, como, no início, eram umas dezenas: "Faziam pouco de nós". Mas lá continuaram a ir, no gélido e escuro inverno islandês , todos os sábados. Os discursos, que passavam na televisão, chamavam cada vez mais gente. Na primeira reunião do Parlamento, depois das férias de Natal, a manifestação atingiu novas proporções. Milhares de pessoas. Invadiram o edifício, houve confrontos com a polícia, atiraram ovos a Geir Haarde, o primeiro-ministro em exercício. Tudo absolutamente impensável na recatada e ordeira Islândia. "Em trinta anos nunca tinha visto tal coisa", diz Stanislas. Três meses depois do começo da "revolução das frigideiras" o governo caiu. Novas eleições dariam a vitória ao primeiro governo, desde 1946, sem o Partido da Independência. Os social-democratas, dirigidos por Jóhanna Sigurdardóttir, ativista lésbica de 70 anos, aliavam-se à esquerda-verde. Mas os islandeses queriam mais do que mudar de governo. E tiveram mais.

A ideia de rever a Constituição começou nas redes sociais. E a 26 de Outubro são eleitos, entre 500 candidatos anónimos que fizeram campanha nas redes sociais, 25 membros de um Conselho Constitucional. Para presidir este original instituição de democracia direta é escolhida a professora de ética e filosofia, Salvor Nordal. Ficara conhecida pela sua ativa participação na comissão, nomeada pelo Parlamento, a meio da "revolução", para investigar os bancos. E foi o que descobriu sobre o comportamento dos banqueiros, que punha em causa todas as suas convicções, que a levou uma mulher sem grande passado político a ter uma participação mais ativa: "O comportamento irresponsável dos bancos foi menos inocente e mais institucionalizado do que eu esperaria, com uma clara intensão de transferir os riscos que corriam para terceiros." Quanto ao anterior governo, é menos severa: "Todas as pessoas achavam extraordinário haver tanto dinheiro. As pessoas estavam bêbedas. O problema é que, no dia seguinte à festa, temos duas possibilidades: ou decidimos que paramos de beber ou achamos que precisamos de uma bebida para a ressaca passar. E às vezes tenho a sensação que anda muita a gente à procura de um bar aberto."

Em Julho de 2011 a proposta do conselho constitucional é entregue ao Parlamento. Terá de ser aprovada pelos deputados antes das próximas eleições, daqui a um ano. E de novo pelo parlamento que se lhe seguir. Segundo a proposta, 10% da população pode impor um referendo, a impopular candidatura da Islândia à adesão à União Europeia (apenas 17% a defendem) tem de ser referendada e os recursos naturais que ainda sejam públicos não podem ser privatizados.

Feito o caminho pela estrada que atravessa a desoladora e repetitiva paisagem em volta da cidade, é difícil perceber que chegámos a um edifício oficial. Três pequenas casas brancas. Nem um único polícia. Toca-se à campainha e um funcionário, de calças de ganga, abre a porta. Lá dentro, seria a casa discreta de uma família de classe média endinheirada. Entramos na pequena biblioteca. E lá chega um velho alto e afável. Só quando começa a entrevista percebemos que não estamos perante um simpático avozinho nórdico. E percebe-se porque é que, apesar do terramoto, este é um dos poucos homens em que os islandeses ainda têm alguma confiança. Foi dos poucos que percebeu o que significavam as inéditas manifestações de 2008 e 2009.

