quarta-feira, 17 de abril de 2013

Alemanha: DIREITA COM PEDIGREE




A principal bandeira do novo partido que acaba de nascer na Alemanha, o ‘Alternativa para a Alemanha’, pede o ‘o desmantelamento ordeiro da Zona do Euro’. A maioria de seus membros são egressos do partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU). Mas há também gente do FDP, correligionário da chanceler no governo, e até do SPD.

Flávio Aguiar - Carta Maior

Berlim – Na Alemanha quem tenha um título universitário de doutor para cima deve – não apenas pode – integrá-lo a seu nome nos documentos oficiais, como carteiras de identidade, passaportes, e outros. Assim aqui meu nome próprio seria Dr. Flávio Wolf de Aguiar, a que eu poderia juntar “Professor” invocando minha posição brasileira ou fazendo um concurso para titular aqui, sendo que “Professor” é uma designação reservada para o estamento universitário. Os outros são meros “Lehrer” e “Lehrerin”, embora às vezes possam até ganhar mais do que aqueles.

Esta titulação tornou-se tema de debate por causa de sucessivas acusações de plágio nos seus doutorados, algumas comprovadas, contra políticos alemães, sendo a mais notória a do ex-ministro do Interior, Karl-Theodor Zu Guttenberg, e a ex-ministra da Educação(!), Annette Schavan, ambos do partido de Ângela Merkel, que perderam seus títulos e seus cargos.

A desmoralização chegou a tal ponto que corria por aqui uma piada, sobre alguém que pretendia candidatar-se a algo, prefeito, primeiro-ministro, etc. “Qual a sua qualificação?”, pergunta o presidente do partido em questão. “Ele(a) não tem doutorado”, responde o secretário. “Ótimo, então pode”, treplica o primeiro...

Mas agora o título está em alta novamente. É que no último fim de semana criou-se oficialmente um novo partido, o “Alternative für Deutschland”, Alternativa para a Alemanha https://www.alternativefuer.de/

Dos 83 primeiros signatários da carta de fundação e de intenções, 57 – quase 64% – ostentam orgulhosos prefixos titulados em seus nomes: “Dr.”, ou “Prof. Dr.”. É pedigree para ninguém botar defeitos. Entre os outros, destacam-se empresários, jornalistas e juristas de primeira linha, por exemplo.

A criação do novo partido, com 1.500 congressistas representando 7.500 inscritos, aconteceu numa das salas de reunião do hotel InterContinental Berlin. Segundo analistas, quase 70% de seus membros são egressos (ex-militantes ou ex-eleitores) do partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU). Mas há também egressos (desiludidos) do FDP, correligionário da chanceler no governo, e até do SPD. 

A principal bandeira deste novo partido, que já quer apresentar-se nas eleições nacionais de setembro próximo, é “o desmantelamento ordeiro da Zona do Euro”. Seus membros queixam-se da falta de democracia na zona da moeda, e, sobretudo, do fardo posto nos ombros dos contribuintes alemães pelas sucessivas “ajudas” a países endividados, como Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e mais recentemente, Chipre. A base daquela desarticulação da Zona do Euro seria o resultado, caso a proposta fosse vitoriosa, de sucessivos plebiscitos nacionais nos países abrangidos pela moeda.

Ao contrário de partidos de extrema-direita de outros países, como a Holanda e a Áustria, o novo partido não se apresenta como “nacionalista” (anátema na Alemanha) ou anti-imigrantes. Cautelosamente, prefere dizer, entre suas palavras de ordens, que reivindica uma política de “atração de imigrantes melhor qualificados”. O novo partido também se apresenta com o dedo acusador contra bancos, fundos de investimento e grandes investidores privados, afirmando em sua página na internet que eles é que devem pagar pela atual situação européia, já que são os grandes responsáveis por ela, o que não deixa de ter um certo “sex appeal” potencial para uma massa maior de possíveis adeptos.

Entretanto, não se pode fugir de vê-lo na esteira do sucesso de dois livros de impacto na cena alemã, ambos de Thilo Sarrazin: “A Alemanha que se autodestrói” e “A Europa não precisa do euro”, que tansformaram o já abonado autor em milionário quase da noite para o dia. Nestes livros Sarrazin, que, por isso perdeu seu cargo no Conselho do Bundesbank, abomina os imigrantes turcos, acusando-os de rejeitarem a integração na sociedade alemã, e afirma que o que faz a Alemanha colocar sua força financeira na ajuda a outros países da Zona do Euro é, sobretudo, seu complexo de culpa coletivo em relação ao Holocausto e à Segunda Guerra.

Também no horizonte do novo partido estão os 27% do eleitorado que dizem sentir saudades do velho marco alemão, numa mistura de nostalgia e de rejeição a um sentimento de responsabilidade por uma Europa que, para esta parcela, não segue um padrão adequado (alemão) de comportamento, voltado mais para a poupança e a morigeração, do que para o desperdício e até a ostentação. 

25% dos eleitores, em pesquisa feita durante o fim de semana, disseram que poderiam considerar o novo partido como opção sem setembro. Ainda assim, em pesquisa de intenção real de voto, apenas 3% confirmaram que votariam no Alternativa. Na mesma pesquisa, a CDU da chanceler aparecia com 39% (contra 41% em pesquisa anterior), o SPD com 26% (27% antes), os Verdes com 15% (14%), a Linke com 6% (8%) e o Partido Pirata com 3%, o mesmo resultado de antes. O FDP comparece com 5%, contra 4% na pesquisa anterior.

Se estes números mostram um potencial ainda relativo para o novo partido (a cláusula de barreira na Alemanha é de 5%), mostram também um potencial que pode ser um complicador para o governo de Angela Merkel. Não que seu partido possa cair muito. Porém, cada voto que seu correligionário de governo, o FDP, ganhe ou perca será vital para que ele ultrapasse ou seja barrado pela cláusula. Sem o FDP, a situação da chanceler periclita, porque o atual candidato a primeiro-ministro do SPD, Peer Steinbrück, declarou que de jeito nenhum fará uma composição com a CDU para formar um novo governo. Ainda que essa afirmação possa ser apenas um arroubo de campanha, por ora ela põe a espada de Dámocles sobre o pescoço do governo atual.

