sábado, 17 de março de 2012

LU-OLO LIDERA ELEIÇÃO TIMORENSE, SEGUIDO DE TAUR, DE HORTA E SÓ DEPOIS LA SAMA



Redação PG

Em Timor-Leste, ontem (17) ao final da noite, foi interrompida a contagem de votos em todo o país às 23:43, com o respetivo fecho das secções de voto, para serem reabertas na manhã de hoje (18) daqui por cerca de uma hora.

Os valores anunciados pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) de Timor-Leste davam-nos conta de que a votação era favorável ao candidato da Fretilin, Francisco Lu-Olo Guterres, e que o candidato de Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak, estava na quarta posição, depois de Ramos Horta e de Fernando Lasama Araújo, do Partido Democrático.

A essa hora, às 23:43, a contagem indicava provisoriamente os seguintes resultados:

1 – Lu-Olo, com 28.16%; 2 – José Ramos Horta, com 22.16%; 3 - Fernando La Sama Araújo, com 19.83%; 4 – Taur Matan Ruak, com 18.53%.

Estas também têm sido as informações prestadas pela televisão timorense na cobertura das eleições presidenciais. (AV)

ATUALIZAÇÃO ATRAVÉS DE INFORMAÇÃO DO STAE - resultados provisórios (11:12 horas TL)

1 - Francisco Lu-Olo Guterres, 27.18%; 2 - Taur Matan Ruak, 23.51%; 3 - José Ramos Horta, 20.17%; 4 - Fernando La Sama Araújo, 17.78%; todos os outros candidatos têm valores na ordem de 4.00% (Rogério Lobato) e muito menos. (ALM)

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PAULO PORTAS DIZ QUE O MUNDO SE DEVE ORGULHAR DE TIMOR-LESTE



Público - Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, afirmou neste sábado, em Angra do Heroísmo, nos Açores, que a luta dos timorenses pela independência do seu país é um exemplo de que o mundo se deve “orgulhar”.

“Neste ano em que os timorenses comemoram 10 anos da sua independência, que foi uma luta de enorme dignidade, e em que se celebra a chegada há 500 anos dos portugueses, cuja relação de amizade com os timorenses toda a gente conhece, é muito importante que o mundo possa orgulhar-se de um caso de sucesso na comunidade internacional”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa em declarações aos jornalistas.

No dia em que os timorenses escolhem o presidente do país, Paulo Portas destacou Timor Leste como “a prova de que quando se luta pelas causas e pelos valores certos, pode demorar tempo, mas consegue-se, no final, uma vitória”.

“O facto de haver eleições presidenciais e legislativas, o facto de haver vários candidatos, com pluralidade e com democracia, e o facto de haver um razoável grau de consenso em Timor é muito importante”, frisou.

Mais de 625 mil eleitores foram chamados hoje para eleger, entre 12 candidatos, o terceiro Presidente de Timor-Leste, desde a restauração da independência a 20 de maio de 2002.

Caso nenhum candidato consiga mais de 50 por cento dos votos, será necessária uma segunda volta em Abril.

O director do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral de Timor-Leste, Tomás Cabral, disse hoje que as eleições presidenciais correram bem, mas que o mau tempo, as más condições das estradas e a falta de luz dificultaram o processo.

Segundo o mesmo responsável, domingo à hora de almoço já serão conhecidos resultados provisórios relativos a oito distritos.

Brasil: NOVE DÉCADAS DE TODOS NÓS




Gilson Caroni Filho, do Rio de Janeiro – Correio do Brasil, opinião

Há 90 anos, precisamente a partir de 25 de março de 1992, os comunistas passaram a existir de fato na sociedade brasileira. Independentemente de divergências no campo progressista, não se pode negar ao PCB sua importância histórica como um dos referenciais elementares na articulação da cultura e política contemporânea do Brasil contemporâneo. E neste lapso histórico, até a legalização em 1985, contam-se nos dedos os anos em que os comunistas se beneficiaram de garantias cívicas – que, genericamente, se realizam no direito à existência legal como partido político.

É claro que a discriminação cívica dos comunistas não foi um fenômeno peculiar. Ela se inseriu como um dos aspectos particulares daquele que, durante muito tempo, foi um padrão constante da formação social brasileira: a exclusão das massas trabalhadoras do processo político. A negação da vida pública aos partidos de esquerda fez parte da negação maior realizada sistematicamente pelas classes dominantes brasileiras: a tentativa de impedir e ou neutralizar a intervenção do povo na nossa história.

Entretanto, este aspecto particular da tradicional natureza antidemocrática , antipopular e excludente da ordem política brasileira revestiu-se de um sentido absolutamente decisivo no processo de declínio histórico do regime implantado com o golpe de 1964. E pelo que contém de pedagógico não podemos deixar de passar em branco esse ponto.

A nossa experiência política revela a que serviu a interdição da legalidade aos comunistas. Todos sabem que o anticomunismo e a repressão a seus quadros foram o pretexto e o vestíbulo ao cerceamento de todas as correntes do pensamento progressista, uma espada de Dâmocles, que se manteve suspensa sobre todas as cabeças que exercitaram o dever de dissentir, de discutir e de projetar um futuro diferente a partir do presente transformado. No momento em que o capital financeiro, apoiado pelas grandes corporações midiáticas, dissolve conquistas históricas da classe trabalhadora européia, a lembrança viva desse passado recente é um imperativo democrático para brasileiros e demais povos sul-americanos.

Sempre é bom recordar que a luta pela livre organização e a legalização das mais diversas correntes de opinião concentrou muitas das determinações da questão democrática brasileira. Nestas condições, a luta dos comunistas foi pertinente a todas as forças democráticas. O impedimento de existência legal do PCB significou para elas uma restrição, uma ameaça, um instrumento de chantagem.

O partido que contou com quadros da estatura de João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Diógenes Arruda Câmara e Luís Carlos Prestes condensou a consciência possível de uma parcela expressiva das populações trabalhadoras da cidade e do campo e as melhores tradições de nossa intelectualidade. Apesar dos erros cometidos e dos percalços de seu itinerário, instaurou-se como uma constelação política nacional, como uma vontade política genuinamente nacional.

