segunda-feira, 8 de agosto de 2011

OS ESTADOS UNIDOS EM DECADÊNCIA




Noam Chosmky - La Jornada – Carta Maior

A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade nos EUA chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate. Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal, enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio. O artigo é de Noam Chomsky.

É um tema comum que os Estados Unidos, que há apenas alguns anos era visto como um colosso que percorreria o mundo com um poder sem paralelo e um atrativo sem igual (...) estão em decadência, enfrentando atualmente a perspectiva de uma deterioração definitiva, assinala Giacomo Chiozza, no número atual de Political Science Quaterly.

A crença neste tema, efetivamente, está muito difundida. Em com certa razão, se bem que seja o caso de fazer algumas precisões. Para começar, a decadência tem sido constante desde o ponto culminante do poderio dos EUA, logo após a Segunda Guerra Mundial, e o notável triunfalismo dos anos 90, depois da Guerra do Golfo, foi basicamente um autoengano.

Outro temam comum, ao menos entre aqueles que não ficaram cegos deliberadamente, é que a decadência dos EUA, em grande medida, é auto-inflingida. A ópera bufa que vimos este verão em Washington, que desgostou o país e deixou o mundo perplexo, pode não ter comparação nos anais da democracia parlamentar. O espetáculo inclusive está chegando a assustar aos patrocinadores desta paródia. Agora, preocupa ao poder corporativo que os extremistas que ajudou a por no Congresso de fato derrubem o edifício do qual depende sua própria riqueza e seus privilégios, o poderoso estado-babá que atende a seus interesses.

A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade – basicamente financeira – chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate.

Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Nas circunstâncias atuais, esta crise pode ser superada só mediante um significativo estímulo do governo, muito mais além do que foi o mais recente, que apenas fez coincidir a deterioração no gasto estatal e local, ainda que essa iniciativa tão limitada provavelmente tenha salvado milhões de empregos.

Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Assim, só o déficit está em discussão. Uma grande maioria da população está a favor de abordar o problema do déficit taxando os muito ricos (72%, com 27% contra), segundo uma pesquisa do The Washington Post e da ABC News. Fazer cortes nos programas de atenção médica conta com a oposição de uma esmagadora maioria (69% no caso do Medicaid, 78% no caso do Medicare). O resultado provável, porém, é o oposto.

O Programa sobre Atitudes de Política Internacional (PIPA) investigou como a população eliminaria o déficit. Steven Kull, diretor do PIPA, afirma: É evidente que, tanto o governo como a Câmara (de Representantes) dirigida pelos republicanos, estão fora de sintonia com os valores e as prioridades da população no que diz respeito ao orçamento.

A pesquisa ilustra a profunda divisão: a maior diferença no gasto é que o povo apoia cortes profundos no gasto militar, enquanto que o governo e a Câmara de Representantes propõem aumentos modestos. O povo também defende aumentar o gasto na capacitação para o trabalho, na educação e no combate à poluição em maior medida que o governo ou a Câmara.

O acordo final – ou, mais precisamente, a capitulação ante à extrema direita – é o oposto em todos os sentidos, e quase com toda certeza provocará um crescimento mais lento e danos de longo prazo para todos, menos para os ricos e as corporações, que gozam de benefícios sem precedentes.

Nem sequer se discutiu que o déficit poderia ser eliminado se, como demonstrou o economista Dean Baker, se substituísse o sistema disfuncional de atenção médica privada dos EUA por um semelhante ao de outras sociedades industrializadas, que tem a metade do custo per capita e obtém resultados médicos equivalentes ou melhores.

As instituições financeiras e as grandes companhias farmacêuticas são demasiado poderosas para que sequer se analisem tais opções, ainda que a ideia dificilmente pareça utópica. Fora da agenda por razões similares também se encontram outras opções economicamente sensatas, como a do imposto às pequenas transações financeiras.

Entretanto, Wall Street recebe regularmente generosos presentes. O Comitê de Atribuições da Câmara de Representantes cortou o orçamento da Comissão de Títulos e Bolsa, a principal barreira contra a fraude financeira. E é pouco provável que sobreviva intacta a Agência de Proteção ao Consumidor.

O Congresso brande outras armas em sua batalha contra as gerações futuras. Apoiada pela oposição republicana à proteção ambiental, a importante companhia de eletricidade American Eletric Power arquivou o principal esforço do país para captar o dióxido de carbono de uma planta atualmente impulsionada por carvão, o que significou um forte golpe às campanhas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, informou o The New York Times.

Esses golpes auto-aplicados, ainda que sejam cada vez mais potentes, não são uma inovação recente. Datam dos anos 70, quando a política econômica nacional sofreu importantes transformações, que puseram fim ao que se costuma chamar de “época de ouro” do capitalismo de Estado.

Dois importantes elementos desse processo foram a financeirização (o deslocamento das preferências de investimento, da produção industrial para as finanças, os seguros e os bens imobiliários) e a externalização da produção. O triunfo ideológico das doutrinas de livre mercado, muito seletivo como sempre, desferiu mais alguns golpes, que se traduziram em desregulação, regras de administração corporativa que condicionavam as enormes recompensas aos diretores gerais com os benefícios de curto prazo e outras decisões políticas similares.

A concentração resultante da riqueza produz maior poder político, acelerando um círculo vicioso que aportou uma riqueza extraordinária para 1% da população, basicamente diretores gerais de grandes corporações, gerentes de fundos de garantia e similares, enquanto que a maioria das receitas reais praticamente estancou.

Ao mesmo tempo, o custo das eleições disparou para as nuvens, fazendo com que os dois partidos tivessem que escavar mais fundo os bolsos das corporações. O que restava de democracia política foi solapado ainda mais quando ambos partidos recorreram ao leilão de postos diretivos no Congresso, como apontou o economista Thomas Ferguson, no The Financial Times.

Os principais partidos políticos adotaram uma prática das grandes empresas varejistas, como Walmart, Best Buy e Target, escreve Ferguson. Caso único nas legislaturas do mundo desenvolvido, os partidos estadunidenses no Congresso colocam preço em postos chave no processo legislativo. Os legisladores que conseguem mais fundos ao partido são os que indicam os nomes para esses postos.