As reações ao novo partido variam. Políticos da CDU tentam minimizar suas propostas européias e seu possível impacto em setembro. Um líder da CDU declarou que a proposta de acabar com o euro é como querer recompor os ovos depois de ter feito a omelete. O editorial do jornal sensacionalista e conservador Bild considerou seus membros como “amadores”, lembrando o anátema lançado pelo político norte-americano sobre os aristocratas da reunião convocada por Lord Darlington em seu castelo para discutir a situação européia, no romance de Kazuo Ioshiguro e no filme de James Ivory, Os vestígios do dia. (Quem não viu, por favor dirija-se sem demora à locadora mais próxima. Ou baixe da internet. Se não leu, veja aqui)

Amadores ou não, aristocratas (do espírito, pelo menos) ou não, a fundação do Alternativa mostra que há uma elite burguesa ou classe média “high brow” na Alemanha que se sente isolada pela política da chanceler de falar duro e carregar a vara de marmelo da austeridade pela Europa afora e incomodada pelas reações que isso vem provocando. Uma das reclamações mais constante entre as lideranças do novo partido é a de verem seu governo e sua chanceler, nos cartazes das manifestações, associados ao antigo nazismo. E esse incômodo dá, certamente, pano para manga no meio ambiente político e cultural alemão. A ver se o novo partido – decididamente do campo conservador – vai conseguir costurar essas mangas no seu colete.

Fotos: www.tagesspiegel.de 

JUÍZA PORTUGUESA DENUNCIA FALTA DE ISENÇÃO DE TRIBUNAL TIMORENSE




SIC Notícias

A juíza portuguesa Margarida Veloso, antiga inspetora judicial em Timor-Leste, participou ao Conselho Superior da Magistratura (CSM) factos que considera indiciarem que os juízes que mantiveram a condenação da ex-ministra da Justiça timorense Lúcia Lobato não foram isentos.

Em causa está a decisão do Tribunal de Recurso de Timor-Leste que recusou  o pedido de 'habeas corpus' da antiga ministra da Justiça timorense Lúcia  Lobato, condenada a cinco anos de prisão por participação económica em negócio.

Fonte do CSM revelou à Lusa que decorre um inquérito ao caso em Timor-Leste  e que o conselho, respondendo a uma solicitação daquele país, destacou dois  juízes portugueses para dirigirem o processo de averiguações. 

Em carta datada de 27 de Fevereiro passado, a que a agência Lusa teve  acesso, Margarida Veloso comunicou ao vice-presidente do CSM, Bravo Serra,  e ao presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial de Timor-Leste,  o seu entendimento que as decisões relativas aquele processo "padecem de  erros jurídicos suspeceptíveis de contender com a Justiça, no caso concreto,  e com o sistema de justiça no seu todo".

A ex-inspetora relata que, após a decisão sobre o pedido de libertação  imediata (habeas corpus), recebeu um email de um juiz internacional, que  identifica na carta ao CSM, que conjugado com o teor das decisões tomadas  no caso Lúcia Lobato, a levam a concluir que "a independência dos tribunais"  de Timor-Leste "pode ser posta em causa". 

Margarida Veloso alerta que, atendendo aos factos referidos no email,  um dos juízes internacionais do caso (também identificado na denúncia) decidiu  a desfavor da antiga ministra sob ameaça de não ver o seu contrato renovado.

Segundo factos relatados, a ameaça de não renovação do contrato de um  juíz português terá partido de uma magistrada timorense, caso este decidisse  a favor da libertação de Lúcia Lobato, através da aceitação do pedido de  'habeas corpus'.
  
"Convém frisar que a gravidade dos factos não se circunscreve ao caso  concreto, e muito menos por a arguida ter sido uma destacada figura do anterior  Governo de Timor Leste, mas porque compromete de forma irremediável o sistema  judicial no seu todo, sobretudo num país em que o sistema de justiça está  numa fase embrionária e de consolidação", refere a carta enviada ao CMS  a que a Lusa teve acesso. 

Tendo sido inspetora judicial em Timor Leste durante três anos, Margarida  Veloso (desembargadora jubilada em Portugal), salienta que "não pode deixar  de denunciar a situação perante as entidades competentes e para os efeitos  tidos por convenientes". 

A juíza diz não encontrar justificação para aquilo que apelida de "erros  técnicos detetados", tanto mais que "qualquer dos magistrados tem experiência  e excecional qualidade técnica".
  
Nota ainda que a convocação de uma juíza timorense, que identifica,  se fez ao arrepio das normas que preside à composição dos coletivos junto  dos Tribunais de Recurso.

A antiga ministra da Justiça timorense, do Governo de Xanana Gusmão,  foi condenada a 8 de Junho a cinco anos de prisão pelo Tribunal Distrital  de Díli por participação económica em negócio relacionado com a compra de  fardamento para os guardas prisionais.


GUINÉ-BISSAU A UM PASSO DE SE TORNAR UM “ESTADO FALHADO” - Ramos Horta




MMT – MLL - Lusa

Maputo, 17 abr (Lusa) - O representante da ONU na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, considerou hoje, em Maputo, que o país está a "um passo" de se tornar um "Estado falhado", caso a instabilidade não tenha uma solução nos próximos tempos.

Falando aos jornalistas no final de uma audiência com o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), José Ramos-Horta descreveu a situação guineense como sendo de "extrema precariedade".

"Se o Estado existe para dar segurança, tranquilidade, saúde, educação, justiça às populações, então aí vemos que há extrema precariedade na Guiné-Bissau, daí para um Estado falhado é um passo", disse.

Ramos-Horta e Armando Guebuza discutiram a crise guineense.

Segundo José Ramos-Horta, o presidente da CPLP "prometeu estudar e encontrar formas de, no quadro da CPLP e da União Africana, tentar contribuir mais ainda do que já tem feito para ajudar a resolver o problema da Guiné-Bissau".

O antigo Presidente timorense acrescentou que a situação da Guiné-Bissau "continua extremamente delicada pela ausência de um roteiro político por parte da Assembleia Nacional, do Presidente interino, Governo e todos os intervenientes que indiquem luz ao fim do túnel visando à formação de um Governo mais incluso, com a participação do PAIGC".

"Não há nada em vista que nos garanta que esta situação vai ser resolvida nos próximos tempos", até porque, "por exemplo, não há data para a realização de recenseamento eleitoral, eleições presidenciais e legislativas até ao fim do ano, como foi prometido pelos guineenses aos chefes de Estado da CEDEAO", disse o responsável pelas Nações Unidas na Guiné-Bissau.

Contudo, referiu Ramos-Horta, "há razões para otimismo", até porque "a Guiné-Bissau não é uma Somália, não é Congo, é de muito menor dimensão, há apenas um impasse político. O Estado existe nominalmente e, por outro lado, há um povo magnífico, que, apesar de multiétnico, multilinguístico, multirreligioso, nunca houve guerras por causa destas diferenças".

