sexta-feira, 2 de março de 2012

TAUR MATAN RUAK, NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA…



Ana Loro Metan

A campanha eleitoral das presidenciais em Timor-Leste iniciou-se oficialmente há poucos dias e já o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) vem apontar irregularidades cometidas por parte de alguns candidatos e/ou seus apoiantes. Coisa de pouca monta e apesar de tudo prevalece a paz. Essa, a paz, esperamos que não seja maculada por ações contrárias. Alguns – poucos - desejarão a violência mas são muitos que desejam que prevaleça a paz. Que respeitem a vontade da maioria.

Faustino Cardoso, da CNE, refere no título Dois candidatos presidenciais não cumprem as regras estabelecidas pela CNE que “no primeiro dia de campanha eleitoral, Taur Matan Ruak e Lucas da Costa não seguiram as regras estabelecidas.” E explicou que “Taur Matan Ruak não deve utilizar a bandeira da FRETILIN durante a campanha porque este partido já tem o seu candidato, Francisco Guterres Lu Olo”.

Ainda ao candidato Taur é apontado que “de acordo com a CNE, alguns dos seus apoiantes andam a utilizar símbolos religiosos nas suas viaturas.”

Bem podia eu ficar aqui no meu recato e nem me esforçar para voltar a afirmar o que fiz na prosa anterior  em DEUS NOS SALVE DE TAUR MATAN RUAK SER ELEITO PRESIDENTE DA REPÚBLICA sobre o candidato e que foi: “Vai daqui o meu vibrante lamento por constatar que Taur é um grande cara de pau”, a agora daqui vai o meu segundo vibrante lamento por constatar que Taur aprende depressa as técnicas da súcia de vigaristas e oportunistas do CNRT-Xanana Gusmão, recheando-se de manhas que têm por objetivo enganar os timorenses – aqueles, os tais, que ele diz que vai pugnar por lhes obter a concessão de direitos constitucionais que lhes devem. Assim? É assim a ser desonesto que Taur quer demonstrar que cumpre as promessas?

Muito mais se poderia dizer mas basta estes comportamentos sujos, de baixa política e sem ética para aguardar que Taur venha a constituir mais uma grande desilusão, quase copiada a papel químico do original Xanana Gusmão. Esperemos que, se Taur vencer as eleições, não venhamos a registar desagradáveis pinchagens nas paredes das casas e muros de Timor-Leste com a palavra Traidor colada ao nome. Porque tudo na candidatura de Taur começou mal, porque afinal Taur não é quem se pensava – pelo que demonstra – somos obrigados a estar prevenidos e pessimistas. Postura que já começa a envolver-nos em tristeza e muito desconforto.

Os sinais estão perante os olhos de todos nós.  Resta terminar sem pôr mais na escrita, a não ser o meu terceiro vibrante lamento por constatar que Taur é um grande cara de pau e que parece tudo se estar a agravar e encaminhar de modo a recordarmos que “no melhor pano cai a nódoa”.

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ELEITORES TIMORENSES: PARTICIPEM NA SONDAGEM “VOTO PARA PR DE TIMOR-LESTE”, na barra lateral

Brasil - UNMIT: Dois Oficiais embarcaram hoje para a Missão no Timor Leste



UN Police Brasil – 01.03.12

O contingente policial brasileiro na Missão de Paz da ONU no Timor Leste - UNMIT - irá receber o reforço de dois novos UNPOLs.

O Capitão Átila Mezadri Pezzeta, da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul - BMRS, e o 1º Tenente Adriano Bezerra, da Polícia Militar do Estado do Ceará - PMCE, embarcaram no aeroporto de Guarulhos às 17:30 hs de hoje com destino a Dili, capital timorense, onde deverão chegar às 14:20 hs (horário local) do próximo sábado.

Serão aproximadamente dois dias de viagem com escalas previstas em Johannesburgo, na África do Sul, e Singapura.

Outros três Oficiais também estão em processo de embarque para a UNMIT, sendo que o Capitão Laudemir da Rosa Gomes - BMRS - está com passagem marcada para o próximo dia 06 de março (terça-feira).

Já os Oficiais da Polícia Militar do Estado do Mato Grosso - PMMT, Capitão Frederico Correa Lima Lopes e o 1º Tenente Ricardo de Almeida Mendes, ainda aguardam a Travel Authorization.

O REGIME ANGOLANO, SUSANA INGLÊS E A TERCEIRA ALTERNATIVA




Desde que não escrevo aqui aconteceu…

Marcolino Mouco – À Mesa do Café

1-Pedem-me para me pronunciar sobre o caso Susana Inglês, nossa colega, advogada nomeada Presidente do CNE, na mais arrepiante das situações alguma vez vista. De tão inacreditável que numa altura dessas, situações dessas aconteçam, nem tenho fôlego para escrever sobre isso. Acreditar que é uma nomeação feita pelo nosso Conselho Superior da Magistratura Judicial! Acreditar que ninguém se envergonha disso! Nem os nomeadores nem a nomeada! Nem os dignitários todos de um proclamado Estado Democrático e de Direito, em pleno Século XXI! Não! Eu é que devia ter vergonha em deixar aqui estas exclamações porque sou militante do MPLA e devia estar calado. Mas eu continuo a dizer: olhemos para os lados a nossa volta e vejamos se isto ainda acontece. Cada vez menos e nunca mais com este requinte de banalização de tudo que é regra mínima para uma sociedade que se deve orgulhar de si.

E lá onde isto acontece há crises graves. Ou será que essa é uma forma de criar crises que a harmonia não compensa?

2-Por isso acontecem outras coisas mais ou menos imperceptíveis. A normalidade da anormalidade está alicerçada em Angola. Ontem alguém, bem falante, comentava numa rádio que a vantagem da alternância na política é que nestes 10 anos temos um Presidente que enriquece os seus parentes e amigos, nos 10 anos seguintes o novo Presidente faz o mesmo com os seus parentes e amigos; e assim sucessivamente vai-se distribuindo justamente a riqueza de um país. Reflexos e percepções de uma habituação que a nossa elite tarda em suprimir pela via pacífica mas de forma enérgica; com a contribuição passiva (e activa!) dos nossos colegas juristas nos tribunais e na vida do dia-a-dia.

Por tudo isso estou mais convencido do que antes que as minhas propostas no texto “Angola: a terceira alternativa” fazem todo o sentido. Alguma coisa deve ser feita. Só eleições não bastarão. Nem as próximas nem as outras que se seguirão. Ou o futuro não nos perdoará.

