domingo, 13 de janeiro de 2013

Portugal: PAZ À SUA ALMA




Constança Cunha e Sá – Jornal i, opinião

Para efeitos internos, o governo achou por bem esconder a sua decisão de cortar 4 mil milhões na despesa atrás de um estudo encomendado ao FMI – em que este apresenta um menu completo de medidas radicais de austeridade, que, a pretexto dos mais desfavorecidos, levam ao empobrecimento generalizado da sociedade, nomeadamente dos mais desfavorecidos. O estudo, feito em meia dúzia de dias e assente em dados desactualizados, foi saudado pelo primeiro-ministro com enlevo, que viu nele um ponto de partida “muito bem feito” para um debate, que não vai acontecer, sobre as funções do Estado.

Aparentemente, não ocorreu ao governo que a posição negocial do país teria tudo a ganhar se o tal ponto de partida surgisse de Portugal e não de um dos seus credores. Mas como se sabe o Dr. Passos Coelho não tem por hábito preocupar-se com pormenores desta natureza. A sua política externa traduz-se no silêncio e na subserviência e, não por acaso, o júbilo com que o governo aceitou esta espécie de relatório foi curiosamente travado por um alemão que preside ao Parlamento Europeu e pelo Sr. Juncker, que, na hora da despedida, defendeu que as condições aplicadas a Portugal deviam ser suavizadas. O interesse nacional mora onde menos se espera.

Não vale a pena perder tempo com a forma como o debate, defendido pelo governo, foi lançado, esta semana, à margem dos parceiros sociais, dos partidos da oposição e da própria Assembleia da República. A divulgação do menu do FMI serviu para dourar os cortes que se avizinham e para incutir medo: tenham medo, muito medo, porque tudo pode acontecer. Da redução das reformas aos despedimentos na função pública, à diminuição do subsídio de desemprego, ao corte dos vencimentos até às taxas da saúde e ao despedimento de 50 mil professores, não houve nada que escapasse à fúria do FMI. Nada não! Porque, no meio de todo aquele arrazoado, não há uma única palavra para o sector empresarial do Estado, nem para as autarquias ou para as empresas municipais. Para não falar das famigeradas PPP.

Entretanto, o dito debate sobre as funções do Estado, que a maioria dos analistas económicos tanto enaltece, tem o prazo de validade de três ou quatro semanas – já que a Comissão Europeia fez saber que em Fevereiro quer que as medidas essenciais estejam identificadas e quantificadas. Esta pequena imposição, que o primeiro-ministro, obviamente, desvaloriza, confirma uma evidência simples: o governo prepara-se, não para debater as funções do Estado, mas sim o corte, a torto e a direito, de 4 mil milhões de euros, acordado com a troika na sequência da quinta avaliação e da derrapagem orçamental de 2012. Pode perguntar-se porquê 4 mil milhões. Mas isso é um mistério insondável que o governo não se deu ao trabalho de esclarecer. Como o ridículo não mata, a maioria quer agora criar uma comissão eventual, na Assembleia da República, para debater o que não tem quaisquer condições de ser debatido. Paz à sua alma!

Portugal: MÁRIO SOARES VAI CONTINUAR INTERNADO NO HOSPITAL DA LUZ




Jornal i - Lusa

Mário Soares vai continuar pelo menos mais uma noite internado no Hospital da Luz.

O antigo Presidente da República deu entrada no Hospital da Luz no sábado devido a uma recaída de uma gripe. Apesar do quadro clínico estar estável, Mário Soares vai-se manter sob vigilância médica.

Fontes próximas contactadas pelo Jornal i garantem que o internamento deveu-se por "mera precaução".

Segundo uma nota do grupo Espírito Santo Saúde, o fundador do PS, de 88 anos, "foi admitido no Hospital da Luz cerca das 13h com um quadro de indisposição".

"Após observação clínica estão a ser realizados exames complementares de diagnóstico, a situação clínica está estável, mantendo-se o doutor Mário Soares sob vigilância clínica, no hospital", pode ler-se.

Droga: “MULAS” EUROPEIAS DE PÓ BRANCO PERUANO




LE FIGARO, Paris – Presseurop – foto AFP

Duramente atingidos pela crise, Roberta, avó espanhola, e Jeremy, padeiro francês, responderam às sereias tentadoras do dinheiro fácil. A sua missão era passar cocaína no Peru. Vegetam hoje, numa prisão de Lima.


Aeroporto de Lima, 19 horas. Na sala de embarque, os voos noturnos com destino à Europa foram já anunciados. Debruçado num passadiço por cima da área das bagagens, um agente da Dirandro (Direção Antidroga da Polícia Nacional do Peru) observa o bailado dos passageiros, detetando os que lhe parecem nervosos ou a evitar ostensivamente cães e polícias fardados. Em baixo, outros agentes analisam os rostos: olhos vermelhos e cavados, língua branca e hálito carregado de látex denunciam inevitavelmente as “mulas” que ingeriram cocaína.

De repente, num movimento impercetível, um homem e respetiva mala são extraídos da multidão. O suspeito é levado para um gabinete da Dirandro, onde é algemado no tornozelo e no pulso. A mala aberta revela um tapete de jogos para crianças... Os inspetores não levam mais de dez minutos a extrair dos forros acolchoados cerca de três quilos de cocaína pura, cuidadosamente acondicionada em sacos de plástico pretos. “Desta vez, é um romeno”, diz o comandante Anderson Reyes, chefe do Departamento Antidroga do aeroporto, onde são apanhados, em média, oito quilos de cocaína por dia. “Há também gregos, búlgaros, franceses e, claro, espanhóis, os mais numerosos... Este ano, o número ultrapassou o dos passadores peruanos. Todos dizem a mesma coisa: a crise económica é que os levou a fazer isto.”

Cotonete azul assinala presença de cocaína

O fenómeno é desmesurado: dos 695 europeus presos no Peru, 90% foram apanhados por transporte de droga. Em 2011, o país tornou-se o maior exportador de cocaína para a Europa. As “mulas” que escapam às malhas da polícia chegam a ganhar dez mil euros. Para os outros, a viagem acaba muitas vezes na prisão de Callao, vizinha do aeroporto. Uma prisão com uma fama terrível, semelhante à do bairro que a rodeia.

Um grupo de franceses e espanhóis sai do pavilhão reservado a estrangeiros e entra num dos pátios, onde foram dispostas algumas cadeiras. Rapidamente, os traficantes profissionais esquivam-se, mas os outros ficam para contar o que aconteceu nesse filme incrível em que se tornou a sua vida. É o caso de Timoteo, ex-porteiro de discoteca em Barcelona: “Só tinha trabalho aos fins de semana, a minha mulher estava grávida e tínhamos dois meses de renda de casa em atraso. Foi então que me apresentaram um tipo chamado David. Ele propôs-me ganhar um monte de dinheiro nesta viagem ao Peru, com todas as despesas pagas, sem riscos. Hesitei, mas ele voltou à carga. Há profissionais, em Espanha, cuja função é recrutar pessoas em situações críticas, como eu. Procuram-nas, aliciam-nas.”

