sábado, 11 de agosto de 2012

BLOGGERS PORTUGUESAS APRESENTAM QUEIXA-CRIME CONTRA POLÍTICO AMERICANO



Expresso

Em causa estão as declarações ao Expresso de Jonathan Winer, ex-vice-secretário de Estado de Bill Clinton, a propósito de George Wright.

Duas bloggers portuguesas, a jornalista Diana Andringa e a gestora Joana Lopes, apresentaram esta semana uma queixa-crime contra Jonathan Winer, ex-vice-secretário de Estado de Bill Clinton.

Em causa, estão as declarações de Jonathan Winer ao Expresso defendendo o rapto e mesmo homicídio de George Wright, um cidadão americano naturalizado português, condenado por homicídio nos EUA.

As autoridades portuguesas recusaram-se a extraditar George Wrigh, alegando que o crime já está prescrito.

OBVIAMENTE, INTERROGO-ME: PORQUÊ? E SÓ AGORA?



Brasilino Godinho – Quinta Lusitana

Da edição do semanário SOL, de 10 do corrente mês de Agosto, transcrevo o seguinte trecho de primeira página:

Zita, “A ex-militante comunista adiantou a hipótese de o PCP ter usado uma empresa de aparelhos de ar condicionado para instalar microfones em gabinetes de Estado”.

Vejamos a coisa como se fora uma peça de teatro.

O cenário: SIC, jornal da noite.

Personagens individuais: Mário Crespo, Zita Seabra, Alexandre Alves (“Barão Vermelho”).

Personagens colectivos: PCP e jornalistas.

Tema da composição teatral em causa (um meio-termo entre o drama e a comédia): Espionagem comunista nos tempos da FNAC (a empresa mencionada).

A acção inicia-se com a presença de Zita Seabra, frente a Mário Crespo, sob as miras das câmaras, no estúdio da SIC; o qual, solícito, de imediato, a interroga sobre o tema trazido à colação. Ela, sempre exibindo um sorriso forçado, embora tratando um assunto que dir-se-ia sério, vai desenvolvendo o tema num plano de indefinição e de imprecisão, cingido ao mero campo hipotético. Crespo, sorridente, patético, tristemente(…) embevecido, vai ouvindo suave, docemente e com inexcedível brandura lança algumas dicas adjuvantes. Por fim, remata, em êxtase, o encontro como habitualmente faz: com aprazimento um tanto postiço, dizendo-se muito honrado* com a vinda da ilustre personagem por generosa(?) anuência ao seu “convite” (certamente - admito - que não envolvendo gratuitidade na prestação televisiva…).

Alves, ouvido posteriormente na SIC, nega a hipótese de espionagem colocada pela personagem Zita e fá-lo também com um sorriso.

Logo a seguir o PCP, como que assobiando para o lado, emite um comunicado em que desvaloriza a pessoa Zita Seabra e as declarações por ela prestadas à SIC.

Os jornalistas e alguns órgãos de comunicação social embandeiram em arco e vão-se contemplando euforicamente na diversão que ora surge. Perante esta peça de teatro rasca, apresentada ao respeitável público com o manifesto propósito de o desconsiderar - porquanto, julgando-o estúpido, amorfo e destituído de senso e de espírito crítico - importa realçar que ninguém, na hora, fez as duas elementares perguntas:

- O que levou Crespo a “convidar” Zita para se pronunciar sobre aquele específico tema da hipotética espionagem? E vir ele, agora, fora do seu tempo próprio, à baila?

- Se a Zita foi expulsa do PCP há vinte e quatro anos (1988, como consta na imprensa) e, quase de imediato, se incorporou na família do PSD; se tem desenvolvido uma intensa campanha contra o seu antigo clã doutrinário (PCP); qual a razão de só agora, intempestivamente, Zita Seabra sair a terreiro empenhada em admitir que o PCP fizera espionagem na época de existência da FNAC?

Se dirá, com propriedade, que - não se vislumbrando espionagem, neste caso representado pela própria iniciativa e pela intervenção de Zita, na SIC - haverá nesta história tão mal contada um mistério que reveste algum interesse desvendar…

Não se terem expressado as elementares interrogações sobre o tempo, a oportunidade e a motivação das declarações de Zita Seabra, releva a ligeireza com que estes assuntos são tratados no plano mediático e a impressionante falta de objectividade bem patente nalguns meios jornalísticos. Sublinho, dando ao facto a devida ênfase…

* Nota de curiosidade - Com tantas e persistentes honras diárias que Mário Crespo induz com estes seus singulares “convites” e que, de forma tão evidente, o deixam babado, ele deve ser o homem mais “honrado” que existe em Portugal… Não será altura de o propor para ingresso no Guinness Book?...

CRISE ATUAL PODERÁ SER PREÂMBULO DE NOVO APOCALIPSE




Alejandro Nadal, Cidade do México – Opera Mundi

Poderio do mercado financeiro segue impedindo a adoção de regras para conter a especulação

Há cinco anos na pior crise das últimas oito décadas e o mundo financeiro continua sem mudanças significativas. Em pleno epicentro do terremoto e as reformas ao sistema de regulação deviam ter impedido um novo desastre. Mas o poderio do setor financeiro impediu que fossem aplicadas restrições à atividade especulativa. A economia mundial enfrenta o risco de uma nova queda. A crise atual poderá ser apenas o preâmbulo do novo Apocalipse.

Primeiro os números: o tamanho do mercado mundial de derivados é estimado em 1,2 trilhões de dólares. A maioria das transações nesse gigantesco mercado, desde swaps [um contrato de compra ou venda a prazo] de dívida e de taxas de juros até exóticos veículos sintéticos de investimento escapam a qualquer sistema de regulação. Este mercado não cumpre qualquer função social ou econômica. A sua razão de ser é a pura especulação.