De resto, disse, "o povo da Guiné-Bissau tem dado grande exemplo de civismo e é triste por quase vive alheio e desconetado com a elite política e militar", pelo que "as Forças Armadas têm que ser totalmente reorganizadas".

José Ramos-Horta garantiu que o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, está "totalmente sensível ao problema e está muito bem informado", sobre a crise guineense.

"O que é necessário agora é sensibilizar o Conselho de Segurança a fazer muito mais para evitar o pior na Guiné-Bissau", apelou.

O IMPERATIVO DA ESPERANÇA PARA A GUINÉ-BISSAU





Durante uma entrevista concedida ao Portal África 21, o diplomata timorense, José Ramos Horta, actual representante do Secretário Geral da ONU na Guiné-Bissau, disse estar ciente das dificuldades da sua missão, mas acredita que desta vez, com maior implicação da comunidade internacional, o país poderá virar a página da violência e da instabilidade. Com a condição das elites políticas guineenses se entenderem e aceitarem a ideia de um Governo inclusivo após as eleições gerais.

“A chave do futuro do país está nas mãos do povo e dos seus líderes. Hoje têm uma oportunidade única de ultrapassar os erros do passado e de procederem a um virar de página. Estou relativamente otimista, que com mais diálogo, com mais concertação com a ONU e desta com os outros parceiros internacionais, encontraremos uma estratégia comum para retirar a Guiné do ciclo de violência e de instabilidade. A situação guineense não é assim tão complicada, comparada com o Mali e a Somália. Depois da minha primeira semana de encontros em Bissau, em todas as capitais onde a seguir estive para harmonizar posições com os outros parceiros, constatei uma real vontade de apoiar a Guiné-Bissau. O secretário-geral das Nações Unidas, mesmo com as sérias preocupações relativas ao Afeganistão, Síria, Mali e à RD do Congo, ainda arranja tempo para procurar uma solução para a crise guineense. Tenho a sensação que os principais atores da crise, a classe política e os militares, parecem cansados e desgastados por estes constantes problemas. Assim, creio que a Guiné-Bissau possui um grande potencial para se tornar um oásis de paz e de prosperidade na sub-região. É certo que as suas Forças Armadas são pobres e desorganizadas e que o Estado é frágil e minado pelo narcotráfico, mas não enfrenta um conflito étnico-religioso nem a violência existente na Líbia ou no Mali. Vamos intensificar o diálogo e pensamos lançar os fóruns SRSG, isto é, debates temáticos promovidos pelo representante especial do secretário-geral das Nações Unidas sobre questões como a reforma e modernização das forças de Defesa e Segurança ou o papel da sociedade civil na democracia. Tencionamos ainda propor uma sessão aberta, em que queremos desafiar os guineenses a encontrarem um tema da sua escolha, algo nobre, consensual e com capacidade mobilizadora, como foi a luta de libertação nacional. Cabe agora aos intelectuais refletirem sobre esta proposta.

Em relação à difícil relação entre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e os actuais dirigentes do país, Ramos Horta disse que se a comunidade lusófona for coerente com a preocupação que manifesta com a crise e quiser ser solidária com o país, convinha de facto ter alguém no país. Por exemplo, uma personalidade de elevado perfil, ex-governante ou um general na reserva, disponível para assistir o país até à sua estabilização. Apesar da atual tensão com a Guiné-Bissau, a CPLP tem uma simpatia genuína pela Guiné-Bissau e alguns dos seus membros, como Brasil, Angola e Moçambique, têm recursos suficientes para sustentar este posto. Eu é que convidei o embaixador Murargy para vir tomar parte na reunião de reflexão e de concertação dos parceiros, incluindo os bilaterais, como Espanha, China e Rússia, a fim de adotarmos uma posição conjunta sobre o calendário político da transição, designadamente a questão da formação do Governo alargado. Cada parceiro identificará a área em que focalizará o seu apoio.

GUINÉ-BISSAU, O GOLPE FOI HÁ UM ANO




Eugénio Costa Almeida* – Pululu – 12.04.13

Passado um ano do Golpe de António Indjai a Guiné-Bissau mantém-se na mesma encruzilhada em que caiu com o Golpe, como recorda Raúl Braga Pires neste seu apontamento no blogue Mghreb/Macherek, no semanário Expresso.

Acresce a isto, o facto de um dos principais intervenientes no processo golpista, o almirante Na Tchuto ter sido detido em supostas águas internacionais (talvez tenha sido fora das 12 milhas mas foi, claramente, detido na zona económica exclusiva caboverdiana), por tropas norte-americanas e enviado, de seguida, para os EUA onde já está a ser ouvido em juízo sob acusação de tráfico de droga/estupefacientes e de ter participado na morte de agentes norte-americanos.

Só que, como recorda o jornalista Aly Silva, não é só Na Tchuto que é credor do mandato de captura internacional devido ao tráfico de droga. Há mais e têm proveniência na Guiné-Bissau.

E o que tem a droga a haver com o Golpe. Especula-se que muito dado que um está interligado com o outro. Acresce que há "demasiados" e "interessados" oficiais superiores no poderosos serviço militar Bissau-guineense.

O certo é que um ano depois o Golpe continua a fazer-se sentir e a comunidade internacional parece se ter desligado, de vez, dos assuntos Bissau-guineenses para mal dos poucos pecados deste povo lusófono, cada vez mais franco-crioulo,(ou não lá estivessem as ineficazes forças militares da CEDEAO lideradas por nigerianos e senegaleses).

E nem Ramos-Horta, representante oficial das Nações Unidas, parece conseguir que haja alguma evolução credível na actual situação política do País. talvez que a proposta de Patriota, MIREX brasileiro, possa vir a ter algum resultado.

Só que já foram várias as propostas nesse sentido e até hoje, nada!...

*Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Luanda: CHOVE NA GRANDE CIDADE




Luís Fernando - O País - hoje

Definitivamente, com provas e testemunhos que se estendem no tempo e replicam, Luanda, a capital da República de Angola, não é cidade para suportar cargas pluviométricas.

A chuva, esse fenómeno benfazejo que África inteira associa à fecundidade da terra – pressupondo mais alimentos e menos penúria -, assusta os luandenses que se encafuam num caótico pedaço de uma geografia como se os limites de Angola fossem já ali, a dois palmos do nariz. Seja muita ou pouca a cair, a cidade lida sempre mal com a água que do alto se precipita porque redunda, regra geral, em inundações e correntezas perturbadoras do ritmo de vida dos seus habitantes.

