terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

IGNACIO RAMONET VÊ O XADREZ DAS AMEAÇAS AO IRÃ




Governo israelense quer guerra já; Washington reluta. Conflito incendiaria Oriente Médio, atingindo abastecimento do petróleo e economia mundial

Ignacio Ramonet – Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins

Será 2012 o ano do fim do mundo? É o que, dizem, vaticina uma lenda maia — que inclusive fixaria a data exata do apocalipse: o 12 de dezembro próximo (12/12/12). Em qualquer caso, em um contexto de recessão econômica e grave crise financeira e social em diversas partes do mundo (especialmente na Europa), não faltarão riscos este ano – que verá, entre outros fatos, eleições decisivas nos Estados Unidos, Rússia, França, México e Venezuela.

Mas o principal perigo geopolítico continuará situado no Golfo Pérsico. Israel e Estados Unidos lançarão o anunciado ataque militar contra as instalações nucleares do Irã? O governo de Teerã reivindica seu direito a dispor de energia nuclear civil. E o presidente Mahmud Ahmadinejad repetiu que o objetivo de seu programa não é militar; que sua finalidade é simplesmente produzir energia de origem nuclear. Também lembra que o Irã assinou e ratificou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), enquanto Israel nunca o fez.

As autoridades israelenses pensam que não se deve esperar mais. Segundo elas, aproxima-se perigosamente o momento em que o regime dos aiatolás disporá da arma atômica; e a partir deste instante, já não se poderá fazer nada. Estará rompido o equilíbrio de forças no Oriente Médio, onde Israel já não gozará de uma supremacia militar incontestável. O governo de Benjamin Netanyahu avalia que, nestas circunstâncias, a própria existência do Estado Judeu estaria ameaçada.

Segundo os estrategistas israelenses, o momento atual é o mais propício para golpear. O Irã está debilitado. Tanto no âmbito econômico – após as sanções impostas desde 2007, pelo Conselho de Segurança da ONU, com base em informes alarmantes da Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) – quanto no contexto geopolítico regional. Seu principal aliado, a Síria, vive insurreição interna e está impossibilitado de prestar-lhe ajuda. A incapacidade de Damasco repercute em outro parceiro iraniano, o Hezbolá libanês, cujas linhas de abastecimento militar desde Teerã deixaram de ser confiáveis.

Por estas razões, Israel deseja que o ataque seja executado o quanto antes. Para preparar o bombardeio, já há, infiltrados no Irã, efetivos das forças especiais. E é muito provável que agentes israelenses tenham concebido os atentados que causaram, nestes últimos dois anos, as mortes de cinco importantes cientistas nucleares iranianos.

Ainda que Washington também acuse Teerã de levar a cabo um programa nuclear clandestino para dotar-se da arma atômica, sua análise sobre a oportunidade do ataque é diferente. Os Estados Unidos estão saindo de duas décadas de guerras nesta região, e o balanço não é animador. O Iraque foi um desastre, e terminou em mãos da maioria xiita, que simpatiza com Teerã. No lodaçal afegão, as forças norte-americanas mostram-se incapazes de vencer o talibã, com quem a diplomacia da Casa Branca resignou-se a negociar, antes de abandonar o país a seu destino.

Estes conflitos custosos debilitaram os Estados Unidos e revelaram aos olhos do mundo os limites de sua potência, assim com o início de seu declínio histórico. Não é hora de novas aventuras. Muito menos num ano eleitoral, em que o presidente Barack Obama não tem certeza de ser reeleito. E quando todos os recursos são mobilizados para combater a crise e reduzir o desemprego.

Além disso, Washington tenta mudar sua imagem no mundo árabe-muçulmano, sobretudo depois das insurreições da “Primavera Árabe”, no ano passado. Antes cúmplice de ditadores – em particular, o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak –, deseja agora aparecer como mecenas das novas democracias árabes. Uma agressão militar contra o Irã, sobretudo em colaboração com Israel, arruinaria estes esforços e despertaria o anti-norteamericanismo latente em muitos países. Especialmente naqueles cujos novos governos, surgidos das revoltas populares, são dirigidos por islamitas moderados.

Uma importante consideração complementar: o ataque contra o Irã teria consequências não apenas militares (não se pode descartar que alguns mísseis iranianos alcancem o território israelense, ou consigam atingir as bases norte-americanas no Kuait, Barain ou Oman) mas, principalmente, econômicas. A resposta mínima do Irã a um bombardeio de suas instalações nucleares consistiria, como seus dirigentes militares não se cansam de alertar, no bloqueio do Estreito de Ormuz. É o funil do Golfo Pérsico, por lá passa um terço do petróleo do mundo, 17 milhões de barris por dia. Sem este abastecimento, os preços do combustível chegariam a níveis insuportáveis, o que impediria reativar a economia mundial e deixar a recessão para trás.

O Estado-maior iraniano afirma que “não há nada mais fácil que fechar este Estreito”. Multiplica as manobras navais na região, para demonstrar que está em condições de cumprir suas ameaças. Washington respondeu que o bloqueio da passagem estratégica de Ormuz seria considerado um “caso de guerra”, e reforçou sua V Frota, que navega pelo Golfo.

É muito improvável que o Irã tome a iniciativa de bloquear a passagem de Ormuz (embora possa tentá-lo, em represália a uma agressão). Em primeiro lugar, porque daria um tiro no pé, já que exporta seu próprio petróleo por esta via, e que os recursos destas exportações lhe são vitais

Em segundo lugar, porque atingiria alguns de seus principais parceiros, que o apoiam em seu conflito com os Estados Unidos. Principalmente a China, cujas importações de petróleo, que chegam a 15% do consumo, procedem do Irã. Sua eventual interrupção paralisaria parte do aparato produtivo.

As tensões estão abertas. As chancelarias do mundo observam, minuto a minuto, uma perigosa escalada que pode desembocar num grande conflito regional. Estariam implicados não apenas Israel, os Estados Unidos e o Irã, mas também três outras potências do Oriente Médio: a Turquia, cujas ambições na região voltaram a ser consideráveis; a Arábia Saudita, que sonha há décadas em ver destruído seu grande rival islâmico xiita; e o Iraque, que poderia romper-se em duas partes: uma xiita e pró-iraniana; outra sunita e pró-ocidental.