O resultado, segundo Ferguson, é que os debates se baseiam fortemente na repetição interminável de um punhado de consignas, aprovadas pelos blocos de investidores e grupos de interesse nacionais, dos quais depende a obtenção de recursos. E o país que se dane.

Antes do crack de 2007, do qual foram responsáveis em grande medida, as instituições financeiras posteriores à época de ouro tinham obtido um surpreendente poder econômico, multiplicando por mais de três sua participação nos lucros corporativos. Depois do crack, numerosos economistas começaram a investigar sua função em termos puramente econômicos. Robert Solow, prêmio Nobel de Economia, concluiu que seu efeito poderia ser negativo. Seu êxito aporta muito pouco ou nada à eficiência da economia real, enquanto seus desastres transferem a riqueza dos contribuintes ricos para o setor financeiro.

Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal...enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

(*) Professor emérito de lingüística e filosofía do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Seu livro mais recente é 9-11: Tenth Anniversary.

Tradução: Katarina Peixoto

BOLSAS DESPENCAM: CONTER A MANADA EXIGE UM BRIDÃO ESTATAL E POLÍTICO





O  anúncio de que o Banco Central europeu compraria títulos da dívida pública espanhola e italiana reverteu a espiral de juros que os investidores vinham impondo a Roma e Madrid. Mas no meio da manhã Angela Merkel acionou o lança chamas germânico: a dama de ferro avisou que não haveria recursos adicionais a fundos destinados a amparar economias  incendiadas pela crise mundial.

A reticência da dama-de-ferro a uma ofensiva estatal anti-crise atiçou as labaredas da incerteza que alimentam fugas e ataques de capitais. Mais que isso deu aos mercados financeiros nova evidência de que o dinheiro  é Rei. Manda e desmanda porque a Política resignou-se ao papel de  vassala que lhe coube no enredo do neoliberalismo. Países e lideranças apequenaram-se ao longo de décadas de submissão à agenda dos mercados. Na crise do modelo, revelam seu despreparo, tropeçam ea emitem sinais contraditórios. A única certeza é a falta de qualquer certeza, exceto uma: a economia capitalista não volta ao trilho do crescimento sem uma ação estatal coorrdenada e contundente. A agonia pode demorar anos em lenta espiral declinante. 

Quem tem dinheiro em ações e depende de  lucros para obter dividendos se acautela e  dispara ordens de vendas;  poucos se dispõem a aceitar o convite para a compra. Bolsas despencam em todo o mundo nesta 2º feira. Caiu a ficha: a crise dos mercados financeiros desregulados requer ação política forte para devolver as manadas ao piquete. Ninguém se apresenta para botar a sela e o bridão no dinheiro chucro que continua a distribuir coices urbi et orbi.

(Carta Maior; 2º feira, 08/08/ 2011)

São Tomé: Pinto da Costa alerta para a "difícil" conjuntura económica e social do país




EDUARDO LOBÃO - LUSA

São Tomé, 08 ago (Lusa) -- Manuel Pinto da Costa alertou hoje para a "difícil" conjuntura económica e social de São Tomé e Príncipe, no âmbito de uma declaração sobre a sua vitória, neste domingo, na segunda volta das presidenciais.

"É preciso que todos tenhamos consciência da amplitude dos desafios que se colocam ao país num quadro internacional de grande incerteza", disse Manuel Pinto da Costa, que totalizou 52,88 por cento, enquanto o candidato derrotado, Evaristo Carvalho obteve 48,12 por cento.

Face às dificuldades presentes e as incertezas do futuro, Pinto da Costa, tendo em conta a difícil conjuntura económica e social, considerou que esconder as dificuldades "seria fugir à realidade".

PR cessante denuncia "hipocrisia" dos candidatos em dia de eleição sem incidentes graves




SIC NOTÍCIAS - LUSA

A segunda volta das presidenciais deste domingo em São Tomé e Príncipe decorreu sem incidentes graves, sendo as afirmações do Presidente cessante, Fradique de Menezes, a única nota que fugiu à afinação geral.

Pouco depois de exercer pela última vez o seu direito de voto na qualidade  de Presidente da República, Fradique de Menezes não poupou nas palavras  e acusou indiretamente os dois candidatos à sua sucessão, Manuel Pinto da  Costa e Evaristo Carvalho, de "cinismo" e "hipocrisia". 

"Toda a gente falou da necessidade de estabilidade quando não é o Presidente  da Republica o único fazedor da estabilidade ou instabilidade no país, toda  a gente sabe disto, temos é que deixar de ser cínicos, hipócritas e mentirosos,  enganamos as pessoas, enganamos o povo, fazemos tantas promessas", disse  então o chefe de Estado.
 
Em causa, segundo Fradique de Menezes, estão as juras de estabilidade  que os dois candidatos fizeram ao longo da campanha eleitoral, mas que vêm  na esteira do último discurso que proferiu à nação, no passado dia 12 de  julho, dia em que se celebrou o 36 aniversário da independência. 

Na ocasião, em plena campanha para a primeira volta, Fradique de Menezes  disse que, independentemente do que viesse a ser eleito de entre os 10 candidatos,  a "instabilidade" iria continuar. 

Nos dois mandatos presidenciais, de cinco anos cada, de Fradique de  Menezes, São Tomé e Príncipe teve 10 primeiros-ministros. 

O segundo mandato de Fradique de Menezes termina no próximo dia 03 de  setembro, e o Presidente cessante já anunciou que logo no dia seguinte vai  tomar as medidas necessárias para convocar um congresso extraordinário para  concorrer à liderança do Movimento Democrático Força da Mudança -- Partido  Liberal, constituído em 2002 à imagem do seu projeto de sociedade. 

Mas no que diz respeito à jornada eleitoral propriamente dita, ainda  sem números indicativos relativamente à afluência dos 92.638 eleitores inscritos  -- muitos esperam pela última hora para votar, à espera de um incentivo  financeiro, o chamado "banho", para votarem neste ou naquele candidato -,  registe-se não se terem verificado os boicotes da primeira volta. 

O único incidente relacionado com o ato eleitoral de hoje foi o acidente  rodoviário que envolveu dois observadores de nacionalidade angolana, da  missão da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), e que obrigou  à vigilância hospitalar. 