3-E “Angola: a terceira alternativa” vai suscitando vivo debate. Alguns continuam espantados porque quem fala foi Secretário-Geral do MPLA no poder desde a independência, e Primeiro-Ministro do País com a etiqueta de chefe de governo (para alguns) já lá vão mais de 15 anos. São anos suficientes para um indivíduo se ter redimido através do silêncio e da bajulação ao sistema “eduardino”, de humilhações que por cima reclamam prostrações. Nunca segui e nunca seguirei este caminho. E não entendo realmente estes espantos perante tanta anormalidade hoje, porque estou convencido que o MPLA e eu próprio com tantos erros cometidos, nunca desejamos e nunca fomos o que se faz hoje no país. Tudo pode ser debatido, é evidente.

E por falar da minha “Angola: a terceira alternativa”, aproveito para apresentar à FNLA, e ao seu Presidente, o Engº Ngola Kabango a minha penitência pública, sobre um equívoco que vai ser corrigido: a FNLA não votou a favor; absteve-se na votação da nova Constituição da República de Angola, onde foi estreada toda essa banalização das normas jurídicas e de qualquer ética ou moral públicas de que o caso Suzana Inglês é apenas uma continuidade.

É a questão da necessidade de evitar maus precedentes de que eu falava na altura.

Marcolino Moco

*Título PG

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ATIVISTAS DO PROTETORADO LUNDA SÃO PRESOS POLÍTICOS DO REGIME ANGOLANO




ANTÓNIO BENTO BEMBE SECRETÁRIO DE ESTADO PARA OS DIREITOS HUMANOS
DE ANGOLA RECEBEU EM AUDIÊNCIA O SECRETÁRIO REGIONAL DO MANIFESTO DO PROTECTORADO LUNDA

O Secretario de Estado para os Direitos Humanos do Executivo Angolano, Sr. António Bento Bembe, recebeu  em audiência realizado no Hotel Diamante na cidade de Dundo, o Secretário Regional da Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe Sr. Paulo Muamuene, durante a visita que o mesmo efectuou na semana de 15 a 18 de Janeiro de 2012 na Província da Lunda-Norte.

As questões ligadas a violação sistemática dos direitos humanos a nível da Província, a questão da prisão ilega dos membros do Manifesto do Protectorado da Lunda, mesmo sabendo que a referida lei 7/78 já foi revogada em 2010, uma revindicação legitima de um direito nunca pode constituir um crime em qualquer parte do nosso planeta terra a não ser em Regimes Totalitários, dominaram o encontro.

De lembar que os Activistas Políticos; Domingos Henrique, José Muteba, Sebastião Lumani, Sérgio Augusto e António da Silva Malendeca estão no estabelecimento prisional da Kakanda a cumprir injustamente uma pena inexistente, para além dos senhores Alberto Cabaza e Domingos Manuel que continuam em prisão domiciliaria em Luanda desde Dezembro de 2010. O senhor António Bento Bembe visitou também a cadeia, provou e falou com estes membros do movimento.

Perante os factos da irregularidade e injustiça, o Sr. António Bento Bembe, disse ao nosso Secretário Regional que levaria a preocupação dos detidos ilegais do Manifesto às Autoridades Competentes da PGR e do Tribunal Supremo em Luanda.

Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe

www.protectoradodalunda.blogspot.com

LUCAPA - POLÍCIA PRENDE ACTIVISTAS DO MANIFESTO DO PROTECTORADO DA LUNDA SEM CAUSA

Três Activistas do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda, estão presos na DPIC – Direcção Provincial de Investigação Criminal na cidade de Dundo, Lunda-Norte  vindos do Município do Lucapa, tratam-se dos Senhores: Domingos Orlando Miúdo, Alberto Mulozeno e Eugenio Mateus Sangoma.

De acordo com o Secretario Municipal da CMJSPLT naquela localidade, Sr. Francisco Muazunga, o Comando Municipal da Policia Nacional notificou os mesmo a comparecer naquele estabelecimento policial, no terreno o agente oficial em serviços disse-lhes que estavam presos sem nenhuma explicação.

No dia 18 de Fevereiro de 2012, foram enviados de Lucapa para o Dundo onde estão aprisionados na DPIC, não foi dada nenhuma informação aos familiares.

Fonte que acompanha o processo, disse que as detenções a membros do Manifesto do Protectorado da Lunda é uma orientação superior do Comando da Policia Nacional e que há 20 dias atrás o Comandante e Delegado do Interior naquela Província, senhor Sub-Comissário Gil Famoso da Silva, terá deixado orientações da actuação à sua corporação no Cuango e Caungula.

Um outro incidente teve lugar na semana que findou em Cafunfo, com o Activista Samy Dinis, interceptado pela Policia do Comando Municipal naquela localidade, quando este vinha do rio de motorizada para o Bairro, preso das 16 horas até às 21 horas, foi levado para o meio do matagal, onde sofreu uma cruel sessão de interrogatórios com ameaças de ser fuzilado se refilasse. Para o deixarem, teve que pagar no momento 150,00 dólares americanos que trazia consigo.

O Governo Angolano, ao longo destes (6) anos da nossa existência, já terá provado que as detenções, perseguições, raptos e as ameaças de morte, só fortalecem o nosso Movimento de Reivindicação da Autonomia Admnistrativa, Económica e Jurídica da Nação Lunda, é o nosso direito legitimo, é o maior sacrifício que fazemos para uma coabitação em Pacífica.

A maioria do nosso povo esta consciencializado para defender o seu direito inalienável, vai lutar com toda a responsabilidade sobre esta causa nobre até vencer. Lembrando que existem (5) outros presos políticos do Manifesto que continuam ilegalmente na cadeia da Kakanda na Lunda - Norte.

Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe

www.protectoradodalunda.blogspot.com

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Traficantes usam costa africana como rota de drogas para Europa



Deutsche Welle

Países como o Senegal, a Libéria e a Guiné-Bissau transformaram-se em pontos cruciais para o tráfico da cocaína. Criminosos transportam a mercadoria para a Europa passando pela África Ocidental.

Os países do oeste africano estão se tornando rotas cada vez mais significativas para os cartéis que controlam o tráfico de drogas na América do Sul, pois este é o caminho mais curto e mais barato para transportar a produto para a Europa. A afirmação é de Juri Fedotov, diretor do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Combate à Criminalidade (Unodc). Ele estima que os cartéis chegam a lucrar em torno de 680 milhões de euros por ano com o negócio.

Segundo Aisser al-Hafedh, encarregado da África Ocidental do Unodc, o volume da cocaína apreendida na região caiu mais de 50% entre 2006 e 2009 – de 47 toneladas para 21 toneladas. Isso não significa, contudo, que o contrabando diminuiu, mas sim, que as redes criminosas teriam mudado suas estratégias. E, para Al-Hafedh, as autoridades dos países envolvidos precisam se adequar a elas.