Além disso, um bombardeio das instalações nucleares iranianos pode provocar uma nuvem radiativa nefasta para a saúde de todas as populações da área (incluídos os milhares de militares norte-americanos e os habitantes de Israel). Tudo isso conduz a pensar que embora os belicistas ergam a voz com força, o tempo da diplomacia ainda não terminou.

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Reticências portuguesas sobre adesão da Guiné Equatorial estão a dissipar-se - MNE Angola



FPA - Lusa

Lisboa, 07 fev (Lusa) - O ministro das Relações Exteriores de Angola manifestou-se hoje confiante de que estão a dissipar-se as reticências portuguesas sobre a adesão da Guiné Equatorial à CPLP e recordou que há muitas empresas portuguesas no país.

"Portugal já deu um passo considerável, estamos a trabalhar nas etapas que definimos em Luanda. Queremos fazer com que isso não seja um problema de Portugal dentro da CPLP", disse Georges Rebelo Pinto Chicoti, que falava à Lusa em Lisboa, à margem do colóquio "CPLP - Uma Oportunidade Histórica".

Durante o debate, o ex-presidente de Moçambique Joaquim Chissano sublinhou que a intenção da Guiné Equatorial de aderir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é antiga: "Eu ainda era ministro das Relações Exteriores, há 27 anos, quando a Guiné Equatorial começou a manifestar essa intenção", disse.

E explicou que, nas reuniões da União Africana, se percebe que a Guiné Equatorial se sente bem na CPLP porque está isolada. "Enquanto nós, lusófonos, estamos cochichando e concertando, enquanto os anglófonos e os francófonos fazem o mesmo, a Guiné Equatorial está sozinha".

Chissano defendeu, por isso, que os países da CPLP devem ajudar o país, que precisa de um fórum onde possa ter exemplos e discussão.

Referindo-se a estas declarações, Chicoti, que representa o país que detém a presidência rotativa da CPLP, afirmou ser importante que a adesão da Guiné Equatorial possa ser consagrada na cimeira de Maputo, em julho próximo, "porque já se fizeram avanços consideráveis".

Questionado sobre as críticas dos que apontam a falta de liberdade na Guiné Equatorial para defender que o país não deve ser aceite na CPLP, Chicoti respondeu que "há faltas de liberdade em muitos países".

"Se usássemos esses critérios, não podíamos criar uma organização como esta. Criámos a CPLP em momentos em que vários países estavam em guerra", disse, defendendo, por outro lado, que a adesão da Guiné Equatorial à organização lusófona "vai permitir que haja uma evolução significativa" naquele país.

"Ninguém pode dizer que é campeão das liberdades fundamentais. Aqui também há racismo", disse. O que é importante, sublinhou, é que se possa dizer que "todos os países da CPLP estão engajados na construção dos valores democráticos, do respeito pelos direitos humanos".

Para ilustrar a vontade da Guiné Equatorial em entrar na organização, o chefe da diplomacia angolana recordou que o país já instituiu o português na Constituição como língua oficial e há um programa que está em curso.

"Vai haver uma abertura da embaixada da Guiné Equatorial junto da CPLP e em Portugal, vai haver uma equipa técnica baseada em Portugal. [As autoridades guineenses] pretendem abrir um centro cultural português na Guiné Equatorial", financiado pelo próprio país, acrescentou.

Além disso, o Governo de Malabo já manifestou a intenção de unir os seus esforços aos da comunidade internacional para criar um fundo de pensões que permita avançar com a reforma do setor de defesa e segurança na Guiné-Bissau, "num montante extremamente importante".

"Estamos à procura desses fundos há três ou quatro anos. Temos de ser pragmáticos", disse, defendendo "que não seja apenas Portugal a colocar dificuldades". "Não acredito que Portugal queira que continuemos assim. Pode ter havido algumas reticências, mas pensamos estarem a dissipar-se", acrescentou.

A Guiné Equatorial aprovou em outubro o português como terceira língua oficial, além do espanhol e do francês, como parte do seu processo de aproximação à CPLP.

Na cimeira de Luanda, em julho de 2010, os chefes de Estado e de Governo lusófonos decidiram condicionar a decisão final sobre a adesão a mais negociações.

A Guiné Equatorial tem pouco mais de 600 mil habitantes, é rica em petróleo e gás natural e tem um PIB per capita de 27 mil dólares.

O país ocupa a posição 136 entre 187 países classificados no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.


Haitianos encontram trabalho em SC e sonham ficar no Brasil




Grupo de 17 refugiados foi contratado por uma construtora de Navegantes, em SC. Eles relatam à DW Brasil o duro caminho que fizeram para deixar para trás um país destruído pelo terremoto e tentar uma vida nova no Brasil.

No sorriso de Josias Mirvil está a certeza de que a vida dos 17 haitianos que conseguiram emprego em Santa Catarina está melhor. Josias era carpinteiro no Haiti, até que, em 12 de janeiro de 2010, viu o terremoto destruir o cotidiano já sofrido da população do país caribenho, considerado um dos mais pobres do mundo.

"Com o terremoto, não havia mais como sustentar minha família, meus filhos", relata Josias. "Já se passaram dois anos da tragédia e nada foi feito. Não há casas para morar. Todos querem sair do Haiti porque não há segurança, não há como estudar. Só quem tem muito dinheiro tem acesso a essas coisas", diz. Hoje ele trabalha como operário da construção civil em Navegantes, no litoral de Santa Catarina, ao lado de 16 conterrâneos.

Para chegar ao Brasil, os haitianos enfrentaram diversos perigos, conta Josias, numa mistura de português e espanhol que inclui palavras do francês, uma das línguas oficiais do Haiti. Josias conta que seu primeiro destino foi o Equador, mas também lá encontrou dificuldades porque não tinha documentos. "Então saímos do Equador, cruzamos o Peru e a Bolívia até chegar ao Brasil", relembra.

"Coiotes" e violência na Bolívia

Um colega de Josias, o haitiano Maxcedoine Morigène, dá mais detalhes da viagem feita por ele e outros refugiados. Com a situação insustentável por causa do terremoto, ele partiu em novembro de 2010 para a República Dominicana, indo depois para o Panamá e de lá para Lima, no Peru, até chegar a Cobija, na Bolívia, numa viagem que durou dois dias. A cidade fica ao lado de Brasileia, no Acre, onde se concentra a maior parte dos imigrantes haitianos no Brasil.