Segundo o presidente da Comissão Eleitoral Nacional, Vítor Correia,  os primeiros resultados com indicação clara de quem vai suceder a Fradique  de Menezes serão conhecidos por volta da meia-noite (01:00 de segunda-feira  em Lisboa). 

Chile: REBELDIA, AGORA MAIS PERTO DE NÓS




Maurício Ayer, editor do Futepoca, em Outras Palavras

Jornalista brasileiro relata, do Chile, luta da juventude para enterrar sistema educacional de Pinochet e garantir reformas que desprivatizem universidades

Em um painel publicitário do metrô de Santiago, Chile, os lindos olhos de uma mãe querem expressar toda a preocupação revelada pelo texto logo abaixo: “EU MORRO se meus filhos não puderem continuar estudando”. Em seguida, sugere-se ao cidadão que contrate um seguro: “O negócio mais importante de sua vida”. Por fora dos tubos que percorrem as entranhas da cidade, milhares de estudantes e professores saíram às ruas para defender uma outra proposta para garantir a educação dos jovens chilenos.

E foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água. Os conflitos nas ruas em torno da reforma da Educação no Chile já duram meses e tiveram um primeiro ápice no final de junho, quando as passeatas reuniram mais de 400 mil pessoas, o que resultou na queda do então ministro da Educação, Joaquín Lavín, dias depois. Com uma nova proposta em que cede em vários pontos ao movimento estudantil, o governo declarou que “o tempo das marchas se acabou”, mas estudantes e professores discordam e marcaram duas grandes passeatas “não autorizadas” para a quinta-feira, 4 de agosto, uma de secundaristas outra de universitários. Ao final do dia havia 874 manifestantes presos e cerca de 30 feridos.

Pelo que afirma o movimento estudantil, o governo do presidente Sebastian Piñera está mais alinhado com a mamãe preocupada da publicidade. As diversas propostas do então ministro Lavín, que é um grande empresário da área de educação, mais reforçavam que reformavam o perverso sistema educacional chileno. Com leis escritas num gabinete de Pinochet e impostas no início dos anos 80, o sistema não apenas tornou pagas (e caras) as universidades públicas como criou uma série de repasses estatais ao sistema privado. Mesmo sendo o lucro ilegal para as instituições privadas, mecanismos simples permitem aos proprietários lucrar e muito. Para citar um exemplo recorrente, o reitor muitas vezes é também dono do prédio onde está a faculdade e o aluga à instituição.

A pedra fundamental da “reforma” de Lavín era um plano que levaria 70 mil bolsas de estudo a secundaristas, repassadas às instituições. Algumas faculdades privadas já haviam começado a oferecer “benefícios” como vales transportes para que os bolsistas as prefiram e assim possam incorporar o investimento público às suas receitas. Como era parte diretamente interessada (nos lucros), estudantes e professores recusaram o ministro como interlocutor, o que levou a sua queda.

As 21 propostas apresentadas pelo governo nesta segunda versão procuram incorporar exigências do movimento. Os manifestantes consideraram entretanto que o governo não toca no fundamental – a mercantilização da educação – e convocaram as passeatas para um dia antes do prazo que teriam para dar uma resposta. Declaração de Camila Vallejo, presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, foi retomada por muitos: “é mais do mesmo com uns pesos a mais”. Para se ter uma ideia, hoje é possível que uma universidade que não siga padrões mínimos de qualidade definidos pelo Ministério continue funcionando; a ideia é deixar que os “consumidores” terminem por escolher as melhores e que o mercado trate de eliminar as piores. Há, portanto, universidades “acreditadas” e “não-acreditadas”, todas elas autorizadas a funcionar.

As manifestações foram duramente reprimidas em todo o país. Tropas de carabineros realizaram verdadeiras operações de guerra para abafar o movimento; preparados, os manifestantes armaram-se de celulares para contra-atacar pelo Twitter e bexigas com tinta colorida para pintar o arsenal dos pacos. Para o governo, a decisão de dar uma “prova de força” pela força das armas se mostrou uma catástrofe política. A aprovação a Piñera caiu ao nível mais baixo já alcançado por um presidente desde que se começou a medição, há 20 anos, atingindo menos que 30%; pela repressão desmesurada, os estudantes agora pedem a renúncia do ministro do Interior, Hinzpeter.

As reformas

Nos últimos dias, estive em Santiago, Valparaíso e La Serena (no norte do país), e o que se observa é uma impressionante coesão das escolas e universidades em torno do movimento. As escolas de ensino médio trazem carteiras enganchadas nas grades externas (foto abaixo), como forma de exibir sua adesão à paralisação. As universidades trazem grandes faixas com dizeres como “Isso não é uma brincadeira” ou “Universidade pública e gratuita”.

O que exigem os estudantes e professores não é pouca coisa: querem retomar o sentido da educação pública que havia no período pré-Pinochet. E a resposta da sociedade foi impressionante, tornando-o “mais que um movimento estudantil, um movimento cidadão”, segundo as palavras da líder estudantil Vallejo.

Na raiz das reivindicações está a exigência de reforma do texto constitucional para que a Educação seja declarada como “direito e bem público, sendo o Estado responsável por provê-la assegurando gratuidade e qualidade geral”. A subvenção do governo, dizem os estudantes, deve ser feita às instituições públicas por meio de incremento no orçamento e não como “assistência” – isto é, de forma marginal e complementar por meio de bolsas de estudo, como é a proposta do governo. As escolas devem ser administradas publicamente e ligadas diretamente ao Ministério (hoje muitas são geridas por agências ligadas aos municípios). Todas as universidades devem seguir padrões que permitam sua acreditação. Entre outros pontos.

A síntese se ouvia como grito de guerra pelas ruas de Santiago: “Se va a caer / se va caer / la educación de Pinochet”.

Bombas, jatos d’água e o delicado retinir das panelas

Por volta das 18h cheguei à Praça Itália, local de onde tradicionalmente saem as marchas de protesto pela Alameda, principal avenida da cidade. A presença militar era fortíssima, com uma quantidade enorme de soldados, e também de caminhões e viaturas blindadas e de todos os tamanhos. Todas as áreas foram cercadas com grades, oficiais falavam em rádios constantemente, como se aguardassem na trincheira a investida de um exército.