O passado sábado, 6 de Abril, foi mais uma daquelas jornadas de chuva com prejuízos monstruosos, tanto no plano físico como psicológico, amontoando-se as perdas humanas (mais de uma dezena, entre óbitos confirmados e pessoas desaparecidas) e os cifrões em casas destruídas, viaturas arrastadas, electrodomésticos a flutuar e mobiliário inutilizado. Vista de cima, a cidade mais parecia uma ilha naufraga atravessada por canais entupidos de lixo e imundice de todos os formatos e proveniências.

Se há uma mobilização geral que funciona, lembrando e, em grande medida, superando até os tempos delirantes da utopia comunista com as idas ao corte de cana, colheita de café ou a alfabetização de adultos, é claramente a chuva em Luanda: na periferia, os moradores socorrem-se do que existir por perto para se manterem à tona depois de atirados para ilhotas de isolamento; nas ruas o trânsito desacelera porque os buracos que se sabe ali estarem ganharam a opacidade que pode significar o fim do automóvel que se guia; os peões entregam-se à sorte da roleta porque tanto podem chegar a casa intactos como sugados pela tampa inexistente de um esgoto camarário; e até em insuspeitas e garbosas vias como a Marginal de Luanda o cúmulo de águas amedronta os mais temerários.

Não há indiferenças que valham na grande cidade quando o assunto é chuva, uma verdadeira e democrática partilha de dissabores. O que muda apenas será a proporção com que chegam aos ‘contemplados’ as chatices, sobrando o terror geralmente para os pior instalados.

Os relatos penosos que ficam como rescaldo deste recente acosso pluviométrico de Abril envolvem os vizinhos das linhas de água, as célebres valas de drenagem que transbordaram com uma fúria selvagem, sem tempo útil para planos de fuga. Há, como mágoa suprema, a vida perdida de uma criança de apenas dois anos que a queda de uma parede esmagou. 

Revistas as imagens que num repente se fizeram populares na media e nas redes sociais, mais o que se pode ainda verificar presencialmente depois de uma semana– charcos que persistem e lagoas que subiram de nível ou surgiram do zero -, poder-se-á arriscar o palpite de que, apesar de tudo, houve generosidade vinda sem que se saiba bem de onde, pois a violência das águas, a força da correnteza, o caos dos destroços em circulação e a surpresa dos buracos, das valas, das ravinas e dos deslizamentos de terra, poderiam perfeitamente ter multiplicado por muito mais os números da tragédia.

Ativistas querem nova investigação ao pagamento de dívida angolana à Rússia





Grupo de defensores anti-corrupção angolanos está a pedir à justiça de Angola e da Suíça para voltar a investigar um contrato que terá gerado lucros de dezenas de milhões de dólares a altas figuras da política angolana.

Há mais de doze anos que Andrew Feinstein investiga histórias de corrupção. Mas a história que o director da organização britânica Corruption Watch UK tem, neste momento, em mãos é um caso particular. "Este é um dos casos mais chocantes que já vi, em que políticos, membros do Governo e empresários duvidosos tiram proveito do tesouro do próprio país", afirma o especialista.

Esta terça-feira (16.04), juntamente com a associação angolana Mãos Livres, a organização de Feinstein publicou um relatório intitulado "Fraude em Altas Posições". Ambas as organizações dizem ter novos detalhes sobre o contrato que Angola assinou em 1996 com a Rússia para pagar 1,5 mil milhões de dólares de uma dívida inicial de 5 mil milhões de dólares que remontava à era soviética.

Presidente angolano beneficiou do caso de corrupção

"Em vez de pagar este dinheiro directamente, acreditamos que o Governo de Angola, incluindo altos funcionários que beneficiaram do contrato, arranjou forma de introduzir no acordo uma empresa intermediária, criada exclusivamente para esse objectivo". Mas uma grande parte da dívida não terá sido paga à Rússia, diz Andrew Feinstein. Segundo o director da Corruption Watch UK, uma das pessoas que beneficiou do dinheiro foi o Presidente angolano. "O presidente dos Santos beneficiou de mais de 36 milhões de dólares, segundo os registos que conseguimos reunir", diz Feinstein.

Estas e outras informações levaram a que um grupo de defensores anti-corrupção angolanos apresentasse uma queixa-crime na Procuradoria-Geral Federal Suíça, em Berna, para reabrir uma anterior investigação ao contrato da dívida de Angola à Rússia. A justiça suíça tinha posto de lado a investigação em 2004.

"Caso foi encerrado", dizem autoridades angolanas

Segundo o advogado angolano David Mendes, "em 2004", quando depuseram a queixa em Genebra "e também posteriormente em Luanda, os dados não eram muito conclusivos. Mas nesta altura, os dados são mais conclusivos."

David Mendes foi um dos signatários da queixa-crime apresentada em Berna e de uma outra apresentada também esta terça-feira em Luanda, sobre o mesmo processo.

A DW África contactou a embaixada de Angola na Suíça, para ouvir uma reacção à queixa-crime apresentada pelo grupo de angolanos à justiça suíça. Mas, por telefone, a embaixada recusou comentar o assunto, dizendo que teve conhecimento do mesmo através da imprensa. Segundo a embaixada, o caso foi encerrado em 2004.

DE OLHO EM MATÉRIAS-PRIMAS, ALEMANHA SE VOLTA PARA A AMÉRICA DO SUL




Deutsche Welle

Antes negligenciado, subcontinente é cada vez mais importante para o fornecimento de matérias-primas para a indústria alemã. Mas a concorrência é forte: EUA, Canadá e principalmente China.

Cobre e lítio do Chile, minério de ferro do Brasil, ouro do Peru: cada vez mais a indústria alemã se volta para a América do Sul em busca de matérias-primas. Nada mais natural, portanto, que tanto política como economicamente o interesse por parcerias na região seja, também, cada vez maior.

A ofensiva alemã começou no início deste ano, com a visita da chanceler federal Angela Merkel ao Chile. Ela participou da reunião de cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), em Santiago.

Até então, Merkel tinha demonstrado pouco interesse pela América Latina. Desde a posse, em 2005, ela havia visitado o subcontinente apenas uma vez. Três meses após a cúpula em Santiago, o segundo encontro já está na agenda: nesta quarta-feira (17/04), a líder alemã recebe o presidente do Equador, Rafael Correa, em Berlim.

Destino de investimentos

Chile e Brasil estão entre os oito maiores produtores de minérios do planeta. Juntamente com Canadá, Estados Unidos, Austrália, África do Sul, China e Rússia, são responsáveis por 50% da produção mundial de matéria-prima.