Combateu por uma legislação social justa, pela defesa da industrialização, pelo monopólio estatal do petróleo, pela educação pública fundamental e superior, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pela proteção à infância, contra discriminação racial, religiosa e cultural, contra todas as formas de censura e obscurantismo, pela democratização da vida social e por melhores condições sociais para todos os trabalhadores. Estiveram presentes na campanha das “Diretas Já”, contribuindo para o avanço da luta democrática. O aporte que ofereceram à cultura e às ciências históricas e sociais com a difusão pioneira do marxismo é de uma relevância íntima.

Vinculados à solidariedade internacional, lutaram contra o fascismo espanhol e denunciaram sempre o colonialismo. Deram seu sangue nos campos de batalha da Itália e nas câmaras das ditaduras que macularam a dignidade nacional. Se entendemos o socialismo como desejo e tarefa de homens e mulheres, como obra coletiva dos trabalhadores, devemos reverenciar a trajetória de homens como Mário Alves, Gregório Bezerra, Henrique Cordeiro e Apolônio Carvalho entre tantos outros. Eventuais divergências táticas não justificam o esquecimento de atores que lutaram pela democracia como valor estratégico.

Ao presenciarmos a ação de sistemas despolitizantes que pretendem reduzir questões sociais e políticas públicas a problemas técnicos, que devem ser elucidados mediante a interação entre cúpulas de organismos multilaterais, agências de risco e corporações midiáticas, precisamos resgatar o legado dos que lutaram por uma vida à luz do dia, regida pelas normas de convivência pluralista e democrática. Viva a paz ! Viva a democracia! Viva o socialismo!

Na foto: Os fundadores do PCB foram, de pé da esquerda: Manoel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrojildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luis Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

A DITADURA BRASILEIRA APARECE NA ITÁLIA




Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação

Recife (PE) - A recente denúncia do Ministério Público contra o coronel Curió terminou por mencionar um romance escrito por mim. Da Europa aos Estados Unidos, a ditadura brasileira é manchete. E creiam: na Itália, no desenvolvimento dessa notícia, hoje se mencionou Os Corações Futuristas, um romance escrito por este colunista.

Estranho e contraditório é o mundo. Ou a vida é um magnífico escritor de ironia. Lembro que “Os corações futuristas” foi escrito em um quartinho no quintal da casa onde eu morava, e se completou sem nenhuma esperança de publicação. E de tal modo, que contraí um empréstimo bancário para com ele inaugurar o ano de 2.000, com direito a coquetel e juros que até hoje não saldei. Há exatos seis anos, em 16 de março de 2006, sobre o livro falei em uma entrevista publicada no La Insignia, de onde recupero alguns trechos.

“- Como você teve a inspiração para escrever Os Corações Futuristas?

- A inspiração, nesse caso, se houve, não foi um estalo. Não veio assim de repente, caída no cérebro sem que se esperasse. Os Corações Futuristas é um romance de formação, é a narrativa de uma geração que se fodeu e quis amar sob a pior ditadura brasileira. É o romance de uma época do lema ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’. E nós amávamos muito, muito e muito o Brasil. Disse ‘nós’ como num ato falho. Isso é esclarecedor porque Os Corações Futuristas é um livro que veio sendo escrito, sem que disso eu tivesse consciência. A vida vinha escrevendo-o comigo e para mim. Às vezes, eu dizia, numa brincadeira e meio sério, ‘no dia em que eu escrever um livro sobre a militância, ela não vai gostar’. Mas não foi bem assim, porque depois, durante a escrita, vi que meu olhar alcançava tanto a crueldade quanto a compreensão. É o livro sobre a melhor juventude que eu conheci. Uma gente generosa a ponto de jogar a vida pela força das idéias. Mas, ao mesmo tempo, assim impunha a verdade, que eu não podia alisar a cabeça, vendo-a só no heroísmo. Gente capaz de covardias também, de traições sórdidas, porque é dessa massa que a vida é feita.

- Você disse que Os Corações Futuristas fala da melhor juventude que você conheceu. Então podemos dizer que é autobiográfico?

- Todo livro, por mais estranho à pessoa do autor, é autobiográfico, na medida em que fala de uma forma ou de outra sobre acontecimentos ou interesses dele. Mas responder assim é uma fuga, reconheço. A sua pergunta, bem sei, é mais precisa e específica: trata-se de saber onde o autor, a vida do autor, acontecimentos íntimos da sua vida, estão nas páginas ali apresentadas. Sim, mais uma vez, sim, a vida e as pessoas que eu conheci estão em Os Corações Futuristas. Ele é verdadeiro, nada nele é falso, postiço, quero crer. É o mundo da ditadura que eu senti. É o mundo terrível que faz até hoje ex-presos políticos levantarem-se de madrugada, e dizerem para a mulher, ‘arruma a mala, arruma a mala, que a polícia vem aí’.

- Que influência, então, representa viver no Brasil, para sua escrita e a de outros escritores?

- Fundamental. Este é o nosso berço e identidade. E dizer isso não é reivindicar um exclusivismo de nação, uma estreiteza nacionalista. É apenas dizer que estar e viver no Brasil é ir além de um acidente geográfico. É a língua e a vida da nossa infância, são as pessoas e a gente que nos fizeram e que levaremos conosco aonde formos, ainda que não estejam ao lado como pessoas físicas. O ser múltiplo, a gente múltipla da nossa memória. Como pode ver, isso é universal, cada escritor, cada pessoa é história da sua gente, em todo e qualquer lugar do planeta.

O particular da nossa literatura, a diferença, se se busca isso, está em que ninguém poderá falar com mais autoridade sobre a nossa dor quanto nós mesmos. Na literatura não há brazilianistas. Pode haver críticos literários, mas em dor brasileira nenhuma autoridade virá de laboratório exterior...

Pois o Brasil é não só o país do grande futebol e da maravilhosa música popular. O Brasil é uma imensa contradição, é a miséria material e humana que vê o paraíso ao lado, a menos de 50 metros. Combater isso é um pequeno assalto aos céus”.