Os criminosos desenvolveram, por exemplo, um sistema de transporte bastante profissional. A droga chega de avião, navio ou mesmo de submarino em uma das ilhas da costa, como Cabo Verde, e são transportadas de lá em unidades menores. As condições de segurança instáveis e a fraca fiscalização das fronteiras dos países do oeste africano como Serra Leoa, Senegal ou Libéria facilitam o contrabando.

Perigo rondando

Outro exemplo é Guiné-Bissau. Por causa de suas muitas ilhas ao longo da costa e da crise política local, o país acabou se tornando nos últimos anos um ponto importante do tráfico de drogas para a Europa.

Além disso, instâncias federais como a marinha, a alfândega e os militares não são exatamente confiáveis neste sentido, pois, segundo a ativista Priska Hauser-Schrerer, eles mesmos faturam com o comércio da droga no país.

"O tráfico desestabiliza enormemente a situação porque é algo muito perigoso. Não se pode cruzar o caminho de um traficante sem temer pela sua própria vida", avalia Hauser-Scherer, que trabalha para a organização antidroga IOGT, na Guiné-Bissau.

Situação parecida vive o Senegal. Na província de Casamance, ao sul do país, desde a década de 1980 impera uma guerra entre combatentes independentes e soldados senegaleses. "O tráfico de drogas nesta região aumentou principalmente por causa da crise econômica e das péssimas condições de segurança", explica Fatoumata Sy Gueye, diretora de programas da Fundação Konrad Adenauer em Dacar.

"Em outras regiões do Senegal o tráfico de drogas está ganhando mais peso, pois para muitas pessoas ele é a única maneira de ganhar dinheiro", disse Gueye.

Emprego para traficantes

Apesar de o Senegal ser um dos países mais avançados do oeste africano, ele ainda tem grandes problemas econômicos. O preço dos alimentos é alto e quase metade da população está desempregada.

Fatouma Sy Gueye acredita que principalmente os mais jovens precisam urgentemente de trabalhos formais, para voltarem a ter melhores perspectivas de vida. O Senegal precisaria encontrar alternativas para buscar financiamentos e para se manter no dia a dia.

Com o crescimento do contrabando do oeste da África para a Europa, mais drogas ficam nos países africanos para serem revendidas ou mesmo consumidas. Segundo o Unodc, os traficantes da África que cooperam com os sul-americanos recebem o pagamento também em drogas – isso acontece em uma significativa parte da região.

O Unodc levantou ainda em seu mais recente relatório que, em 2009, 21 toneladas de cocaína chegaram à Europa depois de passarem pelo oeste africano. Outras 13 toneladas teriam ficado nos países para serem consumidas.

Autora: Claudia Zeisel (msb) - Revisão: Carlos Albuquerque

Conselho Europeu - Cresce na Europa uma frente contra a austeridade




Philippe Ricard - Le Monde, Paris – em Presseurop, com imagem de Bromley

Numa altura em que o Conselho Europeu, que começou na quinta-feira 1 de março, está prestes a assinar o Pacto Orçamental, uma dúzia de países, liderados pela Itália, contestam a política de rigor do casal "Merkozy" e defendem uma política de relançamento do crescimento.

O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, defende o Pacto com alma, em apoio da chanceler alemã, Angela Merkel. Já o seu adversário socialista, François Hollande, promete renegociá-lo, caso seja eleito Presidente da República. O pacto orçamental vai ser submetido à assinatura de 25 chefes de Estado e de Governo da Europa, na sexta-feira 2 de março, em Bruxelas – só o Reino Unido e a República Checa deverão abster-se. Mas o debate está longe de ter sido encerrado.

Esta assinatura abre caminho a um processo de ratificação que se anuncia delicado, num momento em que a crise das dívidas soberanas conhece uma trégua relativa no que diz respeito ao apoio à Grécia. Terça-feira, 28 de fevereiro, o primeiro-ministro irlandês de centro-esquerda, Enda Kenny, anunciou, contra todas as expectativas, a sua intenção de realizar um referendo para ratificar o pacto.

Evitar pôr em causa o PEC

Em França, Sarkozy decidiu não apressar a ratificação parlamentar para antes das eleições presidenciais [22 de abril-6 de maio] e legislativas [10-17 de junho]. Mas tenciona realizá-la logo de seguida, se for re-eleito. Se, pelo contrário, ganhar Hollande, são muitos os dirigentes de esquerda que não querem nem ouvir falar de ratificação do texto tal como se apresenta. Desde a cimeira europeia de junho, insistem no reforço do vetor de crescimento e de governação económica, num tratado projetado principalmente para estatuir em permanência a disciplina orçamental tão do agrado de Angela Merkel.

Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, que os chefes de Estado e de Governo deverão confirmar no cargo por mais dois anos e meio, quer evitar que outro tratado, o do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), em processo de ratificação, seja posto em causa. Pressionada para aumentar o poder de intervenção deste fundo de emergência permanente, a Alemanha insiste em ligar politicamente os dois textos.

No fundo, a oposição entre Sarkozy e Hollande sobre o novo tratado reflete o debate em curso no seio dos Vinte e Sete. Depois de, sob pressão dos mercados, ter sido dada primazia à austeridade, têm agora de debater a melhor forma de apoiar as suas economias, sem aumentar os défices.

Os planos de austeridade, em vigor um pouco por todo o continente, estão a ser cada vez mais contestados pelos sindicatos e pela opinião pública, num contexto de grande aumento do desemprego nos países mais frágeis. Na opinião de muitos dirigentes, podem ainda vir a agravar a recessão que se anuncia. "Neste momento, insiste-se demasiado em sanções financeiras e pacotes de austeridade", declarou o socialista Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, durante uma visita a Atenas, na passada terça-feira.

"Uma crise de crescimento"

As advertências neste sentido têm-se multiplicado. Doze países, incluindo Itália, Espanha, Holanda, Reino Unido e Polónia, pedem para que se reoriente a política económica defendida pela dupla Merkel-Sarkozy. "A crise que estamos a enfrentar é uma crise de crescimento", alegam numa carta escrita por iniciativa de Mario Monti, primeiro-ministro italiano.

Mas, no espírito dos doze signatários desta carta, o remédio passa por uma maior liberalização, pela reforma do mercado de trabalho em cada um dos Estados e por uma maior abertura comercial do continente. O que não corresponde verdadeiramente às soluções preconizadas pela esquerda francesa.