"Além do Chile e do Brasil, o Peru é muito atraente, pois é um país estável com um grande potencial de recursos", diz Peter Buchholz, chefe da Agência Alemã de Recursos Naturais (Dera, da sigla em alemão). Justamente por causa da alta concentração de algumas matérias-primas em poucos países, a estabilidade política é um fator crucial nesse mercado.

O interesse pela região parece estar apenas começando. Além de cobre, lítio e ferro, o subcontinente também tem imensas reservas de zinco, chumbo e metais usados na produção de aço, como manganês, cromo, níquel e molibdênio.

Conforme a Dera, a América Latina concentra 25% do investimento mundial para a descoberta de novos depósitos de materiais brutos. Só a América do Norte recebe mais investimentos: 26% do total. "Para toda a África flui apenas 15% do investimento mundial do setor. Esses números acentuam a grande importância da América Latina para a mineração e exploração", diz Buchholz.    

Em novembro de 2012, uma pesquisa realizada pela Confederação da Indústria Alemã (BDI, da sigla em alemão) mostrou que Brasil, China e Estados Unidos são os três maiores fornecedores de matéria-prima para a indústria do país europeu. Chile e México estão entre os dez primeiros. 

Dependência alemã

Ainda assim, a Alemanha precisa avançar na corrida por recursos naturais. "A Alemanha é dependente dos mercados internacionais de matérias-primas", explicou Buchholz.

Os maiores concorrentes são Canadá, Austrália, Estados Unidos e especialmente a China. Os asiáticos se tornaram o principal parceiro comercial de Brasil, Equador e Chile, com fortes investimentos em mineração. A maioria das empresas alemãs de mineração, ao contrário, encerrou as atividades nos anos 1990, devido à queda nos preços no setor. Desde 2003, elas tentam recuperar o terreno perdido.

Como consequência dessa situação, as empresas alemãs precisam se abastecer no mercado de commodities e estão sujeitas às flutuações de preços. De acordo com o Instituto Federal de Geociências, os gastos externos da Alemanha com matérias-primas subiram 25% em 2011, apesar de o volume de importação ter sido praticamente o mesmo.

Segundo a pesquisa da BDI, 61% das empresas esperam mais apoio político na questão. Pesos-pesados, como ThyssenKrupp, Bayer, Bosch, Volkswagen e BMW, formaram uma aliança para tratar do assunto, cujos primeiros resultados já são visíveis: desde o começo do ano, o governo alemão está concedendo mais garantias de empréstimo para projetos no setor. Além disso, as chamadas parcerias com países ricos em recursos naturais devem ajudar as empresas alemãs a encontrar potenciais parceiros comerciais nesses países.

Riscos para o meio ambiente

ONGs veem a corrida pelos recursos naturais com ceticismo. "O resultado é sempre a contaminação de rios e lençóis d'água e a poluição do ar", critica Pirmin Spiegel, diretor da organização católica Misereor, que recentemente divulgou o estudo Do minério ao automóvel, feito em parceria com a organização não governamental Brot für die Welt, ligada à igreja evangélica alemã. O estudo analisa a cadeia produtiva do setor de matérias-primas.

Diante de denúncias de violações dos direitos humanos e das más condições de trabalho, os autores defendem um maior controle sobre as empresas. "O governo alemão e a União Europeia devem obrigar as empresas a divulgar seu gastos com matérias-primas e a origem destas", diz Cornelia Füllkrug-Weitzel, presidente da Brot für die Welt.

Segundo ela, a defesa dos direitos humanos e a proteção ambiental são diretrizes essenciais para a sustentabilidade no setor de matérias-primas. Essas diretrizes, afirmou a diretora da Brot für die Welt, deveriam orientar a Alemanha na sua busca por parcerias em outros países.

Brasil – Massacre de Candiru: “ESCALEI MONTANHA DE CORPOS”





Massacre do Carandiru: ex-preso diz ter escalado “montanha de corpos”. Testemunha narra o massacre e diz que vítimas devem ter sido “pelo menos o dobro” dos números oficiais
Nesta segunda-feira (15), começaram a ser julgados 26 dos 83 policiais acusados de assassinar 111 presos no caso conhecido como Massacre do Carandiru. O julgamento acontece no Fórum da Barra Funda e deve durar 10 dias, de acordo com a promotoria.

Estão presentes 24 dos 26 réus. Um dos acusados alegou problemas de saúde o outro não teve o motivo da ausência divulgado pela advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende todos os réus. Os dois ausentes serão julgados à revelia.

Às 10h15, foram sorteados os jurados que compõe o corpo de sentença, seis homens e uma mulher. Os membros do júri tiveram uma hora para ler um resumo do processo, que contém 57 volumes, e, às 11h20, a primeira testemunha começou a ser ouvida. Era Antônio Carlos Dias, de 47 anos, que na época do massacre era um dos presos do 2º pavimento do Pavilhão 9. A pedido da testemunha, os 24 réus não puderam acompanhar o depoimento no plenário e tiveram que se retirar.

Em seu relato, o réu se emocionou e chegou a chorar. Dias afirmou que houve uma “troca de facas”, explicada por ele como um “conflito”, entre Coelho e o Barba, dois presos, o que originou uma briga generalizada entre dois grupos rivais dentro do Carandiru.

Após a primeira interrupção do juiz José Augusto Nardy Marzagão, a testemunha afirmou que a “cadeia não virou” – gíria utilizada para descrever quando os presos se rebelam e tomam o poder do presídio. Dias afirmou que esse tipo de conflito era “normal, todo dia tinha troca de facas”, não havendo motivo para a invasão policial.

“Tinha gente jogando bola e conversando na hora da briga, era normal, do nada a polícia entrou, não houve nem negociação. Causou surpresa”, afirmou Dias. O ex-preso contou que, quando a polícia começou a invadir o local, os detentos jogaram as facas e madeiras no pátio. Ainda nesse momento de invasão, segundo a testemunha, “houve uma correria para dentro das celas para se proteger, por medo da polícia.”

Dias relatou que quando chegou em sua cela haviam mais 4 ou 5 presos. Após se trancarem, eles escutaram “barulhos constantes, como se alguém batesse com madeira em uma lata, aí percebemos que eram rajadas de metralhadora.”

“Presenciei mortes”

Segundo a testemunha foram mais de uma hora de disparos, presos teriam se amontoado nas escadas tentando escapar dos policiais militares. De acordo com Dias, alguns detentos podem ter morrido ali mesmo, executados.

“Quando terminaram os disparos, eles recolheram os sobreviventes e mandaram descer nus para o pátio.” Nesse momento do depoimento, a testemunha se emocionou e começou a chorar ao descrever a cena seguinte. Dias explicou que os policiais fizeram um corredor, por onde os presos deveriam passar, antes de descer as escadas. “Fomos brutalmente espancados, quebrei o nariz com uma paulada.” Ainda de acordo com o relato, os policiais usavam facas para perfurar pernas e nádegas.