Estive em vários pontos do centro durante a tarde e, como sobra dos confrontos da manhã com os secundaristas, toda a região recendia a gás lacrimogêneo. Várias viaturas estavam pintadas de manchas coloridas, marcas das tintas jogadas pelos estudantes nos protestos. Em frente à Universidade de Santiago, pedras e paus cobrem as ruas, e o acesso ao metrô estava bastante dificultado.

Chegando o horário marcado, 18h30, via-se que estudantes começavam a aceder ao redor das áreas cercadas, os policiais trataram de tirar-nos das calçadas para as ruas, restando uma única área em que estudantes e imprensa não disputavam espaço com os carros. Os policiais pediam que saíssemos: “Por favor, caminen hacia allá” (por favor, andem para lá). Diante de tamanha delicadeza, um homem que preferia permanecer no seu lugar contestou um fleumático “no gracias”. A policial mais próxima parou um segundo, mas seguiu coagindo a que todos se movessem.

Tudo permanecia tranquilo, não se viam maiores sinais de agressividade de nenhuma parte. De repente, sem qualquer aviso, um caminhão parado no canto da praça disparou um potente jato d’água que derrubou alguns manifestantes que permaneciam parados diante de uma linha de carabineiros. Um jipe blindado passou em seguida, soltando uma nuvem de gás. A polícia montada criava outra linha, encurralando ainda mais os estudantes, que instados pela repressão acenderam os protestos. Estudantes cantavam e produziam uma infinidade de imagens – que fez que as manifestações chegassem ao topo mundial do Twitter.

A um ritmo regular, cada par de minutos a polícia avançava com novas ações de coação. Os cavalos adiantaram-se um corpo, causando grande tumulto. Aí vieram as bombas. A multidão escapou pelo canal de vazão deixado pela polícia, para o qual a impulsionava. As entradas do metrô estava todas fechadas. E dá-lhe bomba de gás, por trás vinha o caminhão mandando água pra cima dos garotos. Pernas pra que te quero.

À meia-noite, quando terminava de escrever este post, ainda se ouviam panelas retinindo nas janelas e sacadas dos prédios ao redor do bairro de Las Condes, e pelo site El Mostrador se via ao vivo que o panelaço soava por todo o país como signo de repúdio à repressão. Repressão que tratou de fortalecer o movimento, que agora, mais que nunca, coloca o governo contra a parede.

Pilhagens em Londres pelo terceiro dia consecutivo, número de detidos sobe para 215





Os distúrbios em Londres continuam hoje pelo terceiro dia consecutivo em vários bairros, nomeadamente em Hackney, no leste da cidade, e Lewisham, no sul, havendo relatos de veículos incendiados e lojas pilhadas.

Na origem estão grupos de jovens, muitos de caras tapadas e vestidos  de negro, que se foram juntando durante a tarde.
 
 Em Hackney, alguns elementos usaram objetos pesados para partir montras  e saquear lojas, nomeadamente de roupa. 

Armando Ribeiro, um fotógrafo freelance que se encontra na área, contou  à agência Lusa que "há muita agitação, arremesso de pedras e fogo de artifício".

"Na rua principal Grande parte das lojas estão fechadas" e há "carros  incendiados" e "muita gente na rua". 

Em Lewisham, pelo menos um veículo foi incendiado e uma loja de artigos  eletrónicos foi saqueada. 

A cerca de cinco kilómetros, em Peckham, um autocarro terá sido incendiado  por um grupo de jovens que ali se concentrou. 

Apesar do reforço policial na capital britânica, a estratégia tem sido  sobretudo de contenção, embora já se tenham registados alguns confrontos  com polícia de intervenção. 

Este é o terceiro dia de distúrbios em Londres, tendo até agora, segundo  a polícia, sido detidas 215 pessoas por desordem ou roubo.  
 
Pelo menos 215 pessoas detidas na sequência dos confrontos de sábado

Pelo menos 215 pessoas foram detidas na sequência  dos violentos distúrbios e confrontos que se verificam desde sábado em vários  bairros periféricos de Londres, anunciou hoje a ministra do Interior britânica,  Theresa May.  

A ministra do Interior do Reino Unido, que foi obrigada a encurtar as  suas férias, reuniu hoje com responsáveis da polícia para avaliar as consequências  dos confrontos entre a polícia e manifestantes, que hoje entraram no terceiro  dia consecutivo. 

Em conferência de imprensa, Theresa May culpou "delinquentes" pela onde  de violência que se tem vindo a arrastar por vários bairros periféricos,  e que hoje á tarde chegou ao bairro de Hackney, no leste da capital londrina.

De acordo a estação de televisão britânica BBC, os distúrbios em Hackney  aconteceram depois de a polícia ter efetuado alguns registos de identidade  na rua, o que terá causado a reação de um grupo jovens que passou a enfrentar  os agentes lançando pedras e garrafas. 

Na madrugada de hoje, os distúrbios registaram-se em Enfield, Waltham  Forest e Islington, no norte de Londres, Brixton, (sul), e em Oxford Circus  (centro), todavia de menor dimensão em relação aos de sábado à noite Tottenham.

No sábado, a violência surgiu após uma manifestação em memória de Mark  Duggan, um residente morto na quinta-feira durante uma operação policial.

"É pura delinquência", frisou a ministra do Interior britânica, assegurando  que todos os responsáveis pelos distúrbios serão levados à justiça. 


SACRIFÍCIOS RAPIDAMENTE E EM FORÇA




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O primeiro-ministro de Portugal escreveu hoje, na sua página do Facebook, que não se compromete "com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves".

Traduzindo para a linguagem dos mais de 800 mil desempregados, dos mais de 20 por cento de pobres e de outros tantos que já têm saudades de uma refeição, Pedro Passos Coelho compromete-se com resultados suaves e com sacrifícios rápidos.

Lembrando  que o ponto de partida do Governo "é extremamente débil e que a instabilidade no sistema Financeiro Europeu e Americano são travões para um percurso já de si cheio de sacrifícios", Pedro Passos Coelho refere que "todos os portugueses são chamados" a participar no "enorme trabalho que temos pela frente".