Em Cobija, Maxcedoine conta ter pagado pelos serviços de um "coiote" para atravessar a fronteira com o Brasil. Doze horas depois de chegar a Cobija, já estava em território brasileiro. Ele diz que teve sorte e nada sofreu, mas conta que ficou horrorizado com o que viu na Bolívia.

Segundo ele, as malas de dois haitianos que conhecia chegaram até o Brasil, mas eles nunca chegaram. Outros refugiados que cruzaram a fronteira relataram a ele ter visto corpos pelo caminho.

Os "coiotes" cobravam de 150 a 300 dólares para levar os haitianos ao Brasil, diz Maxcedoine. A viagem era feita sempre à noite, de carro, e os refugiados chegavam de madrugada em Brasileia.

Ele diz que a Bolívia foi a pior experiência para ele, vendo pessoas conhecidas, da mesma cidade que ele, sofrerem com a violência e os assaltos.

Os companheiros de Maxcedoine na empreitada de chegar ao Brasil dizem que também fizeram o mesmo trajeto até chegar a Cobija. Eles também tiveram que pagar aos "coiotes" para chegar a Brasileia. Madsen Augustin, Guibert Carrier e Siméon Jorel lembram com profunda tristeza de um assalto a haitianos.

Em Cobija, relatam, homens com uniforme militar entraram num alojamento onde estavam 19 homens e 5 mulheres. Os invasores amarraram os homens, levando roupas, dinheiro e pertences do grupo. O haitiano Sehtamia Mikekson diz que foi uma das vítimas. "Armados e em uniformes que pareciam da polícia, eles levaram nossos pertences. Não pudemos fazer nada."

Vida nova no Brasil

Apesar das dificuldades serem menores em Brasileia, o Brasil ainda estava longe de ser o paraíso sonhado pelos haitianos. Muitos deles chegaram a ficar um ano na cidade, à espera de uma oportunidade. Josias conta que dividiu um quarto com mais 15 pessoas, até ser escolhido para trabalhar na construtora de Santa Catarina ao lado de mais 16 haitianos. "Aqui temos casa, nós dormimos e comemos bem", relata. Mesmo com um português ainda precário, Josias é o tradutor do grupo. É ele quem consegue se comunicar entre a empresa e os demais refugiados.

A casa onde vivem os haitianos foi cedida pela construtora. É uma casa ampla, de dois pavimentos, próxima à praia, com cozinha, sala e varanda. Os quartos são individuais. Josias e a esposa Thelemaque Genica finalmente conseguem dormir num quarto confortável.

Agarrada à foto dos três filhos que ficaram no Haiti com os avós, Thelemaque diz que sofre com a falta das crianças e tem esperança de também trazê-las para o Brasil. Ela está grávida e trabalha como cozinheira no alojamento.

Falando uma mistura de francês com crioulo, Thelemaque é traduzida pelo marido. "Ela diz que se sente bem aqui porque é diferente, mas o que necessita para viver melhor é fazer com que os três filhos venham para cá. Assim ela vai viver toda a vida no Brasil. Ela pede que o governo brasileiro facilite a vinda dos filhos para o Brasil."

Desde que o governo brasileiro liberou o visto de trabalho para os haitianos, o sonho de muitos que estão no Brasil é trazer os parentes. A principal barreira é o preço da passagem de avião. Segundo eles, perto de 3.000 dólares.

Empresários

O grupo de 17 haitianos foi contratado pelo casal de catarinenses Alexandre e Karen Dias, donos de uma construtora na cidade de Navegantes, no litoral de Santa Catarina.

Quando soube pela imprensa das péssimas condições de vida que os refugiados enfrentavam em Brasileia, o casal decidiu fazer algo para ajudar. Logo surgiu a ideia de contratar alguns dos refugiados para trabalhar nas obras da construtura. Com o grande volume de prédios em construção no litoral de Santa Catarina, sobram empregos no setor. Coube a Karen a tarefa de voar até Rio Branco e de lá seguir mais três horas e meia horas de carro até Brasileia.

Ela diz que nunca vai esquecer o que viu. Centenas de haitianos nas ruas, à espera de uma chance para recomeçar a vida no Brasil. Longas filas de refugiados esperando pela comida, que às vezes faltava.

"Uma das cenas que me marcaram em Brasileia foi quando a fila para a refeição ainda era grande e faltou comida. Em vez de reclamar, eles saíram da fila em silêncio e foram rezar, sem reclamar", relembra Karen.

Nas entrevistas de emprego com os haitianos, Karen diz ter encontrado advogados, engenheiros e um professor universitário que falava seis idiomas. A incerteza de que pessoas com essa qualificação fossem se adaptar ao trabalho braçal da construção civil levou a empresária a escolher um grupo de 16 homens já acostumados com a dureza do serviço.

O grupo aumentou em uma pessoa quando aconteceu outra cena marcante para a empresária. "Um casal se ajoelhou pedindo que eu também levasse a mulher, que estava grávida." Eram Josias e Thelemaque, que agora estão em Navegantes.

Mais haitianos em SC e no RS

No oeste de Santa Catarina, outro grupo de haitianos também ganhou emprego. Uma fábrica de piscina e caixas d'água da cidade de Chapecó foi a primeira a trazer refugiados para trabalhar no estado. Ao todo são 32 pessoas, que estavam na mesma situação dos outros em Brasileia, aguardando por uma chance para trabalhar no Brasil.

Outros 14 começaram a trabalhar numa fábrica em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. A falta da mão de obra motiva as empresas do sul a contratar os refugiados.

Para Alexandre Dias, dono da construtura de Navegantes que recrutou os 17 imigrantes haitianos, é preciso conscientização de mais empresários para dar oportunidade a essas pessoas. "Outros empresários também poderiam contratar essa mão de obra e dar uma oportunidade para essas pessoas terem uma vida melhor."

Autor: Almeri Cezino, de Navegantes - Revisão: Alexandre Schossler

Guiné-Bissau: Maior atenção da comunidade internacional podia ter resolvido problemas



Angola Press
 
Lisboa - O ex -Presidente de Cabo Verde Pedro Pires disse hoje (terça-feira), em Lisboa, que se a comunidade internacional tivesse dado maior atenção aos problemas internos da Guiné-Bissau, talvez a crise institucional do país já estivesse resolvida.