A volatilidade, o comportamento de rebanho e as expectativas não realizadas são traços característicos deste cassino. A instabilidade é a palavra-chave neste terreno de apostas perigosas. Nem sequer os agentes que participam desse mercado entendem o seu funcionamento. Os seus modelos de valorização de risco são enganadores porque reduzem a incerteza a um cálculo de probabilidades. O exemplo mais recente é o das perdas de mais de dois bilhões de dólares do JP Morgan em maio, após ter cometido erros flagrantes, segundo as palavras do seu arrogante chefe Jamie Dimon.

Esta terminologia esconde o fato de o banco ter feito apostas absurdas que acabaram mal. Este episódio chama a atenção porque pode se tratar de um presságio sinistro. Os principais bancos do mundo têm níveis de exposição muito fortes neste mercado, onde tudo pode acontecer, com graves consequências para a economia real.

No entanto, até agora não se estabeleceu um novo regime de regulação para mudar este estado de coisas. Em 2010, Obama promulgou a lei Dodd-Frank. É um documento de 2.300 páginas com regras que já se aplicam aos riscos que os bancos podem assumir e às atribuições das entidades reguladoras. Porém, os seus dois componentes mais importantes não entraram em vigor: tratam-se das restrições ao mercado de derivados e a chamada regra Volcker.

O título VII da lei estabelece que as operações sobre derivados deverão levar-se a cabo em mercados públicos, para que os preços sejam conhecidos e se garanta o cumprimento dos contratos. Mas muitas regras nesse título estão sendo atenuadas pelo lobby dos bancos e pelos seus servis amigos na Securities Exchange Commission e na Commodities and Futures Trading Commission. Em especial, as definições sobre os contratos de swaps constituem terreno fértil para abrir janelas através das quais se possa contornar a regulamentação.

O outro componente chave é a chamada Regra Volcker, que proíbe os bancos de realizarem operações para seu próprio benefício com recursos dos seus clientes. Esta peça de regulação é do senso comum, mas para os bancos é uma grave ameaça: afeta uma das fontes mais importantes dos seus lucros especulativos. Todavia, não entra em vigor porque a sua regulamentação está sendo fortemente debatida: o poderoso lobby dos bancos já fez crescer o capítulo sobre a regra Volcker de dez para 300 páginas, devido à infinidade de exceções e advertências que permitirão aos bancos contornar esta proibição.

Teria sido melhor reativar uma lei equivalente à lei Glass-Steagall, que separava claramente as atividades especulativas e de alto risco das operações tradicionais dos bancos. Mas o restabelecimento dessa lei (revogada no tempo de Bill Clinton) é algo que o sistema financeiro combaterá com muito mais tenacidade e ninguém em Washington está disposto a arriscar a pele politicamente.

Segundo a Bloomberg, só no primeiro trimestre deste ano os nove principais bancos de investimento do mundo obtiveram lucros de 55 bilhões de dólares. É evidente que para estes bancos o mercado de derivados é um espaço vital ao qual não estão dispostos a renunciar. Um novo descalabro no mercado de derivados afetaria todos os mercados financeiros na Europa, começando pelo dos títulos soberanos. Por isso, é urgente livrarmo-nos da ditadura do capital financeiro.

Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a economia real se afunda numa profunda recessão, os bancos subverteram a vontade popular através do lobby. Os seus cúmplices são os partidos políticos: nos Estados Unidos, o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes é o que mais membros têm, porque se converteu num instrumento para recolher fundos do complexo financeiro-bancário e financiar campanhas eleitorais. Os governos em quase todo o mundo inclinam-se perante os seus senhores financeiros. A esquerda é a única que pode questionar este estado de coisas. Expropriar os expropriadores é a tarefa.

(*) Artigo de Alejandro Nadal, publicado a 1 de agosto de 2012 no jornal mexicano La Jornada e reproduzido por Carta Maior. Tradução de Carlos Santos para Esquerda.net

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“Comemos no McDonald’s carne que seria a mais barata para cachorros”, diz especialista



Desacato

Após o chefe de cozinha e ativista Jamie Oliver descobrir – e divulgar em seu programa de TV – que a rede McDonald’s utiliza hidróxido de amônio para converter sobras de carne gordurosas em recheio para seus hambúrgueres nos Estados Unidos, a marca anunciou que mudará a receita, segundo informações do jornal Mail Online. “Estamos comendo um produto que deveria ser vendido como a carne mais barata para cachorros e, após esse processo, dão o produto para humanos”, disse Oliver. “Por que qualquer ser humano sensato colocaria carne com amônio na boca de suas crianças?”, questiona.

O processo de conversão da carne é feito por uma empresa chamada Beef Products Inc (BPI), segundo o jornal. O veículo afirma ainda que esse processo nunca foi utilizado no Reino Unido, nem na Irlanda – que utilizam a carne de produtores locais. O McDonald’s negou que tenha sito forçado a trocar sua receita por causa da campanha de Oliver. O jornal diz ainda que outras duas redes de comida rápida, Burguer King e Taco Bell, já tinham sido pressionadas e removeram o hidróxido de amônio de suas receitas.

Na América Latina, a Arcos Dorados, empresa que opera a marca em toda a região, informa que “o aditivo em questão não é e nunca foi utilizado como ingrediente em qualquer processo da cadeia produtiva da marca”. A companhia acrescenta que os hambúrgueres são preparados com 100% de carne bovina e que toda a produção é validada pelas autoridades regulatórias locais.