Traduzindo para a linguagem dos mais de 800 mil desempregados, dos mais de 20 por cento de pobres e de outros tantos que já têm saudades de uma refeição, Pedro Passos Coelho diz que o Governo vai continuar a pedir aos pobres (de Portugal) para dar aos ricos (de Portugal).

Quando diz que "todos os portugueses são chamados", Pedro Passos Coelho esquece-se que, dessa forma e tal como o seu antecessor, está a dividir os portugueses em – pelo menos – duas classes. Isto porque, de facto, há uma casta superior de portugueses que só é chamada para sugar o que a plebe produz. São, provavelmente, os portugueses de primeira.

Passos Coelho não se compromete "com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves".  Aliás, seria de estranhar se fosse de outra forma. O seu governo já demonstrou que não está no poleiro para servir os portugueses mas, isso sim, para deles se servir. É claro que tudo isso é a bem da Nação.

Diz Passos Coelho, numa prosa escrita certamente depois de uma daquelas boas coisas que começam a ser raras para os portugueses de segunda (refeições),  "que passada esta profunda e longa tempestade, teremos um país muito mais bem preparado para compreender, competir e vencer num mundo que assiste diariamente a importantes transformações".

Sem dúvida que, passada a tempestade, o que sobrar dos escombros terá mais vitalidade. Aliás, como bem diz o povo português, o que não mata… engorda. Só falta saber se os portugueses vão ser os primeiros cidadãos a conseguir viver sem comer. Também se o não conseguirem não virá grande mal. Vão morrendo e o desemprego vai baixando…

Valha ao menos a ideia de que este é um Governo formado por super-ministros, super-secretários de Estado, super-assessores, super-especialistas, super adjuntos.

Importa até enaltecer o trabalho conjugado de um governo que, entre outras medidas, vai mesmo pôr em ordem a saúde dos portugueses, admitindo-se uma estrondosa poupança nos gastos  – por exemplo – dos antibióticos.

É que estes medicamentos são para tomar depois de uma coisa que os portugueses têm cada vez menos – refeições. E se não têm refeições… obviamente não podem tomar antibióticos...

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Portugal: Troika reúne-se com AR para troca de impressões mas não fala sobre avaliação




i ONLINE - LUSA

Os chefes da missão do FMI, da Comissão Europeia e do BCE reuniram-se hoje com a presidente da Assembleia da República e com os partidos, onde houve "troca de impressões" mas não foi abordada a avaliação em curso.

O encontro, que decorreu à porta fechada, teve a presença do líder da missão em Portugal do Fundo Monetário Internacional, Poul Thomsen, tal como o da Comissão Europeia, Jürgen Kröger, e do Banco Central Europeu, Rasmus Rüffer, que se reuniram com a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e representantes de todos os partidos, das comissões parlamentares de Assuntos Europeus, de Orçamento, Finanças e Administração Pública e ainda da comissão eventual de acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira.

No final da reunião, os responsáveis da ''troika'' não falaram, ficando a cargo de Assunção Esteves explicar que a reunião serviu para a ''troika'' conhecer os responsáveis parlamentares e os representantes dos partidos na Assembleia da República, e que a situação na Europa esteve em discussão, ao contrário da avaliação que a missão faz dos primeiros meses de implementação do programa.

“A ideia foi manifestar o sentido de colaboração institucional que o Parlamento enquanto Parlamento tem com os compromissos internacionais do Estado. […] Foi uma troca de impressões clarificadora, onde também se falou do contexto da Europa e do mundo, que afinal estão indelevelmente ligados a todo o problema e todos os desafios que Portugal também enfrenta”, afirmou a presidente da Assembleia da República.

Questionado pelos jornalistas se os líderes da missão abordaram a presente avaliação que deverá acabar no final desta semana, Assunção Esteves garantiu que “não se falou em níveis de cumprimento” e que nem competia a esta reunião fazê-lo.

“Não fizemos uma apreciação em torno desse tema, foi apenas um conhecimento recíproco, uma apresentação do Parlamento. Não se falou de níveis de cumprimento”, disse.

Do lado dos partidos, apenas os representantes do BE e PCP – dois partidos que rejeitaram participar nas negociações da ajuda externa – falaram com os jornalistas no final da reunião, também para confirmar que se tratou de uma troca de impressões, em parte sobre a situação da Europa e as suas consequências em Portugal.

“Foi um encontro rápido, onde se trocaram opiniões relativamente circunstanciais, e o que dominou até foram as preocupações sobre a situação internacional e o agravamento da situação financeira à escala mundial. Foi genericamente considerado que a degradação da situação internacional do ponto de vista financeiro não é bom também para a situação de Portugal”, afirmou o deputado do BE, João Semedo.

Miguel Tiago, do PCP, sublinhou que PS, PSD e CDS-PP expressaram à ‘troika’ uma “grande vontade” de cumprir o plano escrupulosamente e que o PCP reafirmou a sua oposição ao programa, sublinhando os efeitos negativos que este terá sobre a economia e a vida dos portugueses.

“Os assuntos debatidos foram muito genericamente, a demonstração dos partidos PS, PSD e CDS-PP de uma grande vontade de prosseguir com o cumprimento deste pacto, deste memorando, e uma grande preocupação da parte dos técnicos da ‘troika’ na maioria parlamentar para garantir este entendimento”, afirmou Miguel Tiago.

A missão encontra-se em Portugal até sexta-feira para fazer a primeira avaliação sobre o cumprimento do programa, onde estarão sob escrutínio o calendário de medidas a aplicar até final de julho, dependendo o desembolsar da próxima tranche do empréstimo da avaliação da missão.

*Foto em Lusa

Macau: Negociação coletiva é necessária -- secretária-geral da Serviços Públicos Internacionais




FV - LUSA

Macau, China, 08 ago (Lusa) -- Macau precisa de legislação que contemple a negociação coletiva e a atividade sindical, defendeu hoje na Região Administrativa Especial chinesa uma representante de uma federação sindical internacional.

"Esta [negociação coletiva] é uma matéria que ainda não está na lista de prioridades, mas tem que estar", começou por dizer Lakshmi Vaidhiyanathan, secretária-geral para a região Ásia/Pacífico da federação Serviços Públicos Internacionais, ao salientar que a organização irá "analisar esta questão no quadro das convenções internacionais".