Depois da bancarrota, dois dos três gigantes falidos conseguiram, apesar de tudo, pagar aos seus depositantes estrangeiros. O problema mais complicado de resolver estava nas mãos do Landsbanki e da sua criação no mundo virtual: o Icesave. E mesmo este banco começou, recentemente, a pagar o que devia. Ao contrário do que geralmente se julga, a questão nunca foi se as dívidas eram pagas. Mas quando e por quem. Só que os governos do Reino Unido e da Holanda não esperaram. "Apressaram-se, pagando aos depositantes dos cofres dos seus Estados, na convicção que poderiam enviar a conta para os contribuintes islandeses", explica-nos o Presidente da Islândia. Quando o novo governo se preparava para, como todos os restantes, pagar a conta, Ólafur Grímsson fez o impensável: marcou um referendo. E nunca um político pareceu tão isolado como então: "Todos os governos europeus, todas as instituições financeiras e quase todas as forças com poder no meu próprio país, incluindo o governo e a maioria do Parlamento, foram contra a minha decisão". Os avisos vieram: "Ficaríamos isolados durante décadas. Seríamos a Cuba do norte. Nunca mais ninguém quereria fazer negócios connosco. Nada disso aconteceu. Três anos depois da crise estamos a caminho da recuperação." Apesar dos dramas de milhares de famílias endividadas, o desemprego anda próximo dos 7%, alto para a Islândia mas muito baixo para a generalidade dos países em crise. O crescimento do ano passado foi de 3%, o deste ano andará pelos 2,5%. O FMI já se foi embora, com as contas fechadas e mais nada para fazer.

Grímsson estava determinado: "Não vamos ter um sistema onde os bancos podem funcionar como querem. Se tiverem sucesso, os banqueiros recebem enormes bónus e os seus acionistas recebem o lucro, mas, se falharem, a conta será entregue aos contribuintes. Porque serão os bancos tão sagrados para lhes darmos mais garantias do Estado do que a qualquer outra empresa?"

Os islandeses foram votar e nem o establishment político teve coragem de enfrentar a fúria popular. O resultado foi esmagador: 92% votou "não". Nascia assim o perigoso exemplo islandês. Como reação, o Reino Unido aplicou uma lei antiterrorista para acabar com todas as transações com a Islândia, pondo-a numa lista ao lado dos talibã e da Al-Qaida.

Cidades fantasmas

Em Hafnafjördur, a sul de Reiquiavique, há cidades sem cidade. Ruas, rotundas, cadeeiros. Tudo o que o espaço público precisa. Mas sem prédios nem casas. Apenas o mesmo cenário lunar de sempre. Até que começam os prédios. Quase todos vazios. Uma cidade fantasma que nos conta a tragédia islandesa. O dinheiro era barato e as construtoras nasciam como cogumelos. As autarquias planearam um crescimento urbano que nem o mais empenhado labor demográfico islandês poderia garantir. Fizeram-se as estradas e, em muitos casos, fizeram-se os prédios. Isto foi em 2007. Em 2008 rebentou a crise. E aquilo ficou ali, congelado, a lembrar a loucura de outros tempos.

Mas na casa de Hugrún e do seu marido Gudfinnur a densidade populacional é maior do que eles desejariam. Três crianças correm pela casa, moderna mas acanhada. Há apenas dois quartos. Um para eles e para os dois mais pequenos. Outro para o mais velho. A crise marcou definitivamente o seu futuro. Em 2005 compraram um apartamento. Pediram um empréstimo. Metade em moeda estrangeira. Dos 13 milhões que receberam ficaram a dever mais de 21 milhões. Tiveram sorte: conseguiram vender o apartamento apenas um pouco abaixo do que a dívida. Ainda havia a do carro e outros empréstimos pessoais. "Saía tão barato", explica Hugrún, "eles telefonavam a toda a hora a oferecer dinheiro".

Com grande parte das dívidas pagas, não sobra dinheiro. Ela não tem emprego, são três crianças e uma casa pequena. Comprar outro apartamento? Só pedindo um empréstimo. Nunca mais. E para alugar um maior não há dinheiro. Apesar de aos bancos sobrarem casas (já ficaram com cerca de três mil), não arrendam mais barato nem vendem, para não fazerem cair os preços e perderem assim o valor do seu património. Como a procura aumentou, arrendar é agora ainda mais caro. Solução? Vão, como muitos, para a Noruega.