SIGNIFICADO DE HIDRÓXIDO DE AMÔNIO

O hidróxido de amônio, de fórmula química NH4OH é uma base solúvel e fraca, só existe em solução aquosa quando faz-se o borbulhamento de amônia (NH3) em água.

Hidróxido de Amônio não é considerado cancerígeno pela OSHA.

Resumo de riscos: Nocivo quando ingerido, inalado e absorvido pela pele. Extremamente irritante para mucosas, sistema respiratório superior, olhos e pele.

Efeitos agudos: A inalação pode causar dificuldades na vítima como consequência: espasmos, inflamação e edema de garganta, pneumonia química e edema pulmonar.

Efeitos crônicos: A exposição repetida ao produto pode causar tosse, respiração ruidosa e ofegante, laringite, dor de cabeça, náusea, vômito e dor abdominal.


JUIZ DETERMINA SUSPENSÃO DO FACEBOOK NO BRASIL



Desacato

A rede social Facebook poderá ter que suspender o acesso dos usuários em todo o País por 24 horas por descumprimento de uma liminar. A decisão é do juiz da 13ª Zona Eleitoral, de Florianópolis, Luiz Felipe Siegert Schuch.

No final da tarde desta sexta, o Facebook apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) um pedido de reconsideração da decisão. O juiz ainda analisa o caso, que só deve ser decidido na próxima segunda-feira (13).

Se a decisão do juiz for mantida, o Facebook deverá interromper o acesso à rede social e apresentar a informação de que o site está fora do ar por descumprir a legislação eleitoral. Se essa determinação não for atendida, a empresa terá que pagar multa diária de R$ 50 mil e o prazo de suspensão do Facebook no País será duplicado.

De acordo com a decisão, o Facebook descumpriu uma liminar anterior que determinou que fosse retirada do ar a página “Reage Praia Mole”. A suspensão foi solicitada pelo vereador Dalmo Deusdedit Menezes (PP), de Florianópolis, que concorre à reeleição. O parlamentar argumentou que houve veiculação de “material depreciativo” contra ele, feita de maneira anônima por um usuário. O juiz eleitoral também determinou a identificação das pessoas que criaram a página no Facebook.

Segundo o TRE-SC, o Facebook poderá recorrer ao tribunal regional ou ainda ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A assessoria de imprensa do Facebook no Brasil informou que ainda aguarda um posicionamento oficial da sede, na Califórnia (Estados Unidos), para se manifestar.


Imagem: ND online.

ECONOMISTAS CRITICAM FALTA DE INICIATIVA DO EMPRESARIADO BRASILEIRO




Correio do Brasil, com Rede Brasil Atual - de São Paulo

Em seu afã de retomar o ritmo de crescimento econômico, o governo federal parece enfrentar nos últimos meses o mesmo desafio de 2008 e 2009: soa impossível convencer o empresariado a investir em um cenário de incerteza provocado pela crise internacional, que atravessa sua segunda perna.

- O empresariado em geral é reticente. Ele não sai na frente, só responde ao estímulo público e, em geral, não toma a iniciativa, tende a ser mais cauteloso. Particularmente, os empresários brasileiros estão também acostumados com margens de lucro muito elevadas – disse o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Prado, que foi ex-presidente do Centro Celso Furtado.

Mas ele ressalta que essa postura pode mudar: “O próprio aumento de perspectivas quanto ao horizonte de investimentos facilitará também um maior investimento privado. Principalmente na área de infraestrutura, você tem muitas áreas de colaboração público-privada, onde o investimento público e o estímulo pela parte do Estado puxam também a ação do setor privado”.

Exemplos não faltam. Mesmo com estímulos como a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a General Motors ameaçou fechar uma seção inteira de sua unidade em São José dos Campos, no interior paulista, o que poderia levar ao fechamento de 2 mil postos de trabalho.

Enquanto o governo federal prepara mais um pacote de incentivos, provavelmente na próxima semana, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou uma pesquisa indicando que 39% do empresariado paulista aposta em um bom segundo semestre – segundo a entidade, o pior índice desde 2005.

Na terça-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que o faturamento no setor teve alta de 2,9% em junho frente a maio, as horas trabalhadas aumentaram 1,8% e o emprego cresceu 0,3%. Ainda assim, disse a CNI, não foi o suficiente para recuperar as perdas do primeiro trimestre.

Pedro Rossi, do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) da Unicamp, também sugere um maior estímulo aos empresários brasileiros por parte do governo. “É da natureza do capitalismo a retração do setor privado em momentos de crise. Nesses momentos, é papel do Estado intervir para recuperar a economia. Se temos a perspectiva de uma crise de longa duração, é preciso políticas mais permanentes que busquem o dinamismo econômico. O sucesso dessas políticas vai naturalmente fazer com que o setor privado passe a investir – disse.

Cláudio Considera é mais crítico sobre a relação do governo com o empresariado: “Na verdade, o estímulo deveria ser muito mais voltado para que os empresários voltassem a investir. O governo está fazendo uma política de redução da taxa de juros, mas não está sinalizando corretamente o que pode ser uma política de estímulo para investimentos. Há muitos tipos de oportunidades para investimento que o governo não esta abrindo para o setor privado”, explicou.

O economista cita como exemplo a situação do pré-sal: “O governo chamou a si toda a responsabilidade de investimento. Isto fez com que a Petrobras se endividasse de forma muito forte e esteja cambaleando em termos de resposta a uma melhor administração do pré-sal, enquanto havia a possibilidade de o setor privado assumir parte dessas responsabilidades porque há interesse. O setor privado está disposto a correr este risco. No entanto, o governo não abre mão – concluiu.