Para Vaidhiyanathan, a estratégia a seguir passa pela "promoção de mais atividades" e que "todas as pessoas precisam de ser educadas sobre a questão da negociação coletiva", de forma a levar o tema "à mesa de negociações".

Na visita oficial da Serviços Públicos Internacionais a Macau, que teve como tema o "desenvolvimento de atividades de cooperação e intercâmbio", Lakshmi Vaidhiyanathan ouviu as preocupações do presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública, José Maria Pereira Coutinho, quanto à falta de representatividade (sindical) dos trabalhadores.

"Achamos que é um assunto extremamente importante não só para a função pública como para o setor privado, na medida em que esses diplomas permitem a representação e a negociação por parte dos sindicatos com o patronato", referiu o responsável.

Pereira Coutinho constatou que as convenções internacionais da Organização Mundial do Trabalho relativas à liberdade sindical e à negociação coletiva "estão em pleno vigor em Macau, bem como o artigo 27º da Lei Básica, que permite regular esta matéria".

Mas, explicou, a lacuna na regulamentação faz com que os trabalhadores se mantenham silenciosos face a abusos dos seus direitos até mudarem de trabalho, apresentando queixas apenas "a posteriori".

"Isto pode acontecer oito ou dez anos depois, quando eles se vão queixar aos Serviços de Assuntos Laborais, nomeadamente quanto ao pagamento das horas extraordinárias, bem como do eventual pagamento dos feriados obrigatórios", esclareceu.

As lacunas da lei laboral foram outro dos temas debatidos, com Pereira Coutinho a referir que esta "não auxilia na resolução [de conflitos] de determinadas profissões", nomeadamente nos casos das empregadas domésticas, e dos trabalhadores por turnos, como os "croupiers" dos casinos.

A secretária-geral da Serviços Públicos Internacionais para a Ásia/Pacífico invocou ainda a questão do recrutamento ético e dos critérios de avaliação da qualidade dos serviços públicos, usados a nível internacional, escusando-se, no entanto, a classificar o nível dos serviços de Macau.

A Serviços Públicos Internacionais é uma federação sindical que representa cerca de 20 milhões de trabalhadores do setor público a nível mundial.

A organização não-governamental para o setor público faz parte da Organização Internacional do Trabalho, e tem estatuto de observador nas Nações Unidas e Organização Mundial do Comércio.

*Foto em Lusa

São Tomé: Patrice Trovoada acredita que eleição de Pinto da Costa não trará instabilidade




CSR – EL - LUSA

Lisboa, 08 ago (Lusa) -- O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, disse hoje que a eleição de Manuel Pinto da Costa para a Presidência da República não vai alterar o quadro de estabilidade do país, apesar de o seu partido ter apoiado o candidato vencido, Evaristo de Carvalho.

"Esta eleição não vai alterar (o quadro de estabilidade no país) porque, do ponto de vista constitucional, são dois atos bastante distintos", disse à Agência Lusa por telefone, a partir de São Tomé, Patrice Trovoada, líder da Ação Democrática Independente, partido que suporta o Governo, com maioria relativa.

Segundo o primeiro-ministro são-tomense, "o Governo tem a sua legitimidade através das eleições legislativas e tem um programa aprovado pelo Parlamento para quatro anos e que já está em curso há um ano. O Presidente acaba de ser eleito e tem um mandato de cinco anos."

"Do ponto de vista constitucional, o Presidente da República só nomeia um primeiro-ministro depois dos resultados eleitorais das eleições legislativas, por conseguinte, são momentos separados, com legitimidades de fontes diferentes", sublinhou ainda.

"Eu creio que, do ponto de vista jurídico-constitucional, não há nenhum risco de alterar o quadro de estabilidade", reforçou o primeiro-ministro.

De acordo com Trovoada, "é evidente que um Presidente eleito com base no apoio de vários partidos da oposição, não é propriamente um Presidente que está de acordo com o partido que sustenta o Governo."

"Também quero dizer que o Presidente e o Governo devem ter uma colaboração institucional e, pelo lado do Governo, não há problemas, podemos trabalhar em prol do desenvolvimento do nosso país", declarou o chefe de executivo.

Manuel Pinto da Costa apresentou-se às presidenciais são-tomenses com uma candidatura suprapartidária, embora apoiada pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social-Democrata(MLSTP-PSD) e Partido da Convergência Democrática, ambos na oposição.

O candidato derrotado, Evaristo Carvalho, era apoiado pela Ação Democrática Independente, liderada pelo atual primeiro-ministo, Patrice Trovoada.

O atual governo de São Tomé é dirigido pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada, filho de Miguel Trovoada e dirigente da Ação Democrática Independente (ADI), partido que remeteu o MLSTP-PSD para a oposição.

De acordo com os resultados provisórios anunciados às primeiras horas de hoje por Vítor Correia, presidente da Comissão Eleitoral Nacional, Manuel Pinto da Costa totalizou 35.112 votos, correspondentes a 52,88 por cento, contra os 31.287 votos conseguidos por Evaristo Carvalho, correspondente a 47,12 por cento.

A taxa de abstenção baixou relativamente à primeira volta, passando de 32,11 por cento para 25,96 por cento, acrescentou.

*Foto em Lusa

Angola: «Onda de desmaios é um mistério que ninguém consegue explicar»




DESTAK - LUSA

A onda de desmaios que atinge sobretudo estudantes em Angola é “um mistério que ninguém consegue explicar” e está a ameaçar o ano letivo, disse à Lusa um professor angolano.

Os desmaios acontecem desde abril, “um pouco por todo o país, sobretudo nas escolas, e há já relatos de que também tem acontecido nas faculdades”, refere o docente, que pediu o anonimato, em declarações à Lusa.

Este é um caso “nacional”, que as autoridades “ainda não conseguiram explicar” e que “preocupa toda a sociedade”.

O problema está a “afetar o ano letivo”, havendo receios de que o mesmo seja “cancelado”.

“Há pais que não mandam os filhos para as escolas com receio do que possa acontecer. As famílias e as crianças estão a sofrer”, descreve o professor.

O docente esclarece que o problema afeta sobretudo crianças, “na sua maioria adolescentes”, essencialmente do sexo feminino, mas que ninguém consegue explicar as causas do problema.