Na Itália, hoje, o romance volta à notícia aqui Clique aqui

Jamais poderia imaginar que uma denúncia contra o coronel Curió, o bárbaro que cortava cabeças de jovens presos, terminasse por lembrar aqueles corações de futuro.

* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo

Angola: Primeiro álbum do rapper Marshall traz música como instrumento de luta



Deutsche Welle

A falta de patrocínio adiou por alguns anos o sonho de Marshall de divulgar as suas músicas em CD. Depois de vários anos no circuito independente, o rapper angolano espera para abril o lançamento do seu primeiro álbum.

Ele ainda era pequeno quando se apaixonou pela música. Mesmo com poucas condições foi descobrindo a arte, experimentando rimas, buscando formas e palavras para se expressar através da música. Aos 16 anos deu os primeiros passos na carreira e agora, aos 31, aguarda o lançamento oficial do trabalho que vai ajudar a colocar o rapper no mercado musical.

“Meu maior sonho é que minha mensagem chegue aos ouvidos da população, e que as pessoas curtam nas suas mentes os exemplos, as mensagens que eu trago. Para mim, a música é um grande instrumento de luta porque podemos usá-la de qualquer forma para abrirmos barreiras e mostrar também para o executivo“, diz Marshall Kamba Dya Muenho sobre as dificuldades vividas em Angola, país dirigido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.

À espera pelo lançamento do CD

E as músicas de Marshall, aos poucos, já estão ganhando espaço. No dia 28 de abril o rapper vai lançar o seu primeiro álbum.

O CD “Até que Enfim” tem vinte faixas, todas de autoria do ativista angolano. Ele, que também se considera um poeta, conta que tem muita inspiração para escrever músicas de intervenção social e também de política. Mas por causa da escolha destes temas, o rapper, natural de Luanda, acaba enfrentando dificuldades: “O executivo mistura tudo. O álbum não é só de política, não. É um álbum social, de intervenção, tem bons conselhos, tem uma visão total do mundo atual”.

O rapper lembra que não tem marcas com o governo, mas pensa diferente e isso pode gerar alguns conflitos. “Se você é contra, tem as perseguições, as barreiras e não te deixam vender. E eu não admito censura pelos homens do governo”, completa o angolano.

Para Marshall as dificuldades para os músicos em Angola estão cada vez maiores, já que segundo ele, para lançar um CD o artista precisa ter carteira de músico profissional, o que ele não tem, e acredita que não terá tão cedo. “Parece que só cem pessoas vão ter carteira profissional em Luanda. Acho que é uma política mesmo para ver se vedam os artistas de intervenção social política”.

Divulgação da primeira música pela internet

Marshall ainda tem um pouco mais de um mês de espera pela frente, mas mesmo assim, já comemora o que conquistou até agora. A música “Será”, que fala da vida social e tem a participação do rapper Simimi Ni Moyo, já está disponível na internet. E logo nos primeiros quatro dias foram 12 mil downloads.

“Isso são só os dados que eu controlo, fora dados de outras pessoas que divulgaram os links. Os taxistas aqui nas ruas de Luanda também estão consumindo bem a minha música. O povo já está mesmo a pedir o álbum antecipadamente”. O rapper está satisfeito com este início de divulgação do trabalho, já que em Angola o acesso à internet ainda é bem restrito. Apenas cerca de 4% da população utiliza a rede mundial de computadores.

O trabalho em outros países lusófonos

Após o lançamento do CD, na primeira fase, vão estar disponíveis cinco mil cópias do trabalho. A quantidade não era o que o rapper gostaria, mas é o resultado do apoio que ele conseguiu em quatro anos de produção de “Até que Enfim”.

Marshall conta que até recebeu outras propostas que poderiam ter facilitado o reconhecimento no cenário musical: “Eu já recebi várias propostas de membros do governo para lançar um álbum e também de uma produtora que é aceita pelo governo, mas eu tinha que mudar o conteúdo. Só que eu nunca estive de acordo com isso, porque a dignidade de um homem não se vende”, explica.

O ativista cívico e social tem como objetivo atravessar fronteiras com o primeiro trabalho. Ele quer levar a sua música também para outros países lusófonos como Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil.

Autora: Sabine Weiler - Edição: Johannes Beck

PEPETELA CRITICA EDUARDO DOS SANTOS? HUM!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O escritor Pepetela, vencedor do Prémio Camões em 1997, e o ex-primeiro-ministro e ex-secretário-geral do MPLA, Marcolino Moco, expressaram a sua "preocupação e indignação" pela repressão policial sobre as manifestações do passado sábado, numa carta aberta ao Presidente angolano.

No que a Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela) respeita, quero acreditar que mais vale tardo do que nunca. Isto porque Pepetela, por exemplo, participou no massacre de 27 de Maio de 1977 e, quer se queira quer não, tão responsável é o que puxa o gatilho como aquele que participa na farsa acusatória.

Além de José Eduardo dos Santos, a carta aberta, a que a agência Lusa teve acesso, foi também enviada ao Procurador-Geral da República, José Maria de Sousa, ao Provedor de Justiça, Paulo Tjipilika, e ao presidente do Tribunal Constitucional, Cristiano André.

Ao longo de duas páginas, os signatários, entre os quais figuram também o antigo deputado do MPLA e escritor Mendes de Carvalho, Jacques dos Santos, a secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas, Luísa Rogério, o jornalista Reginaldo Silva e Fernando Pacheco, fundador e antigo presidente da ADRA (Associação De Desenvolvimento de Desenvolvimento Rural de Angola), manifestam a sua "preocupação e indignação" pelos últimos acontecimentos registados no sábado, dia 10, em Luanda e Benguela, na sequência de duas tentativas de manifestação, frustradas pela intervenção da polícia e de civis (estes constituídos pelo regime em milícias).

Na qualidade de membros da sociedade civil angolana, expressaram igualmente "inquietação pela violação de um conjunto de direitos fundamentais dos cidadãos previstos na Constituição como, por exemplo, o direito à manifestação, à segurança pessoal e à integridade civil".