A seguir, falou Jeremy. Este jovem parisiense, de uma família judia praticante, padeiro em Bruxelas, foi recrutado por um cliente: “Reservaram-me um quarto em Miraflores, o bairro chique de Lima. Pediram-me para fazer de turista, mais nada. Deram-me um número de telemóvel para contactos locais e, no último dia, um italiano pediu-me para destruir o cartão do telemóvel e ir a outro hotel, onde me foi dada a mala. No dia D, no ‘check-in’, mandaram-me sair da fila. Um polícia enfiou uma faca na minha mala e enfiou um cotonete no corte. Disse-me: ‘Se sair azul, é porque tem cocaína…’ E, claro, que saiu azul.” Jeremy sabe porque foi contratado: “Não sou delinquente, não consumo drogas, tenho um bom aspeto europeu, que passa bem nos controlos alfandegários europeus... e precisava de dinheiro.” O perfil aplica-se a Jean-Christian, outro dos 15 presos franceses no Peru, que sobrevive fazendo massagens aos seus companheiros de prisão; e a Ivan, funcionário na Câmara de Madrid; e a Gustavo, desempregado, detentor do recorde do grupo pelo transporte de dez quilos de cocaína numa única viagem. Foram todos condenados pela mesma tabela: seis anos e oito meses.

Liberdade condicional ao fim de dois anos e meio

Ao fim de dois anos e meio, os europeus beneficiam de liberdade condicional e, geralmente, conseguem sair da cadeia, não podendo, contudo, regressar aos seus países. Começa, então, outro pesadelo. “Essas pessoas não são traficantes profissionais e são forçadas a deixar ilegalmente o Peru, com todos os riscos que isso implica”, denuncia Castillo Torres, do gabinete de Defesa do Povo. “Para os que não conseguem fazê-lo, a alternativa é a rua ou algumas casas religiosas que os acolhem.”

A Casa Acogida, em Callao, é uma dessas instituições. Não tem qualquer placa na fachada. A campainha, que se encontra por trás de uma porta gradeada, não está identificada. “Num bairro como este, é melhor ser discreto”, explica Julia, enquanto abre a porta. Aos 58 anos, esta avó de Barcelona, que devia estar a mimar os netos, foi detida no aeroporto de Lima, com a mala “a transbordar” de cocaína. Passamos diante de um altar dedicado à Virgem Maria, decorado com algumas flores, antes de subir a um piso onde há uma sala. Roberta já ali está sentada. Esta antiga comerciante apresenta-se sem rodeios: “Tenho 62 anos e não conseguia viver com a minha reforma... Tinha quatro quilos amarrados à volta do corpo.”

A história destas “narco-avós” é tão assustadora que sentem necessidade de mostrar a pilha de fotocópias com os detalhes dos seus julgamentos e condenação. “Trabalhei durante 35 anos num serviço de geriatria”, conta Julia. “Quando a bolha imobiliária estourou em Espanha, o meu filho, com quem vivia, ficou sem trabalho. Tem quatro filhos, já não conseguia pagar as contas. Foi então que um amigo me disse que tinha feito duas viagens para o Peru, sem problemas... Apresentam-te a miragem daquele dinheiro que tanta falta te faz e cais que nem uma patega!”.

Traduzido do francês por Ana Cardoso Pires

FRANÇA RECEBE APOIO INTERNACIONAL EM AÇÃO MILITAR NO MALI





Reino Unido oferece aviões de transporte e Estados Unidos avaliam apoio logístico para tropas francesas, cujo contingente em Mali foi ampliado. Caças Rafale reforçaram ataques contra rebeldes islâmicos.

Forças francesas usaram caças Rafale para atacar neste domingo (13/01) posições rebeldes na cidade de Gao, norte de Mali, considerada um dos principais focos de resistência. Entre os alvos estavam depósitos logísticos e áreas de treinamento de insurgentes, segundo afirmou o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, por meio de um comunicado.

A intervenção militar da França contra insurgentes islâmicos no Mali, que entrou no terceiro dia, vem contando com crescente apoio internacional. O Reino Unido ofereceu ajuda logística ao governo de Paris. Por meio de um porta-voz, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou ao presidente francês, François Hollande, que poderia enviar dois grandes aviões de transporte para dar suporte às ações no país africano. Os dois líderes afirmaram ser necessário trabalhar em conjunto para impedir o estabelecimento uma nova área de recuo para o terrorismo.

O presidente da Comissão Europeia, Manuel Barroso, saudou a "ação corajosa das tropas francesas". Os Estados Unidos também manifestaram apoio. Um oficial do governo norte-americano confirmou que o Pentágono estaria avaliando maneiras de apoiar os franceses, seja na área de inteligência ou de logística.

O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, elogiou os avanços militares com o apoio das tropas francesas na luta contra os rebeldes em Mali. Ele negou, porém, que haja qualquer ação de soldados alemães na região. O ministro alemão de Defesa, Thomas de Maizière, também demonstrou apoio e classificou a intervenção da França como "consequente e correta".

Países ocidentais temem que grupos islâmicos usem Mali como uma base para ataques mirando o Ocidente, formando uma rede com militantes terroristas do Al Qaeda no Iêmen, na Somália e no norte da África.

Bandeiras francesas

Mais de 100 rebeldes morreram desde o início dos conflitos em Mali. Com o apoio dos militares franceses, o governo do país africano conseguiu recuperar a importante cidade de Konna das mãos dos insurgentes no sábado. Na capital, Bamaco, inúmeros moradores comemoraram o avanço das tropas com bandeiras da França nos carros.

Segundo o ministro francês Le Drian, com a chegada de 80 soldados, o contingente francês no país africano – colônia francesa até 1960 – soma até agora 550 homens distribuídos entre Bamaco e a cidade de Mopti, localizada a cerca de 500 quilômetros ao norte. Até segunda-feira, 3.300 soldados de países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental serão enviados para o combate.

François Hollande esclareceu que, com as ações militares, o objetivo do país é apoiar uma missão da África Ocidental para retomar o norte do continente, aprovada pelas Nações Unidas, a União Europeia e os Estados Unidos.

No sábado, o grupo insurgente Ansar Dine afirmou que a continuidade dos ataques coloca em risco a vida de cidadãos e reféns franceses em seu poder. Hollande recomendou aos 6 mil cidadãos franceses que vivem no Mali a deixarem o país. Ele também elevou o alerta na França.