Turismo, peixe e Internet

Volta-se ao centro de Reiquiavique e o ambiente dá algumas razões para otimismo. Partem, a todas as horas e de todos os hotéis, autocarros cheios de turistas para as muitas atrações naturais da Islândia. Com a queda da coroa os islandeses perderam e ganham. Perderam nos seus empréstimos, nos seus salários e na compra de produtos importados. Ganharam nas exportações e no turismo. Um fenómeno de Verão passou a ser uma das principais fontes de receita todo o ano.

Um dos principais destinos é a Lagoa Azul. Uma piscina natural com temperaturas acima dos 30 graus. É um dos principais cartões postais da Islândia. Quando se sai da água é quase impossível aguentar muito tempo sem um abrigo: o vento gélido empurra-nos para a água quente de novo. Mas um pequeno chinês resiste, tremendo num canto, para tentar acender um cigarro. Li, um comerciante de Xangai, representa o jackpot de oportunidades que a crise trouxe à Islândia. Não é apenas turista. Veio em negócios. Habituado a exportar, é a importação que o traz à ilha. Com a queda da coroa e um yuan forte o negócio do peixe promete ser rentável. "Eles têm muito peixe, nós temos muitas bocas".

Mas nem só de comida vive o mundo. E os islandeses descobriram a segunda principal necessidade humana: o divertimento. Quando a CCP nasceu, em 1997, eram apenas três jovens ambiciosos. Hoje são 590 funcionários. Metade está em Reiquiavique. Os restantes em Atalanta, Xangai e Newcastle. Metade dos funcionários da sede são estrangeiros. Os outros islandeses. Tudo roda à volta de um jogo. Espalhados por todo o mundo uma horda de fanáticos de "Eve Online" garante o crescimento da empresa. 300 mil jogadores registados. É quase a população da Islândia. O suficiente para serem hoje a maior empresa instalada no porto de Reiquiavique.

A sede da CCP corresponde a todos os clichés das empresas de IT. Quase todos jovens. Gente de todo o mundo. Um ambiente descontraído. Mesas de bilhar e de pingue-pongue. Para além do refeitório, um médico, um massagista e um cabeleiro vão lá todas as semanas. Não se recebe maravilhosamente. Mas paga-se em euros, o que é uma enorme vantagem na galopante inflação que a Islândia tem conhecido nos últimos três anos. Como as receitas são em divisa estrangeira e o mercado não está na Islândia foram pouco afectados pela crise. E algumas coisas até melhoraram. "Depois da crise muita gente perdeu o emprego e decidiu dedicar-se ao que gosta, por isso passámos a ter aqui mais mão de obra disponível", explica Eldar Astthorsson, o relações públicas que veio da indústria musical. O país tem, segundo Eldar, tudo o que esta indústria precisa para crescer: um excelente sistema de ensino e um ambiente criativo fervilhante. "A indústria de IT não cresce num país onde não haja muita atividade cultural tradicional. É a ela que vamos buscar os músicos, os guionistas, os estilistas, os desenhadores e os realizadores que fazem os nossos jogos. Os computadores não chegam para garantir a indústria de entretenimento."

Está então resumida a saída para Islândia: peixe, turistas e Internet. Têm tudo o que é preciso. Peixe em abundância. Energia e água de graça, garantidas pela natureza. Beleza natural, com exotismo quanto baste. Nada disso, independentemente da crise, se vai embora. A coroa barata e uma população extraordinariamente educada fazem o resto.

