segunda-feira, 15 de abril de 2013

EXPLOSÕES EM BOSTON PROVOCAM DOIS MORTOS E DEZENAS DE FERIDOS – com vídeo




Autoridades confirmam que as explosões foram provocadas por bombas. Incidente ocorreu junto à linha de chegada da maratona.

Duas explosões ocorreram nesta segunda-feira junto à linha da meta da maratona de Boston, provocando dois mortos e pelo menos 64 feridos, segundo um balanço provisório feito pelas autoridades, que confirmaram ainda que estas explosões foram provocadas por bombas.

Segundo o Boston Globe, os hospitais da cidade já terão recolhido mais de 100 feridos.

A polícia de Boston revelou ainda que uma terceira explosão ocorreu na biblioteca John F. Kennedy, a cerca de 4,8 quilómetros das duas explosões junto à chegada da maratona, que apenas provocou um incêndio, não causando feridos.

Segundo explicou o comissário Jim Davis, da polícia de Boston, os dois engenhos deflagraram em simultâeo às 14h50 locais, separados por 50 a 100 metros um do outro.

As autoridades cortaram o acesso ao local de imediato e os feridos foram assistidos no local. Fotos partilhadas nas redes sociais mostram grande confusão na zona de chegada dos atletas, sendo visível muito sangue no chão.

A Associated Press diz que mais dois engenhos explosivos foram encontrados nas imediações do local onde ocorreram a explosão e que um deles já terá sido detonado pelas autoridades.

Em Nova Iorque, as autoridades reforçaram a segurança em vários locais, incluindo hotéis e monumentos. Em Washington, um porta-voz da polícia disse à Reuters que a segurança na capital norte-americana foi também reforçada.

Esta edição da maratona de Boston teve a participação da portuguesa Ana Dulce Felix, que terminou no nono lugar.

A LUA-DE-MEL DE CAMERON E MERKEL




THE TIMES, LONDRES – Presseurop – imagem Martirena

Conforme mostra a visita recente particular do primeiro-ministro britânico à chanceler alemã, um número crescente de alemães apoia a posição dura de David Cameron em relação à UE. A alguns meses das eleições de setembro, na Alemanha, Angela Merkel parece bastante tentada a alinhar com as ideias do Reino Unido sobre o mercado aberto, em vez de com as da protecionista França.


Angela e David – o romance entre os dois deve ser o mais apelativo da história política recente. Há sete anos, os dois andavam às turras, porque o novo líder eleito dos conservadores [britânicos] ordenara aos deputados europeus do seu partido que abandonassem o Grupo do Partido Popular Europeu, que agrega todos os conservadores bem-pensantes, incluindo os democratas cristãos da Sra. Merkel, e se juntassem a um novo grupo de centro-direita criado pelo próprio Cameron.

Quem os visse agora… Durante o fim de semana, celebraram juntos o despertar da primavera, acompanhados por Samantha, Joachim e os filhos de Cameron, para compor o cenário. Que grande mudança. Até então, o primeiro-ministro nunca levara consigo toda a família, numa viagem ao estrangeiro com tanto conteúdo político, nem nunca a Sra. Merkel mostrara tanta proximidade com qualquer outro convidado, estrangeiro ou alemão, na residência oficial do Governo alemão emSchloss Meseberg [onde Cameron e Merkel passaram o fim de semana].

É certo que dizer-se que as nações não têm amigos, só têm interesses, pode ser uma máxima da filosofia política. Mas, em tempos ensombrados pela crise, não há dúvida que ajuda se os protagonistas conseguirem adicionar a amizade à ligação, reforçando assim os objetivos comuns.

Cameron e Merkel em sintonia

Aqueles que escrevem os grandes títulos dos jornais ignoram aquilo que une as pessoas e preferem os efeitos dramáticos da inimizade e da rutura. Foi o que aconteceu em relação ao discurso de janeiro sobre a UE, no qual Cameron defendeu o regresso de poderes ao âmbito nacional. Mas pouca atenção foi dada ao que a chanceler alemã dizia em Davos, na mesma semana. A Sra. Merkel também falou da necessidade de a UE se empenhar na reforma, para melhorar a competitividade e inverter o profundo distanciamento que os europeus sentem relativamente à “união”, uma das designações mais incorretas de todos os tempos.

Cameron e a Sra. Merkel estão em sintonia quanto a essas questões. E até na questão polémica das “competências” que o Reino Unido quer repatriar de Bruxelas, o fosso entre os dois dirigentes está a diminuir. Na Alemanha, a cacofonia de insultos que acolheu o discurso de Cameron está a ser substituída pelo murmúrio de mudanças de opinião, que fazem parecer inapropriado o argumento do isolamento britânico na Europa.

No fim da semana passada, perguntaram ao vice-presidente do grupo parlamentar do partido da Sra. Merkel, Michael Meister, o que pensava o Governo alemão acerca da tão criticada “revisão de competências” defendida por Cameron – cujo resultado será definido no referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido na UE, que o primeiro-ministro prometeu realizar em 2017.

“Precisamos de compromissos”, confessou Meister. “Estamos abertos ao debate.” Significativamente, Meister admitiu que “estão em curso discussões exaustivas” sobre as ideias do primeiro-ministro. Foi precisamente essa a razão do encontro em Meseberg.

Química reforçada por convicção estratégica

Ainda é demasiado cedo para se dizer se serão necessárias alterações aos atuais tratados da UE, a que a Sra. Merkel e os que apoiam se opõem em absoluto. O mais importante é que, graças à franqueza da linguagem de Cameron, o combate ao há muito reconhecido “défice democrático” que ameaça destruir o projeto europeu assumiu uma nova premência. Estabelecer calendários também ajuda, mesmo que David Cameron possa estar politicamente morto em 2017.

Sem dúvida que a Sra. Merkel não deseja ver o seu novo amigo britânico cair na mortífera armadilha europeia. A química entre os dois é fortemente reforçada pela sua convicção estratégica de que, para a UE, perder o Reino Unido mas ganhar a Croácia, a Bulgária ou a Roménia é uma inversão da lógica e do bom senso.

Contudo, os seus cálculos têm igualmente uma vertente interna. Se a chanceler quiser manter a sua atual popularidade até às eleições nacionais de setembro, aproximar-se de Cameron e das suas ideias sobre abertura dos mercados e responsabilidade democrática, e não do estatismo e dos instintos protecionistas dos franceses, é uma boa política.