"A comunidade internacional não deu importância aos problemas da Guiné-Bissau. Hoje, talvez esses problemas já comecem a interessar a comunidade internacional, mas se tivessem a atenção necessária há 10 anos, talvez os problemas já estivessem resolvidos", disse Pedro Pires durante o debate no colóquio "CPLP - Uma Oportunidade Histórica".

A Guiné-Bissau tem vivido nos últimos anos grande agitação política, com golpes e contra -golpes de Estado, incluindo assassínios de líderes políticos.

Pedro Pires demonstrou, durante o discurso no evento, que ao contrário da comunidade internacional, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) acompanhou de perto a situação.

No entanto, o ex -Presidente cabo-verdiano disse que, apesar do apoio das instituições internacionais, "a solução deve ser interna", dos próprios guineenses, que tem um "recursos humanos" altamente qualificados e que devem ser aproveitados.

Tanto Pedro Pires, como o ex -Presidente Jorge Sampaio afirmaram também, durante o debate, que o Brasil tem um papel importante para colocar a questão das doenças endémicas - como a malária, a Sida entre outras - na ribalta em organismos internacionais, como o G20 e a ONU.

Sampaio disse que "o Brasil poderá voltar a sensibilizar a comunidade internacional" nessa questão das doenças endémicas.

O ex -Presidente moçambicano Joaquim Chissano adiantou que o Brasil tem participado com Moçambique no combate à Sida, com a construção de uma fábrica de antirretrovirais no país africano -- que ainda não está finalizada.

Pedro Pires sublinhou ainda a importância da cooperação cultural e do ensino na CPLP, dizendo que os portugueses e brasileiros também deviam frequentar, por exemplo, as universidades em Moçambique e Angola, para aprender com a diversidade cultural.

Sampaio saudou os programas e bolsas de estudo no âmbito científico e cultural que já existem, sublinhando a necessidade de redireccionar uma parte dos recursos da CPLP para essa área.

Os ex-mandatários lusófonos estão de acordo que é preciso descobrir a diversidade cultural de cada país membro da CPLP, através da cooperação em diversas áreas.

A maior produção de conhecimento científico também é fundamental, segundo os ex -chefes de Estado, sobretudo para os países africanos lusófonos, ainda carentes nessa matéria.

O ex-mandatário cabo-verdiano sublinhou a importância do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), referindo que o organismo tem capacidade para executar o que lhe foi determinado, mas precisa de uma maior ajuda das instituições linguísticas dos países-membros.

"O IILP pode também trabalhar com outras as línguas (como as faladas nos países africanos lusófonos) para mantê-las vivas. São património da humanidade que não se pode deixar perder", referiu.

"Sendo 250 milhões de pessoas falando o português, devemos ter o nosso estatuto reconhecido no mundo", acrescentou Pires.

O ex -Presidente Mário Soares sublinhou a peculiaridade da CPLP frente às outras organizações francófonas e anglófonas, já que não existe um país que domine e lidere a instituição, o que não acontece com o Reino Unido e França nas respectivas entidades.
"Portugal não tem uma posição especial em relação aos outros países", finalizou Mário Soares.

A CPLP integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

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Timor-Leste: Grupo parlamentar quer acabar com morte de mulheres durante o parto



MSE - Lusa

Díli, 07 fev (Lusa) - A presidente do Grupo de Mulheres do Parlamento de Timor-Leste, Josefa Soares, defendeu hoje que é preciso fazer mais para que não morram mulheres durante o parto no país.

"O Governo tem feito um esforço para reduzir os problemas em relação à saúde reprodutiva, mas ainda temos de fazer mais coisas para que não haja mais mortes de mulheres e de bebés durante o parto", afirmou a deputada, em declarações à Agência Lusa.

Josefa Soares falava à Lusa na sequência da apresentação de um relatório sobre saúde reprodutiva, divulgado na segunda-feira no parlamento por ocasião da comemoração do Dia Mundial da Mulher, que este ano foi antecipado no país por coincidir com a campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 17 de março.

Segundo o relatório, apresentado na sequência da conferência nacional sobre saúde reprodutiva realizada em 2010, a taxa de mortalidade materna é de 577 por cada 100.000 nados vivos.

O documento indica também que a taxa de gravidez na adolescência é de 51 por cada 1,000 meninas, a mais elevada do sudeste asiático.

"Há muitos fatores que contribuem para que uma jovem engravide antes do tempo, o primeiro é a falta de conhecimento sobre educação sexual, o segundo é a falta de planeamento familiar, o terceiro é por causa da economia", explicou a deputada da Frente de Libertação do Timor-Leste Independente (Fretilin).

Segundo Josefa Soares, uma das propostas feitas ao parlamento é incluir educação sexual nas escolas para melhorar a informação dos jovens e aumentar o planeamento familiar.

O número de mulheres que usa o planeamento familiar aumentou de 11 por cento em 2003 para 22 por cento em 2010 e a taxa de fertilidade diminuiu de 7.8 em 2003 para 5.7 em 2010.

O relatório mostra também que o número de meninas a frequentar a escola primária aumentou, bem como as jovens matriculadas no secundário e em escolas técnicas.

"A mulher timorense quer avançar e já estamos a preparar recursos para isso. Depende agora do Governo, qualquer que seja, criar facilidades para que os recursos humanos que estão a ser preparados não fiquem dependentes de outros", disse.



GÉMEOS SEPARADOS (QUASE) À NASCENÇA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Margaret Thatcher dizia que "o socialismo dura até se acabar o dinheiro dos outros". A ser verdade, Pedro Passos Coelho é socialista, tal a sofreguidão com que tira todos os tostões aos portugueses.

Em tempos escrevi que se os portugueses não tinham coragem, capacidade ou tomates para levar o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, a julgamento por gestão danosa do país, ou por negligência grave durante o seu mandato governativo, ao menos poderiam dar-lhe uma condecoração.

Ora, comparando José Sócrates e Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, sou levado a crer (e a procissão ainda vai no adro) que o actual primeiro-ministro também merecia ser julgado ou duplamente condecorado.