“É um mistério que não estamos a conseguir desvendar. Ninguém sabe o que está a acontecer. O Governo tomou algumas medidas, proibindo que os estudantes entrem nas escolas com batons ou ‘sprays’, mas os desmaios continuam a acontecer”, lamenta.

Não há referência a “casos de morte”, garante o professor, explicando que depois de desmaiadas, “as pessoas são assistidas no posto médico”.

O professor, que assistiu a um episódio de desmaios na escola onde dá aulas, garante que chegou a sentir alguns sintomas, mas não chegou a desfalecer.

“As pessoas começam a sentir irritação na garganta – eu também senti -, a boca começa a ficar amarga, começam a sentir uma espécie de enjoo, a perder o fôlego, a sentir uma escuridão na vista, desmaiam e caem”, descreve.

De acordo com o professor, “ninguém explicou publicamente qual o produto que está a provocar os desmaios” e o Presidente da República já “criou uma comissão para tratar do assunto”.

No início de agosto, um balanço das autoridades angolanas divulgado pela imprensa nacional revelava que, no período de uma semana, mais de 800 pessoas tinham desmaiado por alegada inalação de substâncias tóxicas nas províncias de Luanda, Cabinda, Cunene, Huíla e Namibe.

Segundo a Agência de Notícias de Angola (Angop), as autoridades informaram que os desmaios atingem sobretudo estudantes com idades entre os 14 e 17 anos.

A 29 de julho, a Angop revelava que o Serviço Nacional de Proteção Civil tinha registado, em 24 horas, 560 casos de desmaios de alunos nas províncias de Luanda e Namíbe.

Também no início de agosto, o segundo comandante da Polícia Nacional de Angola, comissário-chefe Paulo de Almeida, revelava, em conferência de imprensa, que as amostras enviadas para laboratórios de Portugal com vista a detetar as causas de centenas de desmaios ocorridos, desde abril, em escolas de Angola, não conseguiram ainda esclarecer qual o tipo de produto tóxico.

As autoridades detiveram algumas pessoas devido ao uso de gás lacrimogéneo, denominado aerossol anti-agressivo/70, em forma de bisnaga, em duas escolas de Luanda, mas os desmaios continuaram.

*Foto em Lusa

Brasil: DILMA ENFRENTA CRISE COM EXÉRCITO AO NOMEAR AMORIM, diz ‘El País’




CORREIO DO BRASIL, com BBC - de Brasília

Um artigo publicado na edição deste sábado no jornal espanhol El Paí safirma que a presidente Dilma Rousseff enfrenta uma crise com as Forças Armadas brasileiras depois da nomeação de Celso Amorim para o lugar de Nelson Jobim, no ministério da Defesa.

Na quinta-feira, Dilma aceitou o pedido de demissão de Jobim, que havia criticado duas ministras do governo em entrevista à revista Piauí.

O texto, assinado pelo correspondente do jornal espanhol no Rio de Janeiro, afirma que Dilma “sai de uma crise para entrar em outra”.

“E nem sequer é a oposição que a coloca em apuros, os problemas surgem das suas próprias fileiras”, diz a reportagem, que cita também as demissões nos ministérios dos Transportes, devido a um escândalo de corrupção.

“A presidente do Brasil enfrenta uma nova crise, desta vez com o Exército, após uma polêmica na Defesa.”

‘Saída traumática’

O jornal diz que Jobim foi “o primeiro ministro de Defesa da democracia que não teve problemas com a cúpula militar”, e ainda afirma que o ex-ministro é um homem “prestigiado e de indiscutível capacidade profissional”.

“Se trata de uma saída traumática, não só pela bela gestão de Jobim, mas também porque a nomeação do seu substituto provocou um grande mal-estar nas Forças Armadas”, diz o El País.

O jornal afirma que Celso Amorim é alinhado com “a ala mais esquerdista do Partido dos Trabalhadores” e é conhecido pelo seu “antiamericanismo declarado e por sua política exterior de aproximação com personagens autoritários, como o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ou [o venezuelano] Hugo Chávez e [o cubano] Fidel Castro.”

No entanto, o jornal ressalta que alguns analistas acreditam que a indicação de Amorim pode ajudar o Brasil nas ambições por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

A demissão de Jobim ganhou uma pequena nota no jornal francês Le Monde, intitulada “Demitido o ministro de defesa apoiador do avião francês Rafale”. Jobim havia manifestado preferência por aviões Rafale, da empresa francesa Dassault, em um processo de compra de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB).

Também participam do processo as fabricantes Saab, da Suécia, e Boeing, dos Estados Unidos.

Nelson Jobim demitiu-se após a publicação esta semana de uma entrevista na revista Piauí, onde o ex-ministro criticou as colegas de governo Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil.

À revista, Jobim disse que Salvatti era “fraquinha” e que Hoffmann “nem sequer conhece Brasília”. Ele também revelou uma discussão com a presidente sobre a indicação de José Genoino para um cargo no ministério da Defesa.

Dilma teria questionado a utilidade de Genoino, ao que Jobim diz ter respondido: “Presidente, quem sabe se ele pode ser útil ou não sou eu”.

Em entrevista no mês passado, Jobim havia revelado que votou em José Serra, rival de Dilma, nas últimas eleições presidenciais.

Brasil: CELSO AMORIM ASSEGURA A MILITARES QUE NÃO VAI REINVENTAR A RODA




CORREIO DO BRASIL, com Vermelho

O recém nomeado ministro de Defesa, Celso Amorim, assegurou que não vai reinventar a roda à frente da pasta, depois de se reunir com o comando das Forças Armadas.

Amorim, que foi ministro do Exterior durante os oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniu no Palácio do Planalto com o comandante do Exército, o general Enzo Peri, com o chefe da Força Aérea, o brigadeiro Juniti Saito, e com o comandante da Marinha, o almirante Júlio Soares de Moura Neto.
Segundo comunicado, também participou da reunião, que durou uma hora e 45 minutos, o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, José Carlos de Nardi.

O ministro manifestou sua intenção de executar as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada em 2008, e expressou que não vai reinventar a roda durante sua gestão.

A reunião, que foi qualificada de produtiva, tinha o objetivo principal de estabelecer um primeiro contato entre ambas as partes para que Amorim pudesse conhecer de forma breve as questões mais relevantes no âmbito de atuação das Forças Armadas, temas relacionados com o orçamento do setor e a agenda de trabalho.