Ato seguinte, os presos se depararam com uma “montanha de corpos e tínhamos que passar por cima deles”, explica Dias. O depoente narrou a cena da execução de um dos presos à sua frente, que teria caído e sido morto em seguida. “Eu presenciei mortes.” Um grupo de presos foi separado para carregar os corpos dos mortos. Alguns carregadores teriam sido executados após a tarefa.

Questionado pelo juiz Marzagão sobre a presença de armas entre os presos, a testemunha afirmou que mesmo em cinco anos de reclusão, nunca havia visto qualquer arma de fogo dentro do Carandiru.

Pelo menos o dobro

Uma das divergências do processo é sobre o número de mortos, já que movimentos sociais, familiares e ex-detentos questionam o total divulgado de 111 vítimas. “Esses eram os que tinham família e visita regular. Quem não tinha foi descartado como lixo”, afirmou Dias, para quem o número de assassinados chega a “pelo menos o dobro. Demos falta de mais presos.”

Após o juiz inquerir Dias, o promotor Fernando Pereira da Silva fez algumas perguntas e se preocupou em traçar o perfil da testemunha, com questionamentos sobre o motivo que o teria levado ao Carandiru. “Fui torturado para confessar um crime”, alegou ele, que foi preso por um assalto a mão armada.

Dias afirmou que recebeu 8 anos e 4 meses de pena pelo crime e deveria ter cumprido apenas um sexto, ou 1 ano e 8 meses, porém, cumpriu 5 anos, de 1992 até 1997. A testemunha estava no Carandiru há apenas 20 dias quando ocorreu o massacre.

Responsável pela defesa dos 26 réus, Ieda Ribeiro de Souza interrogou a testemunha, mas fez poucas perguntas e foi repreendida pelo juiz por conta das diversas vezes em que interrompeu as respostas de Dias.

O processo

Segundo o Ministério Público (MP), no dia 2 de outubro de 1992, os 26 policiais que estão sendo julgados invadiram o segundo pavimento do Pavilhão 9 do Complexo do Carandiru e executaram 15 presos.

Esse é o primeiro de pelo menos quatro blocos de julgamentos que devem ocorrer até o final de 2013, quando todos os acusados devem ser julgados. O deputado estadual Major Olimpo (PDT), esteve no Fórum Criminal da Barra Funda para cumprimentar os réus antes do julgamento. O parlamentar preferiu não julgar se o governador à época, Luiz Antônio Fleury Filho, deveria ser acusado pela morte dos 111 presos. “Não sei se ele deveria ser réu, ou não. Mas ele mesmo afirmou para toda a imprensa que se tivesse tido conhecimento, determinaria a invasão. Talvez a responsabilidade maior seja da falta de estrutura carcerária no país todo.”

Igor Carvalho, Revista Forum

O BRASIL NÃO ANDA, PULA




João Almeida Moreira - Dinheiro Vivo, opinião

Comportamento gera comportamento. Tal como a corrupção, a ética é contagiosa. E chegou ao Brasil.

Só se pode entender a coluna do aclamado Arnaldo Jabor no jornal O Estado de São Paulo intitulada “Não Acontece Nada Neste País” na perspetiva daquela mãe que, por conviver com o filho todos os dias, não se apercebe do seu crescimento a não ser quando ouve o habitual comentário – “ai, ele deu um pulo!” – de quem vê de fora.

Ora quem vê o Brasil de fora (ou pelo menos distanciado) não tem dúvidas: no Brasil, o que não falta são acontecimentos – aliás, o Brasil, mais pibinho, menos investimento estrangeiro, está a acontecer agora, todos os dias.

A um emigrante recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outros exemplos de precipícios sociais, a quantidade de empregadas, internas ou não, das chamadas classes A e B: são 6,5% da população ativa brasileira contra 0,3% da europeia. Dos subúrbios para os apartamentos dos patrões nas zonas nobres, as domésticas percorrem dezenas de quilómetros de madrugada para servir o “café da manhã” e fazem 12 horas depois, já noite alta, o percurso inverso, após servir o jantar. Não têm horário fixo, nem limite de horas de trabalho, nem direito a horas extraordinárias, nem um adicional por trabalho noturno, nem direitos em caso de demissão.

Não tinham. Este mês, uma proposta de emenda da Constituição vai revolucionar a relação das domésticas com os seus patrões. “Um marco civilizatório”, resumiu a revista Veja.

A um emigrante recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outras impunidades, a impunidade dos condutores de automóveis. Segundo um discutível princípio legal, os condutores podem recusar o bafómetro (teste do balão, em Portugal) porque ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio. Uma advogada apanhada recentemente pela TV a acusar de arbitrariedade um polícia por ele insistir no teste, enquanto cambaleava de chave do carro na mão, foi um episódio patético e paradigmático. Além dos anúncios para prevenir o álcool na estrada, com uma personagem grotescamente simpática, o Zé Trombada, que guiava aos ziguezagues por uma autoestrada como se o assunto fosse brincadeira e não causa de morte de milhões no país (veja o vídeo aqui).

Portugal: ENCONTRO TROIKA-PASSOS COM SEGURO FOI MAIS UMA CENA DE VÍGAROS




"Não houve nada de novo, Governo e troika insistem na austeridade" - Seguro

Notícias ao Minuto

Em conferência de imprensa na sede do PS, António José Seguro falou, esta quarta-feira, sobre os encontros que teve com o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, em S. Bento, e com os representantes da troika, revelando que, “no essencial, não houve nada de novo nas duas reuniões”. Seguro reiterou ainda a necessidade de mudar a política de austeridade que tem sido seguida, com uma aposta numa agenda para o crescimento e emprego.

No Largo do Rato, na sede do PS, António José Seguro revelou, esta tarde, que, “no essencial, não houve nada de novo nas duas reuniões” que teve hoje com o primeiro-ministro, Passos Coelho, e com os representantes da troika, salientando que “tanto o Governo como a troika insistem na via da austeridade”. Uma política que, sublinhou o socialista, “não atinge nenhum dos objectivos do memorando, provoca mais desemprego, uma espiral recessiva e o empobrecimento do nosso País”.