"Tendo em conta que estamos em ano de eleições, defendemos que não deveria haver restrições às liberdades que não firam a lei, porque isso cria um ambiente adverso à participação dos cidadãos nas eleições e favorável a especulações que possam pôr em causa a sua credibilidade e a dos seus resultados, e gerador de tensões atentatórias à paz social", lê-se ainda no documento.

Se calhar e se fosse vivo, Nito Alves estaria a perguntar se seria legítima a actuação da polícia e dos seus capangas caso não se estivesse em ano de eleições. Liberdade é liberdade, seja ou não em tempo eleitoral.

Os subscritores manifestam, por outro lado, "estranheza e apreensão" pelo facto de a Televisão Pública de Angola, que consideram "normalmente pouco aberta à sociedade civil", ter divulgado largamente nos noticiários da passada segunda-feira uma comunicação "agressiva" feita por desconhecidos contendo "ameaças à realização de actos à margem da lei".

Estranheza e apreensão? A TPA e as restantes correias de transmissão, como muito bem sabem os signatários, só fazem o que o regime manda. E esse mesmo regime, que tem pavor da verdade, quer espalhar a confusão e arranjar motivos para fazer nova purga no país.

A polícia contou, mais uma vez, com o seu poder popular para meter na ordem todos aqueles que teimam em pensar diferente do regime que, recorde-se, governa Angola desde 1975 e que tem um presidente, não eleito, há 32 anos no poder.

A referência à TPA, segundo a Lusa, tem a ver com a transmissão de declarações de um elemento, não identificado, de um pretenso grupo que sábado se envolveu em confrontos com os jovens que em Luanda se pretendiam manifestar contra o regime, dando assim expressão à tese defendida pela polícia angolana, que assim procurou justificar a existência de feridos em Luanda em resultado dos confrontos dos dois grupos.

"Expostas as preocupações e os sentimentos, as Associações e cidadãos abaixo assinados, esperam a intervenção de V. Exas., no sentido de ordenar que as instituições públicas cumpram os seus deveres de zelar pela integridade física e pelo bem-estar dos cidadãos, de respeito pela ordem democrática que desejamos se consolide em Angola", acentua-se no documento.

Os subscritores concluem manifestando a esperança que os "agressores e outros prevaricadores sejam punidos nos termos da lei, que a Polícia Nacional seja instruída para funcionar num ambiente de construção da democracia e da justiça social, e que os meios de comunicação, em especial os públicos, sejam orientados a pautar a sua acção pela isenção e o respeito pelos cidadãos e pelas diferenças que os caracterizam".

Tanto quanto sei, certamente por falta de… espaço, a carta aberta nada diz sobre o facto de a Redacção do jornal angolano Folha 8 ter sido invadida por 15 homens da DNIC - Direcção Nacional de Investigação Criminal e terem sido confiscados todos os computadores e os jornalistas confrontados com ameaças e actos de brutalidade.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: CABINDA CONTINUA À ESPERA

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Cabo Verde obrigado a receber ilegais apanhados na Europa...



... mesmo que não sejam cabo-verdianos


Cabo Verde cede às exigências da UE e aceita princípio da readmissão. Quando o acordo de parceria para a mobilidade for as­sinado, Cabo Verde ficará obrigado a receber os ilegais apanhados na Europa, mesmo que não sejam cidadãos nacionais. Basta que tenham partido do arquipélago em direcção ao velho continente.

Este era um dos pontos menos consensuais das negociações em curso entre a União Europeia e o Estado cabo-verdiano. Em cima da mesa estavam a questão da read­missão e a facilitação de vistos para todos os cabo-verdianos. O acordo foi alcançado esta terça-feira, depois da reunião que juntou o secretário de Es­tado dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano, José Luís Rocha, e o chefe da representação da Comissão Europeia (CE) em Cabo Verde, o espanhol Josep Coll. O documento será rubri­cado nas próximas semanas.

A Parceria para a Mobili­dade, integrada na parceira especial, é uma oferta específica e concreta de diálogo e coope­ração da UE e dos seus Esta­dos-membros nos domínios da migração legal e da migração e desenvolvimento em troca de uma cooperação maior dos países terceiros nos domínios da luta contra a imigração ilegal e a readmissão.

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano, José Luís Rocha des­valorizou a questão da readmis­são, referindo que o número de ilegais que o país poderá receber depende dos fluxos imigrantes clandestinos. Uma movimentação que ,segundo o governante, não deverá ser de grande relevância.

Por isso mesmo, garantiu que Cabo Verde não terá qualquer centro de acolhimento, estando previsto apenas a criação de uma sala nos quatro aeroportos internacionais do arquipélago, “com condições dignas”, para instalar todos os que cheguem ilegalmente ao país. Não ficou explicado quanto tempo é que essas pessoas permanecerão no local, nem o que acontecerá a seguir, caso os países de origem não os aceitem de volta.

O secretário de Estado pre­feriu valorizar o acordo sobre os vistos. José Luís Rocha sa­lientou que, inicialmente, Cabo Verde definiu como meta a isenção de vistos para todos os cabo-verdianos, “sendo esse o objectivo final”, embora haja necessidade de, primeiro, testar os novos passaportes electró­nicos, através da concessão de autorizações, múltiplas e durante cinco anos, para 10 categorias. Entre elas figuram os detentores de passaportes diplomáticos e de serviço, bem como académicos, empresários, jornalistas e artistas.

O documento está já “tecni­camente pronto”, faltando agora as traduções para as várias lín­guas utilizadas pelos “27” para que o Conselho de Ministros o aprove definitivamente.

Tratamento diferente para Europa e África

Esta abertura de portas aos ilegais detectados na Europa acontece na mesma altura em que Cabo Verde quer rever protocolo de livre circulação da CEDEAO. Esta é uma das medidas que consta na Estra­tégia Nacional de Imigração (ENI), um documento onde está prevista também a criação de um Centro de Protecção Civil para receber migrantes em situação ilegal.