Na Alemanha, há um exército secreto de seguidores de Cameron, que aplaudem a sua abordagem direta da questão da UE, que os seus próprios políticos raramente ousam utilizar. A insatisfação com o ónus que os acordos de resgate dos países da zona euro em dificuldades colocaram sobre os contribuintes alemães causou algumas divisões políticas explosivas. A Sra. Merkel não tem o mínimo desejo de fomentar animosidades ainda maiores, envolvendo-se numa luta com um primeiro-ministro que é mais popular na Alemanha do que dão a entender os responsáveis pelos títulos dos jornais.

“Agi como um ditador”

Há bem pouco tempo, os alemães foram relembrados do modo como um chanceler todo-poderoso, Helmut Kohl, os intimidou para os levar a aceitar o euro. “Agi como um ditador”, admitiu cinicamente Kohl, numa entrevista de 2002, que só foi divulgada na semana passada. Os opositores [à moeda única], que, no final dos anos de 1990, Kohl rotulou de “inimigos do Estado” virtuais, formaram agora um novo partido, Alternativa para a Alemanha, para impulsionar um debate tardio sobre o que poderia significar para o futuro do país o regresso do marco.

Para poder participar nas eleições nacionais, o novo partido tem de reunir pelo menos duas mil assinaturas em cada um dos 16 estados federais da Alemanha. Segundo uma sondagem recente, cerca de 25% dos eleitores disseram que talvez votassem no Alternativa, em setembro. Mas, até agora, apenas se inscreveram de facto cinco mil.

É “o medo de algo depois da morte / Esse país desconhecido de cujos campos / Nenhum viajante retornou” que baralha a vontade dos céticos eleitores da Alemanha, quando pensam na vida depois do fim do euro. Ao mesmo tempo, desconfiam profundamente dos políticos, ao lembrarem-se do modo como Kohl os coagiu a desistir do marco.

Em contrapartida, David Cameron, que é direto e tem modos francos, é um dirigente com quem os alemães e Angela Merkel estão plenamente de acordo. Que esse romance resista aos ataques e flechadas destes tempos terríveis.

Traduzido por Fernanda Barão

Venezuela: VITÓRIA DE MADURO É INCONTESTÁVEL, MAS REPRESENTA NOVOS DESAFIOS




Breno Altman, Caracas – Opera Mundi

Próxima etapa da revolução bolivariana deverá combinar participação estatal com capital privado, nacional ou estrangeiro

O resultado eleitoral venezuelano, com o triunfo do candidato chavista, é fato político amparado pela Constituição local. A reduzida vantagem de Nicolás Maduro sobre o direitista Henrique Capriles, inferior a trezentos mil votos (menos de 2% dos apurados), não anula a legitimidade do processo ou do mandato conquistado nas urnas. Com mais de 50% dos eleitores sufragando o sucessor de Hugo Chávez, a regra democrática está sendo seguida à risca. A maioria, mesmo por escassa margem, tem o direito de decidir o destino nacional.

A oposição conservadora pode estrilar e urrar, o que também está dentro do jogo, desde que não volte a recorrer ao golpismo e à violência. Mas não há qualquer elemento concreto e provado que coloque sob suspeita a peleja institucional deste domingo (14/04). A história, diga-se, está cheia de situações semelhantes. Na mais célebre entre essas, nos Estados Unidos, John Kennedy (assassinado em 1963) venceu Richard Nixon, em 1960, por apenas 0,1% dos votos. Quem venceu, levou. Quem foi derrotado, voltou para a fila. Ou para o submundo do magnicídio.

Hugo Chávez atravessou cenário parecido quando perdeu, por menos de vinte mil sufrágios, referendo sobre emenda constitucional, em 2007. Apesar de vários assessores tentarem convencê-lo a pedir recontagem, preferiu reconhecer, de pronto, a vitória de seus adversários. A propósito, sua única derrota em dezessete disputas pelo voto popular no período de catorze anos no qual governou.

O respeito à soberania das urnas e sua defesa perante possíveis ataques, porém, não podem eximir os dirigentes bolivarianos de uma análise acurada sobre os motivos que levaram, em apenas seis meses, à redução importante de sua base eleitoral. A revolução amealhou 700 mil votos menos do que em outubro de 2012, enquanto Capriles arrebanhou 570 mil a mais. Parte dos eleitores chavistas não foi votar. Outra fatia, no entanto, trocou de lado. Sobram razões, como se vê, para que a pulga esteja atrás da orelha.

Claro que, sem o carisma do ex-presidente, a esquerda ficou mais vulnerável à mídia e, sem sua voz, é capaz do discurso de enfrentamento ter soado excessivamente duro para alguns segmentos mais volúveis. Eventuais ações de sabotagem contra o setor elétrico e outras áreas do cotidiano, denunciadas pelos governistas desde o início da campanha, também podem ter auxiliado nesta sangria, ao lado de casos crônicos de maus serviços e corrupção. Talvez seja o caso, contudo, de buscar resposta mais estrutural, como assinalou o próprio presidente eleito logo depois da apuração, ao conclamar o país à “renovação da revolução bolivariana”.

Nova etapa da revolução

Há muitos indícios de que o primeiro ciclo deste processo tenha se esgotado. Desde que assumiu a liderança venezuelana, em fevereiro de 1999, Chávez concentrou seus esforços administrativos em transferir a parte mais expressiva dos excedentes petroleiros para programas sociais, universalização de direitos e outras iniciativas de distribuição da renda. Os resultados foram eloquentes. Andando na contramão do receituário neoliberal, a Venezuela passou a ser a nação menos desigual da América do Sul, o analfabetismo foi liquidado e a pobreza drasticamente reduzida.

Uma das consequências deste caminho foi a vasta ampliação do mercado interno, como força propulsora da economia, mas aprofundando o desequilíbrio histórico entre o ritmo de expansão do consumo popular e a velocidade do crescimento da produção agrícola e industrial. O modelo da dependência petroleira, que sempre inibiu o desenvolvimento interno venezuelano, não era o alvo principal nos primeiros dez anos de chavismo, apesar de várias iniciativas importantes terem sido tomadas. A questão estratégica era repartir os frutos da exploração do ouro negro a favor dos mais pobres.