Questionado sobre o convite feito por Passos Coelho, o líder socialista afirmou que não só o PS como “todo o País ficou surpreendido pela iniciativa do primeiro-ministro”, frisando porém que o convite “significa apenas que da parte do Governo houve uma mudança de atitude”, lembrando que “depois de conhecidos os resultados de 2012, e avaliação de 2013, o PS teve oportunidade de escrever à troika, de agendar um debate de urgência no Parlamento, mas da parte do primeiro-ministro houve sempre uma indisponibilidade para aceitar as propostas do PS”. Propostas essas que, Seguro garantiu ter “reafirmado” no encontro com Passos.

"O PS não apoiará medidas que visem desmantelar o Estado social, defende a renegociação das nossas condições de ajustamento com o objectivo de o país dotar-se de um programa realista e credível, tendo em conta as consequências sociais (o desemprego) e económicas. Reafirmo a necessidade de o nosso País se dotar de uma agendas para o crescimento e emprego", frisou o secretário-geral do PS, sustentando que Portugal tem de estabilizar a sua economia "investindo, garantindo financiamento a taxas a juros adequados para as nossas empresas e políticas de fomento da procura interna", disse. Neste contexto, António José Seguro disse ter reafirmado "o objectivo nacional de Portugal de regressar aos mercados", frisando que "tudo faremos para que tal aconteça, tal como tudo fizemos para que o País beneficiasse de mais tempo para o pagamento de parte da ajuda externa", acrescentou.

O líder do PS esclareceu também que há duas formas de submissão à troika: “submetermo-nos ao que a troika quer aplicar”, ou seja, austeridade; ou demonstrarmos "à troika que a política que está a ser aplicada não produz resultados objectivos”, como provam “o défice e dívida acima do previsto”, e “provoca menos economia, destruição do aparelho produtivo e desemprego”.

Contudo, destacou Seguro, “ao olhar para isto a troika tenta corrigir a via da austeridade. Ora não há possibilidade, o que há necessidade é de mudar de caminho” e essa mudança deve ser feita “ao nível da zona euro e da União Europeia”, defendendo que “a actual política europeia não é amiga da economia”.

No final de cerca de 30 minutos de conferência, António José Seguro recordou ainda que "desde o início o Governo ignorou os nossos alertas e fomos sempre, sempre ignorados, até ontem (terça-feira)", sublinhando que durante esse tempo "perdemos dois anos".

Governo não está de "boa-fé" para "obter acordo que nunca procurou" - Seabra

Notícias ao Minuto

O deputado socialista Manuel Seabra afirmou esta quarta-feira que só rompendo com a austeridade a maioria poderá contar com o PS, acusando o Governo de não estar "de boa-fé" ao chamar o PS para "obter o acordo que nunca procurou".

"De uma vez por todas, rompam a austeridade. E aí, sim, senhores deputados, poderão contar com o PS", afirmou Manuel Seabra.

O deputado do PS falava durante o período de declarações políticas no plenário da Assembleia da República.

Cerca de meia hora antes do início da conferência de imprensa do secretário-geral do PS, António José Seguro, agendada para as 17h00, depois de se ter reunido com o primeiro-ministro e, depois, com a troika, Manuel Seabra disse que os socialistas não estão mais disponíveis a "compromissos com a austeridade".

"Não está de boa-fé quem nunca chamou o PS para negociação, não está de boa-fé quem sempre entendeu que o PS era dispensável, não está de boa-fé quem fez solenes declarações de objecção às alternativas socialistas e depois, por simples imposição da ‘troika', quer obter do PS o acordo que nunca procurou", defendeu.

"Devo dizer que, fossem outros os caminhos, e por imperativo nacional sempre acederia à negociação", sublinhou.

*Título PG

EUA: SUSPEITO DA AUTORIA DAS EXPLOSÕES EM BOSTON (JÁ) FOI PRESO





As autoridades norte-americanas terão já detido um dos suspeitos que estará por detrás das explosões que ocorreram em Boston na passada segunda-feira, avança a CNN.

O FBI terá conseguido identificar um dos suspeitos dos atentados em Boston, que causaram a morte a três pessoas, entre elas uma criança de oito anos, tendo provocado quase 200 feridos. Os trágicos acontecimentos tiveram lugar na passada segunda-feira, dia em que aquela cidade foi palco da sua tradicional maratona.

De acordo com a CNN, as autoridades norte-americanas sinalizaram o indivíduo, que entretanto foi preso, através das imagens de um vídeo gravado antes das explosões.

No entanto, pelo menos para já, não foi veiculada qualquer informação acerca da identidade do suspeito, pelo que permanecem as dúvidas quanto à autoria dos ataques. Mais esclarecimentos serão fornecidos numa conferência de imprensa agendada para as 17h00 (hora local) desta quarta-feira.

Saliente-se que circulam duas teorias: uma delas remete para a hipótese de se ter tratado de um atentado terrorista, eventualmente perpetrado por criminosos ligados à rede da Al-Qaeda, enquanto a outra aponta para a possibilidade de as explosões terem sido fruto de uma ameaça doméstica.

EUA: MARTIN, UM PEQUENO MÁRTIR




Leila Cordeiro – Direto da Redação - ontem

Aquele  era um dia festivo para o garoto americano Martin Richard, de 8 anos. Afinal, ele ia ver seu pai correr na maratona de Boston e poderia esperá-lo na linha de chegada onde todos que a ultrapassam são vencedores.  Era a primeira vez que Martin e os dois irmãos menores tinham tido permissão dos pais para assistirem de perto a corrida.

Quando Martin viu seu pai chegando, ele não resistiu,  correu para a pista e deu-lhe o maior abraço que um filho poderia dar, sorriu feliz e voltou para ficar ao lado da mãe e dos irmãos, para mais tarde, todos comemorarem juntos a façanha paterna.

Mas a covardia silenciosa de um ato terrorista não deixou que aquela família voltasse a se reunir completa, porque Martin, a mãe e os irmãos estavam justamente no local onde uma das bombas da maratona de Boston explodiu. Eles foram literalmente pelos ares como contam testemunhas. A mãe foi levada para o hospital com traumatismo craniano, a irmã de seis anos perdeu uma perna na explosão e o outro teve  ferimentos graves. Mas, com tudo isso,  sobreviveram, menos Martin.

O menininho alegre que, todos contam,  era apaixonado por esportes, tornou-se mais uma vítima fatal de uma violência imprevisível, aquela que ataca covarde e traiçoeiramente, sem dar à vítima a chance de se defender.  O pai de Martin, desolado com a tragégia que se abateu sobre a família, contou que restava o consolo de ter se despedido do filho com aquele derradeiro abraço,  inesperado, que partiu do rompante de alegria do menino ao ver a chegada do pai, um momento especial que nunca mais se repetirá.