A enorme decepção

As vivendas com jardins relvados fazem lembrar os filmes de Hollywood sobre a pacata vida suburbana. Elisabet apanha algum lixo perdido em frente à sua casa. Sveinn está lá dentro. Recebem-me como sempre: um sorriso aberto e um pedido que me descalce à porta. O porteiro é um pequeno duende de louça. No jardim, um velho barco espera arranjo. Com 75 anos, Sveinn pode estar reformado, mas não se esquece da sua profissão de quase sempre: carpinteiro de embarcações. Elisabet, com 73, era professora de culinária. Uma arte que, definitivamente, não está no ADN dos islandeses. Basta provar o tubarão podre com cheiro a amoníaco que é o pitéu nacional para o perceber. Sentamo-nos à mesa. Elisabet faz as despesas da casa. É ela que tem algum passado de empenhamento político. E, quando foi a revolução, voltou à carga. Participou nos inúmeros debates públicos. Propôs várias emendas à constituição. Uma passou: a linguagem gestual será uma das línguas oficiais na Islândia. Só perde o sorriso quando falamos dos políticos nacionais. Levanta-se num esbracejar indignado. Sveinn tem gestos mais curtos. Sobretudo quando se fala de Davíd Oddsson, antigo governador do banco central. Com o dedo indicador traça um risco no pescoço. Guilhotina, portanto. Quando toca a falar do futuro da Islândia, não hesita: "Faremos o mesmo de sempre: vamos à pesca. Os portugueses vão continuar a comer bacalhau, não vão?"

"É verdade que muita gente gastou dinheiro que não tinha", diz Sveinn, "mas a maioria foi enganada". Porquê? "Era a mensagem que os bancos e o governo passavam para toda a sociedade: Gastem!" Nem a mudança de governo reconciliou Elisabet com os políticos: "Esperava melhor. Prometeram muito. Não fizeram nada. As estatísticas não contam. Se toda a gente levantar os seus depósitos vamos para a bancarrota." Da primeira-ministra, acha que "baixou as calças". "Começou bem, mas agora é como se tivesse uma pistola apontada à cabeça". À sua ira sobrevive apenas o Presidente: "não teve medo de enfrentar a Icesave, fala bem, é educado e conhece os problemas". A quase unânime impopularidade do atual governo devolverá o poder ao Partido da Independência? Não acreditam.

O parlamento, perante a ira pública, reavivou um velho tribunal para governantes (Landsdómur) para julgar as responsabilidades políticas desta crise. O ex-primeiro-ministro Geir Haarde sentou-se no banco dos réus. E ouviu, no dia 23 de Abril, o veredicto: inocente de três das quatro acusações. Culpado por não ter mantido os seis ministros adequadamente informados. Nada que espante os islandeses. Quase todos acham que ele não passava de um bode expiatório e que muito mais gente deveria ser julgada. E será. Um outro processo, que avança pelas mãos de uma Procuradoria-Especial para os Crimes da Banca, irá julgar responsáveis por instituições financeiras. Mas há muita impaciência. Thóra explica porquê: "Sim, fomos os únicos na Europa a processar alguém. Estamos contentes com isso. Mas apenas um foi condenado". Reconhece a dificuldade da coisa: "Somos muito pequenos. Toda a gente é amiga de toda a gente. Claro que isto tinha de ser corrupto." Para Elisabet, os julgamentos, assim como o referendo, ajudaram a acalmar as pessoas. Mas servem de pouco. "Ninguém irá para a prisão", diz ela. Sveinn discorda: "alguma vez acontecerá". E enumera, com os dedos, os que quer ver atrás das grades. Os dedos das duas mãos esgotam-se. Quase tudo banqueiros. Reconhecem os dois, no entanto, que os islandeses foram os únicos a ir tão longe na responsabilização dos culpados. "Mas podemos espremer mais os poderosos", diz ele.

Stanislav resume o que quase todos pensam: "O governo de Geir Haarde teve todos os sinais. Tinha toda a informação. Não fez nada. O novo governo teve boas ideias no início. Agora não faz nada". Ou seja: não sobra, da velha política dominada por quatro paridos, quase nada que dê esperança aos islandeses. E é isto que os parece deixar à deriva. Gulla é menos condescende com os seus concidadãos: "Esperavam que, com um governo de esquerda, não houvesse cortes e agora culpam todos os políticos, todos os que tenham experiência. É popular quem não é político. Estavam habituadas ao bom demais e agora é mais fácil culpar os governos." E os não políticos, ou quem nunca teve responsabilidades governativas, parecem ser os únicos a quem as pessoas dão ouvidos.