Neste quadro, a aceleração da demanda provocou fortes pressões inflacionárias e sobre a balança comercial, com as importações minguando as reservas cambiais. A esse desarranjo se soma o espetacular subsídio para a compra de gasolina no mercado interno, que alguns cálculos apontam como equivalente a 10% do faturamento da PDVSA, a gigante estatal do petróleo.

No programa eleitoral de 2012, Chávez já tinha deixado claras estas dificuldades e anunciou um ambicioso programa de desenvolvimento produtivo. Não viveu o suficiente para dar cabo desse objetivo, que caberá a Maduro enfrentar. Concluído o ciclo inicial de resgate da dívida social, os capítulos seguintes dependerão fundamentalmente dos músculos da economia não-petroleira, de sua capacidade para gerar oportunidades, empregos e renda. Sem essa plataforma, as reformas distributivistas possivelmente ficariam, doravante, mais expostas a problemas de financiamento. 

O novo presidente terá que enfrentar inúmeros e urgentes desafios neste terreno. Com as camadas populares ampliando rapidamente seu poder aquisitivo, passaram a ser usuais crises de escassez, tanto de mercadorias e serviços quanto de energia elétrica e água, amplificadas pela fuga de capitais como mecanismo de chantagem das oligarquias. A conta política pode ter sido apresentada nessas últimas eleições.

Para desatar esses nós, Maduro precisará estabelecer estratégia que combine participação estatal com capital privado, nacional ou estrangeiro, estabelecendo marco regulatório que enfrente os dilemas de infraestrutura e produção. A receita com o petróleo, na ponta do lápis, não permite ao Estado fazer todos os investimentos necessários, no prazo que ruge. Essas preocupações, aliás, foram lançadas pelo ex-sindicalista na noite de sua vitória, em que também destacou a necessidade de uma nova cultura de gestão, contraposta à ineficiência, ao burocratismo e ao desperdício do dinheiro público.

Ampliação do voto chavista

A implementação de programa desta envergadura, por fim, poderia ajudar a formar uma nova maioria, que fosse além dos limites atuais do voto chavista, atraindo inclusive pequenos e médios empresários que se sentiram desatendidos ou até ameaçados pela primeira etapa do processo bolivariano, quando todas as energias se voltaram para transferir renda do petróleo aos setores mais despossuídos. E essa maioria ampliada também seria fundamental para apoiar medidas amargas que venham a ser tomadas na reorganização da economia.

A legítima vitória de Nicolás Maduro, nessas circunstâncias, eventualmente serviu de alerta para os problemas que rondam a revolução que passou a chefiar, a maior parte deles provocada pelo sucesso inequívoco das políticas de Chávez em construir um sistema de mais justiça social.

Breno Altman é jornalista, diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel

NICOLÁS MADURO: VITÓRIA APERTADA, MAS VITÓRIA




Os próximos dias e semanas serão um duro teste para o presidente Nicolás Maduro. Terá de enfrentar uma direita interessada em desestabilizá-lo e um cerco midiático avassalador. A situação obrigará também a uma reflexão e redefinição dos rumos e ritmos da ação governamental.

Gilberto Maringoni – Carta Maior

UM
O resultado: 50,66% para Nicolas Maduro e 49,07% para Henrique Capriles. Em números absolutos, 7.505.338 contra 7.270.403 de votos, diferencia de 234.935 sufrágios. Mínima, mas real. 

Democracia é assim, quem tem mais votos leva, mesmo que seja 50% mais um.

Numa ditadura, isso não é possível. Ditaduras prescindem do outro lado e da oposição. Maduro venceu apertado, mas venceu. Na ponta do lápis, a questão está resolvida: o chavismo continua sem Chávez.

Mas o resultado tem de ser examinado além das planilhas. 

DOIS
O governo não estava preparado para essa diferença. Possivelmente Capriles – que cogitou não concorrer, logo após a morte de Chávez – também não. 

Os chavistas avaliaram que dariam uma lavada na oposição, repetindo ou aumentando a diferença de 12% (56 a 44%) das eleições de outubro, quando Capriles enfrentou Chávez em sua última disputa. 

Agora, o governo contava com o clima emocional disseminado no país, após a morte do Comandante, e os inegáveis avanços sociais de seu governo. 

Pesavam contra a situação a persistência da inflação, da violência e a burocracia estatal a prejudicar o desenvolvimento dos serviços públicos. Não são problemas criados pelo chavismo, mas que continuaram nos últimos anos.

TRES
Havia certa tensão no ar nos jardins do palácio de Miraflores na noite quente deste domingo, em Caracas. As ruas estavam desertas e praticamente não havia bares ou restaurantes abertos. Cerca de duas mil pessoas aglomeraram-se ä espera do resultado oficial do Conselho Nacional Eleitoral, que seria projetado em um telão.

Eram quase 23 h quando o órgão, anunciou a totalização. 

O clima foi de espanto geral. A expectativa de um passeio não se concretizara.

Cinco minutos depois, um locutor anuncia a presença de Maduro. 

QUATRO
Maduro estava visivelmente na defensiva. Em 43 minutos, reafirmou varias marcas da campanha, denunciou planos desestabilizadores, exaltou Chávez, a Constituição e justificou o resultado eleitoral, citando a vitória de George W. Bush, em 2000. Lembrou que naquele processo – turvado por somas contraditórias em varias regiões da Flórida.- a diferencia fora também mínima. Chamou os presentes a cantar o hino nacional, voltou a denunciar a desestabilização, falou do socialismo, da democracia “protagônica”, alertou a oposição de que não deveria contestar a voz das urnas e tornou a falar de Chávez. 

Não parecia haver roteiro prévio. 

CINCO
Cotejando o resultado final com as pesquisas de dez dias atrás – as últimas que puderam ser divulgadas -, pode-se constatar que o candidato situacionista viu uma margem de até 12% de diferencia apertar-se para 1%. Ou seja, Maduro estaria em queda e Capriles em ascensão. A derrota era um risco real para o governo, não considerada como hipótese séria em alguns de seus círculos.

SEIS
Henrique Capriles faz o que qualquer candidato em sua situação faria: esperneia. Pede recontagem dos votos e diz não reconhecer o resultado. Ficou por vários minutos na televisão, em coletiva com a equipe de campanha, a dizer que “o grande derrotado foi Maduro”, numa evidente forcação de barra.