A recessão que ameaça os Vinte e Sete preocupa também os seus parceiros internacionais. A curto prazo, o desafio está também – e talvez especialmente – em especificar as modalidades de aplicação do Pacto de Estabilidade e Crescimento, com o reforço decidido no outono. A Espanha exige que sejam revistas em baixa as metas que lhe foram estipuladas, uma exigência rejeitada liminarmente pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu.

Ao que acresce uma preocupação que pode complicar o início do mandato do próximo Presidente francês: proteger a credibilidade do dispositivo de vigilância coletiva que tem vindo a emergir lentamente da crise da zona euro.

Conselho Europeu – EXISTEM ALTERNATIVAS AO PACTO ORÇAMENTAL




Adrian Hamilton - The Independent, Londres – em Presseurop, com imagem de Nicolas Vadot

O novo tratado, assinado por 25 Estados-membros em Bruxelas, em 2 de março, abre supostamente uma nova era de responsabilidade fiscal e de união económica. Mas está mal cozinhado e reforça as credenciais não democráticas da UE, defende um colunista britânico.

O mais triste comentário proveniente esta semana da Europa foi feito por um alto funcionário de Bruxelas, que declarou que a crise da zona euro está agora em vias de encontrar uma solução, graças à intervenção do Banco Central Europeu, que vai injetar mais meio bilião de euros no sistema, através de empréstimos aos bancos.

Ah, sim? Com os irlandeses agora a realizar um referendo sobre o novo pacto orçamental acordado pelos membros da zona euro, com o Bundesbank a criticar abertamente o BCE pelas suas intervenções e com os mercados impassivelmente a recusar-se a acreditar na recuperação da Grécia ou nas garantias da dívida soberana, alguém realmente acredita que tudo ficou resolvido? Nas capitais da Europa, nomeadamente em Berlim e Paris, seguramente que não.

O problema da UE, neste momento, é ter-se tornado uma espécie de cão que não ladra: o único interesse das suas cimeiras não é o que decidem, mas que nunca decidem nada. Veja-se a mais recente, que começou ontem e deve terminar hoje. Devia servir para selar o novo pacto fiscal, que abriria uma nova era de responsabilidade fiscal e de união económica. Também se destinava a aumentar o limite máximo dos fundos de emergência para um nível capaz de convencer os mercados de que a zona euro veio para ficar, sólida, completa e eficaz.

É uma questão de "sobrevivência"

Em vez disso, a decisão sobre a dimensão do fundo de apoio foi adiada para mais tarde – este mês ou no próximo ou no outro a seguir, conforme calhar. Também estava previsto haver uma cimeira separada de dirigentes da zona euro, hoje, para pôr todo o sistema em marcha. Mas já não vai acontecer. "Não foi cancelada porque nunca foi oficialmente agendada", declarou um porta-voz, naquela forma esquiva típica de Bruxelas.

A decisão do tribunal irlandês de que o país teria de realizar um referendo certamente não veio ajudar. No mínimo, vai atrasar vários meses o processo, pelo menos em termos de conclusão definitiva (o pacto pode avançar sem a Irlanda). E levanta a possibilidade de despertar todas as dúvidas na opinião pública e o antagonismo em relação à forma como os dirigentes europeus têm conduzido a austeridade, como o único fim em si da política económica.

Mas a democracia é assim mesmo. O referendo na Irlanda vai correr bem, defendeu Dick Roche, ex-ministro irlandês para os Assuntos Europeus, na BBC, esta semana, porque é diferente do problemático Tratado de Lisboa. Nesse caso, tentava-se vender algo complexo e abstrato. Desta vez, o público entendeu que é uma questão de "sobrevivência".

BCE tem estado a conceder tempo à Europa

É precisamente esse o problema. As soluções, como o novo pacto, estão a ser impingidas aos cidadãos pelos dirigentes numa base de "não há alternativa". No entanto, existem alternativas. Podem passar por deixar a Grécia ir à bancarrota, mudar as regras do BCE para permitir que seja uma última instância de crédito, emitir obrigações europeias, permitir que o novo Mecanismo de Estabilidade Europeu atue em conjunto com o atual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira em vez de o substituir, ou produzir um programa coordenado de relançamento económico à escala europeia.

Os problemas são evidentes. Os alemães não querem nada disso. Os franceses querem que os alemães assumam todo o odioso das decisões. Os britânicos querem ficar de lado a assistir. Portanto, ficamos com estas propostas atuais de um pacto mal cozinhado, sem dentes para convencer os mercados de que é muito eficaz, e que corre ainda o risco de tornar um sistema antidemocrático ainda menos democrático, retirando direitos às nações para controlar os seus próprios orçamentos. É uma curiosa ironia que o País de Gales e a Escócia vejam uma maior independência no controlo dos seus próprios impostos, enquanto a Europa caminha na direção oposta e tenta acabar com ele.

O BCE tem estado a conceder tempo à Europa, que devia ser usado para pensar nas questões fundamentais e não para fazer cimeiras só por fazer, que é o que se vê nos atos dos dirigentes europeus.

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Economia

“A crise alastra ao Norte da Europa Süddeutsche Zeitung estima que a cimeira em Bruxelas foi... dominada por ilusões. Em vez de falarem da gestão da crise, [os chefes de Estado] discutem a criação de emprego [e] a competitividade da economia europeia. Não é falso. Mas não passa de metade da verdade.

A crise está longe de estar resolvida, mas “é varrida para debaixo do tapete”, acrescenta o jornal. Ainda não se sabe ao certo se a Grécia receberá novas ajudas ou qual será a dimensão dos mecanismos de resgate – a decisão foi simplesmente adiada. Relativamente aos temas debatidos na cimeira, surge um outro problema: a Holanda, outrora defensora de uma rígida política orçamental, perde de tal forma poder económico que o Governo em Haia se vê obrigado a aplicar medidas de austeridade.”

A crise atinge a Europa do Norte. O centro da estabilidade económica é perturbado.”

EUA: UMA ELEIÇÃO DO UM POR CENTO




David Brooks (*) – Carta Maior

Para muitos nos EUA, a impressão é que esta é uma eleição do um por cento, para o um por cento e pelo um por cento, guiada, desenhada e coreografada pelos melhores técnicos especializados em criar uma ilusão de democracia enquanto os donos do jogo se dedicam ao negócio do poder real. Talvez o mais interessante agora sejam os detalhes raros deste concurso. Como o que ocorreu no Arizona, Estado mais anti-imigrante dos EUA, com o republicano Paul Babeu, uma das figuras mais "machonas" da política estadual, cujo conflito passional com um imigrante veio a público. O artigo é de David Brooks.