O governo considera a pos­sibilidade de negociar cláusulas específicas do Protocolo da CEDEAO sobre a Livre Circu­lação. A própria Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental abre esta pos­sibilidade quando refere que estados insulares que possam enfrentar dificuldades socioe­conómicas poderão receber um “tratamento especial” na aplica­ção de algumas das disposições do protocolo.

Como a maioria da imi­gração provém da CPLP e da CEDEAO, Cabo Verde quer aproveitar esta oportunidade legal e política para, depois de negociados os artigos, partir para o estabelecimento de um quadro institucional, conside­rado necessário, para gerir os fluxos de imigrantes e a sua in­tegração no mercado de traba­lho, erradicar as práticas ilegais e a exploração dos imigrantes e, ao mesmo tempo, criar as condições para pôr em prática os direitos fundamentais dos trabalhadores migrantes.

O governo quer também rever o sistema de vistos e estabelecer procedimentos de emissão claros, que passam pela avaliação de diferentes catego­rias de candidatos, consoante os motivos para a entrada em Cabo Verde.

O mercado de trabalho é outra das preocupações do executivo. Como é referido no documento sobre a ENI, as necessidades da economia nacional, aliada à falta de oportunidades noutros países, provocou um desfasamento en­tre a oferta e a procura em Cabo Verde, ou seja, há trabalhadores a mais e oportunidades de em­prego a menos.

Uma das consequências é a dependência crescente que muitos empregadores têm em relação ao trabalho migrante irregular enquanto fonte de mão-de-obra barata. Por isso mesmo, uma das respostas políticas avançada é a avaliação do mercado laboral para que se estabeleçam critérios para o recrutamento e emprego de mão-de-obra estrangeira atra­vés de uma lei especializada. Em cima da mesa está também o estabelecimento de mecanis­mos para regular o mercado laboral, principalmente o sector informal e o reconhecimento da qualificação dos imigrantes que entram no mercado de trabalho nacional.

Jorge Montezinho, Redacção Praia

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CONTAGEM DE VOTOS JÁ COMEÇOU EM TIMOR-LESTE




Votação decorreu sem problemas

Público, com agências

A votação para as eleições presidenciais em Timor-Leste terminou sem problemas e a contagem dos votos já começou. O secretariado técnico de administração eleitoral anunciou que haveria resultados provisórios ainda durante o dia de hoje.

O comandante da Polícia das Nações Unidas em Timor-Leste, superintendente Luís Carrilho, disse que o dia decorreu de “forma ordeira e pacífica” e foi um “sucesso”, cita a agência Lusa.

A eleição é vista como um teste para a capacidade de o país mais jovem, e mais pobre, da Ásia manter a estabilidade e conseguir confiança para desenvolver a economia.

Durante a votação, as ruas na capital, Dilí, estavam quase vazias e o comércio praticamente fechado. Centenas de eleitores faziam filas à porta das estações de voto e muitos outros iam-se dirigindo para as urnas entre a chuva ligeira. As condições meteorológicas não eram um dado irrelevante. O mau tempo provocou, por exemplo, quedas de árvores que mataram três pessoas, indicou o comandante da Polícia das Nações Unidas em Timor.

A corrida envolve doze candidatos, incluindo o actual Presidente e vencedor do Nobel da Paz José Ramos-Horta. Analistas previam uma corrida muito disputada, com alguns rivais em especial a apresentar um desafio sério a Ramos-Horta.

Podia-se destacar Taur Matan Ruak, que tem o prestígio de ter sido chefe das Forças Armadas - e já se declarou confiante numa vitória logo à primeira volta - e o apoio de Xanana Gusmão, ou ainda o candidato da histórica Fretilin, Francisco Lu-Olo Guterres, que chegou à segunda volta em 2007.

Opinião Página Global

Apesar de acontecer em todas as eleições uma ansiedade incontida por parte dos eleitores e ainda mais dos apoiantes mais emotivos deste ou daquele candidato é facto que no caso de Timor-Leste notamos que a “dose” é a dobrar e que uns ansioliticos viriam mesmo a calhar. Foi essa a impressão com que fiquei quando ainda há pouco falei com Beatriz Gamboa que está em Timor-Leste. Ainda é muito cedo para que possamos fazer uma previsão razoável e próxima dos resultados definitivos acerca dos votos que calham a cada um dos candidatos presidenciais. Claro está que o duelo entre Taur Matan Ruak e Lu-Olo se sobrepõe a tudo e a todos, esquecendo um potencial candidato que em tudo isto deverá vir a ter uma palavra a dizer porque decerto não terá tão poucos votos quanto isso. Refiro-me a José Ramos Horta.

Ainda para completar o ramalhete existe Fernando Lasama Araújo que não sendo vencedor como se sabe decerto indicará aos seus apoiantes qual o candidato que apoiará na segunda volta das eleições. Porque, ninguém duvide, vai haver segunda volta destas eleições presidenciais e por agora mantêm-se três candidatos na corrida: Taur Matan Ruak, Francisco Guterres Lu-Olo e José Ramos Horta.

Podemos ver projeções e resultados apurados da contagem de votos que está a acontecer por todo o país neste momento e por muito mais horas que ainda é cedo para se dizer com segurança quem ganha e quem perde a possibilidade de disputar a segunda volta destas eleições presidenciais. Plausível, segundo muitos, será o duelo incluir Taur e Lu-Olo… Mas ainda é cedo, neste momento, para futurar com segurança.

Estas têm sido horas de muito frenesim para imensas pessoas em Timor-Leste. Recomendar calma é o mais sensato. Amanhã, no lado ocidental do planeta (em Timor-Leste já passa da meia-noite e é dia 18, domingo) com mais 12 horas de apuramento e de confirmações decerto que tudo será claro e saberemos com segurança quem vai disputar a segunda volta. Para já é tudo permaturo e só vale acompanhar a evolução dos resultados provisórios se for entendido que são isso mesmo: provisórios. Dos três que vença o melhor, aquele que gostaríamos que fosse o melhor PR para Timor-Leste. Horta já mostrou o que vale e o que não vale no desempenho daquele cargo. Taur é um candidato de Xanana Gusmão sem sombra de dúvidas e foi desonesto ao anunciar-se como independente para depois mostrar ao que vem. Assim, dificilmente merece confiança. Lu Olo foi pão-pão-queijo-queijo e essa atitude vale bastante e mostra bom caráter. Pessoalmente já lamento imenso a desilusão que Taur representa e ver mais um Xanana na presidência da república timorense não desejo… Mas são os timorenses que vão decidir. Eles são quem sabe se querem ou não voltar a ser usados, enganados, roubados, atirados para conflitos, tudo à boa maneira de Xanana Gusmão.