O comediante, a estrela da TV e a economista

Jon Gnarr recebe-nos no seu gabinete, com uma enorme janela para o Lago de Reiquiavique. De fato, colete e um corte de cabelo um pouco excêntrico, não se diria um político comum. Porque não é. Gnarr foi um dos primeiros efeitos colaterais da crise, que se abateu sobre todos os políticos tradicionais. O "Melhor Partido", que não tem nem militantes, nem direção, nem programa, venceu as eleições autárquicas de Reiquiavique, apesar de prometer coisas tão prosaicas como toalhas gratuitas nas piscinas e um urso polar no Zoo. Antes de ser presidente de Câmara, Gnarr era o mais popular comediante da Islândia. E, fazendo rir, desalojou o todo poderoso Partido da Independência da Câmara Municipal da capital.

Diz que não é político. Como pode um presidente da câmara da capital não ser político? "Se eu for viver para Bélgica quando é que me torno um belga? Só quando as pessoas começarem a dizer: ah, agora já começas a comportar-te como um belga." Aceita o seu papel: "fui uma opção com graça, inofensiva e pacífica aos políticos previsíveis." E explica a inexistência de futuro na sua nova carreira: "Sou como o foguete que lança a nave. Provoca muito barulho e luz, mas explode quando deixa de ser necessário. Só que a nave continua o seu caminho."

Gnarr está longe de ser a única excentricidade da nova política islandesa. O Presidente, graças ao seu papel no referendo, é um dos poucos políticos populares no ativo. Mas nem ele escapa ao terramoto. Numa eleição que costuma ser um "pro forma", arrisca-se a perder nas urnas. Uma sondagem indica que está empatado com a candidata sensação do momento: Thóra Arnórsdóttir. É jornalista e apresentadora de televisão. O que pensa Thóra sobre a situação política, social e económica da Islândia? Ninguém sabe. Melhor: todos sabem. "Não pensa nada". Mas é simpática e o Presidente está lá há 16 anos. Nos corredores da política sabe-se que a candidatura de Thóra é vista com bons olhos pelo governo. Não fará ondas.

Num país que foi durante muitas décadas governado pelas mesmas pessoas, onde poucas famílias dominaram as empresas, os media, onde o nepotismo e a corrupção o distingue dos restantes nórdicos, a crise abalou todas as estabilidades políticas. Nasceram novos partidos. Os velhos, que continuam ao leme, ficaram mais fracos. Surgiram novos rostos que a política desconhecia e que desconheciam a política. Gnarr é a parte burlesca disto. Thóra a parte desconcertante. Mas surgem novas estrelas, um pouco mais consistentes. Lilja Mósesdóttir é hoje uma das deputadas mais populares. Provavelmente a única. Saiu da Esquerda-Verde em confronto com as grandes escolhas do novo governo, dirigido pela Aliança Social-Democrata e pelos ecologistas. Está a formar o Solidariedade, mais radical. Nas sondagens, já teve 20%. Agora tem 9%. Mas, na autêntica montanha russa que é a política islandesa, e quando metade do eleitorado não sabe em quem vai votar ou se vai votar, pode bem voltar a subir. Ou a descer tanto que, como diz a sua líder, nem vai a votos. Uma coisa é certa: na Islândia, todos conhecem a professora de economia que, caloira no parlamento, faz as despesas da oposição de esquerda. E mesmo os que acham demasiado radical dizem, sem hesitar, que a respeitam. Até porque foi, como académica, das poucas a avisar para a caminhada que a Islândia fazia para o abismo.

