ANTÓNIO VERÍSSIMO
Timor-Leste também é um caso sério. Por lá se perfila um candidato a ditador que cegou e ensurdeceu com o poder. É com penosa desilusão que aponto Xanana Gusmão. Como um mal nunca vem só, segundo o adágio, a dupla Xanana-Kirsty Sword Gusmão continua na senda de procurar minar o país em conformidade com os seus apetites e de onde consigam tirar mais vantagens. A prosseguirem nos poderes parece que tudo descambaria à imagem e semelhança de um ditador Marcus e de uma Imelda adaptados às máscaras horrendas deste século.
Felizmente para Gusmão que poucos são os jornalistas com personalidade bastante para não sentirem a arreata do dono. Por certo que o efeito arreata lhes perturba o raciocínio e os impede de cumprir a sua função principal: informar, ser veículo de esclarecimento.
Não fosse existir a certeza absoluta de que Xanana Gusmão e o seu governo concordaram em aprovar um projeto que pretende excluir a língua portuguesa do ensino básico timorense e aqueles a que esse conhecimento chegou julgariam ter tido um pesadelo ou estarem a enlouquecer. É que em Portugal, quando da recente visita do PM timorense, finda há dias, nem um único jornalista questionou Gusmão sobre o assunto. Nem o jornalista da TSF, Manuel Acácio, que lhe fez uma entrevista de 13:13 minutos, tocou no assunto. Fez, no entanto, um bom trabalho dentro das possibilidades, quer dizer: apesar do efeito arreata. Talvez tenha sido o único profissional de informação que destoou do nacional-carneirismo português a que consentiram ser votados os profissionais de informação em Portugal. Não só com Xanana Gusmão mas também com Eduardo dos Santos e com muitos outros. Todos os que convenham aos seus donos. Pena que esses profissionais não tenham um sindicato que adquira poderes bastantes para comprar umas facas com a finalidade de cortar as arreatas de uma vez por todas, para efeitos de aqueles que lhes compram o produto de seu trabalho (leitores, ouvintes e telespetadores) sejam devidamente informados e esclarecidos.
Voltando à entrevista – parece que a única existente durante a visita a Portugal - já que a entrevista a Maria Flor Pedroso, da Antena 1, não aparece na pesquisa, somente o seu anúncio – que o jornalista Manuel Acácio fez a Gusmão, deve-se salientar que a pertinência das perguntas esbarrou num ritual do entrevistado já conhecido desde o golpe de estado de 2006 em Timor-Leste. Ritual que tem vindo a aperfeiçoar-se até aos dias de hoje: a culpa é sempre dos outros. Não importa que Gusmão saiba que sabemos dos envolvimentos da Austrália no golpe de estado tão em sintonia com o PR de então, que era ele. Nem importa que existam manuscritos em que ele dava ordens expressas ao “revoltoso” major Reinado – que acabaria por ser executado em 11 de Fevereiro em Díli depois de “romper relações” com o “comandante” Xanana e de o ter acusado de ser o mentor do golpe de estado. Também não importa que exista no seu governo quem ganhe 100 e gaste 10.000. Sim, porque corrupção no seu governo AMP é coisa que não existe. São manobras difamatórias da oposição Fretilin. Essa sim, extremamente corrupta quando governou com orçamentos irrisórios. Onde estão os então ministros da Fretilin que exibem fortunas e casamentos de milhão de dólares, como o de sua filha Zenilda Gusmão ainda há meses? E os palácios desses ex-ministros onde estão? E os grandes bólides? E as garbosas ostentações de riqueza? Mas isso é possivel ver atualmente num quadro inserido ao tempo que Gusmão chefia o governo AMP. As referências a essa realidade são imensas e a ostentação exibida não permite dúvidas.
Sobre a entrevista quase mais nada se oferece dizer porque o entrevistado foi igual a si próprio e mais igual ainda seria se acaso o jornalista tivesse a sorte ou o azar de apanhar o PM embriagado (cito Ramos Horta) porque ele nessa condição sabe mesmo ser deselegante e nada o impediria de virar costas e ir embora ou meter o jornalista fora, porque nas circunstâncias parece que a montanha foi a Maomé Gusmão.