MSB/rtr/dpa

Entrevista - Ramos-Horta: "Durão Barroso deve ser o próximo secretário-geral da ONU"




Filipe Fialho – Visão, com foto de Marcos Borga

Acredita que Timor-Leste está bem entregue e vai continuar a ser um caso de sucesso. Ramos Horta, o Nobel da Paz de 1996, deixou a presidência do seu país há sete meses e admite estar a aproveitar muito bem a sua liberdade

Em maio, cedeu o lugar de Chefe de Estado a Taur Matan Ruak e, desde então, tornou-se um reformado de luxo da política de Timor-Leste e um andarilho global. Tal como Bill Clinton ou Tony Blair, José Ramos Horta passou a integrar a lista de antigos dirigentes que passam o tempo em viagens pelos cinco cantos do mundo para dar todo o tipo de conferências - pagas proporcionalmente ao seu prestígio internacional. Esta semana, veio a Lisboa para participar nas comemorações dos 40 anos do Expresso e rever velhos amigos. No final do mês, tem à sua espera um novo desafio pessoal e diplomático, quando assumir funções como enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau. Um cargo que, confessa, lhe pode provocar alguns constrangimentos por impedi-lo de dizer o que realmente pensa. Enquanto tal não ocorre, mostra-se solidário com a causa palestiniana, elogia os professores portugueses em Timor-Leste - "são dedicados e entusiastas, devíamos pagar-lhes um pouco melhor" - e diz que Durão Barroso pode muito bem suceder a Ban ki Moon à frente da ONU. 

Após ter abandonado a presidência da República de Timor-Leste, afirmou que lhe tiraram um enorme fardo de cima. É hoje um homem mais livre?

A verdade é que, nestes últimos meses, deleitei-me com a minha liberdade. Mas não se entenda isto como sinónimo de ociosidade. Logo em junho, por exemplo, aceitei o convite do Presidente Taur Matan Ruak [o seu sucessor] para representar Timor-Leste na cimeira do Rio+20. Tenho viajado imenso, dei mais de 20 palestras - nos Estados Unidos, Japão, Suíça, Alemanha, Singapura, Tailândia, Austrália... Recebi mais três doutoramentos honoris causa, entrei para o Conselho Honorário da Universidade de Harvard...

Tenho estado muito ocupado, a diferença é que já não sou obrigado a preocupar-me com problemas de política e segurança em Timor-Leste. Durmo tranquilo e acordo tranquilo, as dores de cabeça em relação ao que acontece em Timor-Leste ficaram para o atual Presidente e para o primeiro-ministro.

Curioso que a sua reforma da política timorense lhe permita agora ter maior visibilidade internacional...

Eu nunca deixei de ter visibilidade, a nível internacional. Mesmo quando estava na chefia do Estado, publiquei artigos de opinião no Washington Post, no International Herald Tribune, no New York Times. Sempre opinei sobre aquilo que me parecia mais oportuno, fosse a Síria, a situação dos media ou a Birmânia... Mas agora, ser representante especial do secretário-geral para a Guiné-Bissau, impõe-me alguns constrangimentos. Tenho um secretário-geral a quem devo todo o respeito, a ele e aos 193 membros da ONU. No passado, em conversas informais, eu costumava dizer "aquelas pessoas da ONU que trabalham entre o 36.° e o 38.° andar devem ser os melhores diplomatas do mundo porque têm de gerir as sensibilidades, os interesses e os egos de todos os Estados membros. Não pode haver diplomatas mais hábeis, porque têm de medir cada palavra". E se é habitual os líderes cometerem gafes, é muito raro um funcionário da ONU cometer uma gafe. 

Já que fala da Guiné-Bissau e da sua nomeação para mediador do conflito naquele país, a sua amizade com o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior não lhe provoca nenhum tipo de constrangimento?

Bom, eu não diria amizade, porque não conheço assim tão bem o dr. Carlos Gomes Júnior. Estive com ele duas ou três vezes quando ele era primeiro-ministro. No plano pessoal, não posso colocá-lo, por exemplo, ao nível da relação que tenho com Joaquim Chissano, personalidade que conheço há mais de 30 anos...

Permita que insista nos constrangimentos. Há apenas um mês subscreveu uma carta enviada ao novo Presidente da China, apelando à libertação do Nobel da Paz, Liu Xiaobo. Está a dizer que não voltará a ter esse tipo de tomadas de posição?

Se eu aceito desempenhar uma função nas Nações Unidas, com o estatuto de secretário-geral adjunto, não represento o José Ramos Horta, represento o secretário-geral.

Portanto não voltará a assinar e a promover cartas desse género, nem a criticar o regime de Pequim...

Enquanto me mantiver nestas funções, não posso fazer nada a que não seja dada luz verde pelo secretário-geral...

Mas é importante que se saiba que eu tenho excelentes relações com a China. A China considera-me um amigo. Mais. O meu filho, Loro Horta, é um respeitado especialista nesse país. Ele tem três mestrados e um deles foi tirado na Universidade Militar de Pequim - e com notas tão boas que lhe deram o título honorífico de coronel do exército chinês. Agora, está a concluir o doutoramento em Singapura sobre a doutrina naval chinesa. Fez, também, um mestrado na Universidade americana de Monterrey, onde a sua tese, igualmente sobre a China, foi classificada como a melhor do ano, na instituição... Tudo o resto é mero bom senso.

Admite concorrer ao cargo de secretário-geral da ONU quando Ban Ki Moon terminar o segundo mandato, no final de 2016?

Eu diria que essa possibilidade está excluída. A não ser numa outra vida, na minha próxima reencarnação - algo em que eu até acredito. Depois de Ban Ki Moon, um asiático, os europeus vão digladiar-se em grande para que o cargo de secretário-geral seja ocupado por um europeu. Vai ser muito interessante observar a cena! (risos) E eu vou fazê-lo, à distância, com intenso prazer.

E pondera apoiar algum candidato que entretanto surja?

Creio ser demasiado cedo mas a Europa pode apresentar candidatos brilhantes. Um deles é José Manuel Durão Barroso. Mas haverá outros candidatos. Os nórdicos, provavelmente, vão querer novamente o lugar, os polacos também devem dizer que nunca houve um secretário-geral da Europa de Leste... 

Depois de três décadas de luta por Timor-Leste, ainda há alguma causa que o mova para lutar pelo poder?

Pelo poder não, mas há causas que ainda me partem o coração! Por exemplo, a situação dos palestinianos. Sessenta anos depois, continua sem haver uma solução? Vinte anos depois dos acordos de Oslo, continuam a ver negado o seu direito a um Estado palestiniano livre e independente, a viverem em paz com Israel? Eu fui o único Chefe de Estado no mundo que teve a possibilidade de visitar em simultâneo, e na mesma deslocação oficial, a Palestina e Israel. Nesse campo de minas político, eu estava com imenso receio de cometer alguma gafe. Ainda por cima tinha aceite dar duas conferências publicas, uma em cada território. E pensei: vou fazer asneira, de certeza. Afinal, saí incólume e não detonei nenhuma mina político-diplomática. 

Dizer o que pensa ainda o prejudica?

Já disse muitas asneiras, ao longo da minha vida!

Há um mês, numa entrevista à Al Jazeera, afirmou que tinha muitas dúvidas sobre se valia a pena perder-se uma única vida humana para que um país atingisse a independência...