Em abono dos altos serviços prestados à nação socialista por José Sócrates, cito alguns exemplos que – reconheço – pecam por defeito.

A taxa de pobreza infantil em Portugal (meados de 2011) era de 16,6 por cento, um valor superior à média dos países da OCDE (12,7 por cento) e a oitava maior do grupo. Com Passos Coelho a taxa aumentou.

Uma em cada quatro crianças estava, em 2009, inserida em famílias com rendimentos abaixo do limiar de pobreza; 27 por cento viviam uma situação de privação. Em 11,2 por cento dos casos a privação era acumulada com a ausência de rendimentos do seu agregado familiar, abaixo do limiar de pobreza. Com Passos Coelho a situação piorou.

Portugal tinha mais de 800 mil desempregados, 20% dos cidadãos a viver na miséria e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição. Com Passos Coelho a situação piorou.

Portugal tinha a pior dívida pública dos últimos 160 anos (mesmo não incluindo PPPs e empresas públicas), a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (duplicou em 6 anos), a maior dívida externa dos últimos 120 anos, a dívida externa bruta em 1995 era de 40% do PIB e em 2010 era de 230% do PIB. Com Passos Coelho a situação piorou.

Mas há mais elementos que abonam, citando Ana Gomes, a idoneidade pessoal e política do até então sumo pontífice do PS e que, das duas uma, ou justificam que vá para a cadeia ou que seja condecorado pelo presidente da República. E se Sócrates merecia, Passos Coelho come-o de cebolada.

Nos últimos dez anos, seis dos quais sob o comando absoluto de José Sócrates, Portugal foi o terceiro país do mundo com o pior crescimento económico (atrás do Haiti e Itália). Em 2011 estava no quarto lugar do TOP dos países do mundo em risco de bancarrota. Em 2011 só Portugal, Grécia e Costa do Marfim estarão em recessão no mundo. Em 2012 só Portugal estará em recessão no mundo. Passos Coelho continua a ajudar à festa.

Quantos países com governo socialista restavam em meados e 2011 em toda a União Europeia? Depois das eleições na Hungria, no Reino Unido e em Portugal só ficaram dois países: Grécia e Espanha.

Por outras palavras, como dizia Margaret Thatcher, "o socialismo dura até se acabar o dinheiro dos outros". Conclusão: Passos Coelho é socialista…


* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: PORTUGUESES EXPLORAM... PORTUGUESES

"Há a posição de princípio que potestativos não se aplicam à vinda dos primeiros-ministros"



RTP - Lusa

O CDS-PP considerou hoje que o requerimento potestativo do PCP para ouvir o primeiro-ministro sobre o funcionamento das secretas "não pode ser aplicável", advogando que este já é obrigado pelo Regimento da Assembleia da República a "responder" quinzenalmente.

"Há uma posição de princípio de que os potestativos não se aplicam à vinda dos primeiros-ministros", afirmou à agência Lusa o deputado centrista Telmo Correia.

O deputado do CDS-PP, membro da comissão de Assuntos Constitucionais, falava depois de questionado sobre o requerimento potestativo apresentado pelo PCP na semana passada, no sentido de ouvir Pedro Passos Coelho sobre o funcionamento dos serviços de informações portugueses.

Telmo Correia disse ser preciso "aguardar a discussão e decisão da própria comissão" e que os requerimentos potestativos não exigem "grande debate na comissão e muito menos votação", mas defendeu que "o direito potestativo não foi criado para este tipo de situações".

"Foi criado para situações de bloqueio da maioria, naqueles casos em que há um determinado ministro que a oposição quer ver no Parlamento e que a maioria rejeita e impede e usa o seu voto, ora, isto não pode ser aplicável ao primeiro-ministro, como é evidente", disse.

O parlamentar notou que o chefe do executivo "não é um membro do Governo qualquer, é o líder do Governo, responde pelo Governo no seu todo" e que, "em segundo lugar, o primeiro-ministro tem uma obrigação, é que nem é um direito, de de 15 em 15 dias estar no Parlamento a responder a qualquer assunto que lhe perguntem".

"Não faz sentido exigir este direito potestativo em relação ao primeiro-ministro, mas vamos aguardar serenamente a discussão", declarou.

Telmo Correia rejeitou ainda o "argumento de que tem de ser em comissão porque tem de ser à porta fechada": "Isso não existe porque a comissão decide caso a caso se tem de ser à porta fechada ou não e o próprio a ser ouvido exige exatamente o contrário, que seja em plenário e o mais à porta aberta possível".

"Se há matéria que é segredo de Estado ou de Justiça, imagino que o senhor primeiro-ministro não se vá referir a ela, a restante matéria já referiu em plenário", referiu ainda.

O deputado do CDS-PP considerou ainda não ser "desejável" a continuação de reuniões à porta fechada neste caso.

"Depois não só se sabe cá fora supostamente o que aconteceu lá dentro, como muitas vezes se sabe cá fora, deturpado ou empolado, aquilo que aconteceu lá dentro, criando factos que não existiram", concluiu.

Já o deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PSD Hugo Velosa remeteu qualquer posição para a reunião da comissão de Assuntos Constitucionais, na quarta-feira de manhã.

A Lusa tentou ainda contactar o presidente da comissão, Fernando Negrão, mas não foi possível.

MAIS EXIGENTES, MENOS COMPLACENTES E MENOS PIEGAS


Quanto mais nos bates mais gostamos de ti
A. Pedro Correia - Aventar

Pedro Passos Coelho pede aos portugueses para serem mais exigentes, menos complacentes e menos piegas.

Nem vale a pena recordar Sócrates, que tinha na cassete serem os portugueses mais exigentes, mais competitivos e mais ambiciosos (tudo virtudes, à luz da matriz judaico-cristã). Depois foi o que se viu…

Mas pronto, lá vamos ter ser mais exigentes com Passos, menos complacentes com o seu governo e menos piegas… quando nos mandam emigrar.

Temos homem!

Imagem Escolhida: PIEGAS, DISSE ELE



EXCREMENTOS

Em Aventar, de Antero, intitulado Por falar em piegas, duas quadras BD abordam tema produzido por excremento elitista que nos subjuga e tem passado boa-vida à custa do cartão laranja, após constatar a impossibilidade de na ex-colónia de Angola poder abanar a árvore das patacas e roubar aos angolanos o que lhes pertence. O maná acabou em Angola mas foi semeado e está a dar frutos valiosos em Portugal.

