Martinho Júnior
SEM ESPERAR MAIS
PELA RESPOSTA OU QUALQUER OUTRO ARGUMENTO DO GRUPO DO MOVIMENTO DO PROTECTORADO
DA LUNDA TCHOKWE!
1 – Ao longo da
minha participação quer no Página Um, quer no Página Global, sempre incentivei
os impulsionadores do blog a manterem uma linha que esteja aberta a todas as
opções que intelectualmente assumam sinceridade, honestidade e, tanto quanto o
possível, transparência, mesmo que essas opções sigam trilhas e opções
distintas ou mesmo contraditórias.
Desse modo o blog
está também aberto a todo o tipo de polémicas, o que em pleno século XXI me
parece justo e aferido ao que se passa no globo e por isso há também alguns que
também não são tão sinceros, tão honestos, ou tão transparentes assim e sejam mais
outras coisas…
Por todos os
recantos da Terra há necessidade e sede de justiça, há necessidade dos seres
humanos terem a oportunidade de assumirem e exercerem cidadania, participação e
promoverem o que em consciência reflecte o estado do mundo e esses blogues têm,
no meu ponto de vista, procurado ser uma expressão que se integra nesse caminho
e é isso que efectivamente interessa.
Há também
necessidade que em consciência e com a sabedoria acumulada por via dos
conhecimentos e experiências que provêm do passado, das ciências e das
técnicas, de lutarmos contra o subdesenvolvimento e resgatarmos os povos que
sofreram e sofrem desse anátema crónico de pelo menos cinco séculos, mantendo o
respeito que nos merece a Mãe Terra!
Essa foi a maneira
e o modo de eu procurar assumir, numa via de paz, a minha própria linha, que em
síntese e sem ser exaustivo posso e devo enunciar nos termos do seu carácter:
anti-imperialista, republicana, democrática, socialista, valorizando os
aspectos históricos que correspondam à alternativa da lógica com sentido de
vida no seguimento da linha do movimento de libertação, valorizando o estudo e
a investigação…
Se alguém do grupo
do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe tivesse lido pelo menos alguns
dos meus escritos reconheceria pelo menos algum esforço da minha parte nessa
saga, uma saga que não deixa de evocar o humanismo que me parece justo e
intemporal e se identifica com os povos oprimidos do mundo!
Nesses parâmetros
tenho respeitado como é óbvio as fronteiras nacionais de Angola, a unidade
nacional, a identidade nacional e o estado angolano que em nome do povo
angolano exerce entre os encargos essenciais a soberania, uma soberania que foi
alcançada mediante uma luta épica, longa e digna, enfrentando conjunturas
difíceis (muitas delas pareciam inultrapassáveis), semeada de imensos escolhos
e obstáculos e impondo imensos sacrifícios.
Em tempo oportuno,
sem ser constitucionalista, quando a Constituição estava ainda na forja, dei a
conhecer a minha posição em relação ao que entendia e entendo ser o melhor para
o povo angolano e para África e em relação ao que esperava em termos de seu
conteúdo: reafirmo minha convicção que em África se deve beber muito mais, com
inspiração e substância, das Constituições dos países mais progressistas da
América Latina, do que das Constituições europeias ou outras, animadas por
conceitos conservadores que fazem prevalecer as democracias “representativas”
em prejuízo da cidadania responsável e participativa e da expressão das
organizações sociais de base, em especial aquelas que se identificam com os
sectores mais marginalizados, vulneráveis e pobres.
Reconheço que essa
é uma linha trabalhosa que está e estará sujeita muitas vezes ao contraditório,
inclusive ao “peso” do contraditório, mas para todos os efeitos uma linha que
me parece justa, historicamente coerente e por isso de certo modo intemporal,
pois suas raízes advêm do passado caótico do capitalismo, da época em que o
comércio triangular funcionou com recurso à escravatura de milhões e milhões de
africanos…
Reconheço que essa
é também uma linha firmada com sacrifícios, pois é cada vez mais evidente que
por um lado a crise tem avassalado duma forma ou de outra as nossas próprias
vidas de simples mortais, onde quer que nos encontremos, por outro que foram
muitos os que abandonaram a linha do movimento de libertação, ou que acabaram
por dar outro tipo de respostas, procurando outro tipo de orientação e de
sequência não só para si e para os interesses que representam, mas também para
nosso destino comum…
Depois, se é mais
fácil beber do passado e do presente, construir o futuro neste conturbado mundo
sob o impacto da globalização conveniente ao império, é penoso para todos os
povos e países do sul.
2 – As quatro peças
que publiquei sob o título “Ainda o vale do Cuango” têm como antecedente um
trabalho de vários anos, que de há dois anos a esta parte tem incidido entre
outras coisas sobre a evolução da situação no Médio Oriente e em África.
Essa foi a via de
aproximação ao tema, de acordo com a linha anti-imperialista, republicana,
democrática, socialista, valorizando os aspectos históricos que correspondam à
alternativa da lógica com sentido de vida no seguimento da linha do movimento
de libertação, valorizando o estudo e a investigação…
Esperava (e espero)
em relação ao vale do Cuango, dada a acuidade e o carácter da situação que hoje
prevalece na região, que haja mais sintonia em termos de unidade e identidade
nacional, mais sintonia com o amor e o respeito que o povo angolano merece,
pois julgo que isso é indispensável para se encontrarem melhores soluções para
Angola e para todos os angolanos, sem descurarmos a reciprocidade de interesses
que devem ser cultivados em África entre todos os povos, nações e estados,
perseguindo o objectivo de procurar fortalecer de forma tão integrada e
integradora quanto o possível, os estados, as organizações regionais e a
própria União Africana.