Que a eleição presidencial norte americana parece estar reduzida, com seu tsunami de fundos ilimitados e não regulados, a um concurso entre milionários para impor o seu favorito na Casa Branca já não é notícia. Para muitos, a impressão é que esta é uma eleição do um por cento, para o um por cento e pelo um por cento, guiada, desenhada e coreografada pelos melhores técnicos especializados em criar uma ilusão de democracia enquanto os donos do jogo se dedicam ao negócio do poder real. Portanto, talvez o mais interessante agora sejam os detalhes raros e absurdos deste concurso ou as coisas que se revelam da classe política por acidente.

Por exemplo, no sábado passado houve uma agitação no estado mais orgulhosamente anti-imigrante do país, o Arizona. Ali, uma das figuras mais “machonas” da política estadual, um “sheriff” reconhecido por sua feroz posição anti-imigrante e fama de ser ex-militar e grande defensor da “lei e da ordem”, também candidato ao Congresso, de repente teve que renunciar à vice-presidência estadual da campanha presidencial do republicano Mitt Romney. A razão: um conflito passional com um homem, que além de tudo é... um imigrante mexicano!

Paul Babeu, político muito popular no Arizona, xerife do condado de Pinal, anunciou sua renúncia após serem publicadas nos meios de comunicação locais, versões de que havia ameaçado deportar um ex-namorado, de origem mexicana, quando este – identificado como José – recusou ocultar uma relação que, afirmou, durou anos. José declarou ao Phoenix New Times que recusou assinar um acordo segundo o qual jamais revelaria sua relação com Babeu e por isso foi ameaçado com a deportação. No sábado, Babeu foi obrigado a confessar, em entrevista coletiva, que teve uma relação “pessoal” com José, mas negou que houvesse ameaçado deportá-lo, embora admitisse: “A verdade é que sou gay”. As primárias no Arizona se realizaram nestes dias e o que menos desejava Romney, que destaca suas credenciais de “conservador” extremo, é que alguém associado a ele seja gay.

Falando de estrangeiros, os republicanos ainda tentam manter a suspeita de que Obama não é norte americano. Entre as filas ultraconservadoras se suspeita ainda da veracidade de sua certidão de nascimento e, embora os pré-candidatos tenham abandonado essa linha de ataque (que utilizaram na eleição de 2008), desejam gerar a ideia de que mesmo Obama sendo norte americano, suas ideias sim são estrangeiras. Na impossibilidade de poder chamá-lo “africano” ou “muçulmano”, como tentaram antes, agora o pior insulto é que é um socialdemocrata ou socialista estilo europeu. O pré-candidato presidencial republicano Newt Gingrich o acusou de estar “a favor do socialismo europeu”.

Romney afirmou que Obama promove um “Estado de Bem estar de estilo europeu” em contraste com o seu, que é de “um país livre”. Como assinala o colunista Harold Meyerson, do The Washington Post, a “culpabilidade por associação era muito mais simples quando a associação, ou suposta associação, era com comunistas. Em sua ausência, os republicanos enfrentaram o desafio de tornarem-se mais ridículos. E conseguiram!”.

Enquanto isso houve um intenso debate sobre a “liberdade de religião” quando os bispos católicos proclamaram sua oposição a que hospitais e escolas católicas paguem o custo de anticoncepcionais para seus funcionários, como estipula a reforma de saúde impulsionada por Obama. Quando o governo de Obama conseguiu torcer a férrea oposição da hierarquia católica, ao dizer que as seguradoras e não suas instituições pagariam esses custos, os bispos insistiram que ninguém deve pagar por algo tão cheio de maldade como a contracepção. Agora alguns republicanos atacam Obama como “inimigo da religião”.

O espetáculo da hierarquia – por definição de puros homens –, defendendo seus supostos princípios morais sobre a sexualidade, apesar da vasta maioria de seus fiéis não compartilharem seu ponto de vista e de que não há nenhuma menção a tal coisa na Bíblia, foi triste. Mas o mais notável, quase obsceno, assinalaram cômicos e satíricos, foi que uma instituição que passa por uma das piores crises de sua história – e paga indenizações multimilionárias – pelas perversas atividades sexuais cometidas com menores de idade por vários de seus pastores espirituais, e depois encobertas por seus líderes, ainda acredite que tem autoridade moral para pronunciar-se sobre isto. Revelou, mais uma vez, essa combinação tão letal de política e religião neste país.

Talvez o exemplo mais extremo desta combinação entre política e religião entre os republicanos é o pré-candidato Rick Santorum, que não só se pronuncia contra a anticoncepção, mas também descarta o aquecimento global, a teoria da evolução, afirma que o sexo gay é “selvagem” e até questiona o papel do Estado na educação (seus filhos foram educados em casa). Tudo em nome de sua fé católica. O fato de ser um candidato viável para a presidência provoca que muitos aqui gritem: “Deus nos salve!”.

E, enquanto tantas coisas sérias acontecem, a convulsão continua em Wall Street. Há duas semanas se realizou um rito anual de uma confraria de banqueiros e executivos de Wall Street que se divertiram zombando do Ocupy Wall Street e de como foram resgatados da crise pelo tesouro público. Todo culminou com o rito de indução de novos membros, que tiveram que vestir roupa de mulher, dançar, cantar e submeterem-se a um bombardeio de pasteizinhos e guardanapos empapados em vinho exclusivo. Estes são, como informou The New York Times, os que tomam decisões cotidianas que “coletivamente podem fazer ou romper os mercados financeiros globais”.

Só com estes exemplos – e tem muito mais – pode-se concluir que, se por um lado os conservadores aqui tem razão: a imigração, o socialismo e o sexo ameaçam os Estados Unidos, por outro, é que talvez o estribilho da canção tema do grande filme Cabaret é o melhor exemplo para descrever a conjuntura neste país: “a vida, meu amigo, é um cabaret”.

(*) Do La Jornada, México. Especial para Página/12.

Tradução: Libório Júnior

Empresas de Leiria procuram internacionalizar-se a partir de Cabo Verde



CLI - Lusa

Cidade da Praia, 02 mar (Lusa) - Empresários da região portuguesa de Leiria estão à procura de parcerias para entrar no mercado cabo-verdiano, tendo em vista internacionalizar as empresas e conquistar o mercado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Para isso, sete empresas ligadas à construção civil, agroindústria, ramo alimentar e cordoaria terminaram hoje uma missão em Cabo Verde, organizada pela Associação Empresarial da Região de Leiria (NERLEI).