Agora, em Portugal, os excrementos também se atrevem a falar daquilo que não sentem nem sabem, desprovidos de sensibilidade, humanidade e respeito pelos que realmente sofrem e pagam a crise com língua de palmo e meio completamente mordida. Comprovando que são eles que não nos merecem respeito. Piegas, disse ele... Parasita laranja que espremido nem verte uma gota de sumo.

O MOMENTO SÓCRATES DE PASSOS



André Macedo – Dinheiro Vivo

Passos Coelho diz que Portugal não precisa de um novo resgate. Diz bem, mas não diz a verdade, politicamente não a pode dizer. Com os juros da dívida pública de longo prazo nas estrelas – acima dos 15% enquanto a Alemanha paga pouco mais de 2% –, com Portugal em recessão profunda (menos 3,1%) a liderar, braço a braço com a Grécia, a recessão que também se alastra na Europa, não restam muitas hipóteses a Passos Coelho.

É verdade: daqui até Maio de 2013, altura em que se fecha o guarda-chuva da troika, tudo pode acontecer. Podem chegar as eurobonds, o milagre mais desejado, ou a Zona Euro pode saltar da recessão para um crescimento chinês, um milagre ainda mais estapafúrdio. Mas como nenhum destes cenários é na verdade provável, o primeiro-ministro sabe que o tempo corre contra ele e contra o país.

Passo Coelho não pode dizer já que o dinheiro não chega, iria parecer grego. Tem de mostrar que está a cumprir zelosamente o acordado com a troika e parecer 100% germânico no rigor. E finalmente tem preparar-se para que, um dia destes, Vítor Gaspar lhe diga que não é razoável esperar mais e que é necessário um novo pedido de resgate.

Este momento, o momento da verdade, será o momento José Sócrates de Passos Coelho. Não poderá continuar a adiar mais a decisão e, um dia, lá o veremos na televisão a dizer o que, infelizmente, deverá acontecer: novo resgate, novo pacote de austeridade, mais soberania perdida e uma série de anos a viver de mesada. Compreende-se, por isso, que tente resistir até ao limite das suas forças a este instante que lhe pode custar as eleições.

UE - CIMEIRA QUASE INÚTIL





1. A Cimeira de Bruxelas de 30 de janeiro passado foi um flop, como as anteriores. Mais uma oportunidade perdida. A crise europeia continua sem medidas capazes de a poder vencer. É uma tristeza e um grande problema. A chanceler Merkel não abriu mão da sua obsessão financista, continuando a pensar que o essencial é diminuir, drasticamente, os deficits dos Estados soberanos, sem ter em conta o que sofrem com as recessões crescentes e o perigo real do desemprego, sempre a aumentar.

No entanto, houve alguns sinais de descontentamento. Abriram- -se, tímidas, algumas bocas. Apesar da aprovação do tratado em curso, para impor a chamada regra de ouro da redução do deficit, a qualquer custo. No entanto, houve vozes que se ergueram, contra os perigos da austeridade, sem ter em conta a recessão e o desemprego. Foram significativas e de algum modo isolaram a chanceler Merkel. Pela primeira vez. Houve uma promessa de num futuro próximo - quando? - tomar medidas para reduzir a recessão e o desemprego.

Em Davos, no Fórum Económico Mundial, deu-se uma viragem. Christine Lagarde, presidente do FMI, sem hesitações, declarou que é preciso, para vencer a crise, que se arrasta desde 2008, fazer crescer as economias reais dos Estados e reduzir fortemente o desemprego. Mas não ficou isolada. Foi acompanhada pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, e por vários chefes de Governo que sofrem as medidas impostas pelos mercados especulativos e pelas intoleráveis empresas de rating. A circunstância da Itália, cujo primeiro-ministro, Mario Monti, um reputado economista, ter sido levado, pela situação que vive o seu país, a lutar contra a recessão e o desemprego crescente, também terá contribuído para a necessidade de uma mudança que, mantendo a austeridade possível, invista no crescimento e na luta contra o desemprego.

Na América, a Administração Obama, também tem expressado a sua preocupação contra a paralisia das instituições europeias e o risco que comporta em relação à economia mundial. Estados Unidos, cujo desemprego está a diminuir consideravelmente. A própria China não está a gostar nada do caminho que a Europa (leia-se Alemanha) está a prosseguir, com riscos consideráveis de um colapso que afetaria, seguramente, a economia global.

O problema que está a criar as maiores dificuldades continua a ser a Grécia, berço da civilização europeia. A Europa, pressionada pela Alemanha, hesita em lhe atribuir a quantia em euros capaz de lhe valer durante o corrente mês de fevereiro. Impôs- -lhe, de resto, uma espécie de tutor, indicado pela troika para controlar as suas contas. Suprema humilhação! Se a Grécia não receber o auxílio monetário que precisa será obrigada a sair da Zona Euro, o que desencadearia outra corrida dos mercados aos países mais débeis: à Irlanda e Portugal. Mas, sem dúvida, também à Itália e à Espanha, na primeira fase. A própria França de Nicolas Sarkozy - que tem estado muito calado - viria a ser atacada, a dois meses das eleições presidenciais, que se estão a revelar muito difíceis, senão já perdidas, para o actual Presidente.

François Hollande, líder dos socialistas franceses e candidato a presidente de França, com grandes possibilidades de ser eleito, começou, desde há um mês, a intervir seriamente na problemática europeia. Acaba de advertir publicamente a chanceler Merkel de que, se não ajudar a Grécia - e os restantes Estados em dificuldades -, a França recorrerá a um novo referendo. Porque, diz: "Com austeridade e a regra de ouro financista, não vai a lado nenhum." (vide El País de sábado). Note-se que os sociais-democratas alemães e os verdes - que segundo as sondagens formam já a maioria - estão em absoluto contra a política europeísta da chanceler Merkel. E na eleição de 2013, se lá chegar, está condenada a perdê-la.