Já o tinha dito antes, mais do que uma vez, em conferências. Nenhuma causa, nenhuma religião, deveria justificar a morte. Mas nós sabemos que as pessoas aceitam morrer por uma causa, por uma religião, sempre assim foi na história da humanidade. Eu próprio perdi uma irmã e três irmãos [na guerra pela independência de Timor-Leste]. A nós, os vivos, resta-nos saber honrar a memória deles e tudo fazer para não trair essa memória. Caso contrário, para quê tantas mortes e tantos sacrifícios?

D. Basílio do Nascimento, bispo de Baucau, afirmou, recentemente, que o nepotismo e a corrupção são os grandes problemas de Timor-Leste. Quer comentar?

Bom, em relação ao nepotismo eu nem percebo. O Presidente não tem nenhum irmão, nenhum sobrinho, nenhum primo ligado ao poder político ou empresarial. O primeiro-ministro Xanana Gusmão também não tem nenhuma irmã, nenhum tio na alta chefia do Estado ou das força armadas...

E quanto à corrupção?

A International Transparency, no seu último relatório, revelou que Timor-Leste está no bom caminho e subiu 19 lugares no ranking. Criaram-se, no país, muitos instrumentos e instituições de luta contra a corrupção que são quase um modelo em toda a Ásia. Embora a mim, como ser humano, me fira o coração ver alguém ser punido, temos de recordar que os tribunais timorenses condenaram a prisão uma ministra da Justiça. Portanto, é preciso tirar o chapéu à justiça timorense! Por outro lado, os dados mais recentes da ONU também demonstram que a pobreza está a diminuir; a mortalidade infantil baixou para metade, nos últimos três ou quatro anos; o caminho a percorrer ainda é longo mas acredito que os próximos cinco anos vão ser de grande crescimento económico, num clima de paz e estabilidade.

Está, pois, otimista em relação ao futuro imediato do seu país, apesar da retirada das forças internacionais da ONU?

Sim. O país está bem entregue, está em boas mãos. Nós temos líderes credíveis e eu estou muito confiante.

Há pouco tempo, num artigo de opinião publicado num diário indonésio, o Jakarta Post, escreveu que, daqui a dez anos, metade dos timorenses falarão português. Timor é indispensável para defender os interesses da Lusofonia na Ásia?

A língua não é uma mera questão de geopolítica. É uma questão de identidade, da identidade timorense. Temos uma história de 500 anos, aquilo que é hoje o povo timorense resulta da colonização portuguesa e nós, os líderes timorenses, chegámos à conclusão de que era necessário manter a língua portuguesa, apesar da interrupção de 24 anos de colonização indonésia. Não foi uma tomada de posição fácil, em 2000. Enfrentávamos os maiores desafios e a oposição de muita gente, sobretudo dos anglófonos. A verdade é que o português já é falado por mais de 20% da população. Ironicamente mais do dobro da percentagem de timorenses que falavam português em 1974. Timor-Leste independente fez mais pela língua portuguesa do que o Portugal colonial até ao 25 de abril. Isto é um enorme sucesso, é espetacular! 


Cabo Verde: VIVA A LIBERDADE!




Liberal (cv)

Uma pequena nota da Redação 

Mais de duas décadas se passaram sobre as primeiras eleições livres. 22 anos de um percurso de altos e baixos que não cumpriu ainda de forma plena o Estado de Direito democrático sonhado pela maioria dos cabo-verdianos. O combate continua, pois claro
Praia, 13 janeiro 2013 – O Dia da Liberdade e da Democracia, que hoje se comemora, assinala – ao contrário do que alguns sugerem – a vitória de um povo que, pela primeira vez na sua história coletiva, votou em liberdade no dia 13 de janeiro de 1991. Não é, pois, a vitória de um partido sobre outro que se assinala e comemora no país e na diáspora. É uma opção coletiva que se celebra neste dia.

A conquista da liberdade, assinalada simbolicamente nesta data, está até muito para além do formalismo eleitoral ou do direito de voto, ela contempla todas as componentes da vida pessoal e coletiva de todos os cidadãos e abarca outros direitos fundamentais inalienáveis e plasmados na Constituição democrática de 1992 que, no passado ano, celebrou 20 anos de existência.

A liberdade surge, pois, como o bem maior da nossa sociedade, maior ainda do que a própria existência da democracia, o regime político que, em liberdade, os cabo-verdianos escolheram massivamente no início da década de 90. E tão importante como a conquista da independência alcançada em 5 de Julho de 1975.

Para a memória coletiva ficam, também, 15 anos de ditadura de partido único com as suas vítimas e os seus algozes. O período mais negro de Cabo Verde independente, que os cabo-verdianos optaram por perdoar aos responsáveis mas que nunca poderão esquecer.

E é bom que isso se diga, porquanto parece haver quem, de forma oportunista e desonesta, pretenda passar por democratas quem durante três quinquénios perseguiu, prendeu sem culpa formada, humilhou e torturou centenas de homens e mulheres que apenas sonhavam com a liberdade, causando também várias vítimas mortais.

No dia de hoje não podemos, pois, esquecer as vítimas e inocentar os algozes!

A Redação do Liberal

Cabo Verde: Carlos Veiga critica orçamento na mensagem do 13 de Janeiro




A Semana (cv), com foto

Carlos Veiga, presidente do MpD, criticou o orçamento para 2013 durante a sua mensagem do 13 de Janeiro, que se assinala neste domingo. O líder ventoinha focou ainda que este feriado "não é de nenhum partido" no texto que o asemanaonline deixa aqui na íntegra.

Caros cabo-verdianos e cabo-verdianas

O povo cabo-verdiano celebra este Domingo mais um aniversário do 13 de Janeiro, dia da liberdade e da democracia.

Há 22 anos, o povo cabo-verdiano fez história na sua luta pela liberdade. Já o tinha feito a 5 de Julho de 1975 quando da independência. Voltou a fazê-lo a 13 de Janeiro de 1991 para derrotar o partido único e começar a implantar a democracia.

Não se trata de um dia qualquer. É, tem de ser, uma data memorável para Cabo Verde. Não porque o MpD nesse dia ganhou as eleições ao PAICV. Mas porque foi o dia em que se realizaram as primeiras eleições livres e democráticas na nossa história e depois de 15 anos do regime de partido único. Porque nesse dia se realizaram as eleições fundadoras da democracia.

O 13 Janeiro é também importante porque permitiu eleger um parlamento plural, que resultou, pela primeira vez, da livre vontade dos cidadãos e não da imposição de um partido.

É ainda importante porque permitiu lançar as bases para a criação em Cabo Verde de um ambiente de democracia e de liberdade, num ambiente de paz e de tranquilidade.

Por isso, o 13 de Janeiro não é pertença de nenhum partido, é do povo de Cabo Verde, é de todos os cabo-verdianos e cabo-verdianas.

Há 22 anos que o povo de Cabo Verde foi às urnas, livre e democraticamente, para fazer uma escolha fundamental: entre a ditadura e a liberdade.