Após algumas conclusões resta-me procurar entender como é que um homem como Taur se deixou levar nas loas de um vigarista como o seu ex-comandante das Falintil?  Xanana, por todos estes últimos anos primeiro-ministro - após um golpe de estado com destruição e mortes – assumiu a chefia de um governo onde abundam corruptores e corruptos que têm esvaído os recursos de todos em proveito de uns quantos da seita em que Taur se deixou envolver. E ele, Taur, aceitou todas essas circunstâncias naturalmente e há tanto tempo? Ai, Timor! (Redação PG – AV)

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MAU TEMPO E MÁS ESTRADAS DIFICULTARAM ELEIÇÕES EM TIMOR-LESTE



Jornal de Notícias

O diretor do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral de Timor-Leste, Tomás Cabral, disse que as eleições presidenciais correram bem, mas que o mau tempo e as más condições das estradas dificultaram o processo.

Tomás Cabral falava aos jornalistas em conferência de imprensa no Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE).

Segundo o diretor do STAE, a falta de energia está a dificultar a transmissão de resultados e a chuva e as más condições da estrada criaram dificuldades durante o dia.

Questionado sobre os boletins de voto que se esgotaram em algumas estações de voto, Tomás Cabral disse que foi um falhanço administrativo, mas que também foi resolvido.

Apesar dos resultados provisórios estarem a ser divulgados pela Televisão de Timor-Leste, o apuramento distrital ainda está a decorrer.

O diretor de STAE disse que, domingo à hora de almoço, já serão conhecidos resultados provisórios relativos a oito distritos.

Mais de 625 mil eleitores foram chamados hoje para eleger, entre 12 candidatos, o terceiro Presidente de Timor-Leste, desde a restauração da independência a 20 de maio de 2002.

Caso nenhum candidato consiga mais de 50% dos votos, será necessária uma segunda volta em abril.

“NIMIS”, UMA NOVA CATEGORIA SOCIAL NUMA EUROPA EM CRISE




Oscar Guisoni, especial para Carta Maior

Em 2008, antes da crise estourar, existiam os “mileuristas”, geração de menores de 35 anos que ganhavam a vida com mil euros por mês. Com o agravamento da crise, surgiram os "nimileuristas", as novas gerações europeias que fazem milagres para viver com salários inferiores a mil euros. Foi na Espanha que se perfilaram como um novo coletivo social, com reivindicações próprias, códigos culturais identificáveis e uma sensação de desânimo e pessimismo que impregna tudo. O artigo é de Oscar Guisoni.

São chamados de “nimileuristas*”, ou “nimis” simplesmente. São as novas gerações europeias que fazem milagres para chegar ao fim do mês com salários inferiores a mil euros. Encontram-se no coração do pseudo milagre do trabalho alemão e no centro da crise portuguesa, são uma realidade estabelecida na empobrecida Grécia e abrem caminho com força na França de Sarkozy. Embora tenha sido na Espanha que se perfilaram como um novo coletivo social, com reivindicações próprias, códigos culturais identificáveis e uma sensação de desânimo e pessimismo que impregna tudo.

A greve geral convocada pelos sindicatos para o próximo dia 29 contra a nova reforma trabalhista impulsionada pelo Partido Popular no governo os coloca diante de uma disjuntiva: apoiar as reivindicações de trabalhadores estáveis, um grupo social que goza de direitos que eles nunca desfrutaram nem sonham desfrutar; ou olhar para o outro lado esperando que as reformas pedidas pelos mercados e que o governo conservador aplica com todo vigor, acabem aliviando sua economia pessoal cada vez mais empobrecida.

Em 2008, antes da crise estourar com toda sua força, não existiam os “nimis”, mas os “mileuristas”, toda uma geração de menores de 35 anos que ganhavam a vida com mil euros por mês, um salário mínimo e insuficiente, que mal dava para cobrir os gastos mais elementares. Esta situação os condenava a não conseguirem ser independentes de seus pais e lhes impossibilitava criar uma nova família. Algumas cifras dizem tudo: só alugar um quarto (nem falar de uma casa) em cidades como Madrid ou Barcelona custa em torno de 500 euros. Os gastos habituais em alimentação, segundo as associações de consumidores, rondam em torno de 180 euros por pessoa ao mês. Somando-se a isso os serviços, que na Espanha são muito caros, sobretudo a eletricidade e o gás, e um mínimo para dedicar ao vestuário, o que sobra é zero.

Segundo a Agência Tributária, esta realidade afetava 80% dos menores de 35 anos antes da crise e agora se tornou crônica: mais de 60% dos assalariados espanhóis ganham esta cifra, transformando os “mileuristas” na imensa maioria.

Mas a crise econômica, que já deixou no caminho mais de cinco milhões de desocupados, criou uma nova categoria, ainda mais precária e empobrecida: os “nimileuristas”, ou seja, aqueles cujo salário nem sequer chega aos mil euros. O fenômeno começou a torna-se massivo na Alemanha desde 2010.

Grande parte do chamado “milagre do trabalho alemão” está baseado em uma fatia importante da população mais jovem que aceita trabalhar por salários ultra mínimos – 500/600 euros -, sem contratos estáveis nem proteção social adequada. Esta realidade funciona em um país como a Alemanha porque lá os salários são relativamente mais altos que na maioria dos países da Eurozona.

Mas na Espanha levanta bolhas, uma vez que os núcleos familiares se encontram extremamente expostos ao desemprego e aos salários baixos, razão pela qual os “mini empregos” ou “mini salários”, como começam a ser chamados na imprensa habitualmente, não representam nenhuma solução.