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Cultura - Paloma Jorge Amado: "BERLIM DEPOIS DO MURO EVOCA LIBERDADE"



Deutsche Welle

Em passagem por Berlim, filha do escritor baiano e também escritora Paloma Jorge Amado fala sobre a atermporalidade da obra de seu pai, a convivência com o filósofo Jean-Paul Sartrea, e a "ala das baianas".

Deutsche Welle: A comemoração do centenário do nascimento de Jorge Amado já se iniciou no Carnaval de 2012, com a homenagem da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. Você contava com o interesse das escolas pelo centenário?

Paloma Jorge Amado: A gente imaginava que alguma escola iria homenagear papai. Só não imaginávamos que isso seria tão rápido! Uma semana depois do final do Carnaval de 2011, eles já no procuraram. Nós achamos uma maravilha, ainda mais uma escola tradicional como a Imperatriz. Sem falar no prazer de acompanhar todo o processo de desenvolvimento do enredo, que foi muito bem colocado.

No seu perfil no Facebook você declarou ser da "ala das baianas". O que isso quer dizer?

Sempre sou questionada sobre a minha posição política e a minha resposta é: "Eu sou da ala das baianas". Eu acho que hoje em dia no Brasil é difícil você se aliar a um partido, você acaba tendo que escolher pessoas, em vez de supostas ideologias. A ala das baianas é o meu ritmo, tranquilo, de quem acha que o mundo não vai acabar amanhã e, mesmo se for, não é preciso correr... É um ritmo de ter menos condescendência com determinadas coisas.

Que coisas seriam essas?

A corrupção e a conivência com ela. Eu não quero me acovardar. Me faz bem não me submeter. Isso pra mim é ser da ala das baianas.

No remakeda novela Gabrielafica mais uma vez ratificada a atemporalidade da obra de Jorge Amado. A que você atribui isso?

Eu acho que a atualidade e universalidade existem mesmo em toda a parte, porque a obra de papai fala do ser humano, com suas qualidades e defeitos, sobre quem ama, vive, chora, ri, sobre o político e o apolítico. Na Europa, eu acho que a obra de papai teve especial importância para os países que viviam sob as chamadas "Cortinas de Ferro".

Por quê?

O diretor Roman Polanski respondeu a isso de uma forma muito clara. Nos anos 70 ele, esteve no Rio de Janeiro para um festival de cinema. De lá, ligou para o papai na Bahia, perguntando se poderia visitá-lo. Papai ficou muito feliz e disse: "Venha, meu filho!", com aquele jeito baiano de ser.

Chegando lá, Polanski declarou querer agradecer pela obra de papai em nome da juventude polonesa intelectual, da qual fazia parte. Eles só tinham acesso aos grandes clássicos russos ou a uma literatura panfletária, dogmática. Por ser comunista, papai teve seus livros publicados na Polônia. De repente apareceu no universo intelectual daqueles jovens um escritor comunista que falava da vida, do amor, de graves problemas sociais e de como se podia viver com tudo isso.

Qual é a sua sensação frente à TV, assistindo ao remakede Gabriela?

Primeiro de tudo, eu me dispo de qualquer relação com o livro. Como papai dizia: "Novela é uma outra leitura, é tomar um fio de história e conduzir aquilo dentro de uma outra arte". Claro que a gente não consegue separar de todo! Acho incrível a leveza e profundidade que Maitê Proença dá ao papel de Sinhazinha. Vejo sempre que posso, quando não, gravo.

Como foi crescer rodeada por personalidades tão importantes do século 20, como Pablo Neruda, Dorival Caymmi, Jean-Paul Sartre? Você tinha consciência da importância dessas pessoas ?

Para mim, uma pessoa importante era uma pessoa comum, assim como o meu pai. Sartre, por exemplo, passou um mês convivendo conosco na casa do Rio de Janeiro e tudo era muito natural.

Essas convivências geraram com certeza histórias memoráveis...

Muitas! Uma delas foi quando no colégio do meu irmão descobriram que o Sartre estava lá em casa e o intimaram a fazer uma entrevista. João, que na época tinha 14 anos e já era fluente no francês, chegou em casa e disse para a mamãe: "Mandaram eu fazer uma entrevista, mas eu não entendo nada de existencialismo, como eu vou perguntar qualquer coisa, eu sou só um menino!" Informado sobre o dilema por Zelia Gattai, Sartre disse: "João... então faça perguntas de um menino! Me pergunta se eu gosto de tomate..." Aí a conversa deslanchou.... Tinha também o [Pablo] Neruda, que era meu padrinho. Mais tarde, na nossa casa na Bahia no bairro do Rio Vermelho, quando eu já era adolescente, a percepção da presença dessas pessoas ficou mais aguçada. Eu já partilhava a sua intelectualidade, já conhecia suas obras.

Você declarou ter dificuldade em obter apoio para financiar a criação do Museu Jorge Amado, um projeto que já existe há oito anos. Essa dificuldade persiste, mesmo no ano do centenário?

Persiste. Por um lado existe uma falta de vontade política no Brasil, além do cancelamento de apoio anteriormente confirmado de Portugal e Espanha, devido à crise do euro. Por outro lado, temos uma presidente que declarou publicamente que sua vida teve o divisor de águas com a leitura dos livros de meu pai. Ela nem deve ter conhecimento desse nosso projeto...

Jorge Amado era comunista declarado e influente. A existência do Muro de Berlim era tema nas conversas?