A escolha foi clara: o povo votou na democracia e na liberdade. A opção foi inteligente: o povo votou na esperança.

Caros cabo-verdianos e cabo-verdianas

O povo cabo-verdiano celebra o 13 de Janeiro no momento em que o país atravessa graves dificuldades por culpa das políticas erradas do governo: a economia não cresce, o custo de vida aumenta, o desemprego e a pobreza também e a dívida pública elevou-se tanto que, na prática, se tornou no ministério que mais gasta em Cabo Verde.

Cabo Verde não vai bem. E os cabo-verdianos sentem-no na pele. Mas temos um Governo que só se preocupa em manter o PAICV no poder e para quem as pessoas e os seus problemas concretos estão em plano secundário, não são a prioridade.

É necessário um novo 13 de Janeiro para recolocar o país no caminho certo e para devolver a alegria, a esperança e a felicidade aos jovens, às mulheres e a todos os cabo-verdianos que, com o seu esforço, diariamente constroem Cabo Verde.

Há muito tempo que o MpD vem chamando a atenção do Governo para os problemas que agora se estão a verificar e para o erro das suas políticas. Mas o Governo e o Sr. Primeiro-Ministro fingem que não ouvem. O país vai viver dias complicados e muito difíceis. Por culpa de políticas erradas do governo.

Todos os alertas e avisos que o MpD vem fazendo sobre os riscos para o país das políticas do Governo do PAICV foram agora confirmados pelo Fundo Monetário Internacional.

Mais uma vez, ficou claro que o Governo não diz a verdade aos cabo-verdianos sobre a real situação económica e financeira do país e sobre os riscos que as políticas governamentais fazem recair sobre nós.

Ao contrário do PAICV e do seu governo, o MpD diz sempre a verdade aos cabo-verdianos.

Por isso, reafirmo que é necessário um novo 13 de Janeiro para recolocar o país no caminho certo e para devolver a alegria, a esperança e a felicidade aos jovens, às mulheres e a todos os cabo-verdianos que, com o seu esforço, diariamente constroem Cabo Verde.

Caros cabo-verdianos e cabo-verdianas

Vamos viver dias muito complicados e difíceis por culpa de orçamento do Estado para 2013, aprovado recentemente pela Assembleia Nacional.

O MpD insiste em dizer que é um orçamento largamente fictício. É um orçamento de faz de conta, que vai piorar a vida dos cabo-verdianos em vez de a melhorar.

É um orçamento claramente irrealista e inexequível. Longe de corrigir os males da economia, vai piorá-los.

É esta a forma de governar do PAICV: esconder a realidade, vender ilusões, gerir expectativas, em vez de preparar o país para enfrentar os inevitáveis choques externos e as exigências da competitividade mundial.

Quero aproveitar esta oportunidade para vos dizer que não estamos perante uma fatalidade, um destino. Está nas nossas mãos, de todos nós, Nação cabo-verdiana, exigir mais do Governo. Mais transparência, mais responsabilidade e mais respeito pelo sistema democrático.

Quero também aproveitar esta oportunidade para apelar ao povo cabo-verdiano, nas ilhas e na diáspora, para que não desista de lutar. No passado, os cabo-verdianos provaram que os desafios, por mais difíceis que sejam, podem ser vencidos.

Vencemos na independência; vencemos na democracia. Venceremos novamente.

Precisamos de um novo 13 de Janeiro para recolocar o país no caminho certo e para devolver a alegria, a esperança e a felicidade aos jovens, às mulheres e a todos os cabo-verdianos que, com o seu esforço, diariamente constroem Cabo Verde.

Desejo a todos um bom 13 de Janeiro.

TRÊS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PROMETEM APOIAR A GUINÉ-BISSAU




FP – MSF - Lusa, com foto

Bissau, 13 jan (Lusa) - Três organizações internacionais prometeram hoje em Bissau apoiar o país e o processo de transição, quer em termos de assistência institucional quer na construção de infraestruturas, água potável e alimentação.

A promessa foi deixada numa conferência de imprensa no dia da chegada a Bissau das três organizações, a Comissão Internacional dos Direitos Humanos (do Paquistão), a Organização Internacional dos Direitos Humanos (com sede na Índia) e a Cooperação Diplomática para um Mundo mais Seguro (Interdipco, com sede em Itália).

Muhammad Sahid Amin Khan, presidente da Comissão Internacional dos Direitos Humanos, explicou aos jornalistas que os responsáveis pelas três organizações já se encontraram hoje com o primeiro-ministro de transição e que pretendem também encontrar-se com o Presidente de transição, devendo a delegação deixar o país na próxima quinta-feira.

Além de prometerem apoios para a produção e distribuição de água potável, os responsáveis disseram também que fariam chegar ao país 200 mil toneladas de arroz, garantindo que os apoios à Guiné-Bissau são para começar de imediato, sem esperar pelo fim do período de transição.

A Guiné-Bissau está a ser gerida por um Governo de transição na sequência de um golpe de Estado a 12 de abril do ano passado, levado a cabo pelos militares, que depuseram os governantes eleitos. A maior parte da comunidade internacional não reconhece as autoridades de transição.

Segundo Amin Khan, caso seja assinado com as autoridades de transição um memorando de entendimento, as três organizações em conjunto estão dispostas a apoiar "a construção de instituições democráticas, para que as pessoas tenham empregos e melhores condições a nível de Saúde e Educação".

Os apoios à Guiné-Bissau, disse, serão na área da Saúde e Educação, mas também na área da reforma do setor de Defesa e Segurança e na preparação de eleições gerais, inicialmente previstas para abril, uma data ultimamente posta em causa por vários políticos, que dizem ser impossível realizar eleições em tão curto espaço de tempo.

"Estou convencido de que se assinarmos um acordo a Guiné-Bissau pode ser em pouco tempo um exemplo para todo o continente africano", disse Amin Khan, que frisou que as três organizações não esperam contrapartidas da Guiné-Bissau.

"Estamos aqui para dar assistência económica, política e institucional", disse Hassam Bou-Said, da representação da Comissão no Líbano, acrescentando que com o primeiro ministro de transição foram discutidos temas como as relações económicas entre a Guiné-Bissau a Itália, o Paquistão e o Líbano, encorajando os empresários desses países a investirem na Guiné-Bissau.

Brasil: IMPRENSA COM ALZHEIMER




Urariano Mota, Recife – Direto da Redação

Recife (PE) - Este artigo nasceu do comportamento da imprensa brasileira em geral, e da recifense em particular, quando “esqueceu” no último dia 8  as notícias dos assassinatos de janeiro de 1973 no Brasil. É certo e claro que não podemos esperar dos jornais uma colossal memória, a ponto de que façam voltar às páginas acontecimentos trágicos em datas significativas. Não. A falta vem da história da ditadura que não está fechada, que pede urgência para a denúncia de crimes insepultos, no instante em que cresce a Comissão da Memória e da Verdade em todo o país. É a pauta do dia mesmo, é o gancho de sangue, que exige um destaque para o 8 de janeiro de 1973.
  