Há que reconhecer que a preocupação dos Estados europeus e, mais ainda, das instituições europeias - Banco Central, Parlamento, Comissão Europeia, etc. - tem vindo a crescer, quanto às hesitações e travagens impostas pela chanceler Merkel. Uma Alemanha dominadora da União Europeia, com uma França enfraquecida e um Reino Unido ausente e em crise profunda, está a criar de novo ressentimentos, que vêm do passado e que lhe podem ser fatais. Foi isso que muitos reputados alemães perceberam e de que estão a advertir a senhora Merkel, como: Helmut Kohl, Helmut Schmidt e agora os atuais dirigentes do SPD, como: Sigmar Gabriel, presidente do Partido, Steinmeir, líder parlamentar e Steinbrüch, o ex-ministro das Finanças. Se lhes juntarmos Os Verdes, que têm um papel importante na Alemanha, começa a ser uma onda avassaladora. Tenhamos esperança. Há que salvar o euro e a União Europeia no seu conjunto, em especial a Zona Euro. Se assim não for o nosso futuro e do Ocidente será muito negro.

2. E Portugal? Devo reconhecer que a degradação da situação portuguesa me preocupa imenso. Sei que o atual Governo tem apenas um pouco mais de seis meses de vida. E, como diz o povo, "Roma e Pavia não se fizeram num dia". Mas é perigoso não ter uma estratégia clara, quanto ao futuro, para dar alento aos portugueses, na situação tão difícil em que se encontram. Ora, o Governo, parece tão-só obedecer à troika. A qual, aliás, se comporta, sem pudor, como se fosse ela a governar. Não é. Porque cumprir o acordo assinado é uma coisa; ultrapassá-lo, modificá-lo, segundo os interesses e ir além dele, para agradar ou ser "bom aluno", é outra, muito diferente. Portugal, para além de não deixar de ser um Estado soberano, deve comportar-se como tal. Sobretudo, quando está em jogo a defesa dos interesses portugueses. É óbvio que a austeridade é necessária, mas está longe de ser tudo. Hoje, todas as pessoas, com bom senso, reconhecem que sem pôr um travão à recessão e ao desemprego não iremos a parte nenhuma. Se o não fizermos, no fim do ano em curso, estaremos muito pior do que estamos hoje. Só a senhora Merkel parece não querer compreender isso, em função dos discutíveis interesses da Alemanha. É por isso que o nosso primeiro-ministro não se deve apresentar - creio eu - como "um bom discípulo de Merkel". Sar-kozy já fez essa experiência e parece ter finalmente compreendido não lhe ter sido nada favorável. Nem, muito menos, ainda, à França.

A população portuguesa, ao cabo de seis meses, está com medo do seu futuro e não vê saída. Atravessa uma fase de desânimo total a que se seguirá a indignação e a revolta. O Governo não pode, se não quiser ficar isolado, continuar a fazer o que julga necessário e calar-se ou dar explicações confusas que o povo não entenda. Tem toda a vantagem em ouvir, explicar e aceitar o debate.

Ora, não basta dizer que não há dinheiro. Ele continua a circular em certos meios, como se nada fosse. É necessário, por isso, dizer o que temos, para onde vai e como se gasta o que temos. Não é isso que está a ser feito. E o povo sente muito esta situação. Cuidado!

A classe média está a ponto de desaparecer, como factor de equilíbrio indispensável da nossa sociedade. Os cortes no Serviço Nacional de Saúde e noutras conquistas sociais são tremendos para os desempregados ou para os pensionistas com pouco dinheiro. É, por isso, indispensável valer às pessoas em estado de verdadeira necessidade, custe o que custar, como disse o primeiro-ministro, a respeito do cumprimento das instruções da troika. Porque a troika tem na sua estrutura representantes de três instituições, duas das quais já não pensam só na austeridade, mas também no crescimento e na criação de mais emprego. São o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. Portanto, as instruções da troika vão necessariamente mudar. É uma questão de tempo.

Sempre fui contrário, neste momento de crise, a fazer privatizações. Mas já se fizeram duas, sem qualquer debate prévio e sem se saber o que o Estado português ganhou com elas. Foram, aliás, verdadeiras nacionalizações feitas por empresas de Estados que não primam, por ser democracias. O que ganhou com isso o povo português? E Portugal? Era importante sabê-lo. Julgo que o Governo não quer destruir o nosso Estado, não só no plano económico como também geoestratégico. Mas é isso o que parece. É, pois, necessário que o Governo - não obstante a legalidade que tem, vinda do voto popular - e os partidos que o compõem expliquem claramente ao nosso povo para onde o conduz a política até agora seguida. Será que em vez de emagrecer o Estado, como disse querer fazer, está pura e simplesmente a destruí- -lo? Que tremenda responsabilidade! Note-se que, ao contrário do que se diz, há muito dinheiro a circular e a ir para o estrangeiro. Mas não se sabe como nem por quem. É como a economia paralela. Com os cortes cegos, o dinheiro esvai-se sem se saber como nem porquê...

3. Dificuldades no mundo islâmico.A Líbia não está curada, apesar da morte de Kadhafi. Vai evoluindo, dificilmente, mas com menos violência. A Síria está a criar uma situação parecida, de verdadeira guerra civil, dada a reação de Bashar al-Assad, que já mandou matar centenas dos seus súbditos, como fez o seu falecido pai. A Liga Árabe não foi ouvida e o Conselho de Segu-rança das Nações Unidas foi paralisado pelo veto da China e da Rússia. Curiosa posição, que nos faz voltar aos tempos da guerra fria. Pobre Ocidente, se não toma juízo! Os interesses económicos imediatos continuam a cegá-lo. Tanto à União Europeia como aos Estados Unidos...

O Egito, noutro plano, na guerra entre o exército e os Irmãos Muçulmanos, também ofereceu ao mundo o espetáculo terrível de uma verdadeira carnificina num campo de futebol. Assim vai o mundo!

4. Enfim, a boa notícia. Em Espanha, o PSOE elegeu no Congresso de Sevilha, como secretário-geral, Alfredo Pérez Rubalcaba, apoiado por Felipe González. Por poucos votos, é certo, 22 mais do que a sua rival Carme Chacón, que aliás aceitou a derrota com muita dignidade.

Rubalcaba, sucessor de Zapatero, é um político experimentado e forte. Conhece bem o partido e a política espanhola. Quer fazer do PSOE, à sua semelhança, um partido forte, capaz de voltar ao poder para salvar a Espanha da séria crise em que se encontra e com voz no Partido Socialista Europeu. Para a direita vai ser um adversário difícil de roer...