Em conversa com o meu vizinho Renato, fiquei sabendo da existência do Muro de Berlim e fiquei transtornada. Quando meu pai chegou em casa, eu disse: "O Renato me disse que em Berlim fizeram um muro para separar a cidade em dois". Ele respondeu: "Ah, filha, essa questão de política é muito complexa..", sendo pouco convincente. A ele, doía ter uma filha pequena sem entender uma discrepância que era a realidade, que ele próprio não entendia ou não aceitava. À medida que fui crescendo, o Muro de Berlim se tornou o espelho de como era difícil você defender uma posição ideológica que causasse tal separação. Ao mesmo tempo, sei que para papai era muito importante ser lido em ambas partes da Alemanha: Pessoas lendo na mesma língua, as mesmas obras, geograficamente tão perto, em solos políticos tão diferentes!

Qual é sua percepção do que viu de Berlim, até agora?

Hoje quando fui ver o Muro, me vieram as lágrimas. Ver o Muro como coisa física, como concreto, resgatou muita coisa do meu passado, me fez entender melhor esse fenômeno político tão complexo. Passei várias vezes do lado oriental para o ocidental e vice-versa, e isso me mostrou, pura e simplesmente, que se pode voltar atrás no mal feito. Quando ando pela cidade de Berlim hoje, vendo gente pedalando na rua, pessoas de todas as partes do mundo, isso me faz pensar numa só palavra: liberdade.

Entrevista: Fátima Lacerda - Revisão: Augusto Valente

PELOS ESTADOS UNIDOS REPARTIDOS DA EUROPA




euobserver.com, Bruxelas – Presseurop – imagem Tomo

Em economia, mas também na diplomacia ou simplesmente na administração, a dimensão dos países conta. E a dos Estados da UE, demasiado pequenos à escala global, já não é operacional. A solução? Aplicar à Europa o modelo dos Estados Unidos, sugere o jornalista Philip Ebels.


Alfred Heineken fez mais do que apenas cerveja. Também pensou sobre coisas como o futuro da Europa e a melhor forma de agir. "Proponho uma Europa Unida de 75 Estados", escreveu num panfleto publicado no verão de 1992, "cada um com uma população de cinco a 10 milhões de habitantes." Heineken, um idoso criativo, com imenso tempo e dinheiro, era famoso por ter ideias bizarras. E a da sua Europa foi rapidamente esquecida. Infelizmente, porque, vinte anos depois, é mais atual do que nunca.

Demasiado grande e demasiado pequeno

Já foi dito antes, mas nunca com mais verdade do que hoje: os países europeus são demasiado pequenos para resolver as questões internacionais e demasiado grandes para as da vida quotidiana. Longe vai o tempo em que a Alemanha ou a França eram capazes de cuidar de si próprias no palco internacional, para não falar do Luxemburgo ou da Holanda. Daí que exista hoje a NATO, a União Europeia, e – para já – uma moeda única.

Passe-se os olhos pela lista dos maiores países do mundo em termos físicos. O maior Estado da UE, a França, fica em 43º lugar. A Rússia, indiscutível número um do “ranking”, é mais de 26 vezes maior que ela. Tanto a China como os EUA são 15 vezes maiores.

Agora olhe-se para a lista de países ordenada por população. A Alemanha, o país mais populoso da UE, fica em 16º. A China, a mais populosa do mundo, tem um número de habitantes mais de 16 vezes maior. A Índia tem cerca de 15 vezes mais pessoas. Se a UE fosse considerada um país, seria o sétimo na lista dos maiores países e terceiro em tamanho da população. E, como os funcionários de Bruxelas nunca se cansam de repetir, o primeiro na lista das maiores economias.

O tempo em que as pessoas eram ignorantes e obedientes já passou. O tempo em que não incomodavam os seus dirigentes com exigências de transparência, eficiência, democracia e responsabilidade. O progresso tecnológico gerou sempre perturbações políticas, muitas vezes à custa de quem está no poder. A Internet, como a imprensa antes dela, dá às pessoas acesso à informação e poder para criar e distribuir, minando a ordem estabelecida por toda a parte – não apenas no mundo árabe.

É por isso que os Estados fazem o que podem para satisfazer gente cada vez mais exigente e emancipada: descentralizam. Reino Unido, Alemanha, França, Espanha, Itália, todos delegaram poderes nas últimas duas décadas. Quanto mais próximo estiver o poder, mais transparente, eficiente, democrático e responsável é.

O tamanho importa

Tudo o que tem uma função tem um tamanho ideal. Uma caneta pode ser maior ou menor, mas precisa de ser utilizável. O Estado social europeu tem várias funções. Precisa de proteger o seu território em relação ao exterior, defender o Estado de direito, prestar cuidados de saúde, promover a educação, cuidar das estradas e das florestas e – em maior ou menor grau – distribuir a riqueza.

O problema é que cada uma dessas funções tem o seu tamanho ideal e que, num mundo em permanente mudança, continuam a divergir. O resultado não é o Estado deixar de funcionar – apenas deixa de funcionar bem. Como uma caneta do tamanho de uma vassoura ou tão pequena como uma lasca de madeira – continua a ser possível utilizá-la, mas não é muito prático.

É uma tendência que irá manter-se, enquanto a tecnologia continuar a evoluir. A China e outros gigantes em ascensão vão continuar a crescer; os governados vão continuar a contestar os governantes. Até chegar o dia – ou será que já chegou? – em que os Estados europeus atuais vão ser contraproducentes, criando obstáculos desnecessários entre Bruxelas e [por exemplo] Barcelona.

Heineken, o profeta?