Se Maduro não sair da defensiva, a argumentação de Capriles pode prosperar. A imprensa – venezuelana e internacional – aumentará o cerco, buscando deslegitimar o mandato do novo presidente. Não lhe dará folego algum.

SETE
As falas de Maduro na campanha – corretamente – se apoiaram no legado de Chávez e na história de seus mandatos, com especial destaque para o golpe de 2002. É importante, mas o presidente pouco comenta do futuro, dos planos, dos projetos. Tem seu farol apontado para trás, o que pode dificultar a criação de uma imagem própria para a população.

OITO
Em abril de 2002, três semanas após o golpe, vim pela primeira vez a Venezuela. No hotel em que me hospedei, perguntei a uma camareira como estava o país. Ela respondeu: “Quiseram quitar Chávez, pero no conseguiram. Chávez és nuestro y por iso no lo quierem”. A frase me espantou pela síntese. Os pobres queriam seu líder. 

Corte. Onze anos depois, chego ao hotel onde estou hospedado na capital venezuelana. Pergunto ao rapaz que leva minha bagagem até o quarto em quem ele votaria. “Em Capriles, claro! Hay que cambiar”.

Entre os mais de sete milhões de votantes em Capriles, a maioria seguramente é constituída por pobres. 

Olhando as planilhas de outubro passado, uma conclusão inicial pode ser feita, lembrando que Chávez teve 8.191.132 votos e Capriles 6.591.304.

Em seis meses, a oposição ganhou cerca de 680 mil votos, enquanto o governo perdeu ao redor de 700 mil. Pode ter havido uma migração de um lado para o outro.

Saber onde e porque isso aconteceu é vital para a continuidade e estabilização do governo Maduro.

NOVE
Os próximos dias e semanas serão um duro teste para o presidente Nicolás Maduro. Terá de enfrentar uma direita interessada em desestabilizá-lo e um cerco midiático avassalador. A situação obrigará também a uma reflexão e redefinição dos rumos e ritmos da ação governamental.

Por fim, há algo não pode ser colocado em xeque: Maduro ganhou.

Leva.

Democracia, como já dito, é assim.

Vila palco de confrontos entre polícia moçambicana e Renamo volta à normalidade




AYAC – APN - Lusa

Muxúnguè, Moçambique, 15 abr (Lusa) - As escolas reabriram hoje e o comércio já funciona em pleno em Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, palco de violentos confrontos entre a polícia anti-motim e elementos da Renamo, disse à Lusa um residente local.

"As escolas abriram hoje e as crianças foram estudar. Algumas crianças ainda não voltaram desde que fugiram com os pais, mas muitos professores estão na EPC 1º de Maio", disse à Lusa Tomé Sigauque um morador, que garantiu que "o medo das pessoas já está a passar".

Muxúnguè tornou-se numa "vila fantasma", após um ataque, no início do mês, de ex-guerrilheiros do partido da oposição Resistência Nacional de Moçambique (Renamo) ao comando da polícia, em retaliação a invasão e ocupação da sua sede, no qual morreram quatro agentes e um atacante.

No dia 06 de abril, na mesma zona, um autocarro de passageiros e um camião de carga foram atacados por homens armados, de que resultaram dois mortos.

"Estávamos a dormir quando a guerra começou. Não pensei em mais nada, acordei, levei minha mulher e dois filhos, minha mãe e meus irmãos e fugimos para o mato, onde nos mantivemos até ao dia 8 de Abril, sem comer e nem beber", contou Mateus Mugadui, um comerciante da região e residente no 4º bairro, um dia depois de regressar à vila.

O governo não revelou estatísticas sobre o abandono da população, mas, em média, duas em cada cinco casas em Muxúnguè estavam desabitadas na semana passada.

Hoje, a castanha e ananás, cartões-de-visita da região, voltaram a ser comercializados na principal estrada que liga o sul, centro e norte.

"A polícia e militares continuam a ser reforçados e têm estado a patrulhar a vila toda", disse Tomé Sigauque.

O hospital de Muxúnguè recebeu o reforço da diretora provincial e distrital de saúde e do médico-chefe distrital, para atenderem serviços de emergência, devido à falta de quadros do setor, precipitadas pelos confrontos de 4 de Abril.

Em declarações à Lusa, Arnaldo Machowe, administrador de Chibabava, assegurou que o calendário escolar na zona afetada não vai alterar-se, mas um programa especial vai ser introduzido para os alunos recuperarem as aulas perdidas.

"Será feito um programa especial, porque nem todas as escolas fecharam. Assim que retomarem as aulas, as direções das escolas farão uma planificação de atividades para recuperação do tempo perdido. Na altura dos ataques os alunos estavam a fazer provas finais do trimestre, então não houve perdas de aulas, mas as provas serão compensadas", disse à Lusa Arnaldo Machowe.

FMI "errou" nas contas da dívida externa de Cabo Verde, diz ministra das Finanças




JSD – VM - Lusa

Cidade da Praia, 14 abr (Lusa) - A ministra das Finanças de Cabo Verde afirmou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) "errou" ao escrever no seu relatório de novembro de 2012 que o rácio da dívida é de 97% do Produto Interno Bruto (PIB).

Reagindo à descida (de BB- para B+) de Cabo Verde no "rating" da agência de notação financeira Fitch, anunciada há cerca de uma semana, Cristina Duarte afirmou que o FMI reconheceu que o stock da dívida do país em relação ao PIB sobre os rácios de 2012 ronda os 83% e não os 97%.

Segundo Cristina Duarte, o FMI endereçou já uma comunicação à Diretora do Tesouro cabo-verdiano reconhecendo o engano.

"Alertámos que os dados do «stock» da dívida não estavam corretos, porque o rácio de 2012 não poderia estar em torno dos 96%/97 %. Houve uma troca de emails e, na sexta-feira, tivemos uma comunicação via e-mail, por parte do FMI, reconhecendo que se enganaram nos cálculos e repondo as informações que tínhamos fornecido", explicou, reafirmando que a dívida externa em 2012 estava em torno dos 83% do PIB.

Cristina Duarte garantiu que o Ministério das Finanças "esteve sempre ciente" que os dados estavam incorretos e assegurou que o FMI irá repor a informação recebida na próxima missão a Cabo Verde.