Em declarações à Agência Lusa, a responsável do Departamento de Internacionalização da NERLEI, Petra Moleiro, indicou que, durante os três dias da missão, os empresários conheceram o mercado cabo-verdiano e encontraram-se com empresários locais tendo em vista o estabelecimento de parcerias para futuros negócios.

Petra Moleiro considerou que a missão foi "bem sucedida", já que foi possível conhecer o funcionamento do mercado cabo-verdiano.

"A maior dessas empresas nunca tinha tido qualquer tipo de contacto nem com o mercado nem com empresas cabo-verdianas. Fator positivo é terem ficado a conhecer as principais oportunidades de negócio e o como funciona o mercado local", disse.

A responsável da NERLEI acrescentou que, durante os encontros, surgiram algumas possibilidades de estabelecimento de parcerias entre as empresas cabo-verdianas e mesmo de implementação de empresas leirienses em Cabo Verde.

"Há também possibilidades de estabelecimento de parcerias e de deslocalização de empresas para Cabo Verde, que vão ser trabalhadas. As empresas saíram daqui todas muito satisfeitas e julgamos que, dentro de alguns meses, todas deverão voltar aqui para dar seguimento aos contactos já estabelecidos", disse.

Petra Moleiro destacou que a implementação das empresas em Cabo Verde, se se concretizar, seguirá uma lógica de primeira experiência de internacionalização.

"Sabemos que Cabo Verde é um país que produz muito pouco e queremos ajudar. Por isso mesmo, algumas empresas estão cá para se instalar em Cabo Verde, produzir e poder depois exportar a partir daqui", explicou.

"Há uma forte ligação entre Portugal e Cabo Verde e acreditamos que é um bom mercado para se iniciar a internacionalização e, posteriormente, alargar a sua atividade a outros países da zona africana. Neste sentido, Cabo Verde pode servir de plataforma para o mercado da CEDEAO", com mais de 280 milhões de habitantes, acrescentou.

A missão, que esteve nas ilhas de São Vicente e Santiago, serviu ainda para a preparação de futuras relações de parcerias entre a NERLEI e outras associações cabo-verdianas ligadas ao empresariado.

Participaram da missão empresarial as empresas Caixifer (serralharia), Espelhos do Liz (transformação de vidro), Incarpo (do ramo alimentar), Isolporta (materiais de construção), Pervedant (indústria de plástico) Promor (agroindústria) e Tecfil (cordoaria).

COISAS QUE NÃO MUDAM




Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

Nunca percebi certos ditos. Como "em política não há amigos" ou "não há memória", ou "não há traições". Sendo a política uma atividade humana entre tantas outras, se delas se deve distinguir, acho, é pela nobreza e não, pelo contrário, funcionar como terra de ninguém sem leis nem regras mínimas de decoro, honra e verdade. Sei, porém, que como em todas as áreas em que as apostas são altas e os confrontos aguerridos, o oportunismo e as alianças de circunstância campeiam. E aquela máxima "o inimigo do meu inimigo meu amigo é" será muito praticada, como afinal na vida de tanta gente.

Vem isto a propósito do conflito, em escâncara escalada, entre o presidente e o Governo, na pessoa do primeiro-ministro. Sabíamos todos há muito que Passos e Cavaco não morrem de amores um pelo outro. Mas todos assistimos à aliança tácita que fizeram para o derrube do Governo Sócrates e à forma como o PR, inimigo tão figadal da austeridade imposta pelos socialistas a ponto de apelar a "um sobressalto cívico" e de rasurar nas suas análises a crise internacional e europeia, alterou o seu discurso no pós-eleições ante o acometimento de fúria austeritária do Governo Passos. Até que, precisamente, resolveu recuperar as suas preocupações de antanho e começar a afrontar as opções do Governo, linha que inaugurou com as críticas ao orçamento de 2012 antes de este ser sequer discutido.

Com episódios pícaros como o da fuga do PR ante a manifestação numa escola secundária versus o arrojo de Passos, na mesma semana, face a gente que o apupava, ou a reação cortante do PM às críticas do PR à "excessiva austeridade" - "Não vou entrar num ping-pong público com o Presidente", como quem diz, e bem, "o que eu e o PR temos a dizer um ao outro não deve ser espetáculo mediático" -, esse confronto teve na entrevista que Cavaco deu à TSF no aniversário da rádio um momento alto, quando o Presidente afirmou que existe "cobardia dos líderes europeus face às agências de rating".

Todos, presumo, nos recordamos do que Cavaco dizia antes da queda do Governo PS sobre as agências de rating: não deviam ser afrontadas e era "um erro culpar os mercados". Claro: a culpa tinha de ser todinha do Governo em funções porque era isso que convinha a Cavaco, mesmo se em nada convinha ao País. Agora, de repente, as agências são más da fita e Passos cobardolas (por acaso, logo a seguir ao episódio das "manifs"). Estas cambalhotas devem-se a quê? Partindo do princípio de que o PR está no domínio das suas capacidades, só podem ser fruto do mais desbragado oportunismo, o de alguém que só pensa em si e no modo, num momento em que caiu como nenhum PR da história nas sondagens, de se posicionar da forma que lhe parece mais favorável. Que perante isto o PS se perfile, a várias vozes, como seu aliado-mor, defendendo "a dignidade do Presidente", é um pouco de mais para estômagos sensíveis. Mas, lá está: o mundo muda muito. E não.

TAMBÉM TU, SALÁRIO BRUTO?




Pedro Santos Guerreiro – Jornal de Negócios, editorial

O primeiro foi Silva Lopes: ou se descem salários ou teremos fábricas de desempregados. Depois foi Vítor Bento: a redução dos custos salariais é a ferramenta disponível. Veio a troika e impôs: desvalorização interna.

Paul Krugman quantifica: menos 30% face à Alemanha. E muitos economistas, pensando o mesmo, não o dizem por medo de impopularidade. Porque a resposta ouvida é: mas nós já cortámos os salários!

Há um fosso entre a catatonia dos economistas e a cacofonia dos assalariados. Os economistas estão a falar dos custos salariais das empresas, ou, de forma prosaica, dos ordenados brutos e Segurança Social; os assalariados estão a falar dos ordenados líquidos. As empresas estão a pagar quase o mesmo, os trabalhadores estão a receber muito menos. A diferença, é claro, leva-a o Estado: é o aumento de impostos.

Desvalorizar a moeda, não dá (a Islândia, com moeda própria, fez num ápice o que nos vai demorar anos). Desvalorização fiscal, não dá (a descida da taxa social única foi suspensa). Desvalorização real, não dá (ao contrário dos anos 80, a inflação não é suficiente para criar ilusionismo). Desvalorização dos demais custos de produção, dificilmente dá (custos financeiros, energéticos, das matérias-primas são formados em mercado internacional). É por isso que os economistas sucumbem aos custos salariais: é o que dá. Dá? Dá, dá. Tem dado.