O problema é que o título acima, se é bom como achado, é falho em ciência. Isso porque os pacientes do mal de Alzheimer não perdem bem o passado, perdem o presente. Então corrijo, pois dos jornais brasileiros podemos escrever que sofrem de um Alzheimer muito pior: não veem o presente e perderam o passado. Para não dizer que na marcha em que vão perdem também o futuro. Entendam por quê.

Em 8 de janeiro de 1973 as manchetes de todos os jornais anunciaram: “seis terroristas mortos em tiroteio”. Foram seis homicídios, todos unidos e simplificados em um aparelho da Chácara São Bento, um sítio na região metropolitana do Recife. Todos, pelo anúncio dos jornais, perigosos terroristas, que resistiram à bala ao cerco das forças da ordem. Mas só depois de mortos se fez a maquiagem nos jovens socialistas: com tiros, para melhor coerência do suplício com o papel dos jornais. Foram eles: Pauline Reichstul, José Manuel, Soledad Barrett, Evaldo Ferreira, Jarbas Pereira e Eudaldo Gomes. Todos, a investigação histórica revelou, mortos que denunciaram o rastro do Cabo Anselmo.

E que histórias têm esses mortos, amigos. E que tragédias vivas perderam as notícias do último dia 8, vivas, pois suas vidas clamam ser conhecidas por todos. Que grandeza épica tiveram esses jovens massacrados. De um deles, Jarbas Pereira Marques, com quem bebi cerveja no Pátio de São Pedro, tendo ao lado a sua esposa grávida, assim falou Mércia Albuquerque, advogada fundamental dos anos de terror de Estado em Pernambuco:

“Três dias antes da sua morte, Jarbas me procurou à noite e entregou fotografias da família, uma fotografia que dizia ser do Cabo Anselmo, e mais Carteira do Trabalho, Certidão de Casamento, Certidão de Nascimento e Certificado de Reservista. Ele me disse que estava para ser preso e que Fleury se encontrava no Recife com a sua equipe, e que o Cabo Anselmo usava os nomes de Daniel, Jadiel, Américo Balduíno, que o Cabo era companheiro de Soledad, mas ele já havia descoberto que esta pessoa era infiltrada na organização, daí porque ele estava muito assustado... Jarbas era um tipo romântico, ingênuo, e eu conversei com ele, pedi que ele fugisse, mas ele se negou dizendo que isso não faria pela segurança da filha e da esposa. Eu pedi que ele deixasse a criança sob meus cuidados, mas ele me falou que não ia levar Tércia Rodrigues para uma aventura, porque ela era uma pessoa frágil e seria também assassinada”.

Que grandeza. Para salvar a  fragilidade da esposa, foi morto. A sua única filha, Nadejda Marques, vive nos Estados Unidos, onde escreveu um livro cujo nome é Born Subversive. Nascida Subversiva, que nome, amigos. No texto presente não cabe a dimensão dessas pessoas e de seus destinos. Mas não posso deixar de esboçar com a rispidez e a brevidade de um lead duas mulheres:

“Pauline Reichstul nasceu em Praga, filha de judeus poloneses. Ainda bebê,  a família mudou-se para Paris, onde viveu até 1955, voltando então a migrar para o Brasil.

Completou o curso de Psicologia na Universidade de Genebra em 1970. Nesse tempo, passou a ter contatos com brasileiros de resistência à ditadura. Trabalhou em órgãos de divulgação na Europa denunciando as violações de Direitos Humanos no Brasil, em especial as torturas e mortes de militantes. Foi namorada e companheira de Ladislas Dowbor. O irmão de Pauline, Henri Philippe Reichstul, ex-preso político, foi presidente da Petrobras”.

E de Soledad Barrett, guerreira, atraiçoada mulher do cabo Anselmo, que ele entregou grávida para a morte a seu amigo Fleury? Lembro rude como uma síntese. Para ela, para a sua memória, escrevi “Soledad no Recife”. Na medida do possível, os escritores escrevemos o que falta aos jornais. Os impressos sofrem do novo Alzheimer, sem presente e sem passado. Dizem os médicos que a demência começa com o esquecimento.

* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.

Brasil: ÚLTIMA CHANCE PARA DERRUBAR DILMA




A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014.

Antonio Lassance - Carta Maior

A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014. O “timing” para fazer isso é 2013, ou será tarde demais para conseguir tirar a vantagem que hoje tem a presidenta contra qualquer adversário.

Ao contrário de campanhas anteriores, os tucanos já definiram seu candidato com bastante antecedência. A antecipação ocorreu porque a tarefa da oposição é ingrata. A popularidade de Dilma anda na estratosfera (73%) e resistiu aos escândalos direcionados contra seu governo, ao julgamento da Ação Penal 470 e à desaceleração da economia. A presidenta e o PT não só atravessaram tudo isso como conseguiram ampliar o número de prefeituras e derrotar o PSDB na cidade com o maior eleitorado do país. Uma dificuldade extra para a política em 2014 será o clima de copa do mundo de futebol, mais intenso e que se estenderá por mais tempo no Brasil.

Na batalha para garantir que pelo menos haja segundo turno, os que fazem oposição ao governo Dilma sabem que não podem confiar só no PSDB. Torcem por um maior número de candidatos com pelo menos 10% de intenções de voto cada. Faz parte do jogo trazer Marina Silva de volta à cena, falando de meio-ambiente; dar voz ao Psol para falar de corrupção; estimular Eduardo Campos – que já disse que não é candidato - a se tornar candidato. Nessa divisão do trabalho, os tucanos centram seu foco na economia, ou melhor dizendo, no tema das finanças (públicas e privadas).

Na nova estratégia oposicionista, o tempo é a variável fundamental. A estigmatização dos adversários e a editorialização da política já são armas corriqueiras. Os alvos também continuam, em grande medida, os mesmos. Incluem os clichês da tradicional espiral de pessimismo: "a inflação está alta demais", "os gastos públicos fugiram do controle", "o país vai crescer menos que o Haiti", "a saúde está pela hora da morte", "a educação só piora".

Os estigmas mais fortes virão dos desdobramentos do mensalão. A oposição ambiciona as imagens de petistas indo para a carceragem, se possível, algemados; melhor ainda se forem pegos de pijama e seguirem para a prisão em camburões, filmados pelos helicópteros das redes de TV.

Os novos alvos ficam por conta da batalha pela redução das tarifas de energia, confrontada com o fantasma do apagão, e da gestão da prefeitura de Haddad, que poderá ser alvo da mesma tentativa de erundinização que se viu na campanha de 1989 contra Lula, quando uma administração boa e séria foi transformada em um péssimo exemplo pelos adversários.

Está certíssimo o ministro Gilberto Carvalho, que disse que “2013 vem aí e vem muito bravo”. A questão é saber: diante dos ataques, o que farão a presidente, seu governo, Lula e o PT?

