quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A “INTELIGÊNCIA” RESOLVE – III




Martinho Júnior, Luanda

Os Estados Unidos com suas forças disseminadas por 6 Comandos subordinados ao Pentágono estão a tirar partido, sob o ponto de vista financeiro, de velhos e novos aliados que integram a sua geo estratégia e geo política, não perdendo de vista os recursos energéticos que sustentam as economias contemporâneas.

O exercício duma hegemonia “inteligente” orientada segundo métodos de “soft power” por parte da administração de Barack Hussein Obama “cativou” não só os velhos e os novos membros da NATO, bem como os membros do ANZUS, mas também as monarquias arábicas mais poderosas e influentes, como a Arábia Saudita e o Qatar, cujos serviços de inteligência possuem nexos com os grupos radicais islâmicos disseminados pelo menos por África, Médio Oriente e Ásia Central, inclusive grupos que fizeram ou fazem parte da Al Qaeda!

Isso integrou a prioridade de “salvar os reis” donos do petróleo e do gás de baixo custo de exploração.

A prioridade que os Estados Unidos passaram a dar à geo estratégia do Pacífico de forma a fazer face à China, beneficiando da redução dos contingentes no Iraque e no Afeganistão, permite também as concepções “soft power” em relação a África.

O exercício do “soft power” possibilita a proliferação de tensões e conflitos “low cost”, o que possibilita os jogos operativos entre contrários, cuja intensidade obedece necessariamente à torneira financeira, que por seu turno, ao regular as capacidades operativas, directa e indirectamente regulam a intensidade dos combates.

É precisamente no “elan” financeiro apta para desencadear o “soft power” que é importante a capacidade dos aliados arábicos, plataformas de petróleo barato e de “petro dólars”.

Para disseminar uma situação de tensão ou de conflito, é possível alimentar de dinheiro e armas grupos que vão assumir o papel de terroristas radicais islâmicos com o rótulo de Al Qaeda, ou próximo da Al Qaeda, abrindo mais, ou menos as torneiras de apoio, de forma a melhor projectar as contenções, ou sejam as respostas de luta contra o terrorismo levadas a cabo pela hegemonia norte americana, seus aliados e parceiros, países africanos incluídos como ocorre agora no Sahel com fulcro no território “Azawad” no Mali (antigo Sudão Francês)!

Tudo isso ocorre com referência a ideologias conservadoras e ultra conservadoras (incrustadas no islamismo mas também no catolicismo) e servem amplamente ao processo paulatino da militarização do continente africano que interessa sobretudo aos Estados Unidos, um processo que tende a passar pelo redesenhar dos mapas e mantém como reféns, ou debaixo duma relativa pressão as elites nacionais.

Por vezes as coisas correm mal: quando “impoderáveis” resultam duma deficiente avaliação da situação, acontecimentos como o do 11 de Setembro de 2012 no Consulado norte americano em Benghazi podem ocorrer.

De acordo com os que se debruçaram sobre o assassinato do Embaixador J. Christopher Stevens, carregamentos de armas embarcados da Líbia para serem entregues aos rebeldes sírios via uma Turquia que “por osmose” se começa a render à Irmandade Muçulmana, podem ter ido parar a mãos menos controladas pelos serviços de inteligência ocidentais e arábicos, como por exemplo os curdos que se movimentam tradicionalmente nas voláteis fronteiras Iraque-Turquia-Síria…

É evidente que numa conjuntura em que os grupos radicais proliferam como cogumelos, numa atmosfera explosiva como a do Norte de África, do Sahel e do Médio Oriente, o grau de risco é ainda maior, pois todos e cada um possuem os seus aliados e os seus próprios interesses e territórios...

Algumas das principais estruturas CENTCOM estão instaladas no Qatar e no vizinho Bahrein e isso facilita as conexões financeiras, de “inteligência”, assim como as ligações militares, muito em especial ao nível de forças especiais, tal como o trânsito de armas, mas as operações “no terreno” envolvendo o trânsito de tantos arsenais, são muito mais difíceis de realizar que as operações financeiras!

O CENTCOM é o Comando que mais intercâmbio de informação e análise operativa promove com o AFRICOM, que tem no EUCOM o outro suporte, mais virado para apoios e programações de transporte, logística e para o desencadear de “blitzkriegs” como a presente operação Serval!

Naturalmente que é o CENTCOM que mais se liga à Arábia Saudita, ao Qatar e a Israel.
O espaço sunita, que no âmbito do islamismo se opõe ao espaço chiita, inscreve-se nesse enredo, que também é do interesse dos falcões de Israel.