Veja o detalhe das contas, hoje no Negócios. Entre 1999 e 2009, os custos salariais cresceram 9%. Nesse período, a produtividade portuguesa cresceu em linha com a alemã. Tudo bem, então? Não. A inflação subiu mais em Portugal do que na Alemanha, e foi isso que incentivou as nossas subidas salariais. É por isso que há anos se fala de aumentos salariais não em função da inflação mas da produtividade. Prosseguindo: desde que "começou" a crise, tudo mudou: de 2009 para 2013, os custos salariais caíram 9%. Ou seja, os aumentos de dez anos foram quase eliminados em dois.

Agora os salários líquidos. Os aumentos de IRS, incluindo taxas de solidariedade extraordinárias e redução de benefícios e deduções, subtraem rendimento disponível. O caso dos funcionários públicos é o mais grave. A conta depende dos escalões de IRS, mas se somarmos a perda média de 5% no ano passado para ordenados acima de 1.500 euros à perda de dois salários este ano (14% do rendimento) e ao aumento das retenções da fonte por causa das deduções fiscais, estamos a falar de um corte, em dois anos, próximo dos 21%, que em termos reais (com a inflação) atinge os 25% (e passa os 28% nos mais altos). Não chega, senhor Krugman?

Não, não chega porque as empresas estão a pagar quase o mesmo. Mesmo que haja descidas salariais "clandestinas" ou feitas através de desemprego. Isso explica que a Comissão Europeia preveja, para este ano, uma descida de 5% nos custos salariais das empresas.

Um português masoquista irá comparar a declaração de rendimentos de 2011 com a de 2009. O problema adicional é que os preços continuam a aumentar, o que parece uma disfunção económica, mas não é. Com cortes do rendimento, uma recessão superior a 3% e a maior quebra de consumo interno jamais contabilizada nas estatísticas, os preços deviam cair. Mas estão a subir: a previsão é de inflação de 3,1% em 2012, ano em que aumentámos todas as taxas de impostos no consumo, e em que os preços das matérias-primas sobem (maldito petróleo...).

Se o custo de vida está a subir e os salários líquidos a cair, é lógico que as famílias se enfureçam quando ouvem um economista recomendar cortes salariais. O problema é a sanguessuga do Estado, que impõe esta violadora carga fiscal. Ou aumentamos a produtividade, ou os alemães sobem os seus salários, ou as nossas empresas têm de os cortar. E é isso que, devagar, está a acontecer. Seria preferível cortar os brutos salários do que os salários brutos. Mas assim está a acontecer. E à bruta.

Portugal - Passos: Tendência do desemprego é para continuar a subir"



Luís Rego, Bruxelas - Económico

"Um valor muito elevado", disse Passos em Bruxelas sobre a taxa de 14,8%, admitindo alargar programa para emprego jovem.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse hoje que a taxa de desemprego de 14,8% registada em Portugal atingiu "um valor muito elevado" mas alertou que a "tendência é para continuar a subir antes de abrandar no segundo semestre".

Passos colocou um tom grave na sua avaliação da taxa de desemprego mostrando "preocupação", em particular para o desemprego jovem e as discrepâncias a nível regional. Na região do Norte, explicou, está mesmo acima de 40%. Mas é o desemprego jovem que parece o primeiro alvo do governo neste defeso, com Passos a explicar um programa que vai incluir uma soma "entre 400 e 600 milhões de euros" de fundos comunitários, e que vai abranger "pelo menos 70 mil jovens".

O programa de passaporte jovem com estágios profissionais e primeira oportunidade de emprego, com um destaque particular para a agricultura. O primeiro-ministro explicou que o programa está desenhado para funcionar apenas com uma reprogramação de verbas que já fazem parte do envelope financeiro no quadro da política da coesão. Mas também incluiu uma "extensão do programa" no caso de poder receber novos fundos europeus que poderão advir de ‘sobras' a nível do orçamento comunitário.

A situação actual do emprego estimula o governo a mostrar uma "determinação muito grande na implementação de medidas de transformação estrutural e uma atenção redobrada a todas as medidas programas de mais curto e médio prazo".

MANDEM O ACORDO ORTOGRÁFICO ÀS MALVAS



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

No programa da TVI24, “Política Mesmo”, o secretário de Estado da Cultura de Portugal admitiu que não concorda com algumas regras presentes no novo Acordo Ortográfico.

Francisco José Viegas defendeu também o presidente do Centro Cultural de Belém, Vasco Graça Moura, que há pouco menos de um mês proibiu os seus serviços de usarem o acordo.

De facto, como lembrou Francisco José Viegas, Vasco Graça Moura foi uma das pessoas que "mais reflectiu" sobre o acordo e que "mais se empenhou" no combate ao mesmo.

"A mim parece-me que é um não-problema. Os materiais impressos e oficiais do Centro Cultural de Belém obedecem a uma norma geral, que é a mesma que vigor em todos os organismos sob a tutela do Estado. Portanto, é um assunto encerrado. Vasco Graça Moura escreverá como quiser. Como eu posso escrever", assumiu na mesma entrevista.

O secretário de Estado da Cultura lembrou que parte da imprensa não aderiu ao acordo e que não são alvo de qualquer punição por isso. Francisco José Viegas recordou que, até 2015, é possível alterar o acordo e acredita que essa possibilidade será usada.

"Temos que aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, temos três anos para o fazer", disse.

Considero, sobretudo dada a disparidade das forças em confronto, que a minha luta pelo português de Portugal e, por isso, contra o Acordo Ortográfico está condenada à derrota.

Apesar disso, continuo a entender que só é derrotado quem desiste de lutar. Ora desistir é algo que me recuso a fazer, mesmo sabendo que do outro lado está uma força monumentalmente maior em todos os aspectos, sobretudo no número de falantes.

Sou, portanto, contra o Acordo Ortográfico. Admito, quando muito, que se deixe que sejam o tempo e os protagonistas a transformar a língua, a dar-lhe eventualmente diferente grafia, tal como acontece com a introdução de novos termos.

É claro que existem letras que, no português de Portugal, podem ser suprimidas sem que venha grande mal ao mundo. Mesmo assim, também não viria grande mal ao mundo se o meu Bilhete de Identidade disse que eu nasci no “uambo”. Mas a verdade é que eu nasci no “Huambo”.