Claro que é um absurdo. Crescemos tão acostumados à atual divisão do continente que qualquer sugestão para mudar recebe um sorriso complacente – na melhor das hipóteses. Mas é assim tão disparatado? Ganhemos um pouco de distância e tentemos ver a imagem no seu conjunto. Não é uma ideia assim tão má, essa dos Estados Unidos Repartidos da Europa.

Teríamos um pequeno governo federal, eleito diretamente, e inúmeros governos locais, de Estados de tamanho similar – não muito diferentes dos EUA. Poderíamos assumir uma posição conjunta no cenário global e, ao mesmo tempo, decidir a nível local se devem ser autorizadas as touradas ou o consumo de marijuana. Muito dos nossos problemas atuais desapareciam: criar um equilíbrio entre os Estados grandes e os mais pequenos, o Norte ter que apoiar financeiramente o Sul.

Heineken chamou-lhe "Eurotopia" – uma fusão de Europa e utopia. Estava perfeitamente ciente do ceticismo que a ideia ia suscitar. Mas tempos radicais impõem medidas radicais. E perante o caminho que tudo leva, prefiro utopia a distopia.

MNE ALEMÃO DEFENDE REFERENDO SOBRE CONSTITUIÇÃO EUROPEIA



SMS – Lusa, com foto

Berlim, 11 ago (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, defendeu a realização de um referendo na Alemanha sobre a Constituição Europeia, numa entrevista ao semanário Bild am Sonntag.

"Espero que tenhamos uma verdadeira Constituição Europeia e que se realize um referendo", afirmou Westerwelle, membro do partido liberal (FDP) da coligação governamental alemã.

A ideia defendida pelo governante alemão foi igualmente reiterada pelo presidente da CSU, da ala democrata cristã da chanceler alemã, Angela Merkel, Horst Seehofer, numa entrevista ao semanário alemão Welt am Sonntag.

"Considero que há três domínios perante os quais os alemães deverão ser questionados. Primeiramente, sobre a transferência de competências essenciais para Bruxelas. Um segundo aspeto prende-se com a adesão de novos Estados à União Europeia e, em terceiro lugar, sobre as ajudas financeiras da Alemanha a outros países" defende Seehofer.

Já em junho, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, manifestou-se favorável à realização de um referendo a propósito da revisão da Constituição alemã, em particular, no que se refere à transferência de competências para Bruxelas.

Em novembro último, a chanceler alemã Angela Merkel rejeitou, por seu turno, a ideia da realização de um referendo na Alemanha sobre a política europeia.

Questionada sobre esta matéria, Merkel declarou: "a minha posição sobre a democracia representativa ao nível federal, sobre o equilíbrio entre o 'Bundestag e o Bundesrat' - entre as câmaras baixa e alta do Parlamento - é inalterável e conhecida (...) Considero que a nossa ordem democrática, tal como está atualmente, permitiu e permite uma grande estabilidade interna na Alemanha".

EUA e Turquia criam grupo de trabalho para preparar resposta ao pior cenário na Síria



FPA – Lusa, com foto

Istambul, 11 ago (Lusa) - A secretária de Estado norte-americana e o seu homólogo turco anunciaram hoje que os seus países estão a criar uma estrutura formal para se preparar para o pior cenário possível na Síria, incluindo um eventual ataque químico.

Numa conferência de imprensa no final de uma reunião em Istambul, Hillary Clinton e Ahmet Davutoglu disseram que os dois países estabeleceriam um grupo de trabalho para responder à crise na Síria, onde as condições estão a deteriorar-se.

O grupo irá coordenar respostas políticas, militares e dos serviços de informações, para o caso de um ataque químico, o que resultaria em emergências médicas e num aumento do número de refugiados a fugir da Síria.

Segundo a chefe da diplomacia norte-americana o grupo é necessário para explorar os "pormenores reais" de potenciais novas crises.

"Temo-nos coordenado de perto ao longo do conflito, mas agora precisamos de entrar nos pormenores reais de um planeamento operacional deste tipo", disse Clinton.

Entre as contingências para as quais os EUA e a Turquia querem preparar-se está "a horrível possibilidade de serem usadas armas químicas", acrescentou.

"O que é que isso significaria em termos de resposta, assistência médica e humanitária e, claro, o que precisa de ser feito para garantir que aquelas armas nunca serão usadas e nunca cairão nas mãos erradas", afirmou.

Na conferência de imprensa, a secretária de Estado norte-americana afirmou que existem "ligações" entre o grupo chiita libanês Hezbollah, o Irão e a Síria, o que "prolonga a vida do regime" de Bashar Al-Assad.

"Continuamos a fazer pressão do exterior. Anunciámos ontem em Washington sanções destinadas a expor e a quebrar os laços entre o Irão, o Hezbollah e a Síria, que prolongam a vida do regime Assad", disse Clinton.

Hillary Clinton afirmou ainda que "a Síria não deve tornar-se um santuário para os terroristas do PKK", movimento armado que combate o governo turco.

A secretária de Estado disse "partilhar as preocupações" da Turquia sobre esse assunto, afirmando que a Síria não pode tornar-se um santuário para os rebeldes turcos, "nem agora, nem depois da queda do regime" do presidente Bashar al-Assad.

Clinton afirmou-se preocupada que "os terroristas do PKK e da Al-Qaeda se aproveitem da luta legítima do povo sírio para promover a sua própria agenda".

O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, cujo país combate o PKK desde 1984, defendeu que "não há lugar para um vazio de poder na Síria", já que isso poderia beneficiar os rebeldes do PKK.