Já em relação à avaliação da Fitch, Cristina Duarte afirmou que a queda do "rating" está relacionada com o facto de a estratégia do endividamento do país ter sido feita, referencialmente, através de moeda estrangeira.

A ministra garante que o risco não foi alterado, embora o Outlook da Fitch tenha passado de "estável" para "negativo", descendo um patamar, o suficiente para que o arquipélago caia para o de "país altamente especulativo".

"Cabo Verde, até à data, praticou intencionalmente uma política de endividamento essencialmente em moeda estrangeira, e não em moeda local. Isto porque a comunidade internacional deu a grande possibilidade a Cabo verde de continuar a gozar de financiamento concessional, com juros baixos", afirmou.

"Dado o nosso regime cambial, o nosso endividamento não pode ultrapassar o intervalo de 20% a 25%, em termos brutos, do PIB. O nosso regime cambial privilegia o endividamento interno para financiar o programa de investimentos públicos", realçou.

Ministério Público Guiné-Bissau reabre processo desaparecimento 674 quilos droga




MB – JMR - Lusa

Bissau, 15 abr (Lusa) - O Ministério Publico da Guiné-Bissau quer reabrir o processo dos 674 quilos de cocaína desaparecidos do cofre do Tesouro Público em 2007 sem que se saiba do seu rasto, disse hoje à Lusa fonte judicial.

De acordo com a fonte, o Ministério Publico enviou para o Parlamento uma carta solicitando o levantamento de imunidade parlamentar a alguns deputados que à época do desaparecimento da droga eram responsáveis no Governo.

Os procuradores afetos ao gabinete de luta contra a corrupção e delitos económicos da Procuradoria-Geral guineense "querem atacar" vários processos relacionados com crimes ocorridos no país nos últimos anos, adiantou a fonte, e contam com a colaboração do Parlamento "uma vez que vários implicados são hoje deputados", disse.

A fonte lembrou o último episódio ocorrido entre o Ministério Público e o Parlamento, quando o próprio Procurador-Geral da República, Abdu Mané, se deslocou pessoalmente ao Parlamento para pedir o levantamento de imunidade parlamentar do deputado António Óscar Barbosa "Cancan", pedido recusado pelo presidente do hemiciclo, Ibraima Sory Djaló.

"Infelizmente vários processos não podem ser concluídos porque o Parlamento se recusa a levantar a imunidade dos deputados em causa, alegando que os mesmos só podem ser ouvidos na sua sede", lamentou a fonte judicial.

"O Ministério Público não vai baixar os braços e continuará a insistir no pedido do levantamento de imunidade parlamentar desses deputados suspeitos, para as suas audições", acrescentou a fonte, realçando que "os próximos dias" serão decisivos uma vez que se espera uma resposta do Parlamento.

Era primeiro-ministro Aristides Gomes e ministro das Finanças Vítor Mandinga (atualmente deputado) quando 674 quilos de cocaína pura desapareceram dos cofres do Tesouro Público onde tinham sido guardados após uma apreensão da Polícia Judiciária.

Desde 2007 que o Ministério Público tem tentado levar a julgamento os indiciados no processo, mas sempre sem sucesso.

BUBO NA TCHUTO EM TRIBUNAL NA SEGUNDA-FEIRA




João Santa Rita – Voz da América

Mistério envolve nomes de importantes figuras envolvidas no tráfico de drogas e que os Estados Unidos não revelaram

O antigo chefe da armada da Guiné Bissau, José Américo Bubo na Tchuto deverá comparecer novamente em tribunal em Nova Yorque na Segunda-feira, isto numa altura em que se adensa o mistério sobre a identidade de várias outras pessoas que alegadamente estiveram envolvidas no plano de contrabando de cocaína mas cujos nomes não foram revelados pelas autoridades americanas.

Pelo menos uma dessas misteriosas personagens reivindicou acesso ao presidente da república e obviamente detém poder suficiente para nomear militares para o representar nas negociações sobre o trafico de drogas e armas.

Vários viajaram para encontros em países da América do Sul e tinham contactos na Holanda para onde queriam que fossem feitos pagamentos.

Bubo na Tchuto foi preso ao largo da costa da Guiné Bissau juntamente com Papis Djeme e Tchamy Yala no passado dia 2 de Abril. Os três compareceram em tribunal no passado dia 5 num audiencia em que o juiz marcou uma nova sessão para o dia 15. Todos fazem face a uma acusação  de conspiração para fazerem entrar drogas nos Estados Unidos e fazem face a uma pena máxima de prisão perpetua.

Dois outros homens, Manuel Mamadi Mané e Saliu Sisse, foram presos numa operação separada. Rafael Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos colombianos  foram presos no seu país e deverão ser extraditados para os Estados Unidos .

Mas a prisão destes sete homens deixa de fora os nomes de sete outros guineenses referidos nos documentos publicados pelo Departamento  de Justiça americano apenas como   CC 1, CC2, CC 3, CC 4, CC5 e ainda Entidade Militar da Guiné Bissau 1 e Entidade Militar da Guiné Bissau 2.

Pela descrição fornecida nos documentos alguns destes homens tinham acesso aos mais altos níveis do governo e das forças armadas e tiveram um papel activo nos planos, alguns deles aparentemente bem mais importante que aquele de Bubo na Tchuto.

Por exemplo em Junho de 2012 “num hotel no Brasil” CC 2 reuniu-se  com agentes americanos a operarem na clandestinidade, num encontro que teve como principal objectivo  “discutir o envio de cocaína da América do Sul para a Guiné Bissau que seria eventualmente transportado para, entre outros países, os Estados Unidos”.

Cerca de cinco dias depois CC 2 volta a reunir-se, agora em Bissau,  com os agentes americanos  e agora com Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse para discutir “a necessidade de se envolver entidades governamentais da Guiné Bissau na operação”.

É nesse encontro que Mane teria concordado em ajudar a obter armas para o grupo de guerrilha colombiano FARC organizando uma reunião com “CC 1 através de CC 3”.

CC1 é obviamente alguém de importância porque numa reunião a 2 de Julho o agente americano  explicou que tinha pedido um encontro face a face com essa entidade para “obter a aprovação de CC1 em movimentar  toneladas de cocaína para a Guiné Bissau usando carregamentos de uniformes militares “.