3 – O vale do
Cuango, uma região que tem sido historicamente vulnerável e sensível para
Angola, sofre hoje uma conjugação de factores de risco, alguns provenientes do
exterior (uma parte deles propositadamente injectados pelo império e seus
aliados), outros internos e em alguns casos com antecedentes que provocaram
terríveis repercussões em Angola e nas regiões da África Central e da SADC (que
também possuem seus cordões umbilicais, alguns deles que não me tenho coibido
de identificar).
É evidente que a
agenda do grupo do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe assume-se por si
como um dos factores de risco interno: foi buscar argumentos históricos, cuja
veracidade seria interessante verificar, do século XIX, eminentemente
relacionados com a progressão da ocupação colonial imediatamente anterior à
Conferência de Berlim a que juntou argumentos presumidamente de carácter
antropológico e geográfico para, em pleno século XXI, esquecendo o passado de
luta no âmbito do movimento de libertação em África, desrespeitando os heróis e
os mártires dedicados do povo angolano e todos os imensos sacrifícios
consentidos na luta pela independência de Angola contra o colonialismo, o “apartheid”
e as suas sequelas, reinterpretar em seu próprio proveito a história e com isso
procurar “redesenhar” o mapa da região.
Esse grupo está a
aproveitar uma conjuntura em África que, desde que o capitalismo neo liberal
vem provocando, quase sem obstáculos, impactos de todo o tipo, uma conjuntura
que se tem mostrado receptiva aos interesses que em nome do neo colonialismo se
“abrem à oportunidade” de esquecer a história, ou de reinterpretá-la a contento
de interesses de vocação neo colonial por vezes de forma propensa ao “redesenhar”
da carta política africana em função do que é-lhes útil... dividindo, dividindo
e dividindo, para que o império possa melhor reinar!
Onde estavam quando
por Angola foi necessário lutar de armas na não contra o colonialismo, o “apartheid”
e suas sequelas?
Que fundamentos os
levam agora a assumir os conceitos e conteúdos que estão a propagandear, quando
o potencial de riscos provocados pelas políticas típicas do capitalismo neo
liberal se vão evidenciando por toda a África, nas regiões Centrais e do Sul,
por tabela em Angola?
Por que razão é
precisamente nesta época e não antes, nesta conjuntura e não noutra, que o
grupo assume o carácter que tão bem patenteia no seu “site”, um carácter de tal
ordem que me poupa a demais comentários?
Por que razão
assumem uma atitude provocatória no quadro duma conjuntura como a presente, com
um argumento que só por si é provocatório?
Que interesses e
quem os impulsiona?
Quem lhes disse que
é assim que se deve lutar pelos “direitos humanos”, qual foi a vossa escola?
Acaso esperam que
outros não possam fazer em relação ao vosso comportamento, atitude e argumento,
se calhar num mesmo pé de provocação, a pergunta sobre que “primavera” querem
mais injectar em África e em Angola?
4 – Não é preciso
ir muito longe no “site” do grupo para encontrar algumas das respostas: basta
evocar aqui o conteúdo da sua apresentação para melhor se poder avaliar!
"A Questão da
Lunda 1885-1894 e o direito Legitimo da sua Independência, reconhecida
mundialmente nos termos de sucessão colectiva e de fundamentos Jurídicos dos
tratados de Protectorado de 1885 – 1894, assinados entre Portugal e Soberanos –
Muananganas Lunda Tchokwe, da Convenção de Lisboa de 25 de Maio de 1891,
Ractificado no dia 24 de Março de 1894 sobre a delimitação das fronteiras
naturais (não convencionais criada com a conferência de Berlim 1884 – 1885 ) na
Lunda e trocada as assinaturas em Bruxelas no dia 1 de Agosto do mesmo ano,
entre Portugal e a Bélgica sob mediação Internacional da França, na presença da
Alemanha, Inglaterra e do Vaticano, tornando assim a Lunda em um Estado
Independente e os tratados Jus Cogens Internacional – Pacta Scripta Sunt
servanda.
Portugal produziu
moralmente a Lei N.º 8904 em 19 de Fevereiro de 1955, a Lunda foi atribuida a
letra g pelo seu protector no contexto das Nações e o nosso Manifesto dirigido
ao Governo Angolano no dia 3 de Agosto de 2007, a trocar a nossa própria
independência por mero Estatuto de forma aberta, pública, Jurídica e
transparente”.
No momento em que
Angola carece de mais unidade e identidade nacional em prol da paz, do
aprofundamento da democracia, da justiça social, da luta contra o
subdesenvolvimento e dum futuro melhor que beneficie todo o seu povo e
solidariamente todos povos do sul, os factores de risco, incluindo aqueles que
aproveitam as conjunturas e surgem propositadamente apontados à desagregação,
merecem resposta, uma resposta que deve ser simultaneamente pedagógica, mas
defenda inequivocamente um exercício saudável da soberania de Angola em todo o
espaço nacional!
Utilizem a vossa
energia e recursos a favor de causas justas, é legítimo, mas não abram alguma
vez espaço a fissuras na unidade e na identidade nacional, muito menos em
momentos históricos como este e da forma tão deliberadamente provocatória como
o fazem!
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