Esta nova categoria de pobres, segundo definição do sociólogo francês Louis Chauvel, tem um olhar amargo sobre o futuro, não acredita da política, está convencida de que a situação só pode piorar e é resistente a manifestar-se publicamente. É nesse complexo contexto que se inserem as mobilizações e a greve geral do próximo dia 29 contra a Reforma Trabalhista proposta pelo Partido Popular e que foi qualificada pelos sindicatos espanhóis como o maior ataque aos direitos dos trabalhadores em mais de três décadas de democracia.

Embora as mobilizações realizadas até o momento não deixem de ser massivas, no mundo sindical há plena consciência do desinteresse que desperta entre os “nimis” um protesto para preservar direitos que eles jamais gozaram. Mas, advertem os dirigentes sindicais, tampouco se pode cometer o erro de acreditar que liberalizando o mercado de trabalho se vai encontrar uma solução para o desemprego. O resultado da reforma, sustentam, será uma maior precarização, menores salários, menos proteção social.

O Partido Popular soube ler esta fratura social e decidiu jogar as cartas clássicas da direita para tentar dividir o protesto. María Dolores de Cospedal, secretária geral do PP, disse claramente: a reforma trabalhista é um projeto destinado aos jovens, para que não continuem sendo “bolsistas toda a vida” e tratou de culpar os sindicatos por defenderem os “privilegiados” que ganham salários superiores a mil euros.

Na esquerda também começa o debate sobre o que fazer com os “nimis”. Enquanto o desacreditado Partido Socialista propõe aumentar o salário mínimo para 1.000 euros “para garantir a dignidade” dos trabalhadores, na Esquerda Unida pedem uma reforma fiscal que aumente os impostos para os mais ricos e permita financiar a única solução possível a seu juízo: aumentar o emprego público e dar saída de trabalho às novas gerações.

(*) Nimileuristas: substantivo formado com ni+mil+euros (nem mil euros). N. T.

Tradução: Libório Junior

Fotos: El País

Ver vídeo – 1:18 (em castelhano)

SARKOZY À BEIRA DO ABISMO - I



Martinho Júnior, Luanda

1 – Em plena campanha eleitoral em França, Sarkozy revela-se por inteiro numa posição ultra liberal, que resgata muitas das intenções da direita mais conservadora que tem na família Le Pen seu máximo expoente político.

À direita de Sarkozy só existe o abismo, ou seja, o fascismo e o nazismo perenes e não itinerantes conforme se passa pelo menos com este Sarkozy em campanha.

Na outra eleição a que saiu vencedor, Sarkozy terá recebido apoios financeiros de Kadafi, mas isso não obstou a que a França sob sua orientação não se tivesse empenhado militarmente até ao assassinato do coronel, que conduziu à situação presente na Líbia: uma nação dividida, feudal, enfraquecida, esvaziada de suas finanças (colocadas no exterior por um Kadafi pouco previdente), uma nação em “ponto rebuçado” para os monopólios do petróleo, sedentos de produto “bom e barato”…

Esse tipo de aparentes ambiguidades, procuram esconder com o seu jogo o essencial: Sarkozy é um fiel servidor do capital tutelado pelas mais conservadoras famílias de banqueiros da Europa e dos Estados Unidos, famílias de banqueiros que integram a aristocracia financeira mundial, que por seu turno constituem os principais interessados nos monopólios que se ligam à indústria energética: foram eles que se tornaram decisivos, por via de processos elitistas do conhecimento humano aplicado à ciência e à tecnologia, sobre tudo o que foi ocorrendo a partir da Revolução Industrial (Rapidinhas do Martinho – 59 – França – Pequena radiografia do poder global – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html).

A carreira de Sarkozy está cheia de episódios, que redundam dessa sua trilha ultra liberal, sem programa definido e agindo a coberto duma mentalidade oportunista, que por vezes aparenta responder muito mais aos instintos do que a qualquer tipo de conceito bem elaborado.

Reitor do neo colonialismo em África, é toda a África francófone a principal vítima: são muitos dos países dessa região que estão nos últimos lugares dos Índices de Desenvolvimento Humano, mas é sobre eles que a França, a França regida por Sarkozy de há vários anos a esta parte, continua a fazer valer medidas radicais de migração, que não hesitarão a pôr em causa até o Acordo de Shengen!

A França de Sarkozy, na sequência de políticas anteriores não menos nefastas para África, a França que contribuiu e contribui para a mancha de miséria que se estende sobretudo no Sahel e no Oeste Africano, pretende proibir aos jovens migrantes africanos dispostos à aventura em função da miséria e da total ausência de oportunidades dos seus países, um modo mais digno de sobrevivência.

Sarkozy aplicou duma forma geral e salvo muito escassas excepções, enquanto está no poder, uma política de desprezo para com os africanos e para com seus interesses.

O caso do Níger é um exemplo que já foi por mim evocado na Rapidinha nº 19 (Níger – o neo colonialismo francês mortal e a pleno vapor – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/06/rapidinhas-do-martinho-19.html): o país onde a AREVA vai buscar uma parte substancial do urânio que é utilizado nas centrais nucleares francesas, está na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano e possui problemas que nunca foram ultrapassados, inclusive problemas ambientais resultantes da exploração do urânio!

Onde há morte no continente africano, a França faz-se presente: foi assim na Argélia, foi assim no Ruanda, foi assim na Costa do Marfim, foi assim na Líbia, está a ser assim na Somália, será sempre assim enquanto o capital decidir impunemente, por via dos Sarkozy de ocasião para quem não cabe o Tribunal Penal Internacional!

Publiquei em 2011 “A NATO sempre presente em África” (http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/nato-sempre-presente-em-africa.html) e lembro o que referi em relação à França, quando o colonialismo se fazia prevalecer na Argélia:

“A 2ª potência colonial a utilizar os T-6 em África foi a França, durante a guerra da Argélia, de 1 de Novembro de 1954 a 19 de Março de 1962 (“Algerian War” – http://en.wikipedia.org/wiki/Algerian_war).