Nesse encontro CC 1 reconheceu que o plano para se obter armas seria feito através dele e do governo da Guiné Bissau

“É através de mim que vocês podem fazer isso. . . É através do governo e eu sou o único intermediário,” disse CC 1. Nesse encontro  CC 1 declarou também que iria discutir o plano com o presidente da Guiné Bissau afirmando que “depois de amanhã vou falar com o presidente da República”.

Nesse mesmo dia Mane disse ter recebido a informação através de CC3 que CC1 “queria um pagamento de 20.000 Euros” como  pagamento adiantado e mais tarde CC1 nomeou “entidade militar 1” como a pessoa que estaria encarregada do negócio das armas e para receber o primeiro transporte de cocaínas. “Entidade militar 2” passou  por outro lado a ser o representante de CC 1 em reuniões.

Passados outros cinco dias , Mane e Sisse informam que “entidades governamentais da Guiné Bissau iriam reter uma percentagem da cocaína enviada para a Guiné Bissau e que eles (Mane e Sisse) discutiram a quantidade exacta com essas entidades oficiais da Guine Bissau”.

Em Agosto de 2012  CC 2 e CC 4  reuniram-se com agentes clandestinos dos Estados Unidos em Bogotá na Colômbia tendo concordado em receber um carregamento de 4.000 Quilos de cocaína da FARC.

No mês seguinte em Bissau CC 5 recebeu uma lista de armas que a FARC estaria a pedir entre as quais metralhadoras AK 47 e misseis terra-ar.

Nesse encontro Mane disse que “CC 5 iria falar com o presidente e o primeiro-ministro da Guiné Bissau sobre a encomenda de armas para a FARC”.

Subsequentemente houve vários outros encontros com essas misteriosas personagens entre os quais uma reunião em Novembro de 2012 em Bissau em que “entidade militar 2 explicou que CC 1 estaria pronto a executar a transacção de armas logo que a FARC enviasse dinheiro para a Guine Bissau” .

Desconhece-se a razão porque todos estes indivíduos não foram detidos ou não são mesmo identificados.

Talvez durante os julgamentos dos detidos esses pormenores sejam revelados.

VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS AMEAÇAM DEMOCRACIA EM ANGOLA - ONG





Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos exige explicações sobre desparecimentos de activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule

O Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos (CCDH) considerou Segunda-feira em Luanda que os casos de violação dos direitos fundamentais dos cidadãos constituem um obstáculo, para a consolidação da democracia e da paz em Angola.

O coordenador adjunto do CCDH, Lauriano Paulo fez esta afirmação quando apresentava publicamente o balanço dos encontros mantidos com as instituições do executivo angolano, nomeadamente a  presidência da república, a provedoria, e ainda os ministérios da justiça e do Interior a quem apresentou as seguintes inquietações.

"Supostas mortes de cidadãos no Cacuaco, agressões a cidadãos presos na cadeia de Viana, a corrupção, as demolições de casas e deslocamento forcados de famílias" são algumas das violações mencionadas pelo conselho

O CCDH instou o executivo a explicar onde andam os dois activistas cívicos desaparecidos há um ano.

"Que o executivo esclareça o desaparecimento dos cidadãos Alves Kamulingue e Isaias Cassule," disse este activista.

Outra preocupação colocada ás autoridades do estado prende-se com o direito à manifestação e de reunião, garantido na Constituição angolana, artigo 47 e que, segundo disseram,  é constantemente atropelado pelo executivo.

Convidado à conferência, o assistente da Embaixada Norte Americana em Angola, o especialista em política Zeferino Teka pensa que a luta pelos direitos humanos 'è um processo e que o país está no caminho certo.

"Pesa-nos quando assistimos as realidades sobre violações de direitos humanos acontecerem mas acreditamos que é um processo continuo," disse 


Portugal: CHEGOU O MOMENTO, SENHOR PRESIDENTE!




Nuno Peres Monteiro – Jornal i, opinião

É preciso renegociar a dívida, por uma razão muito simples: é impossível Portugal pagar o que deve nos termos em que o deve

1. Não é a decisão do TC que causa o falhanço do governo, que já se tinha mostrado incapaz de cumprir os objectivos do Memorando de entendimento com a troika e de fazer as necessárias reformas estruturais desde muito antes de o TC ter inviabilizado o presente orçamento. O actual governo falhou por não ter tido a coragem política de fazer reformas, tal como demonstra a parte mais patética do discurso do primeiro-ministro reagindo ao acórdão do TC, onde, para além de alijar todas as responsabilidades para os juízes, diz ir agora - agora, dois anos depois de ter começado a governar - estudar reformas mais profundas.

2. A decisão do TC não deixa por isso de ser uma interpretação, a meu ver restritiva, da Constituição, que pode, no entanto, ter por efeito obrigar Portugal a avançar rumo a reformas propriamente ditas em vez da austeridade salarial e fiscal que tem vindo a ser imposta, com desastrosos resultados económicos e sociais.

3. O problema é que fazer reformas estruturais agora será muito difícil porque o tempo político deste governo está praticamente esgotado e a sua antagonização do PS desde o início do seu mandato levou a que a liderança socialista adoptasse um tom crescentemente crispado, que hoje roça o histriónico.

4. O caminho menos horrivelmente difícil para Portugal continua a ser o das reformas estruturais, incluindo reduções muito substanciais do peso dos salários e contribuições sociais na despesa pública, o que só se conseguirá com diminuições do número dos que trabalham para o Estado e com a racionalização das prestações sociais de modo a que estas se centrem em quem não pode prescindir delas para sobreviver e não na classe média.

5. Ao mesmo tempo é preciso renegociar a dívida, por uma razão muito simples: é impossível Portugal pagar o que deve nos termos em que o deve. Isto exigirá uma postura por parte do governo português mais frontal em relação aos nossos credores, postura essa que tenho dúvidas o actual primeiro-ministro saiba ou queira adoptar.

6. Significa tudo isto que cada vez mais a governação de Portugal exige consensos alargados enquanto o sistema partidário e a própria sociedade estão - em consequência, por um lado, da inépcia governamental em realizar reformas e comunicar aos portugueses uma estratégia viável e, por outro, do profundo populismo assumido por toda a oposição - crescentemente fracturados.