 E aí, diante de mais essa tragédia,  a tendência das pessoas é procurar o porquê dessa violência que mata tantos inocentes em todo o mundo, não só nos EUA.  Não acredito que matando inocentes os prováveis terroristas que colocaram as bombas em Boston ganhem simpatia para a causa pela qual lutam.   É  assim agora, como o foi nos atentados de 11 de setembro.

O terrorismo que tem muitas caras e age de várias maneiras. Ele não se limita ao território americano.  Ele está no Brasil, por exemplo,  em outra forma de covardia,  como no caso do motorista da van e seus quadrilheiros que estupraram a jovem turista estrangeira e quase mataram seu namorado.  Ele pode se apresentar  na forma do  descaso dos donos da boite no sul do país onde centenas de jovens morreram asfixiados ou pisoteados.

E enquanto o mundo segue intranquilo, mais uma família está órfã e destruída emocionalmente. Martin, o garotinho americano, de 8 anos,  que adorava  esportes e tinha o pai como um verdadeiro heroi, agora virou um símbolo, uma saudade, mais uma vítima inocente da estupidez humana.

PS. Nesta terça-feira, uma foto do menino Martin se espalhou pelo Facebook. Ela foi feita dias antes de sua morte. No cartaz, que ele desenhou, está escrito :  “No more hurting people, PEACE” (Nunca mais uma pessoa ferida, PAZ).

*Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo.

DAMA DE FERRO NÃO VIROU SANTA




Mário Augusto Jakobskind* - Direto da Redação - ontem

A morte de Margaret Thatcher de alguma forma provocou um fenômeno raro, não só na própria Grã -Bretanha como também em várias partes do mundo. Desta vez a morta não virou santa, muito pelo contrário. Foi hostilizada pelos que sofrerarm as agruras do modelo neoliberal implantado pela dama de ferro.

A torcida do Liverpool, pelo menos desde 1989 quando ocorreu um episódio repressivo sangrento com mais de 90 mortos, cantava com palavras comemorativas a morte da dama de ferro. Além disso, a política de Thatcher fez muito mal aos trabalhadores da região. Antes mesmo de se tornar primeira ministra, ao ocupar o Ministério da Educação, Margaret Thatcher cortou o leite das crianças nas escolas.

Quando Augusto Pinochet estava em prisão domiciliar em Londres aguardando pedido de extradição para a Espanha feito pelo juiz Baltazar Garzón, madame Thatcher visitava o ex-ditador e  agradecia a ele por ter ajudado o Reino Unido durante a guerra das Malvinas. Thatcher chegou até a afirmar que Pinochet restabeleceu a democracia no Chile.

Como se não bastasse, antes mesmo do reconhecimento de Pinochet, Madame Thatcher dizia que Mandela era terrorista. E assim caminhava a dama de ferro.

Independente de tudo isso, por aqui os defensores da política criminosa executada pela dama de ferro chegaram a comentar como seria bom para o Brasil ter uma dama de ferro para levar adiante as reformas necessárias para, segundo eles, modernizar o país. Esta foi a opinião exposta pelo analista econômico das Organizações Globo, Carlos Alberto Sardenberg.

Mas, no Congresso, o Senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, discursou lembrando passagens nefastas protagonizadas pela dama de ferro, deixando perplexos alguns senadores acostumados com a cultura da santificação de personagens que morrem, sobretudo os propagadores da ideologia da falecida dama de ferro.

Eleição venezuelana - Um mês após a morte do Presidente Hugo Chávez, a direita venezuelana e seus apoiadores pelo mundo afora comemoravam o acontecimento. Em alguns muros de Caracas, por exemplo, os apoiadores do candidato Henrique Capriles pichavam a seguinte frase: “viva o câncer”.

Nos primeiros dias que se seguiram a morte de Chávez, a mídia conservadora ainda procurou esconder o contentamento, mas aos poucos transferiu o ódio que nutria pelo Presidente ao seu herdeiro político, Nicolas Maduro.

E nos dez dias da campanha eleitoral venezuelana, a mesma mídia de mercado, apoiadora em gênero número e grau de madame Thatcher, encheu a bola de Capriles. Não tiveram a coragem de concluir que o candidato da direita pudesse ganhar de Maduro.

Mesmo com a eleição de Maduro, a direita de todos os quadrantes continuará tentando produzir fatos midiáticos com o objetivo de enfraquecer o presidente eleito e evitar a continuidade da Revolução bolivariana.

Maduro é o sucessor do comandante da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez. E ninguém poderá dizer que não há democracia na Venezuela. Capriles com o apoio do governo estadunidense tenta contestar a eleição denunciando fraude, passando por cima das conclusões de observadores estrangeiros, entre os quais os integrantes da Fundação Carter.

Maduro ganhou por pouco mais de 200 mil votos de diferença, enquanto Capriles se elegeu governador de Miranda com 30 mil votos de diferença. Mas isso a mídia de mercado prefere não lembrar, porque enfraqueceria os argumentos do candidato apoiado pelo Departamento de Estado norte-americano.

No vizinho Paraguai, as atenções se voltam para o próximo domingo (21), quando cerca de três milhões e 500 mil eleitores estarão escolhendo o próximo Presidente da República, renovando a Câmara dos Deputados, integrada por 80 parlamentares, e 45 senadores.

Na disputa presidencial, o candidato do Partido Colorado, Horacio Cartes despontava em primeiro lugar nas pesquisas, seguido de perto pelo indicado pelo Partido Liberal Autêntico, o ex-ministro do governo Fernando Lugo, um tal de Efrain Alegre, apoiado pelo atual presidente de fato Federico Franco, que assumiu a presidência depois de um golpe parlamentar. Mas novas pesquisas indicavam alterações do quadro, o que torna difícil uma previsão.

Mario Ferreiro, candidato de esquerda, aparecia em terceiro lugar, enquanto outro candidato de esquerda, Anibal Carrillo Iramaín, da Frente Guazú, o partido de Lugo, encontrava-se mais abaixo. O presidente deposto por golpe parlamentar, Fernando Lugo, é candidato ao Senado.

Horacio Cartes é acusado de ter vínculos com o narcotráfico e domina a venda de cigarros na fronteira do Paraguai com o Brasil. Cartes nega a primeira acusação.

Para se ter uma ideia do perfil de Cartes, ao ser indagado sobre o que faria se tivesse um filho gay e defendesse a união afetiva, o candidato respondeu sem pestanejar: “daria um tiro nas minhas próprias bolas”.

Em tempo: Depois de observar 91 eleições em várias partes do mundo, Jimmy Carter concluiu que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo. O que terá a dizer Capriles e o Deprtamento de Estado norte-americano?

*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

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