Nem a propósito, por virar costas, temos um caso deveras caricato e mostruário inconfundível da peça que é Gusmão. Este título desencadeou uma das maiores vagas de ânsia de conhecimento de que possa haver memória nos números astronómicos de leitores do Página Global. A iniquidade demonstrada por Gusmão levou muitos a isso, a quererem conhecê-lo melhor, a quererem desenganar-se. Curiosamente, uma vez mais, a atitude de ditador é de Gusmão… mas a culpa é sempre dos outros. Neste caso… do outro, melhor dizendo. Exatamente de Gaspar Sobral. Um discursante que mal começou a fazer soar a voz em assembleia presidida pelo PM Gusmão na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Para não faltar à exatidão, passo a transcrever o inicio da notícia da Lusa:
“Coimbra, 28 set (Lusa) -- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, abandonou hoje à tarde um encontro com timorenses que estão a estudar em Portugal, poucos instantes depois do início da reunião, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC).
Xanana Gusmão saiu da sala quando um timorense que vive "em Portugal há 30 anos", mestrando em Ciências Jurídicas naquela Faculdade, Gaspar da Costa Sobral, afirmou, no início da sua intervenção, que "os discursos de ocasião são muito bonitos", mas "o que é preciso é uma política de educação".
O primeiro-ministro de Timor-Leste levantou-se da mesa em que presidia à sessão, com a presença de cerca de uma centena de timorenses, dirigiu-se a Gaspar da Costa Sobral e, depois de lhe dizer que não estava ali "para ouvir políticas", saiu da sala, em passo acelerado.” O restante poderá ser lido AQUI.
A reação de Gusmão é incompreensível por nem dar oportunidade de o orador prolongar um pouco mais a sua intervenção e a assembleia se aperceber minimamente do conteúdo. Aliás, facilmente se presume que ninguém conhece o conteúdo, para além do autor. Como é possível que um PM em visita a um país abandone uma assembleia com estudantes do seu país sem um mínimo de lógica tolerável. Representou efetiva falta de educação e de respeito pelos presentes. Demonstrou a propensão ditatorial do pseudo democrata Xanana Gusmão, do pseudo humanista hipersensível que lacrimeja por tudo e por nada mas que ali demonstrou que se está borrifando para os seus conterrâneos, que longe do país buscam conhecimentos para contribuir para o seu próprio desenvolvimento e progresso - e do seu país por inerência, Timor-Leste.
Não merece o tempo e espaço pôr mais na escrita. Lamentavelmente o ditador mostrou mais uma vez a sua raça. Lamentavelmente, a comunicação social portuguesa faz questão de mostrar o Timor-Leste cor-de-rosa que convém ao regime xananista, em vez de ser imparcial e também falar da fome que assola certas regiões daquele país do sudeste asiático, da miséria onde não chega o desenvolvimento prometido, falado e refalado por Gusmão e pelos seus pares, nem dos milhões alegadamente gastos nesse desenvolvimento mas que não correspondem de forma alguma à obra feita. Que o sistema é altamente corrupto não restam dúvidas. Xanana Gusmão diz que não e dá a cambalhota para falar do governo anterior, que ele próprio derrubou num golpe de estado. Para ele é inútil dizerem-se verdades porque esbarram sempre no ritual já conhecido desde o golpe de estado de 2006 em Timor-Leste. Ritual que tem vindo a aperfeiçoar-se até aos dias de hoje: a culpa é sempre dos outros, ou os outros são sempre piores que ele. Ele, o ditador Meia-Tijela.
*Texto parcial de publicação integral intitulada "TRÊS TEXTOS SOBRE TRÊS PAÍSES E TRÊS TRASTES", em Página Lusófona – blogue do autor – que aborda Portugal, Angola e Timor-Leste.