7. Assim sendo, e num quadro que me parece já configurar um irregular funcionamento das instituições democráticas por não conseguirem estas gerar os consensos essenciais à manutenção da soberania nacional, chegou a altura de o PR investir o seu (hélas, reduzido) capital político, na criação desse entendimento através da formação de um governo de iniciativa presidencial.

8. Tal governo, para o qual seria possível angariar personalidades provenientes de todo o arco governativo, incluindo a área socialista, deveria imediatamente constituir uma “comissão de sábios” que determine onde e como vamos cortar os tais 4 ou 5 mil milhões de euros na despesa pública de uma forma que maximize a competitividade e, assim, a nossa capacidade de crescimento e, por isso, também de redestribuição. Tal estudo, que deveria já ter sido feito de uma forma socialmente abrangente, daria também ao governo um acrescido poder negocial junto da troika no sentido de renociar prazos e taxas de juro da nossa dívida pública.

9. Este cenário, não sendo o ideal, é, como diria Churchill, preferível a todas as outras alternativas que, no fundo, são apenas duas. A primeira é a manutenção de um governo debilitado quer na sua capacidade de implementar reformas quer, consequentemente, na sua capacidade de renegociar a dívida. A segunda é a convocação de eleições de que resultaria a vitória de um PS com a liderança mais populista de que há memória, que não acha serem necessárias quaisquer decisões difíceis e que teria uma ainda mais reduzida capacidade negocial na Europa porque qualquer cedência da troika a esta liderança socialista seria premiar quem não quis ajudar o actual governo a cumprir o Memorando. Qualquer destas possibilidades resultaria na continuação da degradação do funcionamento das nossas instituições políticas, aumentando o risco de termos de sair do euro e, pior ainda, virmos a ter um outro tipo de regime, de legitimidade democrática ainda menos expressiva do que um governo de iniciativa presidencial, como aliás tivemos durante quase metade do século passado em resultado do colapso do processo político da primeira república.

10. Em resumo, chegou o momento, Senhor Presidente!

Professor de ciência política na Universidade de Yale

Teodora Cardoso diz que corte da despesa é o caminho mas lamenta "cortes cegos"




Jornal i - Lusa

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, afirmou hoje que o corte das despesas "é obviamente o caminho" para a consolidação orçamental, mas lamentou que os cortes já realizados tenham sido "cegos".

"[O corte da despesa] é obviamente o caminho. Foi pena não se terem tomado decisões de outra forma que tivessem evitado este solavanco. Uma vez que ele aconteceu, espero que se tenha ganho mais tempo", afirmou a economista, à margem de uma conferência em Lisboa.

Teodora Cardoso disse que um dos problemas de Portugal tem sido o facto de o país "ter sido obrigado a fazer um ajustamento muito rápido em despesas que foram crescendo ao longo de muitos anos, sem haver verdadeiramente um grande discernimento quanto à gestão destas despesas".

"E isso continuo a achar que ainda não está alcançado. Vamos cortando despesas muito pela força das circunstâncias, por força da crise, por força da 'troika', por força do Tribunal Constitucional", reiterou.

No entanto, defendeu, falta "garantir uma maior ênfase na gestão das despesas e isso devia ter sido feito há mais tempo".

Para Teodora Cardoso, este processo de gestão da despesa "envolve todos os responsáveis pela despesa e não apenas o ministro das Finanças, que não pode decidir com conhecimento de causa todas as despesas que devem ser cortadas".

"Tudo isto exige uma maneira de fazer diferente e isso leva tempo. Levámos dois anos a fazer cortes cegos. Agora continuamos a ter de fazer um bocado à pressa aquilo que devíamos ter feito com mais tempo", afirmou a presidente do CFP.

"Espero que este próximo corte seja mais pensado nesta linha, mas ainda não é completo porque ainda não estão definidos mecanismos de gestão de despesa", rematou a economista. 

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New York Times usa exemplo de Portugal para criticar "medicina amarga" da austeridade




Dinheiro Vivo - Lusa

Portugal é dado como exemplo pelo conselho editorial do New York Times como um doente que está a ser morto pelo remédio da austeridade

O conselho editorial do norte-americano New York Times escreve hoje que a "medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela zona euro.

"Há mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um 'cocktail' de austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial do jornal norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados Unidos da América.

O artigo de opinião explica que o principal problema de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o Movimento Cinco Estrelas, em Itália.

"O verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e que os eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, já para não falar no resto do mundo", escreve o jornal, sublinhando que "se os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganharem força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficarão pior".

Numa parte dedicada exclusivamente a Portugal, o jornal escreve que "o Governo de Passos Coelho cortou a despesa e aumentou os impostos, tanto que o défice orçamental caiu cerca de um terço entre 2010 e 2012" e acrescenta que o resultado destas e de outras reformas é que o desemprego subiu para os 18%. Assim, "os economistas dizem que Portugal vai provavelmente ter um défice orçamental, este ano, maior que o acordado [com a 'troika'] (...) porque as políticas nacionais, sem surpresa, causaram uma recessão mais profunda que o previsto".

O artigo defende, por isso, que líderes como a chanceler Angela Merkel parem de insistir na austeridade e "ajudem a aumentar a procura, por exemplo, permitindo que os países mais frágeis possam emitir dívida pública apoiada pela zona euro", o que, no entender deste Conselho Editorial composto por editores e antigos diretores, e que responde diretamente ao presidente do grupo detentor do New York Times, ajudaria os países a sair da "espiral recessiva".

"Os decisores políticos em Portugal e em Itália teriam a vida facilitada na defesa da necessidade de reformas se não tivessem de, ao mesmo tempo, cortar programas e apoios sociais", diz o texto, que argumenta que "um crescimento económico mais rápido e um desemprego mais baixo criariam os recursos que podiam ser usados, mais tarde, para cortar a dúvida e reduzir o défice".

ALEMANHA DEVE SAIR DO EURO? “ERA UMA BOA SOLUÇÃO”, diz Silva Lopes




Ana Margarida Pinheiro – Dinheiro Vivo

Antigo ministro considera que saída poderá levar ao fim do euro como o conhecemos, mas admite que sem a Alemanha seria mais fácil

O multimilionário George Soros não tem dúvida de que “a Alemanha deve decidir se quer refazer a UE da forma que estava originalmente destinada a ser, o que pressupõe aceitar as responsabilidades e cargas necessárias para avançar nessa direção, ou considerar sair do euro". A ideia "não é nova" e para o antigo ministro das Finanças, Silva Lopes, "podia ser uma boa solução porque os alemães querem uma Europa alemã, com austeridade e equilíbrio orçamental e os outros países não". 