Previamente, Amorim, diplomata de carreira, almoçou com a presidente Dilma Rousseff, de quem recebeu as primeiras diretrizes para o Ministério, segundo a nota.

Segundo a imprensa, alguns comandantes militares criticaram em privado a nomeação de Amorim por considerar que seu perfil de diplomata não é o mais indicado para a pasta da Defesa.

Em uma tentativa de transmitir confiança às Forças Armadas, Dilma se dirigiu separadamente aos altos comandantes militares, a quem pediu que mantivessem a normalidade institucional.

PINTO DA COSTA VENCE E ANGOLA APLAUDE




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Manuel Pinto da Costa venceu a segunda volta das Presidenciais em São Tomé e Príncipe com 52,88 por cento. Angola aplaude.

Manuel Pinto da Costa apresentou-se às presidenciais com uma candidatura supra-partidária, embora apoiada pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata e Partido da Convergência Democrática, ambos na oposição.

Manuel Pinto da Costa foi, a par de Manuel Trovoada, um dos patrocinadores do multipartidarismo no país, em 1991.

Com a eleição de Manuel Pinto da Costa, as relações de São Tomé e Príncipe com Angola vão florescer, desde logo porque o presidente eleito sempre quis que o seu país fosse uma porta aberta e com ligação directa a Luanda.

Angola continua, aliás, a ser um dos principais parceiros políticos e económicos de São Tomé e Príncipe, desempenhando – embora com altos e baixos – o papel do paizinho sempre pronto a dar uma ajuda, embora nem sempre de forma filantrópica e por sincera solidariedade.

Ao contrário do que acontece desde 11 de Novembro de 1975 em Angola, país de referência para a Lusofonia, em São Tomé e Príncipe o presidente da República é… eleito.

Seja como for, o povo escolheu. E se o país vai virar-se para Luanda ou para outro lado qualquer é uma questão interna ou, eventualmente, da Lusofonia.

Por saber fica, entretanto, se de facto São Tomé pertence à Lusofonia. Recordo-me, a este propósito, de em tempos ter ouvido o responsável para a área dos mercados internacionais da JP Sá Couto, Luís Pinto, que na altura falava à margem do lançamento pela Portugal Telecom do Sapo Moçambique e do Programa Magalhães, dizer que a sua empresa estava "percorrer uma série de países da área francófona em África, como o Gabão, Camarões, Senegal, Costa de Marfim, São Tomé e Príncipe e Chade".

E eu, que não tenho o Magalhães, até julgava que quando se falasse de São Tomé e Príncipe seria no contexto não da Francofonia mas da Lusofonia...

Embora a principal actividade económica do país seja a agricultura, que produz cacau, óleo de palma, café e coco e na pesca, a recém-descoberta de jazidas de petróleo nas suas águas pode constituir uma importante fonte de receitas e de energia no futuro, tudo indicando que Angola vá assessorar este dossier.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Cabo Verde - Eleições: ATRASO NO ENVIO DE DADOS MANTÊM RESULTADOS “CONGELADOS”




SIC NOTÍCIAS - LUSA

Cidade da Praia, 08 ago (Lusa) -- Os resultados da primeira volta das eleições presidenciais de domingo em Cabo Verde continuam sem alteração desde as 00:25 de hoje (02:25 em Lisboa), situação explicada oficialmente pelo atraso no envio dos dados para a base central.

Fonte da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE), entidade encarregada da divulgação dos resultados da votação, indicou hoje à Agência Lusa que há atrasos no envio das atas de vários pontos do país e sobretudo da diáspora, situações que estão a ser ultrapassadas aos poucos.

Questionada sobre a razão das alterações sistemáticas, registadas domingo à noite na base de dados pública, a fonte indicou que, a dado passo, foram encontradas "algumas discrepâncias" entre os números divulgados oficialmente e os constantes das atas, exemplificando com o caso do Sal, em que, a determinada altura, havia mais votos do que o total de inscritos.

*Foto em Lusa

Patrice é o principal derrotado da vitória de Pinto da Costa nas presidenciais de São Tomé




Eduardo Lobão, da Agência Lusa

São Tomé, 08 ago (Lusa) - O primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada é o principal derrotado com a eleição do antigo chefe de Estado Manuel Pinto da Costa, porque tornou a corrida presidencial num plebiscito ao seu governo, formado há cerca de um ano.

O envolvimento pessoal na campanha, sobretudo na primeira volta, realizada a 17 de julho passado, evidencia a primeira derrota política de Patrice Trovoada, que há cerca de um ano remeteu o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata para a oposição.

Outro derrotado é Aurélio Martins, o ainda líder do MLSTP-PSD, na oposição, que conseguiu ter menos votos na primeira volta que as candidatas Maria das Neves e Elsa Pinto, que se apresentaram na corrida ao Palácio do Povo à revelia do aparelho partidário.

Quanto a Evaristo Carvalho, embora tenha perdido a eleição, o facto de ter logrado passar à segunda volta constitui um feito em que muito poucos acreditavam e que só se tornou possível devido à participação de Patrice Trovoada.

Finalmente, a vitória de Manuel Pinto da Costa, que regressa a um cargo que ocupou durante 15 anos, durante o regime de partido único, representa um ajuste de contas nunca assumido depois das derrotas que averbou nas anteriores duas ocasiões em que concorreu ao cadeirão presidencial.

Em 1996 perdeu a corrida contra Miguel Trovoada, pai do atual primeiro-ministro, e em 2000 a derrota sofreu-a às mãos do Presidente cessante, Fradique de Menezes, agora impossibilitado de concorrer a um terceiro mandato consecutivo.

De acordo com os resultados provisórios anunciados às primeiras horas de hoje por Vítor Correia, presidente da Comissão Eleitoral Nacional, Manuel Pinto da Costa totalizou 35.112 votos, correspondentes a 52,88 por cento, contra os 31.287 votos conseguidos por Evaristo Carvalho, correspondente a 47,12 por cento.

A taxa de abstenção baixou relativamente à primeira volta, passando de 32,11 por cento para 25,96 por cento, acrescentou.

Mais lidas da semana