“NÃO AGUENTAMOS MAIS” É O GRITO DE PROTESTO NA GRÉCIA




Pedro Crisóstomo - Público

20 mil nas ruas de Atenas e Salónica

Comboios e barcos parados, autocarros e metro a meio gás. Escolas, ministérios e hospitais com os serviços mínimos. E 20 mil manifestantes nas ruas de Atenas e de Salónica na greve geral de 24 horas em protesto contra as medidas de austeridade, no dia em que o Governo procura um consenso entre as forças da coligação para finalizar um acordo sobre as reformas económicas exigidas pela troika para a Grécia receber um segundo empréstimo.

Milhares convocados pelas duas maiores centrais sindicais do país (do sector público e do privado) concentraram-se no centro de Atenas e, apesar da chuva que caía esta manhã na capital, rumaram até à praça Syntagma, lugar habitual de protesto.

A BBC mostrou imagens de um momento de alguma tensão entre a polícia e os manifestantes, que tentavam subir uma escada que dá acesso à parte frontal do edifício parlamentar. Os cartazes que ergueram na marcha de protesto que impediu a circulação normal do trânsito faziam eco da palavra de ordem da greve de hoje: “Chega, não aguentamos mais”. A agência AFP fez uma súmula de alguns cartazes: “Não aos despedimentos na função pública”, “não à baixa do salário mínimo”, “não às reduções das reformas complementares”. Foi queimada uma bandeira alemã e erguida uma outra, grega, que um manifestante em sinal de vitória ajudou a levantar.

É o grito de revolta contra as medidas adicionais de austeridade e as reformas económicas que a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu exigem à Grécia para ser validado pela troika o segundo empréstimo.

Vassilis Bakalis, um dos manifestantes que a AFP encontrou em Atenas, resumia assim o sentimento de alguns que marcharam até à Syntagma: “Estamos aqui porque seremos os primeiros da próxima fornada de 15 mil a serem despedidos [na função pública]”. Bakalis tem 34 anos e é curador no Museu Bizantino de Atenas.

A contestação nas ruas opôs-se com veemência às medidas já adoptadas nos sucessivos planos de austeridade que o anterior Governo, de Georgios Papandreou (líder dos socialistas), implementou em 2011 e às que a troika quer ver postas em marcha este ano como contrapartida para a Grécia receber um segundo empréstimo, a rondar os 130 mil milhões de euros.

Os motivos do protesto reflectem também o que a imprensa grega diz estar em cima da mesa das negociações que hoje prosseguem entre os três partidos com assento no executivo de unidade nacional de Lucas Papademos para ser fechado um acordo sobre as propostas da troika.

No meio do impasse das últimas discussões entre o primeiro-ministro e os líderes do partido socialista, conservador e de extrema-direita, o Governo acabou ontem por anunciar consenso quanto ao despedimento de 15 mil funcionários públicos este ano.

A redução em 20% do salário mínimo, para os 525 euros mensais, é uma das hipóteses que o jornal grego Kathimerini dá como mais provável para os partidos subscreverem a proposta de acordo. O ministro das Finanças, Vénizélos, continuava, contudo, a falar em “falta de unidade” e numa “negociação crítica”.

É um “momento decisivo para o futuro da Grécia e da Europa”, considerou já hoje o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, no meio da pressão a que Atenas tem sido submetida pela zona euro para aceitar rapidamente um novo acordo. Bruxelas avisou ontem através de um porta-voz que o Governo grego já tinha ultrapassado o prazo para responder positivamente às reformas pedidas pela troika. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy dramatizaram ontem o apelo. Durão Barroso mostrou-se hoje confiante num “acordo final” em breve e insistiu: “Queremos que a Grécia continue no euro”.

COELHO DE CARNAVAL




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

Pedro Passos Coelho precisa de ter um discurso. E que esse discurso seja coerente. E a coerência do seu discurso é esta: sacrifícios e austeridade. Tinha, por isso, de acabar com a tolerância de ponto do Carnaval. Que existe desde que eu me lembro de existir. Se Pedro Passos Coelho conhecesse mais empresas para além das do seu amigo Ângelo Correia e o País para lá dos jantares da carne assada do PSD saberia que o problema da nossa produtividade nada tem a ver com as horas que trabalhamos. Nem com os feriados. Tem a ver com características da nossa economia, com o mau funcionamento do Estado e com a má organização das empresas.

Deixo aqui claro que não sou grande entusiasta de tolerâncias de ponto. Acho que os direitos dos trabalhadores devem estar previamente estipulados e que os agentes económicos devem saber com segurança e previsibilidade com que linhas se cozem. Nem uns nem outros devem depender de decisões casuísticas, ano a ano, de cada governo. Mas o mundo real não se move por o que eu acho. E uma decisão destas, que afeta a economia local de tantos concelhos, tem de ser ponderada pelos seus resultados e não pela frase de efeito que dela se pode tirar. O ar de pai tirano de quem está a pôr os meninos preguiçosos na ordem, que o primeiro-ministro decidiu usar para falar deste assunto, não acrescenta um cêntimo à nossa economia.

Os resultados desta decisão só podem ser dois. Um: os privados e o poder local não acatam a decisão e tudo fica mais ou menos na mesma. Passos Coelho fez-nos perder tempo, criou irritação e confusão e será desautorizado pelo País inteiro. Outro: o país vai mesmo trabalhar na terça-feira, as câmaras municipais perdem milhões do investimento que fizeram, o comércio local e a hotelaria têm mais um rombo e a nossa depauperada economia fica a perder. Apenas para o primeiro-ministro ser coerente.

Nesta matéria, concordo com o que ouvi da boca de António Capucho: se o governo quer acabar com esta tolerância de ponto avisa com a mesma antecedência com que ela começa a ser preparada por esse país fora: um ano. E autarquias, hotelaria, restauração e cidadãos preparam-se para esta alteração. É assim, e não para os telejornais, que se governa um País. Querem uma prova que estas coisas precisam de tempo? O ministro da Educação do governo que tomou esta decisão não consegue abrir as escolas no Carnaval. Diz que é uma pausa letiva normal. Mas não é isso. É apenas porque, em grande escala, vinte dias não chegam para mudar "velhas tradições".

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