Para o economista, "saindo a Alemanha, e alguns países que lhe devem seguir os passos como a Holanda ou Áustria, a zona euro poderia regressar a um sistema equilibrado como o anterior modelo monetário europeu". Esta opção deveria gerar "juros equilibrados e alguma soberania monetária" para os diferentes Estados. 

As moedas deveriam regressar ao período pré-euro e, deste modelo apenas ficariam as regras e a entre-ajuda dos Estados. "Seria o fim da zona euro como a conhecemos e teria de haver muita renegociação uma vez que a Alemanha é credora de todos os Estados do Sul". Ainda assim, "ficaríamos todos melhor". 

Silva Lopes acredita que "esta é uma hipótese que apenas poderá acontecer em condições dramáticas, mas é possível e já foi defendida por vários economistas mundiais". Como lembra "alguns também já disseram que a zona euro vai criar uma nova guerra na Europa". 

Quanto a George Soros e às suas declarações polémicas, o economista português lembra que "merecem a maior atenção". "George Soros é um multimilionário, especulador e uma pessoa muito inteligente. As suas observações merecem todo o respeito". 

NA MORTE DE THATCHER, AMIGA DE PINOCHET




Alfredo Barroso – Dinheiro Vivo, opinião

Morreu Margaret Thatcher, uma das principais responsáveis pela contra-revolução neoliberal que há mais de 30 anos vem devastando os regimes democráticos ocidentais, distorcendo a economia, tornando as sociedades democráticas cada vez mais desiguais, destruindo a coesão social, impondo o «casino da especulação monetária» e a ditadura dos mercados financeiros globais que hoje mandam em nós.

Morreu, além disso, a amiga de Pinochet, um dos ditadores mais sanguinários e corruptos da América Latina, que permitiu que o Chile se tornasse banco de ensaio das políticas ultraliberais preconizadas pela famigerada «escola de Chicago» e levadas a cabo pelos «Chicago boys», apadrinhados por Milton Friedman e Friederich von Hayek, figuras tutelares do pensamento de Margaret Thatcher, além da mercearia do pai. 

Não faço esta acusação de ânimo leve. São factos conhecidos, designadamente a sua acendrada admiração por Augusto Pinochet, como se projectasse nele aquilo que ela desejaria impor, mas nunca poderia conseguir, na velha democracia inglesa. Há muitas fotos em que aparecem ambos sorridentes, lado a lado, quer quando o ditador estava no poder, quer quando o detiveram em Londres na sequência do pedido de extradição efectuado pelo juiz espanhol Baltazar Garzon, que o acusou de ser responsável, durante a ditadura, pelo assassínio e desaparecimento de vários cidadãos espanhóis.

Esta mulher a quem chamaram «dama de ferro», como poderiam ter chamado «de zinco» ou «de chumbo», nutria um profundo desprezo pelos grandes intelectuais ingleses do seu tempo, designadamente Aldous Huxley, John Maynard Keynes, Bertrand Russell, Virgínia Woolf e T. S. Eliot, conhecidos como o «círculo de Bloomsbury» (do nome do famoso bairro londrino de editores e livreiros e de boémia intelectual). A frustração dela perante o talento e a inteligência que irradiavam deles, e que ela não conseguia captar, levaram-na a considerá-los «intelectuais estouvados, que conduziram o Reino (Unido) pelos caminhos nada recomendáveis da segunda metade do século XX». Ao diabo as «literatices» da «clique de Bloomsbury», dizia ela. «O meu Bloomsbury foi Grantham» (onde o pai tinha a famosa mercearia) (…) Para compreender a economia de mercado, não há melhor escola do que a mercearia da esquina». Deve ser por isso que as mercearias estão a falir…

Thatcher considerava «a distância entre ricos e pobres perfeitamente legítima» e proclamava «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia. A verdade dos números é, no entanto, bastante diferente. Como salienta John Gray, um dos mais importantes pensadores contemporâneos, na Grã-Bretanha da chamada «dama de ferro» os níveis dos impostos e das despesas públicas eram tão ou mais altos, ao fim de 18 anos de governos conservadores, do que quando os trabalhistas deixaram o poder, em 1979. Ao mesmo tempo, nos EUA de Ronald Reagan, co-autor da «contra-revolução neoliberal», o mercado livre e desregulado destruiu a civilização de capitalismo liberal baseada no New Deal de Roosevelt, em que assentou a prosperidade do pós-guerra.

Convém dizer que John Gray, autor de vários livros editados em português, entre os quais Falso Amanhecer (False Dawn), chegou a ser uma das figuras dominantes do pensamento da chamada «Nova Direita», que teve uma grande influência nas políticas que Thatcher pôs em prática. Mas ficou desiludido e alarmado com as terríveis consequências dessas políticas e tornou-se um dos críticos mais lúcidos e implacáveis dos «mercados livres globais», cuja desregulação tem causado os efeitos mais perversos nas sociedades contemporâneas, provocando a desintegração social e o colapso de muitas economias. O capitalismo global parece funcionar, segundo Gray, de acordo com as regras da selecção natural, destruindo e eliminando os que não conseguem adaptar-se e recompensando, quase sempre de maneira desproporcionada, os que se adaptam com sucesso. Estas são, logicamente, as inevitáveis consequências do pensamento de Thatcher, ao pôr em prática «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia.

A pesada herança de Margaret Thatcher, tal como a de Ronald Reagan - adoptadas não apenas pela direita ultraliberal, mas também por uma certa esquerda neoliberal (Tony Blair, Gerhard Schröder e alguns discípulos da Europa do Sul, designadamente lusitanos) - é esta crise brutal em que a UE e os EUA estão mergulhados há já cinco anos. E o mais terrível é que é o pensamento dos principais responsáveis por esta crise que continua e prevalecer na maioria dos governos que prometem acabar com a crise através da austeridade, do empobrecimento dos cidadãos e do confisco dos seus direitos sociais. Thatcher foi um ser maléfico e não deixa saudades.

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