Angola: PAPEL DE JOÃO PINTO CRUCIAL NA REAÇÃO DA CNE




Lisboa – A estratégia de fazer coincidir a conferência da Comissão Nacional Eleitoral do dia 09 de Agosto com uma outra do MPLA sobre denuncia do “mau uso” de espaço de antena de certos partidos políticos da oposição foi traçada em articulação com o deputado João Pinto, no uso da sua influencia de acadêmico da Universidade Independente de Angola (UnIA).

Em articulação com o partido no poder

Recentemente, uma corrente do MPLA revelou-se incomodada com a iniciativa da CASA e PRS passarem vídeos de denuncias que consideraram embaraçosas para a imagem de JES. Porém no sentido de fazer convencer a plenária da CNE reunir-se e reagir sobre o assunto, o referido grupo entrou em articulação com o deputado João Pinto e este através da UnIA fez chegar uma carta a CNE denunciando o uso inadequado dos espaços de antena na televisão por parte de alguns partidos políticos.
A plenária da CNE analisou a denuncia da Universidade Independente sem reserva levando em conta de que veio de uma instituição desligada a política e de seguida os comissários do MPLA neste organismo aprovaram que a sua porta-voz, Julia Ferreira deveria reagir publicamente no dia 9 de Agosto.

Em simultâneo, isto é no mesmo dia, o MPLA, na pessoa de Rui Falcão, Ferreira Pinto e João Martins realizou uma conferencia de imprensa denunciando o mesmo assunto levantado pela CNE. A idéia inicial dos mentores da estratégia era passar a mensagem subentendida de que não “era apenas” o MPLA a dar conta do “abuso” da oposição nos seus espaços de antena mas também instituições que “nada tem” a ver com a política teriam condenado e se queixado junto a Comissão Nacional Eleitoral.

De acordo com constatação, baseada em leituras com competência reconhecida, a iniciativa do MPLA terá produzido resultados contrários acabando por causar na sociedade a sensação de que a CNE teria agido “mesmo” em articulação com o partido no poder.

A CNE é definida por lei como um órgão independente constituído por 17 comissários sendo a maioria indicados pelo MPLA. O maior partido da oposição conta com três membros, o que faz com que seja derrotado quando as propostas ou discussões, vão ao voto, nas plenárias.

Os seus membros estão igualmente proibidos, por regulamento interno, de fazerem declarações públicas que ficam da exclusividade da porta- voz, Julia Ferreira. Na primeira semana de Agosto, a CNE fez sair um comunicado para considerar de “irresponsáveis”, declarações da UNITA que segundo esta instituição perturbava o processo eleitoral. O comunicado deu azo de que teria sido feito na sede do MPLA ou na Presidência da República visto que os responsáveis da CNE não reuniram em plenária para votar sobre a saída do documento e os seus comissários terão ficado a saber do teor do comunicado através dos jornais.

Há indicadores de que duas correntes do regime (Presidência e MPLA) têm alargado o controle sobre a CNE. A sua porta-voz, Julia Ferreira, faz parte da ala do partido e recebe instruções do gabinete do Secretário para os assuntos políticos do MPLA, João Martins. Por seu turno, o jurista Edeltrudes M. da Costa recebe instruções de JES que partilha com dois outros comissários João Damião e Manuel Saboneti Camati. As instruções chegam aos mesmos por intermédio de Adão de Almeida que é Assistente Permanente do Executivo, nas Sessões Plenárias da Comissão Nacional.

O presidente da CNE, André Silva Neto, é uma figura decorativa que não toma decisões sem ter a luz verde de Edeltrudes da Costa.

Comunicação social portuguesa só fala daquilo que o regime angolano autoriza!



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

“Apoiantes da juventude do MPLA (JMPLA) protagonizaram ontem actos de violência contra jovens da UNITA (JURA) no Largo da Independência, em Luanda”.

“Agentes da Polícia Nacional dispersaram, à bastonada e com o auxílio da brigada canina, uma aglomeração de jovens da UNITA, que se havia concentrado no Largo da Independência, em sinal de protesto contra os actos de violência ocorridos durante a madrugada”.

Estas informações, divulgadas pelo Maka Angola, não constam de nenhum órgão de comunicação social do protectorado angolano no sul da Europa (Portugal).

Tal ausência (por noma justificada pelos dólares oriundos de Luanda) só é estranha aos ingénuos que ainda pensam que os jornalistas existem para dar voz a quem a não tem.

Por regra, não existe nas fábricas portuguesas de montagem de textos de linha branca nenhuma autonomia editorial e, ou, independência. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalistas que, sob a conveniente (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra)m transformar em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonistas, sejam políticos, partidários, sindicais ou empresariais.

Basta ver quantos são os supostos jornalistas que, nomeadamente na blogosfera, dizem quem são e mostram a chipala. São muito poucos. A grande maioria prefere o cómodo e barato anonimato. Para que se não saiba que têm as meias rotas… nunca se descalçam.

Habituados a viver na selva supostamente civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituídos, vale tudo, os chefes de posto das linhas de produção de textos de linha branca entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de euros/dólares de avenças ou similares, é a única lei. E, digo eu, dos Jornalistas esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores.

Força da razão? Claro que não. Até porque em Portugal não existem Jornalistas a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o jornalismo, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas.

Como para mim existe uma substancial diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicação social e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuo a dizer que nesta profissão quem não vive para servir não serve para viver.

E é por isso que incidentes que envolvam o regime angolano raramente são notícia. Uma bitacaia (insecto que se instala sobretudo debaixo das unhas dos pés) no presidente do MPLA, chefe do governo e presidente da República há 33 anos sem nunca ter sido eleito, tem muito maior cobertura do que o facto de as autoridades do regime entenderem que quem não for do MPLA é culpado até prova em contrário.