O financiamento dos grupos radicais é indispensável para a expansão de tensões, sejam eles considerados “amigos” ou “inimigos” (que jeito fazem este tipo de “inimigos”)…

Com “inimigos de baixo custo”, torna-se útil a sua existência a fim de, criando conflito, dar oportunidade às potências de intervirem de acordo com as ementas adequadas aos interesses das multi-nacionais de feição, a fim de explorar os recursos indispensáveis. Ao exercício do seu domínio.

Os serviços de inteligência aliados tiraram partido da aliança com o “Libyan Islamic Fighting Group” na Líbia, um grupo que incluía antigos “freedom fighters” da era Reagan que tinham lutado contra os soviéticos no Afeganistão e se ligaram à Al Qaeda.

Em relação à Síria os aliados ocidentais e árabes, sob a égide norte americana, aplicam procedimentos similares por via dos grupos Takfiri, à sombra do Conselho de Coordenação Nacional rebelde.

O grupo rebelde Al Nusra Front por exemplo, que professa uma linha que se identifica com a Al Qaeda, está a actuar na Síria é abertamente apoiado pela Arábia Saudita e pelo Qatar.

Essas ligações portanto não ocorrem todavia só em relação a grupos “amigos” que se identificaram ou identificam com a Al Qaeda na Líbia e na Síria em aliança com os interesses da hegemonia norte americana; grupos islâmicos radicais “inimigos” como o AQIM, o Ansar Dine e o Mujao, que estão a ser combatidos pela “sacra” aliança neo colonial reunida em torno da operação Serval, mantêm ligação ao “Libyan Islamic Fighting Group” e possuem conexões à Arábia Saudita e ao Qatar.

Segundo Thierry Meyssant do Réseaux Voltaire:

“A técnica de ingerência da França reproduz a utilizada anteriormente pela administração Bush: utilizar grupos islamitas para criar conflitos e, posteriormente, intervir e instalar-se no terreno com o pretexto de resolver esses mesmos conflitos.

É por isso que a retórica do presidente francês François Hollande reproduz a retórica da guerra contra o terrorismo, já desenhada por Washington.

Nesta reencenação aparecem de novo os protagonistas do costume: o Catar comprou acções nas grandes empresas francesas presentes no Mali e o emir do Ansar Dine está estreitamente ligado á Arabia Saudita”.

O “soft power” do AFRICOM aproveita muito bem esta situação:

- Domina através de meios de inteligência “techint” e “humint” com o emprego de satélites, de drones e de forças especiais;

- Integra os aliados europeus aproveitando-se das heranças dos impérios coloniais e sua capacidade de combate;

- Domina no Conselho de Segurança da ONU sem o veto que houve no caso da Síria;

- Estimula os emparceiramentos da NATO até com a Rússia (que terá fornecido aos franceses aviões de transporte NA-124 para colocar no Mali os helicópteros de ataque no âmbito da operação Serval);

- Estimula os emparceiramentos africanos, manipulando com uma ameaça terrorista em relação à qual o “berço” é produzido por seus próprios serviços de inteligência e os dos aliados, que também correspondem sob o ponto de vista financeiro…

O império vai-se impondo a África e para isso basta o “soft power” das ementas da administração de Barack Hussein Obama: a “inteligência” resolve e a aristocracia financeira mundial está bastante mais satisfeita do que com a brutalidade da administração de George W. Bush!

Mapa: O petróleo africano.

A consultar:
- Air and Space Operations Centers – http://en.wikipedia.org/wiki/Combined_Air_Operations_Center
- Ao Qaeda in the Magreb – Who’s who? – Who is behind the terrorists? – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
- France-Qatar: fin de la lune de miel entre les deux pays – http://www.tunisie-secret.com/France-Qatar-Fin-de-la-lune-de-miel-entre-les-deux-pays_a282.html
- Le Qatar déstabilise l’Algérie et finance le terrorism au Mali – http://www.tunisie-secret.com/Le-Qatar-destabilise-l-Algerie-et-finance-le-terrorisme-au-Mali_a279.html
- Qatar Sponsor of Islamist Political Movements Major Ally of America – http://www.globalresearch.ca/qatar-sponsor-of-islamist-political-movements-major-ally-of-america/5320105
- The Benghazi Attack: Some Thoughts – http://econwarfare.org/viewarticle.cfm?id=5109
- Tunisie Qatar et Egypte contre l’action française au Mali – http://www.tunisie-secret.com/Tunisie-Qatar-et-Egypte-contre-l-action-francaise-au-Mali_a287.html
- O petróleo e as outras riquezas naturais incitam as disputas – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/mali-o-petroleo-e-as-outras-riquezas.html


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