Uma grande expectativa está sendo depositada em uma presença pública mais intensa de Lula, com suas caravanas, seu contato com o povo, sua língua ferina contra os adversários, seu improviso, suas metáforas. Esse estilo direto e mambembe de fazer política sempre ajudou o PT a inverter o jogo em momentos difíceis.

Mas será que isso basta? Lula será fundamental para defender o PT e a si próprio dos duros ataques que vem sofrendo. Também pode fazer, melhor do que ninguém, a defesa de seu legado. Em 2013, completamos 10 anos do início de muitas mudanças que agora fazem parte da paisagem socioeconômica do país. Mas há toda uma nova geração de brasileiros que já não se recorda do que era este país antes de Lula. Não sabe o que era a educação sem Fundeb, sem Pró-Uni, sem Cefet’s, sem as universidades que foram criadas ou ampliadas. Não sabe o que era a Saúde sem a Política Nacional de Urgência e Emergência - da qual fazem parte o SAMU e as Unidades de Pronto Atendimento - e sem “Brasil Sorridente”.

Tem gente que não se lembra o que era a infraestrutura do país antes do PAC, nem da época em que engenheiros começavam a aparecer nas esquinas vendendo cachorro-quente. Muita gente não tem ideia do que era a vida dos mais pobres com a taxa de desemprego acima de dois dígitos, sem o Bolsa Família, sem o “Minha Casa, Minha Vida”, sem o “Luz para todos”. Antes da criação das contas populares, que permitiram a bancarização de milhões de brasileiros, muitos tinham vergonha de entrar em uma agência bancária e só conseguiam crédito recorrendo à agiotagem. Neste sentido, Lula pode ajudar muito a refrescar a memória do país.

Mas, e Dilma? Estamos falando de seu governo, e não só do governo Lula. É da presidenta a responsabilidade primordial de dizer o que é e o que faz seu governo. Seria bom que fizesse isso mudando ou no mínimo variando mais seu padrão de comunicação, incluindo entrevistas a blogueiros, a rádios e veículo do interior, sindicais e comunitários.

Se quiser fazer frente a seus adversários e ao tamanho dos desafios colocados, Dilma vai ter que falar mais, que viajar mais. Vai precisar explicar mais o que está acontecendo, o que está fazendo e o que está em jogo para o futuro do país. Terá que se rodear menos de ministros e celebridades, e mais do povo das ruas. Afinal, este ano de 2013 começou com altas temperaturas e com cara de primeiro turno.

* Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

Ator José de Abreu: “para ser condenado no Brasil tem que ser preto, pobre, puta e petista”





José De Abreu fala de política e história em entrevista: “Fernando Henrique Cardoso era meu ídolo na época da faculadde, não o Lula”. Sobre partidos políticos, revela: “o DEM acabou e o PSDB está acabando”

José de Abreu, 66, acompanha com a mesma intensidade o desfecho de “Avenida Brasil” e a conclusão do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Mensalão e o PT

“Eu nunca conversei com o Zé [José Dirceu] a respeito das denúncias. Acho que o PT fez o que sempre se fez. É errado? Sim! Mas fez o que sempre se fez”.

“Por que o PPS apoia o Serra em São Paulo e o Paes/Lula/Dilma no Rio? Qual o sentido disso? Roberto Freire [presidente do PPS] passa 24 horas por dia no Twitter metendo o pau no Lula, chamando de ladrão e de corrupto, e fecha com o Paes aqui, com um vice-candidato a prefeito do PT? É venda de espaço, venda de horário, venda da sigla. Vou ser processado. Já estou sendo processado pelo Gilmar Mendes [ministro do STF, por chamá-lo de corrupto no Twitter]]. Agora, talvez seja processado pelo Freire.” –procurado pela reportagem, Roberto Freire declarou: “Esse ator tem uma ética política que orbitava ao redor do PCB [Partido Comunista Brasileiro]. Agora, ele não tem mais nada disso. Não merece meu respeito nem a minha resposta.”

O grande organizador da base foi o Zé Dirceu. Eu não tenho informação de cocheira para falar. Lendo a imprensa, deu para notar o seguinte. Antes do Lula ser eleito, houve uma reunião dele com o Zé Dirceu dizendo que ele não queria mais concorrer, né? E o Zé o convenceu com a ideia do José de Alencar [ex-vice-presidente] ser vice, de abrir um pouco mais o PT, de fazer coligação etc. Isso tudo foi o Dirceu quem fez não o Lula. Mas se for a história do domínio do fato, tem que prender o Fernando Henrique por comprar a eleição dele, porque tem provas. Agora se fala, eu sei que houve, mas não sei quem fez. O deputado Ronnie Von Santiago [que era do PFL-AC] falou eu ganhou R$ 200 mil para votar a favor da reeleição do Fernando Henrique. Ah, o FHC não sabia? Mas pelo domínio do fato, não saber é como saber. Então se pode enquadrar qualquer um, até o Lula, que sem dúvida nenhuma é o grande objetivo…”

“O PT está virando o Brasil de cabeça para baixo, está colocando uma mulher na presidência, um negro na presidência do STF, tirando 40 milhões da pobreza, fazendo um cara que sai do Bolsa Família, do ProUni, fazer mestrado em Harvard, ter os primeiros lugares do Enem.”

“Como é que um operário sem dedo, semianalfabeto faz isso que nunca fizeram? O nosso querido Fernando Henrique Cardoso, que era a minha literatura de axila na faculdade, que era meu ídolo. Não o Lula. O Lula era da minha geração, o FHC de uma anterior. Fernando Henrique, Florestan Fernandes eram os caras que queria mudar o Brasil. Aí o Fernando Henrique tem a oportunidade e não faz? Vai para a direita? É uma coisa louca. O que aconteceu? O PT e o PSDB nasceram da mesma vértebra. Era para ser um partido só. O que acontece é que chegam ao poder e vendem a alma ao diabo. Fica igual ao que foi feito nos 500 anos. O PT teve o peito de tentar romper, rompeu e está pagando por isso.”

“Eu votei no Fernando Henrique na primeira vez [na eleição de 1993]. Achava que ele era melhor do que o Lula naquela oportunidade. E foi mesmo. O Lula foi melhor depois.”

José Dirceu e a Ditadura Militar

“Conheci o Dirceu quando entrei na faculdade [no curso de direito da PUC-SP], na década de 1960. Eu entrei na faculdade já no pau, tem uma piadinha que eu faço, que quem não era de esquerda não comia ninguém. Porque ser de direita naquela época era ou ser extremamente mau-caráter ou alienado. Alienado era bobão, não sabia nem que existia a ditadura. Eu fui um dos representantes da faculdade na UNE [União Nacional dos Estudantes]. Foi nessa época que eu fiquei mais próximo do Dirceu.”

“Não fui torturado durante a ditadura. Fui preso junto com o Zé Dirceu em Ibiúna, no congresso da UNE,e m 1968. Eu fiquei preso uns dois meses, levei uns tapas na cabeça, quando ia para o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] prestar depoimento.”