É por isso que os operários portugueses dos órgãos de comunicação social lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem.

Infelizmente os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista, jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalista, sindicalista jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora.

Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra, do Presidente da República de Portugal ou do “dono” de Angola, de seu nome José Eduardo dos Santos.

Ou, segundo o jornalista inglês Paul Johnston, o jornalismo sério, objectivo e imparcial sabe "distinguir entre a opinião pública, no seu mais amplo sentido, que cria e molda uma democracia constitucional, e o fenómeno transitório, volátil, da opinião popular".

Falar hoje da campanha eleitoral em Angola é algo que desagrada aos poderes políticos dos regimes irmãos de Eduardo dos Santos e Passos Coelho/Cavaco Silva, bem como ao poder económico que se entende em dólares de sangue, tal como outrora se entendia em diamantes de sangue.

Mesmo assim, há coisas a que nem todos podem fugir. Antevendo a eventualidade remota, muito remota, de o poder do MPLA cair e Angola caminhar para uma coisa que nunca foi, um Estado de Direito, uma parte da comunicação social portuguesa lá vai dando uma no cravo outra na ferradura.

Há pouco mais de um ano os jornalistas simpatizantes de José Sócrates e do PS eram mais do que as mães. O homem perdeu e, do dia para a noite, os montadores de textos de linha branca passaram todos a amar Passos Coelho e o PSD.

Nesta altura o regime angolano é bajulado pelos políticos portugueses e, claro, pelos seus sipaios em serviço na comunicação social. Eduardo dos Santos é por isso um ditador bestial.

Se as coisas mudarem lá vamos ver os mesmos políticos e sipaios a dizer que ele era, afinal, uma besta.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


BARALHAR E DAR DE NOVO OU SIMPLESMENTE FAZER MACETE



João Paulo – Aventar

Professores

Este, como quase todos os meus escritos, é sobre professores e é uma espécie de ponto de ordem à mesa, na discussão que cresce na blogosfera educativa, sendo que, há algo irrefutável: ninguém foi de férias.

O Público trazia há dias um texto onde se fazia a dicotomia entre as redes sociais e a rua e onde defendi que em algum momento teremos de voltar à rua, porque, considerem ou não moderno e chique, é também na rua que se ganha o futuro. A minha experiência como sindicalista (SPN, FENPROF), com muitos anos de trabalho em torno dos professores contratados e das questões da precariedade levam-me também a concluir que nada consegue substituir o contacto pessoal, a troca de ideias e de argumentos, olhos nos olhos – isto não vai lá só com facebook e blogues. Não vai! Como diria o outro, de bons likes está o inferno cheio.

E na rua, as vitórias são proporcionais à sua força, a mobilização de que fala o Miguel, e para isso o papel da FENPROF é fundamental. A luta dos professores na rua só acontece com a FENPROF – façam as leituras históricas que quiserem fazer, mas ou há FENPROF e temos os professores na rua ou não há FENPROF e não teremos os professores na rua. Até prova em contrário, esta é uma verdade sem contraditório.

Mesmo não o assumindo é isso que escrevem, sem escreverem, o Nuno e o Ricardo. Equacionam a necessidade de uma maior ligação entre os professores e os sindicatos, que naturalmente subscrevo. O Nuno acredita que “É possível imprimir uma nova dinâmica aos sindicatos fazendo-os sair da zona de conforto”, enquanto o Ricardo vê cada vez com “maior dificuldade a tão necessária reaproximação dos professores aos sindicatos“, mas defende que “primeira fase de uma qualquer estratégia, passa exatamente por discutir.”

Neste sentido e estando eu, assumidamente – não me escondo, nem me afirmo como independente – do lado da FENPROF, penso que podemos e devemos dar alguns passos no sentido de construir pontes entre duas margens que nas últimas semanas têm extremado posições.

Uns anunciam a mudança e, depois do leitão, fica tudo na mesma. Há quem tente juntar pontas na Plataforma pela Educação e logo aparecem a sugerir que são apenas os paus mandados do Mário Nogueira, quando muito boa gente da Comunicação Social e na blogosfera até pensava que a Plataforma pela Educação era a consequência do repasto. Não é. Não sabemos o que vai ser, nem sequer, ainda, o que é. Há gente nova com vontade de trabalhar, gente com interesses sempre muito diversos, análises diferentes da realidade e opções muito variadas para os momentos de ação, mas com vontade de encontrar soluções. Não adianta é procurar o carimbo porque nenhum carimbo serve.

E aceitando o desafio para refletir, penso que poderíamos partir para a reflexão acima sugerida e procurar equacionar de que forma podemos avançar, deixando de lado os ataques pessoais, as bocas e as piadinhas, procurando seguir uma análise racional sobre a realidade que está à nossa frente, encontrando uma primeira ideia, consensual ou não:

- podemos ou não reverter algumas das medidas do Nuno Crato a curto prazo? Ou, pelo contrário, a resistência às mudanças deve ser centrada numa lógica de maratona, de médio e longo prazo?

Uma e outra coisa são possíveis e coincidentes no tempo? Não corremos o risco do desgaste? Ou, perante o ataque brutal, temos que partir tudo quanto antes?

E não vale a pena ter ilusões – ninguém vai para a frente dos sindicatos fazer manifestações, nem os sindicatos vão consultar os autores de blogues para definir o seu trabalho. Uns e outros, cada um no seu papel, com opiniões próprias e diversas, com modos de actuação e intervenções também diferentes. Pois claro! Mas, poderia e deveria ser de outro modo? Não me parece!

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