Se o sapato português já foi «çapato» e a farmácia foi «pharmácia», é bem possível que, de forma natural, também o facto passe a fato. Mas a forma natural é deixar a língua fazer a sua viagem ao logo dos anos, das décadas, dos séculos, sem as amarras que lhe querem pôr.

E o que defendo para Portugal, defendo para qualquer outro dos países lusófonos. É legítimo que os brasileiros, não só porque são especialistas em inventar palavras, mas, sobretudo, porque podem impor a razão da força dos seus muitos milhões de cidadãos, queiram neutralizar a força da razão daquela “meia dúzia” de tugas que estão nas ocidentais praias lusitanas.

Não cabe aos que defendem o português, contudo, abdicar e atirar a toalha ao tapete quando podemos ser poucos, mas podemos ser bons (sem querer dizer que os outros são maus). Creio, aliás, que a língua ainda é das poucas coisas que são verdadeiramente nossas. Tudo o resto é “made in” qualquer outro país.

Por isso, esta é para mim, uma questão de identidade e de honra que deve continuar a ter as suas próprias características, respeitando a dos outros e convivendo em sã harmonia com as diferenças.

Aliás, quando me falam de harmonização (seja do que for) cheira-me logo a algo hitleriano. Por isso, custe o que custar, não serei eu a render-me a um acordo ortográfico contra-natura e violador das diferenças que são, aliás, a grande força da Lusofonia.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: O DÉFICE PROTEGE OS AUDAZES

Brasil: Ameaçado de morte, agricultor não indenizado por Belo Monte está desaparecido




Xingu Vivo - [Ruy Sposati] Sem notícias do pai desde segunda, 27 de fevereiro, as duas filhas visitaram a terra de Sebastião para procurá-lo. Não o encontraram, mas viram toda sua plantação de cacau destruída pelos tratores

agricultor Sebastião Pereira (foto), marido de Maria das Graças Militão, proprietária de dois lotes de terra que hoje pertencem à Norte Energia, localizados onde agora se constrói o canteiro de obras do Sítio Pimental da Usina Hidrelétrica Belo Monte, foi expropriado, não recebeu indenização, foi ameaçado de morte e está desaparecido desde segunda-feira, dia 27 de fevereiro.

Quem se lembra do seu Sebastião? Publicamos, em 2011, uma reportagem sobre como a Norte Energia havia tomado sua terra à força, sem ter pago indenização. Este episódio é parte fundamental da história.

Isso aconteceu em setembro passado. Sebastião ainda não recebeu o dinheiro que deveria ter sido pago pela empresa.

Sebastião, 67 anos, está desaparecido. É agricultor. Cultivava cacau, açaí, abacaxi, castanhas. Suas plantações foram destruídas pelas máquinas que constroem a Usina Hidrelétrica Belo Monte. Havia uma sentença judicial, baseada em um Decreto de Utilidade Pública (DUP) emitido pelo governo federal, que permitia a empresa a expropriá-lo, destruir sua casa e espoliá-lo, sem que recebesse a indenização.

Sebastião, no entanto, nunca saiu de sua terra. Tem uma personalidade forte e singular, e com ela construiu boa relação com os funcionários do consórcio – estes permitiam que ele transitasse por sua terra e utilizasse as estradas privatizadas dos canteiros, mesmo depois de ter sido expropriado. Conseguia todo tipo de carona – para ele e o escoamento da produção. Pura camaradagem e empatia. Enquanto isso, na cidade, sua esposa cuidava do processo judicial que reivindica a indenização e que pode levá-los a receber uma indenização menos injusta.

Na cidade, sua esposa recebe, no dia 22 de fevereiro, um ultimato: a Justiça lhes dava 72 horas para desabitar definitivamente a terra. Foi por este motivo que, na segunda-feira, 27 de fevereiro, as coisas mudaram. Sem dar muita atenção ao recado do Estado de Direito, Sebastião foi de Altamira para seu sítio para cuidar do cacau nascente e tirar castanhas.

Contudo, os guardas do canteiro não permitiram que ele entrasse.

Sebastião foi ameaçado de morte.

Segundo relato de um funcionário da empresa à família de Sebastião, o agricultor teria dito aos guardas que ele entraria de qualquer jeito, e que enquanto não o pagassem, ele não deixaria a terra e continuaria trabalhando lá: “Vocês só derrubam o meu cacau se me matarem primeiro”. “Então é isso o que vai acontecer com você. Você vai morrer”, teria sido a resposta dos guardas. No impasse, Sebastião entrou pela mata, abrindo uma picada com o facão. Desde então, não foi mais visto.

Sebastião tem quatro filhos. Para que pudessem estudar, todos os filhos se mudaram para a cidade de Altamira (para financiar essas vidas, Sebastião continuava no campo). O mais velho viveu sem eletricidade os primeiros 16 anos de sua vida – hoje tem 21. O pequeno tem cinco. As duas meninas, 14 e 16 anos de idade, estiveram na quinta-feira, 1, no sítio, a procura do pai. Não o encontraram. Andaram cerca de oito quilômetros, aos gritos. Mergulharam as pernas nos igapós, cruzaram mata fechada e estradas abertas para a barragem. A única coisa com a qual se depararam foi toda a plantação de cacau da família destruída. Só o cacau. Para que Sebastião não colhesse e para que não trabalhasse. Foi isso que elas viram, escorregando em tabatinga e ouvindo ronronar de tratores, caminhões e explosões das rochas.

As meninas então caminharam até encontrar uma guarita, na propriedade de um grande fazendeiro que ladeava a da família, onde hoje se encontra uma extensa terraplanagem. Os seguranças pediam a elas que se retirassem. Elas disseram não. E perguntaram sobre o pai, Sebastião, analfabeto, agricultor. “Eu só sei fazer trabalhar”, dirá ele todo o tempo, em qualquer conversa. Eles não sabiam de Sebastião. “Derrubamos o cacaueiro ontem”. E as botaram em uma picape até a picada que levaria à beira do rio, onde pegariam um barco até o Porto Seis, em Altamira, de onde seguiriam de taxi até a casa alugada onde vivem com a mãe e os irmãos, de onde depois sairiam para ir à delegacia prestar queixas do desaparecimento e da ameaça de morte do pai e marido.

As meninas choravam muito pisando o cacau caído, como gente grande. Em casa, o filhinho, 5, chorava muito como o menininho que era. A mãe vestia uma camisa do Sepultura, do filho mais velho, maquiagem borrada. E vão esperando Sebastião chegar.

Mas Sebastião, que nasceu em Alagoas, que mudou para São Paulo e para o Paraná e enfim para o Pará, onde afinal plantou o cacau que o dava de comer e ensinou a filha a tocar guitarra, ainda não veio.

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