“A coisa ficou pesada depois do AI-5 [ato institucional que restringiu mais as liberdades civis], eu fui solto dois dias antes, foi a maior sorte. No dia 13 de dezembro, fui na faculdade, no Tuca e o porteiro disse que a polícia tinha ido atrás de mim, de armas. Nunca peguei em armas, fui embora para o Rio, e fiquei prestando apoio logístico para uma organização de esquerda. A única ação que eu fiquei sabendo depois e eu participei foi transportar o dinheiro tirado de um cofre do governador Adhemar de Barros [1901-1969].”

“O meu contato com a organização era um concunhado que foi preso junto com a Dilma, na rua da Consolação. Só tinha duas atitudes, ou entrar na luta armada ou deixar a organização. Minha companheira estava grávida do meu primeiro filho. Conversamos. Eu nunca pensei que poderíamos derrotar as forças armadas. Éramos 500 mil, 600 mil estudantes, tinha operário e militar, mas a grande maioria era estudante classe média.”

“Foi quando eu fui para a Europa, em 1972, para Londres, Amsterdã. Virei místico, fui estudar hinduísmo, filosofia oriental. Fiz ioga, meditação, macrobiótica, fui vegetariano, meditava quatro vezes por dia, vivia numa ilha grega, comendo frugal. Lá tomei ácidos. Muitos com orientação, para fazer pesquisa. Tinha um livro que ensinava. Tinha uma pessoa que brincava com o incenso. O contato foi maravilhoso. Era algo cósmico. No Brasil, enquanto a gente estava gritando paz no Vietnã, nos EUA eles gritavam ‘make love’ [faça amor]. Era a mesma coisa, mas um tinha um lado hippie, lisérgico. A minha geração, alguns amigos ficaram na esquerda, outros fizeram a revolução já hippie. Eu tive o privilégio de fazer parte dos dois lados.”

“Quando voltei ao Brasil anos depois, fui dar aulas em Pelotas, me desliguei dessa parte política e me foquei na arte. Me meti na profissão, fui ter filho e cuidar deles como o John Lennon fez. Limpando a bunda, acordando de madrugada para dar de mamar. Sendo um pai e mãe. Dividindo igualmente tudo e foi lindo.Depois fui para Porto Alegre, comecei a produzir música, levei Gilberto Gil, Rita Lee, Novos Baianos. Montei uma peça do Chico Buarque, ‘Saltimbancos’. Acabei fazendo um filme muito louco, ‘A Intrusa’, ganhei um prêmio em Gramado e a Globo estava lá e me chamou.”

Internet

“Na segunda eleição do Lula, eu tinha um blog e fui muito atacado. Eu estava no Acre, fazendo a minissérie ‘Amazônia’. Aquela eleição já foi muito radicalizada. Eu sou viciado em internet há muito tempo. Fui um dos primeiros atores a ter uma senha do Ministérios das Comunicações. Em 1994, 1995, já usava internet num provedor que o Betinho [Hebert de Souza] tinha por causa do Ibase [Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas]. Eu, o Paulo Betti, o Pedro Paulo Rangel fomos os primeiros atores a usar internet. Eu fiz muito ator comprar computador e ter internet. O mais comum era ouvir ‘não gosto de internet’. Mas no futuro ia ser algo como não gostar de telefone, de liquidificador. O José Mayer me apelidou de Zé Windows.”

“Sou geminiano, gosto de comunicação e cai no Twitter com a história da campanha da Dilma, que foi a primeira campanha em que as redes sociais foram muito usadas.”

Dilma Rousseff

“Não tive contato com a Dilma durante a ditadura. A gente era da mesma organização [VAR-Palmares]. Só se for fazer muita ilação. Não vou dar uma de Joaquim Barbosa…”
“Lula é Dilma e Dilma é Lula. Isso é um mantra, a cumplicidade dos dois é total. Quando o Lula começou com essa história de ter Dilma como candidato, todo mundo assustou. O pessoal do PT mesmo, o Lula pirou, como faz? Nunca tinha acontecido isso, uma pessoa que não tinha ganhado nenhuma eleição ser candidata a presidente.”

Ministério da Cultura e a Política de Cotas

“Eu não sei o que foi aquilo [Ana de Hollanda]. Um dia a gente ainda vai saber o que aconteceu. Depois ferrou, a Dilma é teimosa, não ia tirá-la na pressão. Ela esperou acabar tudo para trocar o ministério. A Ana é esquisita, uma pessoa difícil. Eu fui falar com ela uma vez, foi muito difícil. Quando entrou, batia de frente com o PT inteiro, com os deputados todos que cuidavam da cultura. Achei uma desfaçatez com o ministério da Cultura.”

“Agora precisa um levantamento para saber o deve ser feito. Mas a chegada da Marta [Suplicy] foi muito boa.”

“Sou a favorzaço de cota em tudo. Nós temos uma dívida. Há quantos anos um negro não podia entrar na faculdade? Podia pela lei, mas não entrava. Não tinha oportunidade igual. Na minha classe, tinha um negro em 50 alunos. Os ricos têm a impressão de que vão roubar deles. Mas o Lula conseguiu mostrar que dá para dividir e eles ganharam mais dinheiro ainda porque entrou muita gente no mercado para comprar coisas. Por mais que a Dilma dê porrada nas montadoras, elas estão amando a presidente.”

“Foi uma surpresa [cota para negros em edital do MinC], eu não li o projeto, mas a rigor, eu acho que o Brasil tem um débito muito grande e se for contar a escravatura, o débito não se paga nunca.”

“Não esperava que o Brasil fosse dar esse salto de assumir que é racista, de o governo assumir que existe racismo, de que existem problemas sérios, de que o brasileiro não é cordial com os seus. O brasileiro sabe explorar seus empregados. Hoje em dia, ter empregada doméstica está cada vez mais difícil. É claro! Quem quer lavar a cueca de um marido que não seja seu. É degradante.”

Futuro do PT e Presidência em 2014 e 2018

“Vou chutar aqui. Se o Eduardo Paes [prefeito do Rio] fizer um puta governo, agora com a Olimpíada, com a Copa, vai ganhar uma visibilidade absurda, pode enlouquecer e querer ser presidente pelo PMDB, sem ter sido governador. Obviamente, o Eduardo Campos [governador de Pernambuco, pelo PSB] é uma coisa natural, neto do Miguel Arraes.”

“O PSDB está acabando, o DEM acabou, o partido do Kassab [PSD] conseguiu algumas coisas, mas ele tomou o partido e agora está perdendo força. Kassab quis ser o Lula. Se o Haddad fizer um bom governo, se for eleito prefeito e ficar quatro, depois mais quatro pode ser um candidato em 2018. Daqui a seis anos o Lula ainda tem idade para tentar a presidência, mas se eu fosse ele, ia ser governador de São Paulo, só para acabar com a brincadeira [do PSDB]. Aí ficava Lula, Dilma e Haddad. São Paulo ia ser capital do mundo.”

Entrevista concedida a Alberto Pereira Jr. (RJ), Folha

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