Foi uma guerra sangrenta, que terá causado cerca de um milhão de mortos argelinos.

Os T-6 constituíram um dos meios operacionais da Aviação Militar Francesa empregue nos ataques ao solo; nesses ataques houve por vezes o emprego de napalm”.

2 – O papel da inteligência francesa na Síria, depois do seu papel na Líbia, continua para aqueles que advogam a globalização multi polar na ordem do dia, por que é um obstáculo para o diálogo e para, por via de meios pacíficos, se resolverem diferendos sociais, de forma a não pôr em risco a soberania dos países, mesmo que conduzam a mudanças do carácter do poder, nem a segurança das populações e comunidades.

Isso é tanto mais razoável quanto correntes islamitas radicais estão a surgir associadas a esse tipo de ingerências que, em nome dos direitos humanos defendem interesses egoístas a coberto das correntes ultra liberais no poder, como a que personifica Sarkozy em França!

A “democracia representativa” está em causa quando isso acontece, tudo para defender os interesses no petróleo “bom e barato” da península Arábica, salvando suas monarquias promotoras de elitismo, de castas e de corrupção, similares cada vez mais às castas existentes nas potências instrumentalizadas pelo capitalismo como os Estados Unidos, a Grã Bretanha e a França!

A inteligência francesa na Síria tem na verdade uma dupla subordinação: à França e aos Estados Unidos, servindo às mil maravilhas aos interesses e vocações do Pentágono!

Em “Verdades e mentiras e a mídia do Pentágono” (http://port.pravda.ru/mundo/27-02-2012/32997-siria_verdades_mentiras-0/), a imprensa não contaminada pela versão da conveniência da aristocracia financeira mundial esclarece muito do que de facto está a ocorrer na Síria:

“A OTAN e a Al Qaeda estão em aliança - Verdade.

Aqui é preciso esclarecer muitas coisas.

Ainda que isso possa parecer inacreditável, para quem foi bombardeado durante anos com a informação de que a rede Al Qaeda de Osama Bin Laden sempre foi uma rede terrorista, que teriam feito os atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, isso pode parecer mesmo um verdadeiro absurdo.

Mas não é.

Escritores, jornalistas independentes e intelectuais progressista a cada dia vêm trazendo informações precisas e importantes que comprovam essa informação.

E os próprios comunicados da organização Al Qaeda pelo seu novo "comandante", o médico pediatra egípcio Ayman Al Zawahiri atestam isso.

Textos recentes da lavra desse senhor ou a ele atribuídos, mencionam a importância fundamental da derrubada do governo sírio em aliança com as forças do autoproclamado Exército Síria Livre.

E essa organização prega o Estado Islâmico.

Essa organização faz questão de não dialogar com o governo. Foi assim na Líbia quando ela apoiou abertamente a queda de Khadaffi e fez aliança com as forças da OTAN. Agora, da mesma forma, conversações de alto (?) nível entre emissários dessa organização militar europeia - agora mundial! - com líderes da Al Qaeda que atuam na Síria mostra essa aliança, que é abastecida fartamente com dólares do petróleo árabe das monarquias do Golfo e dinheiro da CIA e do Mossad de Israel, via território curdo.

Como diz Pepe Escobar, combativo jornalista brasileiro correspondente do Asia Times, quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria é exatamente o que a Al Qaeda deseja para a Síria? Quem imaginaria que o CCG e a OTAN desejam para a Síria é o mesmo que a Al Qaeda deseja para esse país?"

Gravura: Mapa da África francofone. A intervenção de Sarkozy na Líbia influenciou toda a situação em África: quanto mais fragilizada e dividida estiver África, tanto melhor para os interesses neo coloniais.

Moçambique: Renamo acusa Frelimo de pretender assassinar Afonso Dhlakama



MMT - Lusa

Maputo, 17 mar (Lusa) - A Renamo acusou hoje a Frelimo, partido no poder em Moçambique, de pretender assassinar o líder do principal partido da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, numa marcha a acontecer proximamente na província de Nampula, no norte do país.

A denúncia foi feita hoje pelo secretário-geral da Renamo, Ossufo Momade, durante um encontro com dezenas de membros na delegação política em Maputo para repudiar os recentes tiroteios entre a polícia e ex-guerrilheiros desta força política em Nampula.

"Temos informações segundo as quais a Frelimo prepara um grupo de seus simpatizantes para marcharem na Rua das Flores para exigirem a retirada do presidente (Afonso) Dhlakama de Nampula. No grupo destes estarão infiltrados agentes do SISE (Serviços de Informção e Segurança do Estado)usando vestes muçulmanas e, por dentro, levando armas para assassinar o presidente Dhlakama", denuciou Ossufo Momade.

Na semana passada, as autoridades policiais atacaram e ocuparam a sede da Renamo em Nampula, onde desde dezembro estavam albergados centenas de ex-guerrilheiros da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), principal partido da oposição moçambicana.

Os ex-guerrilheiros fazem parte de militantes da Renamo, alguns dos quais armados, que se haviam albergado na sede do partido em Nampula, supostamente para proteger as manifestações que ameaça realizar contra o que considera uma governação antidemocrática da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder.

Hoje, Ossufo Momade disse que, na sequência da troca de tiros entre a força anti-motim do governo e os ex-guerrilheiros da Renamo, "10 polícias perderam a vida em Nampula" e questionou as razões de a Polícia da República de Moçambique (PRM) escamotear a verdade.

As autoridades policiais moçambicanas dizem que um agente da polícia e um ex-guerrilheiro da Renamo morreram durante o tiroteio.

"Porque o governo não diz a verdade sobre o número de baixas policiais em Nampula?", questionou Ossufo Momade.

O secretário-geral da Renamo considerou que os acontecimentos de 08 de março em Nampula ocorreram porque a Frelimo pretende acabar com a democracia multipartidária no país, contudo, apelou aos militantes do principal partido da oposição do país para entender "este marco como o início da revolução em Moçambique".

"Reiteramos a nossa vontade da paz sem, no entanto, termos medo da guerra", disse Ossufo Momade.

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