No minúsculo gabinete que o Parlamento reserva para os deputados independentes, Lilja explica-nos a sua ruptura com a primeira maioria de esquerda a governar a Islândia: "É verdade que as coisas podiam estar bem piores, mas são pessoas normais é que estão a carregar o fardo da crise. As caras no sistema bancário são mais ou menos as mesmas." E sobre a aparente boa situação económica, põe água na fervura: "para conseguirmos pagar as nossas dívidas temos de ter um crescimento de 4% e não estamos a conseguir." Thórólfur Matthíasson, adversário de Lilja no debate económico, responsabiliza a oposição pela impopularidade do governo: "O partido que construiu as fundações para este colapso e que tem feito um discurso populista, em que critica os acordos que antes defendeu, está com 35% nas sondagens. Podemos voltar para o mesmo de sempre."

A Islândia foi dos poucos países a recusar-se a pagar, com o dinheiro dos contribuintes, a dívida de um banco. Os empréstimos, graças a decisões da justiça e do governo, acabaram por descer. Prepara-se uma revisão constitucional. Um ex-primeiro-ministro foi julgado. Vários responsáveis pela crise financeira aguardam julgamento. O desemprego está abaixo da maioria dos países atingidos pela crise. Tem um crescimento acima dos restantes países europeus. O FMI já se foi embora e o Estado Social foi, no essencial, poupado. Três anos depois da Islândia ter vivido, tendo em conta a sua dimensão, a maior crise financeira de que há memória no Mundo Ocidental. E, apesar de tudo isto, os islandeses olham com espanto para quem os vê como exemplo. E estão frustrados e zangados com o primeiro governo de esquerda. Difícil de perceber? Thóra tenta explicar: "O anterior governo caiu por causa de nós e isso deu-nos a sensação de ter poder. Reconheço tudo: que podíamos estar muito pior, que há julgamentos, que, ao contrário de outros, não usámos o dinheiro dos contribuintes para salvar bancos. Mas julgávamos que isto ia muitíssimo mais longe." Sim, talvez sejamos mimados." E pela primeira vez deixa-se abater. "Não, não se trata de mimo", responde Lilja, no seu pequeno gabinete parlamentar: "A esperança foi muita. E o governo está a fazer o mesmo que o Partido da Independência faria: até querem privatizar energia."

Talvez o melhor seja ir procurar um olhar mais distanciado. Para lá das desavenças políticas do momento e do desespero de quem esperava muito mais.

Descemos a pequena colina atravessada pela principal artéria da cidade. Uma rua estreita, cheia de pequenos edifícios com as melhores lojas da cidade. Onde desfilam luxuosos jeeps comprados no tempo da fartura. Ao meu lado, Einar Már Guomundsson faz de cicerone. Aponta uns pequenos becos. Mesmo no começo da Bankastraeti (Rua dos Bancos), onde já não existe banco nenhum. É o número zero, diz ele. E foi aquilo que deu o título ao seu último livro: "Bankastraeti Núll" (Rua dos Bancos, número zero). Uma ácida provocação ao papel das instituições financeiras na crise. Quem é de Reiquiavique percebe. A expressão tem uma tradução no calão local: urinar.

Einar Már é o mais importante escritor islandês vivo. Este ano recebeu o Prémio da Academia Sueca, conhecido como o "Pequeno Nobel". Foi uma voz fundamental nas revoltas de 2008. Sentamo-nos num dos principais cafés da cidade. Pede o de sempre: um termo de café que vai esvaziando ao longo da conversa. As circunstâncias podem tê-lo transformado num ativista, mas mantém o otimismo e é muito menos severo com o atual governo, "que tem contra qualquer mudança todos os grandes poderes". O seu principal erro? "Quando os sindicatos americanos exigiram mais a Roosevelt, ele respondeu: rapazes, eu não posso fazer isso por vocês, mas vocês podem obrigar-me a fazê-lo. O nosso governo disse o contrário: vão para casa, não nos perturbem." Mas está longe de desvalorizar o que se conquistou: "Fomos uma espécie de laboratório, onde tudo foi muito nítido. E fomos capazes de lutar e mostrar alguma solidariedade. Não achámos o paraíso e a verdade absoluta. Mas pelo menos refrescámos qualquer coisa que estava perdida."

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